(Na passagem do 10.º aniversário sobre o meu escorraçamento, do jornal onde trabalhava há vinte anos, por companheiros da profissão, motivados pelo poder político, em vésperas das comemorações do 25.º aniversário do 25 de Abril, em Portugal).
Origem da imagem: Internet
Ontem assim como Hoje
22 de Abril de 1999 – 22 de Abril de 2009
Copyright © Isabel A. Ferreira 2009
Há dias, deparei-me com uma situação deveras preocupante, quando um comum leitor de jornais me disparou a seguinte frase bombástica: «Uma vez mais ficou provado que as notícias que lemos nos jornais não nos merecem a menor confiança. E jornalistas… é fugir deles!»
Estas palavras, proferidas assim, cruamente, indignaram-me, mesmo porque há Jornalistas e jornalistas. Quis saber concretamente o que levou aquele leitor a chegar a uma conclusão tão radical, acerca de uma classe que, afinal, me diz respeito.
Desta vez (muitas outras vezes houve) o motivo de tanta indignação foi uma notícia que veio a público, num determinado jornal, assinada por um jornalista profissional, com longos anos de carreira, na qual afirmava um certo acontecimento, que me absterei de referir, por razões éticas.
O leitor, movido pela curiosidade, deslocou-se ao local descrito na notícia, para se inteirar pessoalmente do facto, verificando que, afinal, o que o jornalista divulgara não passava de uma tremenda mentira, apenas com o objectivo de atingir politicamente determinados senhores, rivais na política.
Dias mais tarde, no mesmo jornal, a primeira notícia foi desmentida, e o leitor acrescentou: «E se eu não tivesse ido ver com os meus próprios olhos, e verificasse, eu próprio, que a primeira notícia era falsa, não saberia em qual das duas acreditar!»
Ah! Então era isso! Naquele momento compreendi a sua indignação. Tinha razão, o leitor.
Embora aceitando plenamente a sua razão, que será, com certeza, a de milhares de outros leitores, aquele final de frase: «Jornalistas…é fugir deles!» fez-me reflectir na triste realidade do jornalismo português. É que por uns tantos fanáticos, que apesar de possuírem carteira profissional de jornalistas, não passam de meros fanáticos da política, com acesso a jornais (o que é bem diferente) paga toda uma classe.
Há bem pouco tempo estive a reler um interessante livro intitulado «Democracia e Censura Interna», da autoria do jornalista Sérgio Mourão (que será feito dele?) no qual põe em causa precisamente as “amplas liberdades” de expressão de pensamento e liberdade de imprensa garantidas pela Constituição da República Portuguesa, revelando publicamente «o mal que a censura pode causar à democracia, quando a Comunicação Social está amordaçada ao controlo do poder político, assumido por personalidades e por Conselhos de Redacção constituídos por profissionais com mentalidade de funcionários de partido»… acrescentando mais adiante: «Uma realidade política e económica, profundamente movediça e com o campo aberto à pior das censuras: aquela que é feita arbitrariamente pelos próprios companheiros de profissão».
Um livro de 1987 (ainda actualíssimo) que denuncia os cancros do jornalismo, que fazem esta profissão, hoje mais do que nunca, ser olhada de soslaio.
São precisamente esses censores – jornalistas-fanáticos-políticos de direita e de esquerda, que muito à maneira do antigamente, fazem censura, transformam, com a sua doentia submissão partidária, o jornalismo num trampolim, com objectivos nem sempre claros, deturpando, desse modo, a sua principal missão, que deve ser seguida como um autêntico sacerdócio – a de bem informar e formar o leitores, apresentando-lhes os factos tais como são, e não como gostariam que fossem.
O fanatismo, tenha a origem que tiver – político, religioso, racial, social, ou qualquer outro – leva o homem a agir como um ser irracional, fazendo-o perder a noção da verdade, da realidade, do bom senso. Retira-lhe, por completo, o poder de discernimento e dá-lhe uma visão totalmente distorcida do mundo, levando-o a usar frequentemente o argumento da calúnia, da difamação, da mentira, da invenção e inversão de factos, apenas para atingir os seus mais mesquinhos objectivos. Por isso, o fanático tantas vezes se senta no banco dos réus.
Por incrível que pareça, no actual jornalismo português, ainda há indivíduos deste género, que de tão fanáticos, guardam um ódio patológico a todos quantos não sejam da sua “cor política” (como se o verdadeiro Jornalista possa ter cor política!). Pode e deve ter, sim, opinião política. O seu partidarismo, porém, deve ficar pendurado à porta das Redacções dos jornais, se quiser ser um profissional honesto. Mas o que muitas vezes acontece é que rixas meramente pessoais se sobrepõem à verdade jornalística e o que é oferecido ao leitor não passa de uma grande farsa.
Contudo, não podemos ajuizar toda uma classe pelo (mau) exemplo de uns tantos indivíduos que, de jornalistas só têm a carteira profissional ou o simples hábito de escrever em jornais, pois não é uma carteira profissional que faz um bom jornalista, mas sim as palavras que escreve com rigor, isenção e discernimento.
É necessário, pois, que os leitores saibam distinguir o trigo do joio e, para tal, basta estar atento à realidade e ao que se escreve sobre ela, e, desse modo, descobrirão facilmente que há Jornalistas e jornalistas.
Será urgente um rigoroso saneamento nas empresas jornalísticas, para que o Jornalismo Português seja uma profissão da qual possamos sentir orgulho em exercê-la.
Isabel A. Ferreira