A criança da foto foi colhida por um Touro, em Benavente, durante uma largada de touros. Estava acompanhada daquele que tem o dever inalienável de a proteger, e não a protegeu...
Foto: Cristina Machado
O indivíduo e a criança estariam sentados na tronqueira quando o touro investiu contra esta e ambos caíram dentro da manga onde corriam os Touros.
O que se passou em Benavente, no passado dia 04 de Agosto, viola claramente a Convenção sobre os Direitos da Criança, adoptada pela Assembleia Geral nas Nações Unidas, em 20 de Novembro de 1989, e ratificada por Portugal.
Viola igualmente a recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU), através do Comité dos Direitos da Criança, órgão composto por 18 especialistas de vários países, que se pronunciaram explicitamente contra a que crianças e adolescentes participem ou assistam a corridas de touros e outros eventos tauromáquicos, recomendações essas que o Comité dirigiu a Portugal especificamente, após examinar o relatório apresentado por este país para dar conta das medidas tomadas para proteger a infância, no âmbito da Convenção dos Direitos da Criança, e que Portugal ostensivamente não cumpre.
Portugal continua a não cumprir as suas obrigações e a fugir a responsabilidades que lhe compete, no que respeita à protecção de menores que são expostos à violência da tauromaquia.
Esta largada de Touros, em Benavente, estava inserida nas festas em honra de Nossa Senhora da Paz, como se Nossa Senhora da Paz abençoasse a celebração da violência contra seres vivos!
Uma vez mais a igreja católica é cúmplice destes festejos macabros, cruéis e violentos para celebrar a Mãe de Deus…
Enfim… e o povo de Benavente achou que a Nossa Senhora evitou uma tragédia…
A criança sofreu escoriações, mas poderia ter morrido.
De qualquer modo, as escoriações sofridas pela criança, para além do perigo a que esta esteve exposta, deveriam ser motivos mais do que suficientes para chamar à justiça o progenitor que a expôs a esta situação, e as autoridades que permitem tais descalabros.
Num país a sério, o progenitor seria preso, por negligenciar a vida de um menor, e as autiolidades locais chamadas à barra do tribunal.
Aquela mãe toxicodependente que retirou uma criança dos cuidados intensivos, por amor, foi presa porque “expôs” a criança a perigo de vida.
Haverá duas justiças em Portugal?
Haverá dois “géneros” de crianças em Portugal?
Os filhos dos aficionados de selvajaria tauromáquica estarão ABAIXO dos filhos de todos os outros cidadãos?
Sim, porque os filhos dos aficionados de selvajaria tauromáquica são agredidos fisicamente e psicologicamente ao entrarem em contacto com esta prática cruel e violenta, e as autoridades portuguesas o que fazem?
Além de serem cúmplices destas agressões, acobertam a manifesta negligência dos progenitores, que não sofrem a mínima punição.
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Veja-se o que se diz na Rede Judiciária Europeia:
«São muitas as convenções internacionais sobre protecção de menores e responsabilidade parental.
A protecção da criança é uma questão importante abordada por numerosas convenções internacionais. Embora o âmbito das convenções possa variar, o tema comum consiste em promover o bem-estar da criança a nível internacional.
Nações Unidas • Convenção sobre os Direitos da Criança - 1989
Esta Convenção afirma que todas as crianças são iguais e têm direito a usufruir do direito à vida, ao desenvolvimento das suas capacidades, à participação e à protecção. Consagra o princípio de que todas as decisões relativas a crianças devem ter fundamentalmente em conta o interesse superior da criança. Todos os Estados-Membros ratificaram a Convenção.»
in: http://ec.europa.eu/civiljustice/parental_resp/parental_resp_int_pt.htm
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Em Portugal nada disto tem a menor importância.
Estaremos a viver num país a sério? Com autoridades a sério? Com governantes a sério?
Não é chegada a hora de prestarem contas aos cidadãos portugueses com responsabilidade cívica?
Isabel A. Ferreira
Isto aconteceu em Portugal, onde a violência e a crueldade contra seres vivos indefesos, inocentes e inofensivos são consentidas por Lei.
E um ser vivo é todo aquele que VIVE.
… e o menino que se chamava Henrique é agora mais uma estrelinha a brilhar no Céu…
Era uma vez um menino chamado Henrique…
Henrique era um menino lindo, e poderia ter tido uma história de vida linda, como todos os meninos merecem…
Mas a vida de Henrique foi bruscamente interrompida, aos seis meses (sim, aos seis meses de idade), por um acto monstruoso, bárbaro e extremamente cruel, cometido por aquele que devia protegê-lo de todos os brutos que erram pelo mundo – o seu próprio progenitor (que não merece ser chamado de Pai), quando este, empunhando uma faca de cozinha, a espeta no peito da inocente criança.
Se a estocada fosse certeira, a morte do menino chamado Henrique seria rápida. Mas não foi.
O menino chamado Henrique não teve morte imediata. O progenitor, sadicamente, friamente, calculadamente, gravou os estertores da morte da inocente criança, num vídeo que enviou à Mãe, a quem, na verdade, aquela facada era dirigida.
E enquanto o vídeo estava a ser filmado por quem lhe desferira o golpe, Henrique agonizava lentamente, com uma hemorragia interna que se alastrou por todo o seu ainda tão delicado corpinho, até lhe sufocar o coraçãozinho, que paulatinamente, foi reduzindo os batimentos até que parou e a alma de um anjo foi libertada.
E ali ficou Henrique, abandonado a uma morte ignóbil, com a faca espetada num peito ainda por brotar, com uma dor vivida na solidão, que ainda não entendia, e que foi a solidão de um anjinho que subiu ao céu sem qualquer amparo.
Henrique era um inocente e indefeso menino.
Esta morte chocou até as paredes do compartimento onde a criança foi esfaqueada.
Chocou o mundo humanizado.
Que sociedade é esta em que vivemos?
Que monstros está a produzir a política da violência, do vinho, do desemprego, da crueldade e da morte que o governo português apoia sem se dar conta?
O que fazem as comissões de protecção de menores?
Espero que a morte do menino chamado Henrique sirva para lançar em Portugal a reflexão que urge sobre o tipo de sociedade que políticas mal orientadas, pouco reflectidas e negligenciadas está a construir.
Que este filicídio sirva também para rever a moldura penal portuguesa. Vinte e cinco anos de cadeia para tal crime é demasiado pouco.
E se a Justiça nos falha, falha toda a estrutura Humana.
Isabel A. Ferreira