A Democracia só funciona em pleno, num país em que o povo é maioritariamente instruído, esclarecido e imbuído de espírito crítico.
Não sendo assim, a democracia será uma democracia manca.
E obviamente que é essa democracia manca que predomina em Portugal.
Os órgãos de comunicação social mais visíveis (as televisões) atulharam-nos com os resultados de Lisboa (cujo candidato PS perdeu a maioria); do Porto (cujo candidato independente ganhou a maioria); de Oeiras (a maior demonstração da falta de espírito crítico do povo); e Coimbra (cujo candidato PS ganhou sem maioria).
Depois era só falar da vitória do PS, com os melhores resultados de sempre; da derrota do PSD, a nível nacional; no bom resultado do CSD/PP em Lisboa; da perda de mandatos da CDU para o PS; do Bloco de Esquerda que consegue um deputado para a CM de Lisboa e mais alguns, por aí… mas não consegue a Câmara de Salvaterra de Magos, e ainda bem, pois assim temos menos uma aficionada de touradas (sem que o BE, que se diz anti-tourada, se importasse com isso) no poder; dos independentes que se destacaram nestas eleições; e do PAN? Ninguém dizia nada. Era como se não existisse.
No entanto, pela primeira vez, o PAN quintuplicou os seus resultados, conseguindo 26 deputados municipais e uma freguesia, tendo chegado a ficar acima do CDS/PP em vários concelhos, mas para sabermos disto, tivemos de andar a procurar informação.
E isto é muito significativo. Significa que a mosca continua a incomodar o elefante. E o elefante não gosta. E como não gosta passa a palavra: é proibido falar no PAN ::: Pessoas-Animais-Natureza nas televisões. E as televisões obedecem... servilmente...
Bem… safou-se Cascais, que rejeitou a aficionada de touradas do Partido Socialista, Gabriela Canavilhas;
Safou-se a Golegã, do candidato PSD, grosseirão e também aficionado assumido da selvajaria tauromáquica;
Em Viana do Castelo um candidato tauricida levou um grande banho de água gelada;
Em Ponte de Lima foi mais do mesmo, nem eram necessárias eleições, CDS/PP levou a melhor, mas não haverá mal que sempre dure…
Nos restantes municípios, onde o atraso civilizacional é evidente, onde ainda existe a ultrapassada prática medievalesca da diversão assente no sofrimento animal, a saber: Lisboa, Albufeira, Moita, Seixal, Vila Franca de Xira, Póvoa de Varzim, Montijo, Leiria, enfim, nestes lugares obscurantistas o PAN será a mosca que incomodará os elefantes.
A abstenção foi enorme, 45,5%; os votos nulos, 1,9%, e os brancos 2,6, e isto tudo somado dá 50%.
Assim sendo, metade dos eleitores portugueses não disse de sua justiça. Azar o deles. Agora não têm autoridade nenhuma para protestarem sobre o rumo que o país vai levar, se esse rumo não lhes agradar. Terão de aceitar servilmente o que lhes impingirem.
Sei que as leis estão feitas assim. Mas fazendo bem as contas, somando e tirando percentagens dos 50% que votaram, é tudo tão insignificante…!
Resumindo: num país em que o povo é maioritariamente desinstruído (temos a mais alta taxa de analfabetismo da União Europeia), é desiluminado e não tem o mínimo espírito crítico, para saber distinguir o trigo do joio, e não acreditar nos mentirosos, ainda não é desta que o nosso país dará um passo em direcção à evolução.
Continuará mais ou menos tudo na mesma, com tendência para piorar, uma vez que PS, PSD, CDS/PP e CDU tirando um ou outro detalhe, tocam sambinhas de uma nota só.
Contudo, espero com muita fé e esperança que eu esteja redondamente enganada.
Isabel A. Ferreira