A organização de “touradas cómicas” com anões em várias localidades portuguesas está a gerar uma onda de indignação. O ministro da Cultura já veio falar num “atentado à dignidade humana”, mas o representante dos participantes no evento fala de “espectáculos inclusivos” que permitem aos artistas “construir uma vida digna” e “criar as suas famílias”.
A primeira destas “touradas cómicas” está marcada para este domingo, dia 19 de Junho, na localidade da Benedita, concelho de Alcobaça. O evento é protagonizado pelo grupo espanhol de comediantes “Diversiones en el Ruedo” que organiza espectáculos de humor com anões e vitelos.
Este primeiro espectáculo a ocorrer em Portugal é organizado pelos bombeiros voluntários locais e foi autorizado pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC).
“A classificação etária é de maiores de 12 anos, conforme previsto na legislação dos espectáculos, que estabelece esta classificação para os espectáculos tauromáquicos”, refere fonte do Ministério da Cultura citada pelo Público.
A Plataforma Basta de Touradas que pede o cancelamento do evento lembra, em comunicado, que “o actual Decreto-Lei n.º 89/2014 de 11 de Junho (Regulamento do Espectáculo Tauromáquico – RET) prevê que os “toureiros cómicos” possam actuar nas chamadas “variedades taurinas”, que são espectáculos tauromáquicos onde actuam artistas tauromáquicos amadores e, ou, toureiros cómicos, que lidam animais do sexo masculino ou feminino, com mais de 2 e menos de 3 anos de idade e um peso máximo de 380 kg”.
Espectáculo “medieval e grotesco”
O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, já veio dizer que este tipo de espectáculo “é atentatório à dignidade humana e contraditório com tudo o que importa defender no plano das políticas de inclusão”, como cita o Público. “De cómico não tem rigorosamente nada”, frisa ainda o governante.
A coordenadora do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos, Paula Campos Pinto, refere ao mesmo jornal que se trata de um “grave retrocesso civilizacional”, considerando que “é um evento sem enquadramento numa sociedade respeitadora dos direitos humanos, medieval e grotesco“.
Já a presidente da Associação Nacional de Displasias Ósseas, Inês Alves, nota, também no Público, que eventos como este perpetuam o estigma do “bobo da corte” que ainda é atribuído a quem tem nanismo.
“O que diriam as pessoas se se tratasse de uma tourada cómica protagonizada por pessoas com paralisia cerebral?”, questiona ainda.
A Plataforma anti-touradas Basta apela aos Bombeiros Voluntários da Benedita que respeitem a dignidade humana, cancelando um espectáculo que, “além da brutalidade e violência contra animais“, contribui para “ridicularizar, denegrir e humilhar as pessoas com incapacidades”.
“Animais não são picados”
Contudo, João Guerra, da direcção da Associação de Bombeiros Voluntários da Benedita, assegura ao Público que as “touradas cómicas” não envolvem violência porque “os animais não são picados”.
Além disso, lembra que os elementos do grupo participam de livre vontade e que “as pessoas têm de ganhar a vida”.
Fonte: ZAP
Nota: O artigo tem mais texto com vídeos do facebook, que não dá para postar aqui!