Um excelente texto de Isabel Santos
A descrição que se segue é a verdade verdadeira da tourada, à qual, os que não sabem, chamam “arte” e “festa”…
«São 17h30
Neste momento, em Baião, vai começar a "festa".
Debaixo de um calor de mais de 30º, sem vento, e depois de terem permanecido mais de 12 h metidos numa divisória de metal de um camião onde mal se podem mexer, os 6 touros vão ser "lidados" na praça amovível instalada para o efeito no alto de uma colina.
Vão ser perfurados com ferros (bandarilhas) que medem 70 cm de comprimento, enfeitadas com papel de seda de variadas cores e rematadas com um ferro de 8 cm, com um arpão de 4 cm de comprimento e 20mm de largura e com farpas ou ferros compridos e ferros curtos que medem , respectivamente, 140 cm e 80 cm de comprimento, com ferragem idêntica à da bandarilha, mas com dois arpões enfeitados e rematados da mesma forma que as bandarilhas.
Os ferros que lhe penetram e rasgam o músculo provocarão uma dor lancinante (o touro sente até uma mosca pousar-lhe no dorso - daí abanar com a cauda para a enxotar - porque não haveria de sentir dor se é feito de carne e osso como nós?) Depois de lhe serem cravados os ferros, exaustos e debilitados, enfraquecidos, vão ainda ser atormentados por 8 homens que o vão provocar, tentar imobilizar, saltar-lhe para cima e puxar-lhe violentamente a cauda (vértebras serão partidas) e humilhá-lo.
Depois será obrigado a recolher ao camião, como alguém me dizia hoje de manhã, "puxado e arrastado tão violentamente por cordas que se fica com a sensação que lhe vão arrancar os cornos".
No camião, ser-lhe-ão arrancados os ferros, a sangue frio, cortando a carne à volta do arpão com uma faca, deixando-lhe o dorso esburacado em carne viva...
Depois da " festa rija", quando os espectadores tiverem dificuldade em manter-se em pé, o touro vai ser levado para o matadouro de Santarém, no mesmo camião onde não se pode mexer, deixando atrás de si um rasto de sangue e diarreia.
Hoje é sexta-feira.
Amanhã é sábado, os matadouros não trabalham.
Domingo também não.
Com sorte, e se não tiverem morrido até lá, os touros serão finalmente mortos na segunda-feira, depois de atordoados com choques eléctricos e pendurados de cabeça para baixo.
Terão Paz afinal.
Muito grata a todos os que colaboraram nesta iniciativa, tentando alertar os autarcas de Baião para o massacre que se vai passar agora mesmo, na cidade. Como seria de esperar, não conseguimos impedir estes 6 touros de sofrerem horrores mas esperamos que o executivo camarário tome consciência desta barbárie e comece a fazer a cidade dar os primeiros passos no caminho da verdadeira evolução, a civilizacional.»
Fontes:
https://www.facebook.com/events/665892193440471/
https://www.facebook.com/CampanhaContraTouradasMundo
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Antes deste macabro episódio, a Isabel Santos, juntamente com outros activistas tentaram dissuadir o Presidente da Câmara Municipal de Baião a levar adiante tão grosseira actividade, e enviou ao autarca este outro excelente texto:
«Tanto quanto sei, a “ tradição” em Baião nada tem a ver com a tourada nos moldes actuais. Ainda que tivesse, o argumento da tradição não justifica tudo, já que as tradições não são estáticas e imutáveis, moldam-se e adaptam-se à evolução das mentalidades e das sociedades.
A tradição não tem valor intrínseco, não é por algo ser tradição que se torna inquestionavelmente bom ou mau. A tradição é, em última análise, tão-somente um costume que se foi repetindo ao longo dos tempos. E houve “tradições” bem cruéis que foram naturalmente abandonadas.
Cito, a título de exemplo, as execuções em praça pública que eram na Idade Média uma das maiores atracções populares, juntando milhares de pessoas. Este argumento é por isso um não argumento, uma falácia.
Por outro lado não existem em Baião ganadarias, toureiros, forcados nem tão pouco praça de touros, como quer fazer crer o cartaz de divulgação da tourada. E, ainda que existissem, isso também não seria justificação dado que, também com a evolução, muitas ocupações se extinguem, dando lugar a outras – é o curso natural das coisas. Assim testemunhariam os negreiros, os feitores de escravos, e até os inocentes proprietários de mercearias locais que se viram obrigadas a fechar para dar lugar a grandes hipermercados.
Como o Sr. Presidente sabe, as touradas são espectáculos degradantes que além de serem inaceitáveis em termos de abuso e maltrato animal, em nada dignificam as pessoas, já que promovem modelos de comportamento agressivos e desrespeitosos.
Por tudo isto, lamento que o Sr. Presidente José Luís Carneiro, notável do PS e vereador da cultura da CMB, não tenha tido um minuto na sua agenda para, há semanas atrás, ouvir e dialogar com representantes de movimentos da protecção animal, que respeitosamente lhe pediram audiência no sentido de sensibilizar atempadamente a população e os autarcas, de forma racional, para esta questão.
Lamento ainda que não tenha tido a delicadeza de dar uma única resposta às dezenas de emails que lhe foram enviados, pedindo, de forma racional, respeitosa e educada, para excluir do PROGRAMA OFICIAL DAS FESTAS DE S. BARTOLOMEU, a realização de uma tourada.
Já que nada disto foi possível, gostaria que, pelo menos aqui e agora, me esclarecesse quais serão então as formas de, em conjunto com a autarquia de Baião, promover iniciativas de sensibilização para que decorra DESDE JÁ uma evolução em defesa dos direitos dos animais no concelho, dado que estaremos sempre ao dispor para acompanhar a CMB na sua visível preocupação com este assunto.
Ficarei a aguardar ansiosamente uma resposta.
Grata, cumprimentos, Isabel Santos (activista pelos direitos dos animais- distrito do Porto)»
(Recebido via e-mail).
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Escusado será dizer, que este, como outros autarcas, ficam cegos, surdos e mudos aos apelos racionais, de seres humanos, que se preocupam com o bem-estar de seres não-humanos, e, consequentemente, com a evolução da Humanidade.
A tortura de seis magníficos Touros realizou-se, e Baião continua no rol das localidades portuguesas que se recusam a evoluir.
Isabel A. Ferreira