É isto que me ocorre dizer sobre este episódio muito significativo do desprezo que António Costa vota a Portugal e ao Povo Português, demonstrando não ter o mínimo respeito pelo bom funcionamento das instituições governamentais.
O caso Galamba é gravíssimo. E discordando eu, em tantas coisas, do Presidente da República, dei-lhe razão, quando sugeriu a demissão de Galamba. Porém, António Costa, num acto absolutamente absolutista, contra tudo e contra todos, inclusivamente contra o PR, manteve Galamba no cargo de Ministro das Infraestruturas, cargo esse que Galamba tem exercido levianamente, basta ver o circo que se passou no interior do seu ministério.
O que quis provar António Costa, ao não demitir João Galamba? No meu entender, quis provar algo muito óbvio: quem manda aqui sou EU, o Estado sou EU, algo que condiz bem com o regime socialista absolutista, actualmente vigente em Portugal.
Andamos aqui todos ao sabor da incompetência, do eu quero, posso e mando, atributo dos ditadores, do estou-me nas tintas para Portugal, enfim, andamos aqui todos à mercê de alguém, que com muito cinismo, segura o leme da desgovernação.
A este episódio podemos somar muitos outros lamentáveis episódios, que já levaram à demissão de vários ministros e de membros deste governo socialista absolutista.
Num texto que escrevi em 31 de Janeiro de 2022, neste Blogue, sob o título «Os Portugueses, que ontem deram a maioria absoluta ao PS, não sabiam que em Democracia não há lugar para o Absolutismo?» vaticinei que teríamos mais do mesmo… para PIOR.
E o PIOR aconteceu:
Sempre se criticou o Absolutismo.
Sempre se criticou o Absolutismo Monárquico.
Sempre se criticou a maioria absoluta dos outros, mas quando um Povo, pouco esclarecido nestas coisas de absolutismos, dá ao PS a maioria que eles sempre desejaram, faz-se uma grande festa!
E para isto contribuíram duas coisas terríveis: o MEDO da mudança, e o facto de termos um Povo ainda POUCO ESCLARECIDO. E uma Democracia só funciona em pleno numa sociedade maioritariamente esclarecida. E quando digo esclarecida, não se julgue que me refiro a canudos universitários, porque já vimos, pelas experiências na política portuguesa, que ter um canudo universitário não é sinónimo de ser-se esclarecido.
Além disso, pelas entrevistas de rua que vi na televisão, na altura, houve gente que tinha a bandeira de um determinado partido na mão, mas não sabia de que partido era. Como poderão votar em consciência?
Os Portugueses, se bem que apenas uma minoria, ao darem a maioria absoluta ao Partido Socialista, que já tinha dado provas de uma gigantesca incompetência, deram um passo na direcção errada, embora com a legitimidade que essa minoria lhe conferiu. Se já tínhamos um governo do eu quero, posso e mando, esse quero, posso e mando agigantou-se, com essa maioria absoluta.
António Costa começou logo por dizer, no seu discurso de vencedor, que não falaria com o Chega. Esta não será uma atitude ditatorial, como outras que já teve no anterior mandato? Afinal, o Chega ficou a ser a terceira força política, legitimada pelo voto do povo e que nele votou. O Chega existe. Quer se goste, ou não se goste. E se se chegou a tal, foi pela má prestação dos que se dizem de esquerda, da tal geringonça, que não passou disso mesmo: de uma geringonça, pois não conseguiram convencer nem os da esquerda, nem os da direita, com as suas atitudes, por vezes, dúbias e anhti-democráticas, embora isto de “esquerda/direita” me soe a tropa.
Além disso, continuámos a ter o mesmo primeiro-ministro, que além de muitos outros aspectos negativos, desconhece o valor da Língua Portuguesa e a sua Gramática, e falando em nome dos Portugueses [em meu nome não falou] o que gostaríamos era de falar à brasileira, usando redundâncias sem saber o que está a dizer, fazendo discursos numa linguagem insólita, incoerente, onde nem todos são todas, nem os portugueses são as portuguesas, nem os cidadãos são as cidadãs, ou tudo isto no seu vice-versa.
Tudo isto é muito triste.
Se Portugal já estava na cauda da Europa em quase tudo (ao menos serve para os turistas virem reinar, com todas as mordomias, que não se concede aos portugueses, que não passam do Zé do Paga Taxas, Taxinhas e Taxões); se em Portugal, a contestação, em várias frentes, é o pão nosso de cada dia, há tanto tempo; se nos anos de governação socialista, em Portugal não se avançou no SNS, que continua cada vez mais caótico; se não se avançou no Ensino, que continua super-caótico; se não se investiu na Cultura CULTA (não a inculta, que essa recebe chorudos subsídios) que continua a ser marginalizada; se não se anulou o ILEGAL AO90, que estraçalhou a Língua Portuguesa, violando a Constituição da República Portuguesa, a Lei e o direitos dos cidadãos; se não se aboliu a tauromaquia, a caça e todas as outras actividades que vivem da tortura de seres vivos, catapultando Portugal para a Idade Média; se não se orientou da melhor forma as actividades económico-financeiras do país; se não se conseguiu pôr fim à corrupção, à pobreza, à ladroagem que nos cerca por todos os cantos e esquinas; se não se conseguiu diminuir o fosso entre ricos e pobres; SE não… SE não … SE não… tanta coisa!!!! Com a maioria absoluta, sem que a Democracia plena seja executada, sem o contraponto dos restantes partidos políticos com assento na Assembleia da República, vaticinei um tsunami que afundaria ainda mais um Portugal que já estava afundado, desvirtuado, desconjuntado na sua identidade.
Um povo pouco esclarecido é um MANÁ dos deuses para os governantes.
Na altura, escrevi o seguinte: «Esperemos que o novo governo absolutista, tenha a hombridade de consultar TODOS os outros partidos eleitos e com assento no Parlamento, conforme as regras democráticas, e não vá governar conforme lhe der na real gana».
Escrevi esta frase esperançada, mas não me lembrei de que, em Portugal, não vivemos em Democracia, não temos um Estado de Direito, e a Constituição da República Portuguesa, onde estão consignados os direitos, as obrigações e os deveres do Povo, mas também dos governantes, é constantemente violada por estes últimos.
Portanto, o governo governa conforme lhe dá na real gana.
A Política, em Portugal, é exercida sem um pingo de dignidade e honestidade, sem respeito algum pelo Povo Português, enxovalhando com atitudes esvaziadas de nobreza, os Órgãos de Soberania Nacional.
Eu, como cidadã livre-pensadora, dotada de espírito crítico, e com uma elevada noção do seu dever cívico, sinto-me envergonhada com que está a passar-se, em Portugal.
E dou nota mil zeros abaixo de zero a todos os que desavergonhadamente estão a lançar Portugal para o abismo.
É URGENTE que Marcelo Rebelo de Sousa, como Chefe de Estado Português, e garante do funcionamento pleno dos Poderes Executivo, Legislativo e Judicial, dentro dos trâmites da Constituição da República Portuguesa, cumpra honradamente as suas funções, também de acordo com a CRP, e ponha ORDEM neste pedaço de terra, que tantas vidas sugou, para que HOJE pudéssemos ter um PAÍS, que é dos Portugueses, e que queremos que seja livre e soberano, porque, neste momento, NÃO o é.
Ou então, que se demitam todos, e dêem lugar a quem pugne pela Cultura, pela História, pela Língua e pela Identidade Portuguesas.
Isabel A. Ferreira
Antes de dizer ao que venho, quero deixar aqui bem claro que a Língua Portuguesa é a Língua Portuguesa. Ponto. Uma língua de raiz indo-europeia e greco-latina. Ponto. Uma Língua que absorveu o léxico dos vários povos que viveram na Península Ibérica *, tais como os Celtas, os Iberos, os Lusitanos, os Romanos, os Suevos, os Visigodos, os Árabes. A Língua assimilada de todos estes povos constitui a Língua Portuguesa Culta. Ponto. A Língua dos Portugueses. Ponto.
(* Para quem não sabe, a Península Ibérica está situada na parte mais ocidental da Europa, e jamais pertenceu à América do Sul).
No que respeita ao AO90, não sei qual é a posição do José Alberto Carvalho (que conheci quando trabalhava na RTP, e sempre o tive como um Jornalista de excelência, profissionalmente e humanamente falando. Mas que esta “coação”, nesta imagem, não diz a treta com a careta, não diz, caro José Alberto. Não diz. E como é lamentável!
Pois é. Isto vai por aí uma “coação” pegada, na nossa muito subserviente comunicação social (e não só na TVI) destituída de qualquer brio profissional e de conhecimentos básicos da Língua Portuguesa. É que este substantivo feminino lê-se “cuâção”, (e posso afirmar que apenas os ignorantes lêem esta palavra abrindo o primeiro a), e o significado de coação (cuâção) nos dicionários de Língua Portuguesa **, é a acção ou o resultado de COAR, de filtrar um líquido; é sinónimo de coadura = passagem de um líquido pelo coador, ou o líquido já coado. Nada tem a ver, portanto, com COAGIR.
(** Nestes, não se incluem os dicionários acordistas que, cheios de erros básicos, são bons apenas para fazer fogueiras neste Inverno (com I maiúsculo) tão frio…
Isto é simplesmente, uma vergonha!
Já um destes dias, publiquei um texto sob o título
DEPUTADA DA NAÇÃO COAGIDA A NÃO VOTAR CONTRA O AO90 NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
http://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/deputada-da-nacao-coagida-a-nao-votar-98802
onde se refere a “moda” de os governantes andarem por aí a coagir (obrigar a fazer ou a não fazer algo, usando a chantagem, a força ou outro processo violento ou moralmente inadmissível, que nada tem a ver com COAR) deputados da Nação, quando se trata de votar matérias tabus, no Parlamento. Ora o AO90 (entre outras) é uma matéria tabu no Parlamento, a qual convém ao ministro dos Negócios Estrangeiros, ao primeiro-ministro e ao presidente da República silenciar ou puxar a brasa para a sardinha deles, quando se trata de votar.
Muitas vezes me pergunto o que levará “profissionais” da comunicação social portuguesa a escrever e ler mal a nossa Língua?
Há três hipóteses:
- ou já nasceram parvos, e como tal não deviam ocupar cargos que dizem respeito à coisa pública;
- ou fazem-se de parvos, a troco de dinheiro;
- ou sujeitam-se a ser parvos, com medo de serem despedidos.
Conheço alguns que se encaixam nas duas primeiras hipóteses e, portanto, são o que são, e a mais não são obrigados.
Também conheço muitos que, com medo de serem despedidos, sujeitam-se a fazer papel de parvos. E isso é terrível.
A mim, se me dissessem: «pagamos-te para fazeres-te de parva, ou vais para o olho da rua…», eu escolheria o olho da rua, porque é mais honesto andar a pedir esmola do que vender a alma ao diabo. Até porque há alternativas.
Simplesmente, esta geração de “jornalistas” tem medo de se UNIR, em bloco, e enfrentar as feras, e defender, com justa causa, o seu mais precioso instrumento de trabalho: as palavras bem escritas e bem ditas. Ou escrevemos e lemos correCtamente a nossa Língua, ou não há nada para ninguém… Sem jornalistas, a comunicação social PARAVA.
O mesmo acontece nas escolas: se os professores se UNISSEM e se RECUSASSEM, em bloco, a “ensinar” os alunos a escrever segundo a cartilha brasileira, sendo eles cidadãos portugueses, logo, europeus, logo, tendo o direito a ser tratados como europeus, e não como sul-americanos, as escolas PARAVAM. E como é fácil desensinar o que foi mal ensinado! As crianças aprendem e desaprendem tudo, rapidamente!
Conclusão: só os cobardes necessitam da mentira para iludir a realidade. E a realidade é que um tsunami da mais crassa ignorância está a assolar o país e a fazer dele a cloaca linguística da Europa. E o pior, é que quem poderia travar este tsunami, abraçou a cobardia.
Lamentável! Muito lamentável!
Isabel A. Ferreira
Já estou farta daqueles indivíduos que se julgam superiores a um lagarto, mas morrem do mesmo modo que um lagarto, se a Mãe Natureza assim o entender, quando se revolta na forma de um temporal…
E é devido às mentalidadezinhas microscópicas que proliferam por aí que a Humanidade, que já deveria estar num patamar bastante mais elevado, desde o aparecimento do homem na Terra, não está…
(Origem da imagem: Internet)
(Um texto dirigido a todos os “farias” do mundo)
Isto vem a propósito de um comentário a esta minha publicação
http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/senhores-deputados-da-nacao-acabem-com-658969
dirigida aos deputados da Nação (que hoje mostrarão ao mundo se estão do lado da Evolução ou na Idade da Pedra).
Pois um tal H. Faria veio com este blá blá blá que já enfada as pedras, de tão gasto, tão especista e tão vazio de humanidade que é:
«Acho muito bem que actuem contra o abandono animal e contra as situações de maus tratos contínuos. Mas sabes o que eu acho que deviam muitos deles fazer? Tratar e cuidar melhor das pessoas, em vez de igualar a vida humana à vida animal, e pior ainda, como não podia deixar de ser, usando o dinheiro como "justificação". A maior mentira que preconizam é que um defensor dos animais é melhor para as pessoas. Será assim? (será puro marketing político).
Como se admite dar de comer a um cão vadio e deixar uma criança ou um sem-abrigo sem comer? Como se admite pegar no primeiro gato ou cão vadio e levá-los para casa ou a uma instituição, porque podem morrer de fome e frio, e deixar uma pessoa sem casa a morrer dessas mesmas causas? Como se admite levar o cão para as férias e abandonar os velhos em lares, hospitais ou em casa? Como se admite que façam queixa contra um vizinho que maltrata o cão, mas fiquem mudos perante as "coças" que a vizinha apanha do marido? Como se admite que se vá para manifestações anti touradas e em casa batam nas mulheres/homens? (Se bem, que muitas são mal casadas, divorciadas e outras tantas ficaram para tias por mero acaso animal).
É por isto tudo que, em vez de considerar os protectores dos animais uns anjos, considero-os pessoas autoritárias (no sentido de ditadores), com muito pouco respeito pela liberdade dos outros quando não coincidem com as suas ideias e com uma filosofia de vida baseada numa grande hipocrisia…ignoram (por vontade própria) que a sua existência e modo de vida é, por si só, um maltrato à vida animal».
***
Ó Fária, melhor faria se se considerasse um ANIMAL tão ANIMAL como todos os outros, e se colocasse no lugar deles e SENTISSE, pelo menos uma vez na vida, que as pessoas são animais, tão animais como todos os outros.
«Em vez de igualar a vida humana à vida animal», pois se uma e outra coisa são absolutamente a mesma coisa: VIDA!
O seu comentário é ridículo e totalmente desfasado da realidade.
Se o Faria não é um animal, é uma erva daninha falante?
«Como se admite dar de comer a um cão vadio e deixar uma criança ou um sem-abrigo sem comer?»
Acredito que seja capaz de dar de comer a um cão e não a uma criança, porque se o diz é porque já o fez.
Uma sugestão: Nunca fale daquilo que não sabe.
É absolutamente inacreditável que alguém, não estando no seu juízo perfeito e não conheça a realidade dos animalistas possa fazer um comentário tão falacioso, tão malicioso, tão pervertido, tão parvo quanto este.
«A maior mentira que preconizam é que um defensor dos animais é melhor para as pessoas»?
Quem preconiza o quê?
Um defensor dos animais é simplesmente o melhor amigo de TODOS os animais, humanos e não-humanos, obviamente. Obviamente. Mas as vossas mentes microscópicas não conseguem alcançar tão perceptível evidência.
É por existirem ainda tantos farias que o mundo é um lugar de horrores para tantos animais humanos e não-humanos.
Indivíduos desta “espécie” pré-humana tiram-me do sério, porque acham que são superiores a um lagarto. Contudo, ambos afogar-se-ão nas mesmas águas de um tsunami, e serão reduzidos a pó, num ápice, se a Natureza assim o entender, e sem que o homenzinho possa fazer alguma coisa para o evitar.
Porque como todos nós sabemos (excepto os ignorantes) que a Natureza é que é a medida de todas as coisas, e não o tal homenzinho…
Os protectores dos animais não são anjos nem demónios. São simplesmente seres humanos que pelo facto de serem humanos têm o sagrado dever de proteger a Vida do Planeta: animais humanos e não-humanos, plantas, águas, ar, terra, mares, rios, enfim, tem o dever de viver em harmonia com a Natureza, porque é ela que comanda a Vida planetária. E o homem tem apenas o DEVER de proteger essa harmonia.
O que é um homenzinho diante de um furacão? De um vulcão? Das tempestades? Das fúrias da Natureza?
Como disse a minha amiga Maria João Gaspar Oliveira a propósito do comentário do Faria:
«A generalização é uma falácia perigosa e muito injusta. Ao fazer tais afirmações sobre os "protectores de animais", acha que não está a ser autoritário e que respeita a liberdade dos outros?! Não pensou sequer nas pessoas (e são muitas, em todo o mundo...) que lutam, durante uma vida inteira, pelos direitos do homem e pelos direitos dos animais, sem qualquer espécie de discriminação, até porque estas pessoas não são especistas, obviamente (o especismo provoca muito sofrimento e injustiças de toda a espécie...). Estas pessoas têm a capacidade de se colocar no lugar de um ser senciente e indefeso que, tal como nós, tem o direito de não sofrer e de ser amado e respeitado».
É isto.
Farias do mundo, de uma vez por todas, desçam do pedestal onde se colocaram. Não são, de todo, superiores a um lagarto.
Quando muito, serão apenas mais responsáveis do que ele (o lagarto) porque não é ao lagarto que cabe governar o mundo.
Mas tenho a certeza de que, assim como o lagarto governa o mundo dele com um saber criterioso, governaria o “nosso” mundo muito mais racionalmente do que os farias que se julgam humanos, mas não animais.
E se não são animais, em que “natureza” devemos encaixá-los?
Isabel A. Ferreira
(Apesar do massacre das Baleias, perpetrado pelos japoneses e que veementemente condeno, transcrevo, com a devida vénia, este texto, onde se glorifica uma civilidade que todos nós devíamos absorver).
Por MONJA COEN
Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão, me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês: kokoro.
Kokoro ou Shin significa coração-mente-essência.
Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas, de suas necessidades
pessoais e se colocar à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada?
Outra palavra é gaman: aguentar, suportar. Educação para ser capaz de suportar dificuldades e
superá-las.
Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo de duas maneiras.
A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima.
A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas. Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros. Nos abrigos, a surpresa
das repórteres norte americanas: ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém. Compartilhavam cobertas, alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens. Cada qual se mantinha em sua área. As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado.
Não furaram as filas para assistência médica – quantas pessoas necessitando de remédios perdidos, mas esperaram sua vez também para receber água, usar o telefone, receber atenção médica, alimentos, roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água.
Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da
tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte.
Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques. Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que recebiam. Ensinamento de Buda, hoje enraizado na
cultura e chamado de kansha no kokoro: coração de gratidão.
Sumimasen é outra palavra-chave.
Desculpe, sinto muito, com licença. Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver. Desculpe causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar falar com você, ou tocar à sua porta. Desculpe pela minha dor, pelas minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos causando ao mundo. Sumimasem.
Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos, necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e respeitadas.
O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim, perderei. Cada um de
nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado com quem
estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico. As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de resgate e delicadamente transportadas – quer para as tendas do exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias,
helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.
Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda população pelos oficiais do
governo e a noção bem estabelecida de que “somos um só povo e um só país”.
Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi telefonemas. Diziam-me do exagero das
notícias internacionais, da confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em Julho próximo.
Aprendemos com essa tragédia o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos: a vida é transitória, nada é seguro neste mundo, tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.
Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo está interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra. O planeta tem seu próprio movimento e vida. Estamos na superfície, na casquinha mais fina. Os movimentos das placas tectônicas não têm a ver com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos. O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos. E isso já é uma tarefa e tanto.
Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução.
Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito aos vivos e aos
mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.
Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto
sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar.
Havia pessoas suas conhecidas na tragédia? me perguntaram. E só posso dizer: todas. Todas eram e
são pessoas de meu conhecimento. Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência.
Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.
Mãos em prece (gassho)
Monja Coen