Aprazível é o pasto que acolhe os animais para se alimentarem tranquilamente...
EM NOME DA CULTURA, DA CIVILIZAÇÃO E DA ÉTICA ANIMAL
Senhor Dom Duarte Pio de Bragança:
Não posso negar que sempre tive uma certa simpatia por SAR, devido aos valores e princípios que põe nos seus discursos. Considero-o um homem culto e interessado pelo que se passa no nosso País e no mundo.
Certo dia, na inauguração da Caixa Agrícola da Póvoa de Varzim, estava eu a fazer a cobertura do acontecimento, para o já extinto jornal «O Comércio do Porto», aconteceu encontrar-nos no Casino local, onde foi dado um almoço volante aos convidados, nesse dia.
Então, já passando das 14 horas, deu-se o acaso de eu, o Senhor Dom Duarte e o Senhor seu irmão, ficarmos a um canto do salão, por não conseguirmos ter acesso à mesa, recheada dos mais variados manjares, por ter-se disposto ao redor dela uma muralha de gente intransponível.
Reparei então, na postura de dois membros da Casa Real Portuguesa, dois Príncipes que, humildemente, encostados a uma coluna da sala, conversavam, naturalmente com tanta vontade de comer, quanto eu. A mesa dos doces estava ali, à mão de semear. Olhei então para o Senhor Dom Duarte e atrevidamente “convidei-o” a comer doces, uma vez que não tínhamos acesso aos manjares, para eu não ficar a comê-los sozinha. Simpaticamente SAR acedeu, e pusemo-nos os três a comer os pastéis de nata que estavam enfileirados num prato.
Este episódio bastou para que a minha simpatia pelo Senhor Dom Duarte fermentasse. Afinal, um Príncipe, “aquele” Príncipe particularmente, não era a vedeta que se detesta. Era um ser humano, que tal como eu, sente fome e gosta de pastéis de nata.
Perdoe-me este aparte, que apenas teve a intenção de corroborar a minha simpatia por SAR.
Como Chefe da Casa Real Portuguesa, o Senhor Dom Duarte tem sobre os seus ombros toda uma responsabilidade de postura cívica que se quer exemplar. Aliás gosto de deambular pelo Blog da Família Real e ler o que diz sobre vários assuntos pertinentes, postura com a qual até concordo.
Contudo, por vezes, no melhor pano cai a nódoa.
Existe uma nódoa muito negra na vida de SAR, que não se coaduna nem com a Cultura Culta nem com a Civilização, pondo o estatuto da Família Real Portuguesa muito abaixo da Realeza Europeia.
Naturalmente que me refiro à chamada “Tourada Real” que, exceptuando na nossa vizinha Espanha (que está no bom caminho em direcção à Era da Civilização, tendo já acabado com o massacre de Bovinos na Catalunha), não existe em nenhum outro país onde reina a Monarquia.
Pergunto-me: porquê?
Sabemos que em Portugal as Touradas, introduzidas no tempo dos Reis Filipes espanhóis, foram proibidas no tempo do Marquês de Pombal, não pelo motivo certo, isto é, pelo respeito que devemos a todos os seres vivos, e pela Ética Animal, mas apenas porque alguém chegado a Dom José, morreu numa Tourada. Mas, enfim, foi um passo em frente.
Anos mais tarde essa prática foi retomada, e deu-se um retrocesso.
Uma vez que o “negócio dos Touros” envolve muitos milhares de euros, sacrificam-se e massacram-se animais magníficos, em nome de uma diversão sangrenta, que não traz o mínimo prestígio a quem a promove, nem aos que nela se envolvem, directa ou indirectamente.
Na próxima sexta-feira, dia 30 de Setembro, teremos em Vila Franca de Xira a XIV Tourada Real, uma vergonha não só para Portugal, como também para a Casa Real Portuguesa.
Não será preciso lembrar a SAR o sofrimento dos Touros, para “divertir” umas tantas pessoas que, vai desculpar-me, sofrem de sadismo crónico, uma vez que aplaudem a crueldade, com grande manifestação de alegria. Ora isso não é uma atitude normal. Ninguém aplaude a tortura, a crueldade em pleno gozo das suas faculdades mentais, ainda que seja a tortura de um animal não-humano.
A Educação quer-se para a Ética, para a Cultura Culta, para a Civilização, para a comunhão harmoniosa entre todos os seres vivos. Que valores estará SAR a passar aos jovens príncipes? A ética da crueldade? A cultura do desrespeito por um animal, com um ADN semelhante ao dos humanos? A civilização do sangue derramado inutilmente? Uma comunhão desarmoniosa, contrária aos princípios Cristãos?
Que papel representa a Igreja Católica na “bênção” dos toureiros?
Senhor Dom Duarte, como Chefe da Casa Real Portuguesa, deveria dar o exemplo e abolir definitivamente as Touradas Reais, que só desprestigiam a Casa de Bragança. Não quererá, com certeza, SAR continuar a ser cúmplice destes massacres hediondos, e deixar que o nome dos Bragança fique ligado a esta «terrível e venal arte de torturar e matar animais em público», como considerou a UNESCO.
SAR poderá redimir-se, acabando com esses massacres. Dará um exemplo digno de um Homem de Cultura, e será aplaudido pela realeza europeia, tal como pelos milhares de Portugueses e cidadãos de todo o mundo que lutam pela abolição do Massacre de Touros, na meia dúzia de países, sobre os quais ainda pairam as trevas e os odores bolorentos da Idade Média.
Albert Schweitzer, que SAR saberá quem é, considerava que «uma ética que nos obrigue somente a preocupar-nos com os homens e com a sociedade, não pode ser a verdadeira Ética. Somente aquela que é universal e nos obriga a cuidar de todos os seres nos põe em contacto com o Universo e a vontade nele manifestada».
É este um princípio Cristão, que não vejo ser seguido por aqueles que se dizem cristãos, enveredando pelo caminho da crueldade exercida sobre um outro ser, também criatura de Deus.
Respeitosamente,
Isabel A. Ferreira
(Cidadã portuguesa com direito à indignação)
Consulte-se este link para uma visualização da "arte" taumomáquica
http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/38589.html