Segunda-feira, 28 de Setembro de 2009

O Lírio, a Gota de Orvalho e a Sarça Ardente...

 

Copyright © Isabel A. Ferreira 2009
 
 
 (Fonte da imagem: Internet)
 
 
O LÍRIO
 
 
«Na verde margem do rio Ticino, cresceu um belo lírio. Alta e erecta na sua haste, a flor reflectia as suas brancas pétalas nas águas; e estas quiseram apoderar-se delas. Cada onda que passava levava consigo a imagem daquela branca corola e transmitia esse desejo às ondas que viriam a seguir. Assim, todo o rio começou a fremir, as ondas tornaram-se inquietas e velozes; e não podendo colher o lírio, bem agarrado ao solo e lá no cimo da sua robusta haste, atiraram-se, furiosas, contra a margem, arrastando consigo tudo o que havia, incluindo o lírio puro e solitário».
 
Foi através deste texto que descobri, há uns anos, o íntimo de Leonardo da Vinci. O meu primeiro encontro com o mundo exterior do grande sábio italiano aconteceu, porém, quando eu tinha apenas 15 anos e frequentava uma Escola Inglesa.
 
Por aquela época, já eu adquirira o hábito da leitura e era frequentadora assídua da vastíssima biblioteca da escola. Foi lá que conheci uma lady inglesa, muito culta e já de certa idade, que ali trabalhava como bibliotecária. Ainda me recordo da primeira vez que entrei naquela biblioteca. Dirigi-me à venerável senhora, num Inglês ainda mal pronunciado, para que me orientasse na procura de um determinado livro. A lady, olhando-me com uns olhos exageradamente abertos, disse-me na sua pausada pronúncia londrina: «Incrível! Como a sua expressão me faz lembrar Mona Lisa!»
 
Mona Lisa! A Gioconda. O nome não me era estranho. Sim, o célebre quadro de Leonardo da Vinci. Já o conhecia, mas... o que é que uma jovem de 15 anos teria em comum com uma madona italiana do século XV? Tal possibilidade entristeceu-me. Porém, a senhora bibliotecária lá teria as suas razões para fazer tal afirmação. Talvez o sorriso que sempre mantenho nos lábios! Talvez!
 
Apesar de nunca ter percebido esta estranha apreciação, o certo é que, a partir desse dia, tornámo-nos grandes amigas, e é a essa lady que devo todo o meu conhecimento não só sobre o velho sábio italiano, como sobre outros grandes nomes da História da Humanidade.
 
Depois deste episódio, comecei a dedicar algum do meu tempo a olhar o sorriso enigmático de Mona Lisa, na esperança de nele descobrir algo de comum à minha própria expressão. Mas, se por um lado nunca encontrei nada que justificasse a asserção daquela senhora inglesa, por outro, aprendi a compreender e a ter por Leonardo da Vinci, um dos génios mais versáteis de toda a Humanidade, uma admiração tal que, não fosse a minha aversão pela idolatria, teria feito dele o meu herói.
 
Entretanto, há alguns anos, ao entrar numa livraria, deparei com um título que me chamou a atenção: «Fábulas e Lendas de Leonardo da Vinci». Ao manusear o livro, abri-o, por acaso, onde estava escrita a fábula «O Lírio». Eu sabia que Da Vinci tivera uma incansável e insaciável curiosidade e nutria um sentimento muito profundo por todos os seres vivos. Era um observador apaixonado dos fenómenos da Natureza. Sabia também que a sua torturada imaginação o levou a penetrantes observações em quase todos os ramos do Saber. Chegou até a ser um exímio músico. O que eu desconhecia é que Leonardo era um admirável contador de fábulas e lendas e, ao ler «O Lírio» mergulhei repentinamente no íntimo do sábio e descobri a subtileza, a sensibilidade e a magia do seu mundo.
 
 
 (Fonte da imagem: Internet)
 
 
A GOTA DE ORVALHO
 
Porquê este encómio a Leonardo? Perguntarão, talvez, os leitores. Pois ele vem a propósito de um belíssimo filme que vi sobre a genialidade da figura e da obra de Da Vinci. Neste filme, impressionaram-me três aspectos, de tal forma que não consegui calá-los, nem resisti à tentação de partilhar o sentimento que em mim despertaram. O primeiro, foi reconhecer a grandeza do cérebro humano que, se tiver a sorte de animar um espírito sensível, quanta maravilha pode trazer à vida do Homem!
 
O segundo, foi descobrir, através da imaginação de Leonardo, a versatilidade de um dos elementos da Natureza que mais temo e, ao mesmo tempo, mais admiro – a Água: a violência das águas revoltas do mar e a suave tranquilidade das águas de um rio; a força destruidora de uma cachoeira e a brandura de uma gota de orvalho. Só um homem sábio, sensível e mágico poderia descobrir tal subtileza no Universo.
 
 
(Fonte da imagem: Internet)
 
 
 
A SARÇA-ARDENTE
 
O terceiro aspecto foi o facto de o realizador do filme não ter “matado” Leonardo da Vinci. Deixou-nos com a bela figura de um velho génio no final da vida.
 
Entre as pedras solitárias, de um solitário jardim, ficou-nos a imagem de uma sarça-ardente que, assim como a que sempre ardeu no íntimo do sábio, não mais se apagará na memória dos Homens.
 
 
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 11:42

link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos

Mais sobre mim

Pesquisar neste blog

 

Março 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
14
15
16
17
19
21
22
23
24
25
27
28
29
30
31

Posts recentes

O Lírio, a Gota de Orvalh...

Arquivos

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Direitos

© Todos os direitos reservados Os textos publicados neste blogue têm © A autora agradece a todos os que os divulgarem que indiquem, por favor, a fonte e os links dos mesmos. Obrigada.
RSS

AO90

Em defesa da Língua Portuguesa, a autora deste Blogue não adopta o Acordo Ortográfico de 1990, nem publica textos acordizados, devido a este ser ilegal e inconstitucional, linguisticamente inconsistente, estruturalmente incongruente, para além de, comprovadamente, ser causa de uma crescente e perniciosa iliteracia em publicações oficiais e privadas, nas escolas, nos órgãos de comunicação social, na população em geral, e por estar a criar uma geração de analfabetos escolarizados e funcionais. Caso os textos a publicar estejam escritos em Português híbrido, «O Lugar da Língua Portuguesa» acciona a correcção automática.

Comentários

Este Blogue aceita comentários de todas as pessoas, e os comentários serão publicados desde que seja claro que a pessoa que comentou interpretou correctamente o conteúdo da publicação. 1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias. Serão eliminados os comentários que contenham linguagem ordinária e insultos, ou de conteúdo racista e xenófobo. Em resumo: comente com educação, atendendo ao conteúdo da publicação, para que o seu comentário seja mantido.

Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt