Sexta-feira, 10 de Maio de 2024

«Bicadas do meu Aparo: “Abrilada - custos e reparações”»

 

Penso que Sua Excelência o Presidente da República, Marcelo de Sousa, adora protagonismo ou então gosta de falar meia-hora em cinco minutos. Também pode gostar de mostrar ao povaço, que bem não se sente se estiver quieto e calado.

 

 Também pode querer que pensem que é o pai da nação e que o povaço não tem peitaça para pensar, e que a incultura política existente o obriga a fazer política em nome de todos.

 

Sua Excelência o Presidente, tem o direito de pensar o que quer e desabafar o que entende, desde que o seu desabafar não crie nódoas à Presidência da República, nem mau nome à Nação e, evidentemente, aos portugueses.

 

Nas festas do 50º aniversário da Abrilada em Portugal, foi altamente anunciado, que Sua Excelência entende que Portugal deve fazer “acções concretas” em reparações coloniais, “pagar os custos” da presença colonial portuguesa nos países respectivos, enfim, toda uma situação que ninguém lhe encomendou e muito menos encomendaram os chefes desses países, que estavam presentes nas comemorações Abrileiras.

 

Acredito que possa haver possibilidades de fazer certas “reparações” e ou devoluções aos países a quem Abril deu a independência. Pode haver coisas, várias coisas que possam ter sido usurpadas das ex-colónias portuguesas e entendo que devem ser devolvidas.

 

 Agora “pagar custos” da presença colonial portuguesa, no mínimo, isso é demagogia, é querer protagonismo, é não ter os pés assentes no terreno da política que faz.

 

Ora, se está em causa “reparar” e “pagar custos”; se é justo assim se proceder; se uma obrigação vinda e imposta do exterior tivesse de ser cumprida, Sua Excelência o Presidente da República de Portugal – para haver contas certas – teria de exigir aos Árabes o que nos usurparam, aos Romanos idem, aos Franceses idem, e teria de exigir à Espanha a devolução de Olivença e de mais três povoações, que são de Portugal, que as invasões Napoleónicas fizeram.

 

Mais: “acções concretas” e “reparar ou pagar custos”, devido à permanência portuguesa em África, tem obrigação a Nação em primeiríssimo lugar, de reparar e pagar custos aos muitos milhares de portugueses que foram obrigados a enfrentar a guerra nas três ex-províncias ultramarinas, reparação e custos que nunca foram pensados e analisados pelos militares de Abril/1974 e pelos políticos que nos têm governado nestes últimos cinquenta anos.

 

Mais: Militares de Abril e estes democratas de ocasião, nunca “repararam nem pagaram custos”, às mães viúvas dos soldados mortos em África; aos filhos órfãos então criados; aos milhares de estropiados por balas e minas rebentadas, esqueceram, isto é, não há um serviço de saúde próprio para as centenas e centenas de stressados dessa guerra, que lutam pela sobrevivência e que não conseguem saber onde estão e quem são.

 

Sua Excelência o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ao levantar tais problemas sem que alguém lhos encomendasse – pelos menos oficialmente – pretende ser bombeiro na casa dos outros e esquece o fogo existente há muito tempo na sua casa – Portugal. Pretende enviar detergentes para limpar a casa dos outros, mas esquece que a sua casa – Portugal – tem lixo bolorento e pedregulhos perigosos do Minho ao Algarve.

 

Senhor Presidente da República de Portugal, Marcelo de Sousa: pense sim em ser frenético e nunca se deixar calar, pela reparação e custos aos militares vivos da guerra do Ultramar, aos estropiados e stressados, bem como ser frenético, deveras frenético, em que a Espanha devolva Olivença, que é Portugal, mesmo que se tenha de recorrer a QUEM DE DIREITO, e não andarem com paninhos-quentes e ao beija-mão a Espanha.

 

A espanhóis, a árabes, a romanos e aos franceses, nada devemos. Eles sim, devem. E depois de recebermos e de se pagar aos soldados, sargentos e oficiais milicianos da guerra do Ultramar, façamos então contas certas por termos sido colonizadores.

 

Finalmente, como escreveu Fernando Pessoa: “Não o prazer, não a glória, não o poder: a liberdade, unicamente a liberdade”, o carácter e a seriedade, pois claro!

 

(Artur Soares – escritor d’Aldeia)

(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990).  

***

 A propósito...

Sala de Leitura Real Portuguesa, Rio de Janeiro, B

 Sala de Leitura Real Portuguesa, Rio de Janeiro, Brasil
Fonte da imagem: https://www.facebook.com/photo/?fbid=742625181402812&set=a.723522463313084

 

O Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, fundado em 14 de Maio de 1837, possui a maior e mais valiosa Biblioteca de obras de autores portugueses fora de Portugal, com um acervo de 350.000 volumes. Trata-se de uma Biblioteca fundada por Portugueses, como prova de gratidão dos que foram para o Brasil procurar uma vida melhor.  

 

E se os Portugueses quisessem que o Brasil devolvesse esta riqueza bibliográfica a Portugal, como reparo do que o Brasil fez à Língua Portuguesa?

Isabel A. Ferreira

 

Fonte da imagem: https://www.facebook.com/photo/?fbid=742625181402812&set=a.723522463313084

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:25

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