No Blogue Causa Nossa, Vital Moreira responde à Carta Aberta que o triste Manuel Alegre escreveu a António Costa, defendendo as touradas, considerando que que «não faz nenhum sentido invocar a liberdade do gosto contra uma prática violenta, cruel, sangrenta e degradante, para satisfação sádica de protagonistas e espectadores, à maneira dos espectáculos circenses da antiga Roma”.
Origem da imagem: Internet
Vital Moreira discorda em absoluto da "carta aberta" de Manuel Alegre, em defesa das touradas e da redução do IVA nos respectivos espectáculos, em primeiro lugar, por não fazer sentido misturar as touradas com a caça, como se fosse a mesma a oposição a uma e a outra ou como se fossem as mesmas razões a motivá-la. A razão básica contra as touradas está no facto de elas serem um espectáculo e consistirem em infligir um suplício prolongado a animais para proveito pessoal dos toureiros e para gáudio público, o que se não verifica na caça, refere Vital Moreira, assinalando que não consta que o gosto pelas touradas integre os direitos fundamentais constitucionalmente protegidos...
Para o constitucionalista, tampouco cabe invocar a "tradição", de resto cada vez mais acantonada, desde logo porque ao longo dos tempos a história da civilização e do progresso humano foi, em grande medida, uma luta da razão contra as tradições que exploram os sentimentos e instintos menos louváveis dos homens. Há muitos outros gostos e tradições que o desenvolvimento humano e cultural tornou intoleráveis.
Para Vital Moreira, parece inteiramente descabido o argumento de que uma eventual proibição nacional das touradas - que, aliás, não está iminente - seja equivalente a uma "ditadura política do gosto" e um sinal de "totalitarismo" emergente.
Nada de mais despropositado!, salienta Vital Moreira, acrescentando: «Que eu saiba, entre os muitos países que consideram as touradas como "barbárie" - como os países escandinavos ou anglo-saxónicos - contam-se alguns dos países mais livres e das democracias mais liberais do mundo!
Nunca me impressionou o argumento dos escritores e artistas que manifesta(ra)m o seu apreço pelas touradas. Para além de serem uma pequena minoria, a verdade é que ao longo da história as piores práticas da humanidade sempre encontraram quem as defendesse entre a elite intelectual, desde a escravatura aos tratos cruéis, desumanos ou degradantes, até que o Iluminismo as proscreveu ou tornou insustentáveis. Tenho para mim que dentro de poucas décadas, quando as touradas forem uma má memória na história nacional, os intelectuais que hoje as defendem sejam olhados com a mesma estranheza com que hoje olhamos os defensores pretéritos de outras "tradições" execráveis.
E Vital Moreira diz não se surpreender ao ver as touradas defendidas pela direita mais tradicional, porque elas fazem parte integrante da cultura "marialva" que ela privilegiadamente encarna, tendo enormes dificuldades em compreender - afastado o diletantismo político ou intelectual - o que leva alguma esquerda a admirar um espectáculo tão violento e tão sangrento, assente no sofrimento causado a seres vivos indefesos, para gozo público.
Por último, o constitucionalista acrescenta que não lhe parece que haja motivo para tão grande alarme público dos amantes da indústria da tortura-de-animais-na-arena-para-gáudio-público e do poderoso lobby económico, político e mediático que a suporta e promove. Afinal, trata-se somente de criar uma pequena diferença de IVA em relação a outros espectáculos. Infelizmente, não se trata de um primeiro passo para abolição das touradas. Para isso, os tempos ainda estão para vir...
Fonte:
https://causa-nossa.blogspot.com/2018/11/a-barbarie-tauromaquica-7-contra-manuel.html
Todos nós sabemos que o PAN é o único partido que publicamente promove a abolição das touradas. Porém, como também sabemos, um deputado apenas na AR tem inúmeras restrições.
Sabemos também que em seis meses de legislatura o PAN fez mais do que todos os outros partidos fizeram em vários anos, em prol dos animais.
O PAN reagiu às apreciações de Vital Moreira, considerando-as prematuras.
«Há muitos variáveis nesta equação e certamente faremos de tudo para terminar o mais celeremente com esta barbaridade. Temos as nossas prioridades bem definidas, e continuaremos a trabalhar para a abolição desta bárbara prática», declarou à autora do Arco de Almedina, um dos elementos do PAN.
© DR
Fonte da imagem:
O PAN lamentou a "falta de informação" de Vital Moreira, quando este acusou aquele partido de nada fazer quanto às touradas, não tendo ainda avançado com uma proposta para acabar com elas.
Reagindo a tais afirmações, o PAN «lamenta que um Senhor com as responsabilidades políticas de Vital Moreira esteja tão pouco informado e se precipite em acusações sem fundamento».
Em comunicado aos órgãos de informação, o partido, representado na AR por André Silva, diz que «importa recordar que desde que chegou à Assembleia da República o PAN tem trazido este debate de forma recorrente, quase constante».
Afirma o PAN que «foi sugerida ao Governo a alteração dos benefícios em sede de IVA aos espectáculos tauromáquicos, bem como o fim da atribuição da taxa intermédia de IVA para todos os bilhetes e entradas em espectáculos tauromáquicos, e nenhuma das medidas foi aprovada, tendo os socialistas votado contra ambas. Se esta é de facto uma preocupação genuína então o PAN convida o Eurodeputado Vital Moreira a trabalhar em cooperação por esta causa, nomeadamente, na sensibilização dos seus pares dentro e fora do país».
Quanto à "ménage a trois" pelos eucaliptos, o PAN ressalva «as restrições regimentares, no que respeita aos tempos de intervenção, na Assembleia da República e a impossibilidade de fazer agendamentos de iniciativas legislativas como os restantes grupos parlamentares por ter apenas um deputado.
Mas realça outras iniciativas relativas ao Plano Nacional de Barragens, à Central Nuclear de Almaraz, à Caça na Serra da Malcata, à prospecção de petróleo em todo o território, à laboração de pecuárias de forma irregular e à pecuária intensiva.
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A interferência do Arco de Almedina neste episódio:
Porque fui atacada por militantes e simpatizantes do PAN, por ter transcrito as declarações de Vital Moreira e acrescentado uma nota pessoal, devo declarar que não ataquei ninguém, se é que as pessoas que me atacaram não repararam, até porque tenho muita consideração pelo André Silva e pelo trabalho que este tem realizado até agora, e pela coragem de, mesmo sendo só, andar a incomodar os poderosos.
Considero-o, e ele sabe disso, a mosca que incomoda o elefante, na Assembleia da República.
O que Vital Moreira disse não é da minha responsabilidade. Publiquei as suas declarações apenas para agitar as águas que estão um tanto paradas, em Portugal, no que respeita à tauromaquia.
A verdade é que ainda não foi apresentada no Parlamento uma proposta concreta e objectiva para a Abolição da Tauromaquia em Portugal.
Lá fora, em Espanha e no México, por exemplo, os avanços em direcção à abolição desta praga têm sido bastante significativos, porque lá fora ninguém pede que se corte o mal pela ramagem, mas que se corte o mal pela raiz.
E foi isso que eu pretendi salientar.
Sei que é difícil a abordagem desta matéria numa Assembleia repleta de aficionados, onde a tauromaquia está bastante protegida (segundo uma militante do PSD), quase que diríamos que muitos deputados candidatam-se à AR com o único intuito de proteger a tauromaquia, portanto ao André Silva não será fácil apresentar uma proposta que de antemão será barrada pelos partidos que se dizem de esquerda, mas têm um pé na direita: PS, PCP, BE e PEV.
Sabemos disso, André Silva.
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A propósito desta polémica:
No Jornal i, onde foi publicada a declaração de Vital Moreira, deixei a seguinte nota, que transcrevi num texto divulgado neste meu Blogue:
«Penso que o PAN deveria propor urgentemente a ABOLIÇÃO de todas as vertentes da tauromaquia, mas também de todas as práticas bárbaras que se cometem em Portugal contra animais: circos, festas públicas com matança, ao vivo, de porcos, caça, tiro aos pombos, lutas de cães, corrida de galgos, corrida de Cavalos, charretes com tracção animal, queima do gato, enfim, uma infinidade de barbaridades que não se justificam para divertir um povo, se bem que um povo bastante EMBRUTECIDO.
Já chega de medievalismos. Já chega de estupidez. Já chega de atraso de vida.
Em Portugal (dizem) temos um governo que se diz de esquerda, mas no que respeita aos animais, a governação mantém a política da direita, da ditadura e da monarquia. Nada mudou, nesse aspecto.
O PAN introduziu na AR um discurso novo, mas, de facto, ainda não se ouviu a palavra ABOLIÇÃO, que é a única que interessa.»
Pois a este comentário respondeu deste modo bastante interessante, um tal de Paulo Reis:
Isabel A. Ferreira Voçê é louca da mais. Gostava de te conhecer. Que fazes nos tempos livres??? Adiantas a vida ??? Deves julgar-te muito avançada, mas gostava de ver........
Bem… este cidadão é um genuíno produto made in Portugal dos pequeninos, com marca GP (Governo Português).
Respondi-lhe o que penso, porque (penso eu) ainda não é proibido pensar:
«Eis um comentário que diz da pobreza mental e cultural de portuguesinhos que não têm o mínimo sentido crítico, nem a noção do ridículo.
Não que me surpreenda, porque a política para o Ensino, Educação e Cultura, em Portugal, nunca valorizou a evolução. É tacanha e redutora.
Os governantes fazem tudo para manter um povo amorfo, mal-educado, mal ensinado, mal-amanhado, subserviente... enfim, acrítico. E é nisto que dá.
Pobre mente atacanhada!
Eu não me julgo avançada... Eu sou avançada, evoluída. Pertenço ao futuro, e não ao passado.»
Pois é isto que eu, como cidadã portuguesa livre, pretendo para o meu país: que, tal como eu, Portugal pertença ao futuro, e não ao passado.
É por este futuro que me bato, ao escrever o que escrevo.
Espero que entendam.
Isabel A. Ferreira
Fontes das matérias abordadas neste texto:
http://www.ionline.pt/504112#comment-2624380839
http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/o-que-o-pan-ainda-nao-fez-para-acabar-633614
O constitucionalista Vital Moreira criticou o PAN (partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza) que elegeu um deputado nas últimas eleições legislativas, por este ainda não ter avançado com uma proposta para acabar definitivamente com as touradas em Portugal.
Vital Moreira argumenta ainda que «o PAN também ostenta na sua designação a defesa da Natureza, mas não propõe nada para parar e fazer reverter o maior atentado à Natureza em Portugal, que é a eucaliptização selvagem do país, num ménage a trois entre a indústria de celulose, as associações de produtores florestais e o Ministério da Agricultura».
E Vital Moreira concluiu: «Se é para isso, bem podem mudar de nome».
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Pois penso que o PAN deveria realmente propor a ABOLIÇÃO de todas as vertentes da tauromaquia, mas também de todas as práticas bárbaras que se cometem em Portugal contra animais: circos, festas públicas com matança de porcos, ao vivo, caça, tiro aos pombos, lutas de cães, corrida de galgos, corrida de Cavalos, charretes com tracção animal, queima do gato, enfim, uma infinidade de barbaridades que não se justificam para divertir uma parcela de povo ainda EMBRUTECIDO.
Já chega de medievalismos. Já chega de estupidez. Já chega de atraso de vida.
Em Portugal (dizem) temos um governo que se diz de esquerda, mas no que respeita aos animais, a governação mantém a política da direita, da ditadura, da monarquia. Nada mudou, nesse aspecto.
O PAN introduziu na AR um discurso novo, mas, de facto, ainda não se ouviu, nesse discurso, a palavra ABOLIÇÃO, que é a única que interessa, no que respeita ao (ab)uso de animais não- humanos para entretenimento de trogloditas.
Isabel A. Ferreira
Publicado por Vital Moreira**
A propósito do meu post contra as touradas (contra que me bato há décadas), o jornal i foi ouvir algumas personalidades com opinião diferente.
O que choca nessas opiniões é absterem-se de qualquer juízo moral sobre a tortura de animais para divertimento público e invocarem uma alegada opinião pública favorável às touradas em Portugal.
Ora, devo dizer que quase todos os avanços civilizacionais foram feitos contra a opinião pública dominante da altura ou contra atavismos culturais: o fim da escravatura, da servidão, do apartheid; o fim da pena de morte e das penas cruéis (amputação, lapidação, açoites em público); o fim de medonhas práticas étnicas, como a excisão genital feminina; o fim da criminalização da sodomia ou da apostasia; etc. etc. Algumas dessas barbaridades ainda existem em alguns países, com aprovação pública.
Na verdade, o que há de prodigioso na civilização é o progressivo triunfo sobre a barbárie, mesmo quando ela goza do apoio da população ou da complacência dos fariseus.
Um dia as touradas também se tornarão apenas uma recordação do museu da indignidade humana.
** Vital Moreira (na foto) é um cidadão Português, Jurista, Político e Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Fonte:
http://causa-nossa.blogspot.pt/2015/08/farisaismo-moral.html