Passados são já 51 anos, sobre aquela madrugada, na qual, todos os Portugueses pensantes e livres, dotados de Sentido de Cidadania e de Espírito Crítico, depositaram todas as esperanças de ver um Portugal finalmente livre da ignominiosa política despótica que o sufocava.
Por tudo o que aqui abordarei, repetindo o que ainda não foi alcançado e o que se destruiu, depois daquele primeiro 25 de Abril, o que teremos para celebrar hoje?
Seria da racionalidade que o próximo governo (que terá as mesmas caras e, pelo que vemos, ouvimos e lemos, as mesmas políticas do anterior) deputados da Nação, presidente da Assembleia da República, presidente da República, autarcas e partidos políticos, fizessem um acto de contrição e pedissem desculpa aos Portugueses, por pouco terem feito pelos ideais de Abril, mantendo Portugal num vergonhoso banho-maria.
Portugal é um país que se encontra em franca decadência moral, social e cultural e, em quase tudo, está na cauda da Europa, quiçá do Mundo. E disto não nos livra nem o clima, nem as belas paisagens, os monumentos, a gastronomia e a relativa segurança na vida quotidiana, que ultimamente tem-se agravado substancialmente. Porque tudo isto é apenas para estrangeiro ver e viver.
O “25 de Abril” trazia a esperança que os jovens, a caminho do Futuro, depositaram na Revolução dos Cravos, sonhando com uma sociedade onde pudessem estudar, tirar um curso, exercer a profissão, na qual tanto investiram, viver debaixo de um tecto acessível e educar os filhos em liberdade… Quantos deles se arrastam por aí, desempregados, ou com empregos precários? A viver na casa dos pais, depois dos 30 anos? Quantos deles foram obrigados a emigrar? E não foi para isto que se fez o 25 de Abril.
Que 25 de Abril celebramos hoje? Há que ter espírito crítico, e não ver apenas por cima das saias de renda.
Bem, no que me diz respeito, celebro o facto de poderescrever nas linhas, o que até ao dia 25 de Abril de 1974 escrevia nas entrelinhas, para ludibriar a PIDE.
Celebro também poder participar em eleiçõesnão-manipuladas (por enquanto) pelo Poder, para ajudar a escolher a governação do meu País. Só que foram pouquíssimas as vezes em que os candidatos, que eu tinha como honestos e incorruptíveis, para poderem exercer o Poder, e em quem votei, chegaramao Poder. Mas não será esta uma particularidade da Democracia? Não será o Poder o espelho do Povo?
Celebro algumas outras coisas que foram adquiridas, mas logo que adquiridas, deterioraram-se por falta de políticas racionais.
Contudo, NÃO celebroa LIBERDADE de que tanto se fala, quando se fala de Abril, porque LIBERDADE sempre a tive, mesmo com a PIDE a rondar os meus calcanhares; mesmo com a censura a tentar travar-me o PENSAMENTO, porque, para mim, LIBERDADE não é poder fazer ou dizer tudo o que me apetece. Para mim, LIBERDADE é poder PENSAR, ter SENTIDO DE CIDADANIA e ESPÍRITO CRÍTICO, algo que nenhum algoz, por mais autoritário que seja, jamais poderá arrancar de mim: “Não há machado que corte a raiz ao pensamento (…) porque é LIVRE como o vento (…)», como escreveu Manuel Freire, para a canção “Livre”, e que também cantei, num tempo em que não podíamos cantá-la.
E este é o verdadeiro espírito da LIBERDADE, que deveria ser celebrada no 25 de Abril, e não é celebrada, porque o conceito de Liberdade foi amputado, e a tão ansiada DEMOCRACIA PLENA (aquela em que os governantes servem o Povo e o País, e NÃO os lobbies e os seus interesses particulares, e também os desígnios dos estrangeiros.
Aquela em que o Povo é quem mais ordena está ainda por cumprir, porque esmagada por governos autoritários, por um Parlamento ao serviço de interesses lobistas, e por presidências da República sem o mínimo sentido de Estado (exceptuando a do General Ramalho Eanes).
Se o 25 de Abril trouxe à sociedade portuguesa significativos benefícios, os malefícios estão a superar esses benefícios, e Portugal retrocede a olhos vistos nas conquistas que o 25 de Abril lhe trouxe. Em 51anos desconstruiu-se o País que a Revolução dos Cravos, com boas intenções, tentou construir.
Como podemos celebrar a Revolução dos Cravos, se estamos atolados em corrupção, vigarice, hipocrisia, subserviência, servilismo, ganância, negociatas, enriquecimento ilícito, ignorância optativa, irresponsabilidade, negligência, incompetência, condutas terceiro-mundistas, fraudes, vassalagem a países estrangeiros e imposições prepotentes?
Portugal serve de motejo a países que, apenas por mero interesse, lhe finge amizade, algo que uma cegueira mental acentuada não permite vislumbrar.
Já não somos Portugal. Perdemos a nossa IDENTIDADE e a nossa DIGNIDADE de País livre e independente, ao descartarmos a Língua Portuguesa, substituindo-a por uma mixórdia, cada vez mais bizarra e funesta, que nos envergonha a todos.
Eis o que, passados 51anos, Portugal continua a ser:
- Um país, onde ainda se continua a viver em pobreza extrema, com crianças e idosos a passarem fome, com bairros de lata às portas de Lisboa, e centenas de sem-abrigo, sem esperança alguma.
- Um país, que continua a ter a maior taxa de analfabetismo da Europa.
- Um país dos que menos gasta na Saúde, com um Serviço Nacional de Saúde caótico, onde falta quase tudo, dizendo do subdesenvolvimento, do retrocesso e da miséria que ainda persistem por aí, morrendo-se à espera de cuidados médicos,
- Um país que empurra para o estrangeiro os seus jovens mais habilitados: enfermeiros, médicos, engenheiros, investigadores, artistas.
- Um país que mantém o trabalho precário e salários miseráveis, enquanto que para a “cultura” da morte (touradas e caça), os subsídios são obesos.
- Um país cheio de gritantesdesigualdades sociais, onde os ricos são cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres.
- Um país onde ainda há populações que vivem sem água encanada, sem electricidade, sem esgotos, sem telefone, sem Internet; onde a exploração das habitações merecia ser penalizada.
- Um país cheio de banqueiros e outros que tais ladrões, que sugam o dinheiro do Povo.
- Um país com governos que se dizem de esquerda a fazer políticas de direita.
- Um país com uma Comunicação Social submissa e servilista.
- Um país onde a Justiçaanda de rastos, com processos que demoram tempos infinitos; uma justiça extremamente cara, desigual, lenta, injusta, e, em muitos casos, nomeadamente no que respeita ao MP, anda ao sabor de interesses políticos.
- Um país onde a Constituição da República é violada por quem a deveria defender.
- Um país com uma política e políticos desacreditados.
- Um país que promove a violência contra animais não-humanos, o que por sua vez gera a violência contra os seres humanos; um país que os mantêm acorrentados, enjaulados, torturados em público, para gáudio de sádicos e psicopatas.
- Um país com um elevado índice de violência doméstica.
- Um país com um elevadíssimo número de crianças e jovens em risco.
- Um país que atira crianças para arenas de tortura de animais, e permite que sejam iniciadas em práticas violentas e cruéis, roubando-lhes um desenvolvimento que se quer saudável, o que constitui um crime de lesa-infância. Impunível.
- Um país cheio de grupos e grupelhos de trabalho; de secretários; de secretários de secretários; de assessores; de secretários de assessores; de comissões; de subcomissões, que não servem absolutamente para nada, a não ser para ganharem salários descondizentes com os serviços que (não) prestam; de deputados a declararem moradas falsas para receberem subsídios ilícitos; de deputados a declararem habilitações falsas; deputados que roubam malas; e ex-presidentes da República com gabinetes e outras mordomias (à excepção do General Ramalho Eanes).
- Um país que descura a sua Flora e a sua Fauna, o Meio Ambiente, as Florestas, mantendo tudo ao abandono e à mercê de criminosos impuníveis.
- Um país que mantém as Forças de Segurança instaladas em edifícios a cair de podres, e com falta de quase tudo.
- Um país onde ainda existem Escolas com instalações terceiro-mundistas, sem as mínimas condições para serem consideradas um lugar de aprendizagem; e com tribunais, como o de Monsanto, que parece um galinheiro abandonado.
- Um país onde as prisões são lugares de diversão, com direito a vídeos publicáveis no Facebook; e onde a droga é traficada, descaradamente.
- Um país cheio de leis e leizinhas inúteis e retrógradas, que não servem para nada, a não ser para servir lobbies dos mais hediondos, e proteger criminosos impuníveis.
- Um país que não promove a Cultura Culta, e apoia a tortura de Touros e Cavalos, a que muitos querem, porque querem, que seja arte e cultura.
- Um país que apoia chorudamente a caça, assente em premissas falsas e exterminadoras.
- Um país, cujo Sistema de Ensino é dos mais desqualificados e caóticos, desde a implantação da República, onde falta quase tudo, e com a agravante de se estar a enganar as crianças com a obrigatoriedade da aprendizagem de uma ortografia que NÃO é a portuguesa, a da Língua Materna delas, estando-se a incorrer num crime de lesa-infância. Impunível.
- Um país, que tinha uma Língua Culta e Europeia, e hoje tem um arremedo de línguagem, uma inconcebível Língua de Ninguém, imposta ditatorialmente por políticos pouco ou nada esclarecidos e muito subservientes, que estão a fabricar,conscientemente, os futuros analfabetos funcionais, e a promover a iliteracia.
- Um país onde os governantesnão sabem escrever correCtamente, a Língua oficial do País que dizem servir: a Portuguesa. E como referiu Maria Alzira Seixo: «Ao menos, Salazar sabia escrever».
- Um país onde, parvamente, se começou a dizer “olá a todos e a todas,amigos e amigas, portugueses e portuguesas”, como se esta linguagem, dita inclusiva, viesse resolver as disparidades sociais. Uma desmedida parolice.
- Um país, com um presidente beijoqueiro e viciado em selfies (agora não tanto, e ainda bem) e primeiros-ministros que não têm capacidade de ver o visível, muito menos o invisível, que qualquer cego, de nascença, vê à primeira vista.
- Um país, constantemente marcado por contestações sociais, com o número mais elevado de sempre de greves em todos os sectores da sociedade portuguesa.
- Enfim, um País que perdeu a sua identidade linguística (algo de que ninguém se atreve a falar) e está à mercê de estrangeiros; um país sem rumo, que faz de conta que é um país.
- E ainda há a questão da imigração desregrada, que arrasta os que para cá vêm a pensar num futuro melhor, nuns meros desgraçados, que vivem aos Deus dará.
Os 51 anos da Revolução dos Cravos não foram ainda suficientes para acabar com todas estas nódoas negras que mancham a Democracia Plena que deveria ter nascido do 25 de Abril?
Enquanto tudo isto (e muito mais, que agora não me ocorre) não sair da lista do que não se quer para um País de Primeiro Mundo, evoluído e civilizado, o que há para comemorar em mais este 25 de Abril?
Como disse Manuel Damas, num texto escrito no Facebook, por esta altura:
Não foi para isto que se fez Abril. Falta cumprir Abril, porque falta:
- Recuperar a Honestidade;
- Recuperar a Seriedade;
- Recuperar a Dignidade;
- Recuperar o Pudor;
- Recuperar o Sentido de Estado;
- Recuperar o Sentido de Missão no exercício da Política para o Povo e pelo Povo;
Esta Nota é também endereçada ao Exmo. Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, aos quatro Exmos. Srs. Deputados eleitos pelos portugueses recenseados no estrangeiro e ao Exmo. Sr. Presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas.
NOTA DE PREOCUPAÇÃO
A Comissão Temática para os Assuntos Consulares, Participação Cívica e Política (CCPCP), do Conselho das Comunidades Portuguesas reunida na quinta-feira dia 13 de Março 2025, deliberou manifestar a sua preocupação relativamente à situação política existente em Portugal e que determinou a convocação de novas eleições legislativas, para o próximo dia 18 de Maio de 2025.
Estas eleições surgem após o chumbo da Moção de Confiança apresentada pelo actual e XXIV Governo Constitucional da República Portuguesa e votada no passado dia 11 de Março 2025. No decorrer desta reprovação no Parlamento, o Presidente da República decidiu convocar novas eleições para o próximo dia 18 de Maio de 2025.
-- Ao curto espaço de tempo que vai impossibilitar a mobilização e consequente participação dos portugueses residentes no estrangeiro neste acto eleitoral.
-- Devemos estar particularmente atentos à preparação de materiais eleitorais s, à s, à organização de locais de votação e à garantia de que todos os sistemas de votação estejam aptos a actuar correctamente, inclusive o funcionamento degradado dos correios em determinados países do mundo com forte comunidade portuguesa.
-- Alertamos para o aumento expectável da abstenção, por parte dos 1 678 378 portugueses recenseados no estrangeiro.
-- O curto espaço de tempo não vai permitir publicitar de forma eficaz, clara e abrangente a existência destas eleições. O que no nosso entender irá afectar a qualidade do debate público e a capacidade dos eleitores de tomar decisões informadas.
-- No que respeita ao recenseamento eleitoral, os prazos de 60 dias antes da eleição não vão permitir a inscrição, alteração ou actualização da morada no documento de identificação.
Por todos estes motivos e neste contexto de profunda instabilidade política em Portugal, esta Comissão Temática (CCPCP) declara manifestar a sua preocupação e lamenta a forma inusitada com que foi convocada esta eleição para a Assembleia da República. O que uma vez mais, vem coarctar o pleno exercício de cidadania de várias centenas de milhares de portugueses residentes no estrangeiro.
Os membros da Comissão Temática para os Assuntos Consulares, Participação Cívica e Política:
-- Rui Ribeiro Barata (França) Coordenador
-- Alexandre dos Santos (África do Sul) Secretário
-- Maria Fátima De Pontes (Venezuela) Vice-coordenadora
-- José Duarte Alves (Brasil)
-- Márcia Sousa (EUA)
-- Cândida Melo (Alemanha)
-- Sara Fernandes (Austrália)
Documento elaborado pela Comissão do CCPCP, no dia 13 de Março 2025
Alguns evidenciam estranheza pelo facto de um militar liderar todas as sondagens para Presidente da República. Só demonstram ignorância histórica.
O regime republicano português produziu mais militares do que civis na cúpula do sistema. Tivemos até hoje 19 chefes do Estado republicano, dez deles oriundos das forças armadas. Em quase 115 anos de república, 62 decorreram com um oficial-general no Palácio de Belém - ou até um militar de patente inferior, como aconteceu com o carismático major Sidónio Pais (1917-1918).
Seis eram do Exército: Sidónio, Manuel Gomes da Costa (1926), Óscar Carmona (1926-1951), António de Spínola (1974), Francisco Costa Gomes (1974-1976) e António Ramalho Eanes (1976-1986). Um da Força Aérea: Craveiro Lopes (1951-1958). E três da Marinha: João Canto e Castro (1918-1919), José Mendes Cabeçadas (1926) e Américo Thomaz (1958-1974). Ocuparam o poder em todos os ciclos republicanos - o que teve início no 5 de Outubro de 1910, o que começou com o 28 de Maio de 1926 e o que surgiu no 25 de Abril de 1974.
Nenhum espanto se a partir de Março do próximo ano tivermos um almirante como Presidente da República. Se assim for, será o quarto. Antecedido por Canto e Castro (contra-almirante na chefia do Estado), Mendes Cabeçadas (capitão-de-fragata quando se envolveu no 28 de Maio) e Thomaz (contra-almirante como inquilino de Belém até 1970, quando ascendeu a almirante).
A diferença entre qualquer deles e Henrique Gouveia e Melo é que este, se lá chegar, resultará da escolha do povo português por sufrágio directo e universal. Por consequência, adquire uma autoridade moral que nenhum dos outros teve. Novidade, apenas nisto.
*** Sugiro a leitura dos comentários.
Ui, o que para ali vai, por causa do Almirante!
Porém, ele anda caladinho, não diz se vai ou não vai candidatar-se. Não anda por aí a pavonear-se, como os outros, com ares de quem já são presidentes disto tudo, e já é o favorito.
E isto deve-se a um Saber que ele esconde, para já e muito bem, e quando aparecer, se aparecer, os outros vão ser enfiados num chinelinho, porque os portugueses já estão fartos, fartinhos dos fala-barato, que em vez de apresentarem ideias, apresentam inúteis maledicências contra os adversários. E isto é péssimo.
Haja alguém com verticalidade bem visível, capaz de fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa, dignificando o cargo e devolvendo a Portugal a compostura e a identidade perdidas. É isto que se espera de um Presidente da República.
Carta publicada no Jornal Público, no passado dia 26 de Julho, da autoria de Carlos Coimbra, Toronto (Canadá).
Transcrevo-a aqui, hoje, por concordar que Portugal é, de facto, um país onde predominam os bacocos, e, sim, não se pode contar com os media em geral para o endireitar...
Portugal já não é o país dos heróis, que já foram do mar, nem de um Povo, que já foi nobre, nem sequer é aquela Nação valente e imortal de outrora...
Hoje, Portugal é um país de cobardes, de servilistas, de comodistas, de acomodados, de alienados, de indiferentes, dos que andam no mundo só por ver andar os outros, de subservientes.
É de lamentar que assim seja, porque assim o querem os decisores políticos, há muito, muito tempo...
Isabel A. Ferreira
Carta ao Director do Jornal Público
«Um país de bacocos?»
É extraordinário que em Portugal não haja, ao que parece, um estabelecido conceito de conflito de interesse, pois até uma pessoa que foi professor de Direito comete o que foi chamado "pecado original" por uma jornalista mais esperta.
Durante a sua audição, o Dr. Frutuoso (chefe da Casa Civil da Presidência) voluntariou que sentiu incómodo relativo ao recebimento dum pedido pessoal a favor de terceiros, chegado do filho do PR, talvez porque queria proteger a presidência e a Casa Civil. Pelo mais que transpareceu durante o seu testemunho e o da assessora Dra. Ruela, a Casa Civil procedeu regularmente, mas ficou claro que deixou o caso na fervura, no lume de trás...
Começando pelo princípio, quando o PR foi abordado sobre o caso, fez cara de pensar, mas não se recordou de nada. Só a 4 de Dezembro é que fez uma alocução, dando vários detalhes, mas omitindo um muito indicativo de lhe vir a tornar-se problemático se viesse à tona. Esse foi revelado distraidamente pelo PR a jornalistas durante uma das suas saídas à pesca de selfies e beijinhos, e foi citado pela Rádio Renascença no 14 de Dezembro: "No fundo, a Casa Civil da Presidência tinha uma posição negativa – quer a consultora, quer o chefe da Casa Civil – relativamente àquela pretensão."
Isto, praticamente ignorado pelos media e pela CPI, bate certo com o "incómodo" indicado pelo Dr. Frutuoso, e indica que as acções da Casa Civil foram tomadas contra vontade e, evidentemente, debaixo de ordens superiores. Assim, quando o comentador Pedro Marques Lopes ontem disse que o Presidente da República "teve zero a ver com o assunto", juntou-se à multidão de bacocos (termo, aliás, de que ele gosta, pois há tempos disse que preferir a esfera armilar ao logótipo do ovo estrelado era "nacionalismo bacoco") que não querem ferir o PR, até já ilibado pela Justiça, embora informalmente. É por estas e por outras que Portugal é o que é, e não se pode contar com os media em geral para o endireitar.
O Partido CHEGA anunciou formalmente, oficialmente, no dia 7 de Maio de 2024: «Não vamos deixar passar em branco as palavras que ouvimos de Marcelo (Rebelo de Sousa) durante estes últimos dias. Por isso, tomámos hoje a decisão de processar o Presidente da República por traição à pátria. Em nome da história de Portugal e dos nossos antepassados: que seja feita justiça!» Estão em causa as declarações que o Chefe de Estado proferiu – e das quais, até ao momento em que escrevo, não se retractou – num jantar com jornalistas estrangeiros, correspondentes no nosso país, a 23 de Abril último sobre o suposto dever por parte de Lisboa de pagar indemnizações, «reparações», a nações soberanas que foram colónias portuguesas por alegados crimes cometidos contra aquelas e os seus povos durante séculos, desde o início da era dos Descobrimentos, no século XIV, até ao século XX.
Existem dúvidas sobre se tal processo jurídico – e político – tem condições para ser concretizado, desenvolvido e levado até às últimas consequências, mas o cerne da questão é, de facto, totalmente incontroverso: o actual residente no Palácio de Belém admitiu publicamente que Portugal, do qual é, seria (mas não se comporta como tal), o «supremo magistrado», é colectivamente – e por muitas gerações – culpado por actos hediondos que nenhum tribunal ou qualquer outra instância nacional ou internacional tem qualquer autoridade e capacidade para julgar. Mas Marcelo Rebelo de Sousa acredita que nos deveríamos auto-condenar e, logo, proceder a enormes transferências de riqueza que, ultimamente, nos poderiam arruinar e destruir definitivamente. Entretanto, e o que não é de surpreender, o corrente governo esquerdista do Brasil, onde abundam amigos e admiradores de tiranos e de terroristas a começar pelo seu corrupto e cadastrado líder Lula da Silva, já se manifestou – através de duas ministras – a favor da abertura de um «negócio» desse tipo, no qual, incrivelmente, também São Tomé e Príncipe quer entrar. Pelo que a resposta «diplomática» a dar a estes e a todos os outros potenciais «reclamantes» é, obviamente, mandá-los para um determinado sítio.
É importante referir e recordar que esta não é, porém, a primeira vez que Marcelo Rebelo de Sousa possibilita, se não pelas suas acções então pelas suas inacções, graves prejuízos tanto morais como materiais a Portugal em particular e a todo o espaço da Lusofonia em geral. Se as «reparações» ainda não aconteceram – e, espera-se, nunca irão acontecer – e, por isso, ainda não causaram prejuízos, o denominado «Acordo Ortográfico de 1990» é, infelizmente, uma realidade, e tem provocado danos elevados aos níveis educativo, cultural e comunicacional.
O actual Presidente da República não é um dos originadores desta aberração linguística, mas o cargo que desempenha no presente, e o seu passado enquanto professor de Direito, dão-lhe a autoridade, o conhecimento e a legitimidade para desencadear as acções necessárias tendentes a reverter este autêntico atentado à identidade e à dignidade nacionais, perpetrado ilegalmente por via de tratados e de resoluções deficientes. Algo que, no entanto, ele não fez até agora, e tudo leva a crer que não o fará. Tal é também comprovado pelo facto de ele não ter respondido a um «Apelo em Defesa da Língua Portuguesa» que um alargado grupo de cidadãos, coordenado por Isabel A. Ferreira e no qual eu me incluo, lhe enviou em Abril de 2023. Repare-se e compare-se: o mesmo grupo remeteu posteriormente uma mensagem sobre o mesmo assunto a Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, e ela respondeu!
Não se pode ter a certeza de que Marcelo Rebelo de Sousa sente remorsos que advirão não só de o seu pai ter sido governador-geral de Moçambique e Ministro do Ultramar, mas também por os seus progenitores terem tido como amigo e padrinho de casamento um homem que foi o derradeiro primeiro-ministro da ditadura derrubada a 25 de Abril de 1974. Todavia, esse eventual desconforto pessoal não lhe dá a justificação para abusar da sua posição de Chefe de Estado e, em resultado disso, arrastar e prejudicar todo o país. A «Primavera Marcelista» de Caetano não tardou a revelar-se ilusória. 50 anos depois, aquele que como homenagem foi baptizado com o seu primeiro nome está em pleno «Outono Marcelista» que faz com que seja cada vez mais difícil que ele termine o seu mandato com dignidade.
Penso que Sua Excelência o Presidente da República, Marcelo de Sousa, adora protagonismo ou então gosta de falar meia-hora em cinco minutos. Também pode gostar de mostrar ao povaço, que bem não se sente se estiver quieto e calado.
Também pode querer que pensem que é o pai da nação e que o povaço não tem peitaça para pensar, e que a incultura política existente o obriga a fazer política em nome de todos.
Sua Excelência o Presidente, tem o direito de pensar o que quer e desabafar o que entende, desde que o seu desabafar não crie nódoas à Presidência da República, nem mau nome à Nação e, evidentemente, aos portugueses.
Nas festas do 50º aniversário da Abrilada em Portugal, foi altamente anunciado, que Sua Excelência entende que Portugal deve fazer “acções concretas” em reparações coloniais, “pagar os custos” da presença colonial portuguesa nos países respectivos, enfim, toda uma situação que ninguém lhe encomendou e muito menos encomendaram os chefes desses países, que estavam presentes nas comemorações Abrileiras.
Acredito que possa haver possibilidades de fazer certas “reparações” e ou devoluções aos países a quem Abril deu a independência. Pode haver coisas, várias coisas que possam ter sido usurpadas das ex-colónias portuguesas e entendo que devem ser devolvidas.
Agora “pagar custos” da presença colonial portuguesa, no mínimo, isso é demagogia, é querer protagonismo, é não ter os pés assentes no terreno da política que faz.
Ora, se está em causa “reparar” e “pagar custos”; se é justo assim se proceder; se uma obrigação vinda e imposta do exterior tivesse de ser cumprida, Sua Excelência o Presidente da República de Portugal – para haver contas certas – teria de exigir aos Árabes o que nos usurparam, aos Romanos idem, aos Franceses idem, e teria de exigir à Espanha a devolução de Olivença e de mais três povoações, que são de Portugal, que as invasões Napoleónicas fizeram.
Mais: “acções concretas” e “reparar ou pagar custos”, devido à permanência portuguesa em África, tem obrigação a Nação em primeiríssimo lugar, de reparar e pagar custos aos muitos milhares de portugueses que foram obrigados a enfrentar a guerra nas três ex-províncias ultramarinas, reparação e custos que nunca foram pensados e analisados pelos militares de Abril/1974 e pelos políticos que nos têm governado nestes últimos cinquenta anos.
Mais: Militares de Abril e estes democratas de ocasião, nunca “repararam nem pagaram custos”, às mães viúvas dos soldados mortos em África; aos filhos órfãos então criados; aos milhares de estropiados por balas e minas rebentadas, esqueceram, isto é, não há um serviço de saúde próprio para as centenas e centenas de stressados dessa guerra, que lutam pela sobrevivência e que não conseguem saber onde estão e quem são.
Sua Excelência o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ao levantar tais problemas sem que alguém lhos encomendasse – pelos menos oficialmente – pretende ser bombeiro na casa dos outros e esquece o fogo existente há muito tempo na sua casa – Portugal. Pretende enviar detergentes para limpar a casa dos outros, mas esquece que a sua casa – Portugal – tem lixo bolorento e pedregulhos perigosos do Minho ao Algarve.
Senhor Presidente da República de Portugal, Marcelo de Sousa: pense sim em ser frenético e nunca se deixar calar, pela reparação e custos aos militares vivos da guerra do Ultramar, aos estropiados e stressados, bem como ser frenético, deveras frenético, em que a Espanha devolva Olivença, que é Portugal, mesmo que se tenha de recorrer a QUEM DE DIREITO, e não andarem com paninhos-quentes e ao beija-mão a Espanha.
A espanhóis, a árabes, a romanos e aos franceses, nada devemos. Eles sim, devem. E depois de recebermos e de se pagar aos soldados, sargentos e oficiais milicianos da guerra do Ultramar, façamos então contas certas por termos sido colonizadores.
Finalmente, como escreveu Fernando Pessoa: “Não o prazer, não a glória, não o poder: a liberdade, unicamente a liberdade”, o carácter e a seriedade, pois claro!
O Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, fundado em 14 de Maio de 1837, possui a maior e mais valiosa Biblioteca de obras de autores portugueses fora de Portugal, com um acervo de 350.000 volumes. Trata-se de uma Biblioteca fundada por Portugueses, como prova de gratidão dos que foram para o Brasil procurar uma vida melhor.
E se os Portugueses quisessem que o Brasil devolvesse esta riqueza bibliográfica a Portugal, como reparo do que o Brasil fez à Língua Portuguesa?
Faço minhas as palavras que, se quiserem fazer o favor de ler, lerão a seguir.
Isabel A. Ferreira
Diz o artigo 120º da CRP que «O Presidente da República representa a República Portuguesa» - representa, mas nem sempre obriga, como é óbvio e decorre de outros artigos, nomeadamente o 135º.
No entanto, essa faceta de representação, implica que o homem que exerce o cargo de Presidente da República não possa emitir opiniões, pontos de vista, idiossincrasias e outras formas de expressar posições meramente pessoais: o Presidente da República não é, nem pode ser, um qualquer Bugalho deste mundo, que diz pela boca fora tudo o que lhe vem à cabeça.
Ora, Marcelo fez exactamente isso, e reiteradamente. Esqueçamos, por momentos, aquele ditirambo mal-educado (para dizer pouco) em que “caracteriza” os Primeiros Ministros, e foquemos no que disse relativamente às relações com os países que foram, em tempos, colónias/províncias ultramarinas.
O que Marcelo afirmou pode ser a sua opinião, mas não é a posição do Estado Português, da República Portuguesa… que ele representa!
Jamais um Presidente da República, no uso pleno do tino a que tal cargo obriga, afirmaria tal – fosse qual fosse a sua opinião – porque não pode comprometer o Estado Português. Não pode. Nenhum dos preceitos da CRP, nomeadamente os do artigo 135º, lhe confere tal prerrogativa, poder ou competência – muito pelo contrário.
Ora, como definitivamente não poderia ter feito o que fez, o que cumpre ao Estado é desautorizar o seu Presidente – é dizer que aquela opinião não é a posição oficial da República Portuguesa, não passou por nenhum dos órgãos com competências próprias – é, apenas, uma atoarda do seu Presidente, que nos últimos tempos tem dito e actuado de formas que fazem temer pela sua sanidade mental, pelo seu juízo e pela sua possibilidade de se manter em funções.
A forma leviana como Marcelo se referiu a “pagamentos”, a “custos”, a “devoluções” e a “reparações” – deixando espaço a todas as interpretações, desde penhor moral a empenho financeiro – é de uma irresponsabilidade gritante. Não lhe cumpre, não lhe cabe, não tem esse direito – qualquer um de nós, mero cidadão, pode expressar livremente a sua opinião a esse respeito; o cidadão que ocupa o cargo de Presidente da República não o pode fazer, exactamente porque representa a República Portuguesa, mas os seus poderes próprios não incluem esse assunto e a República não - definitivamente, não! - o mandatou para fazer tal.
Marcelo – como tantas e tantas vezes – excedeu-se; mas, desta vez, excedeu-se de tal forma que a Presidência da República não é para levar a sério:
Porque esse Povo expressou-se através do voto de uma maneira muito óbvia, porém Paulo Raimundo diz que NÃO irá tolerar a direita.
Vejamos: quanto a mim, que nasci já na República, ainda nenhum governo me fez feliz; e pelo que se vê, os últimos governantes não atraíram os portugueses que vivem longe, afugenta-os, e só atrai os imigrantes, que, no entanto, depois deixam ao Deus dará... a viver nas ruas e a ser explorados como os escravos de uma época que já lá vai...
De quem foi a culpa da ascensão da direita?
Quando a esquerda falha, a direita avança. E quando a direita falha, a esquerda avança. Essa sempre foi a regra. E andamos nós nisto, há muito, e Portugal a recuar...
De quem foi a culpa da ascensão do CHEGA? Quanto mais lhe batem, mas ele subirá. Sempre o disse. Não aprenderam nada. De 12 deputados passou a 48 (a ver vamos se os votos dos emigrantes não trazem mais surpresas!). E porquê? Aqui entra o efeito boomerang.
E pretendem ignorar a vontade, legalmente expressa, de mais de um milhão de portugueses?
Esqueceram-se de que o que designam como “projecto da direita” tem por detrás o voto livre de milhares de portugueses que, descontentes com as políticas desastrosas e as não-políticas das esquerdas extremistas e menos extremistas, quiseram mudar, para ver no que dá, porque pior do que está, não pode ficar?
Esquerdas unidas ponham a mão na vossa consciência e vejam em que estado deixaram o País. E António Costa, vendo o barco a arder, tratou de se pôr a andar, pensando que não pudesse queimar-se. Pois enganou-se. Ficou mais do que queimado, ficou queimadíssimo, e levou o seu adorado PS com ele.
Como pode Paulo Raimundo dizer que não toleraprojectos de direita, quando se une à direita, por exemplo, para viabilizar apoios à tauromaquia, que é um costume bárbaro, introduzido em Portugal pela monarquia espanhola, durante a Dinastia dos três Filipes, e perpetuada pelos monarcas portugueses e, depois de derrubada a monarquia, pelos que costumavam sentar-se à direita dos Reis?
E os de direita têm de tolerar os projectos desastrosos que os da esquerda encetaram, conduzindo Portugal para um beco quase sem saída, tanto que, ao que parece, a governabilidade do País está em risco, e até já se fala em novas eleições?
Mas o que é isto?
Eu estou à vontade para me pronunciar, porque nem estou com as direitas, nem com as esquerdas, nem com as frentes, nem com as traseiras, porque considero os políticos actuaisfarinha do mesmo saco, (salvo raras excepções, que de nada servem, sendo poucos), porque quando se trata de DEFENDER os interesses exclusivos de Portugal, o que fazem? Defendem os interesses exclusivos dos grupos de pressão económica influentes, e não só, e o Povo, aquele que mais deveria ordenar, é espezinhado na Saúde, na Habitação, no Ensino (que nem escrever e falar sabem), na Cultura (desprezada até ao tutano), nos excessivos impostos, no aumento da pobreza, no menosprezo que votam aos imigrantes honestos, e até na nossa identidade como Povo livre e soberano, que está a escorrer pelo cano de esgoto.
E agora senhor presidente da República DOS bananas portugueses? Como sair deste beco? Sempre a meter-se em tudo, mas sobretudo, no que NÃO lhe dizia respeito, e no que devia defender Portugal, remeteu-se a um silêncio que diz mais do que mil palavras.
E agora aí temos uma direita bem expressiva, e querendo ou não querendo, gostando ou não gostando, se o regime português está, na verdade, assente numa Democracia, não podem ver-se livre da direita,porque a direita foi a escolha do Povo.
E a quem, como eu, estas tricas politiqueiras, este exercício do poder sem um pingo de dignidade e de honestidade política, provocam náuseas, só resta esperar que quem formar o novo governo, tenha mais decência e sentido do DEVER, do que os que foram corridos do poleiro, pelas más práticas políticas, que executaram nestes últimos infelizes anos, em que Portugal perdeu o viço.
«Trabalhar no Folha 8 é dar voz a quem a não tem. É apostar na força da razão e não na razão da força. É pôr o poder das ideias acima das ideias de poder. Ou, em síntese, é ser Jornalista.» (Orlando Castro)
Como gostaria que este lema, fosse também o lema dos que, em Portugal, são jornalistas (com j minúsculo). Neste rol não entram os Jornalistas (com J maiúsculo, pois também os há em Portugal, mas são poucos, e não são tidos em conta pelos “democráticos” decisores políticos portugueses). Mas quem disse que em Portugal existe uma Democracia com D maiúsculo?
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Ao que venho?
Há uns dias, deparei-me com um texto, publicado em 12 de Julho de 2021 (mas actualíssimo) no Folha 8, da autoria do Jornalista Orlando Castro, que ao escrever o que escreveu, veio precisamente ao encontro do que penso a propósito do tema exposto.
E é com uma grande vénia (e se eu usasse chapéu, tirava-lhe o chapéu) que o transcrevo, para que, caso os Portugueses não tenham acesso a este Jornal, que recomendo vivamente, por muitas razões, fiquem a saber que, em Portugal, há quem ande de cócoras...
Isabel A. Ferreira
Portugal vai estar representado na XIII Cimeira da CPLP, em Luanda, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pelo primeiro-ministro, António Costa, e pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. E que tal incluir os restantes sipaios partidários que até dariam o mataco e cinco tostões para estar presentes?
Por Orlando Castro
«A Presidência da República portuguesa confirma que Marcelo Rebelo de Sousa vai participar na XIII Conferência de chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), entre 16 e 17 de Julho em Luanda, que assinala a celebração do 25º aniversário de uma organização que, no dizer de Vasco Graça Moura, é uma espécie de organização fantasma, “que não serve para rigorosamente nada”, a não ser “ocupar gente desocupada”.
De acordo com a nota da Presidência, “o Presidente da República tem previstos encontros bilaterais com alguns dos seus homólogos de outros Estados-membros da CPLP”, não especificados, à margem desta conferência.
A Cimeira de Luanda é dedicada ao tema “Fortalecer e Promover a Cooperação Económica e Empresarial em Tempos de Pandemia, em prol do Desenvolvimento Sustentável dos Países da CPLP”.
A XIII Conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP, que marca a passagem da presidência rotativa desta “coisa” de Cabo Verde para Angola, decorrerá em formato presencial. Quando visitou a Guiné-Bissau, em Maio passado, Marcelo Rebelo de Sousa disse esperar que a sua ida a Bissau contribuísse para uma Cimeira da CPLP com todos os chefes de Estado presentes em Luanda, referindo que isso não tem acontecido.
Portugal tem-se feito representar ao mais alto nível nas cimeiras da CPLP, por regra, com a presença conjunta do Presidente da República e do primeiro-ministro.
Criada há 25 anos, a CPLP tem actualmente nove Estados-membros: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Guiné Equatorial – cuja adesão, em 2014, criou polémica.
Teoricamente a CPLP tem como objectivos prioritários a concertação político-diplomática entre os seus estados membros, nomeadamente para o reforço da sua presença no cenário internacional; a cooperação em todos os domínios, inclusive os da educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, agricultura, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública, cultura, desporto e comunicação social; A materialização de projectos de promoção e difusão da língua portuguesa.
Mas será que existe uma estratégia comum em matéria, por exemplo, de educação? Não. Não existe. Será que existe uma estratégia comum em matéria, por exemplo, de saúde? Não. Não existe. Será que existe uma estratégia comum em matéria, por exemplo, de ciência e tecnologia? Não. Não existe. Será que existe uma estratégia comum em matéria, por exemplo, de defesa? Não. Não existe.
Não vale a pena continuar a pôr estas perguntas porque, de facto não existe nenhuma estratégia comum, seja em que matéria for. Comum a todos, comum como se existisse uma verdadeira comunidade. Existem casos pontuais, entre alguns dos estados-membros, mas nada em sentido comunitário.
Três países lusófonos – Guiné-Bissau, Angola e Moçambique – estavam entre os que têm a pior taxa de mortalidade infantil, de acordo com o relatório sobre a Situação da População Mundial relativo a 2011. Segundo o relatório do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), em cada 1.000 nascidos vivos, morrem 192,6 na Guiné-Bissau (só ultrapassada pelo Afeganistão e pelo Chade), 160,5 em Angola e 141,9 em Moçambique.
Entre os países de língua portuguesa, seguem-se São Tomé e Príncipe, com 77,8 crianças, e Timor-Leste, com 56,4. Mais abaixo, surgem Cabo Verde, com 27,5, e Brasil, com 20,6. Portugal apresenta uma taxa de 3,7.
Ainda no capítulo da saúde materno-infantil, 1.000 em cada 100.000 mulheres na Guiné-Bissau morrem no parto (pior registo só no Afeganistão e no Chade).
Com números acima das 500 mortes estavam Angola (610) e Moçambique (550). O relatório não apresenta dados sobre São Tomé e Príncipe, enquanto em Timor-Leste 370 em 100.000 mulheres morrem no parto. Os números descem em Cabo Verde (94), no Brasil (58) e em Portugal (7).
No que diz respeito à taxa de partos entre adolescentes (15 a 19 anos), é Moçambique que lidera, com 185 (em cada 1.000), 170 na Guiné-Bissau, 165 em Angola, 92 em Cabo Verde, 91 em São Tomé e Príncipe, 59 em Timor-Leste, 58 no Brasil e 17 em Portugal.
Os indicadores faziam ainda referência à percentagem de “partos atendidos por pessoal qualificado em saúde”, sendo esta menor, entre os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Timor-Leste (18), inferior apenas no Afeganistão, Chade e Etiópia.
Na Guiné-Bissau (39) e Angola (47) menos de metade das mulheres beneficiaram deste atendimento especializado. Acima dos 50 por cento surgem Moçambique (55), Cabo Verde (78), São Tomé (82) e Brasil (97).
Na saúde sexual e reprodutiva, é em Angola que as mulheres entre os 15 e os 49 anos menos usam contraceptivos, seja através de que método for. Apenas 6% o fazem, seguidas por 10% das guineenses e 17% das moçambicanas.
Em Timor-Leste, 22% das mulheres usam contraceptivos, taxa que aumenta para 38% em São Tomé e Príncipe, 61% em Cabo Verde, 80% no Brasil e 87% em Portugal.
Apenas quatro dos países da CPLP apresentam dados sobre a taxa de prevalência do vírus VIH/SIDA entre a população dos 15 aos 24 anos, com Moçambique a distanciar-se pela negativa, com percentagens de 3,1% nos homens e de 8,6% nas mulheres (apenas menor do que em países como Botswana, Lesotho, África do Sul, Swazilândia e Zâmbia).
Na Guiné-Bissau, o vírus VIH/SIDA afecta 0,8% de homens e 2% de mulheres, em Angola, 0,6% de homens e 1,6% de mulheres e, em Portugal, 0,3% de homens e 0,2% de mulheres.
Nos indicadores relativos à educação, a taxa de alfabetização da população entre os 15 e os 24 anos é de 78% nos rapazes e 62% nas raparigas tanto na Guiné-Bissau como em Moçambique, e de 81% e 65% em Angola.
Taxas de alfabetização totais ou quase totais verificam-se em São Tomé e Príncipe (95% dos rapazes e 96% das raparigas), no Brasil e em Cabo Verde, com os mesmos números para rapazes e raparigas (97 e 99%), e em Portugal (100% para os dois sexos).
Não havia dados sobre a alfabetização em Timor-Leste, mas o relatório indica que 79% dos rapazes e 76% das raparigas em idade escolar estão matriculados no “ensino fundamental”.
Esta é, apesar de pálida, a realidade dos países da CPLP. Estes dados têm dez anos. No entanto, de substancial para melhor nada se passou desde então. Basta, por exemplo, ver que em Angola, para uma população de 31 milhões de cidadãos, tem mais de 20 milhões de pobres.
Durante anos o argumento da guerra serviu às mil maravilhas para que esse “elefante branco” que dá pelo nome de CPLP, enquanto organização que congrega os países lusófonos, dissesse que só podia – quando podia – mandar algum peixe. Para ensinar a pescar era imprescindível a paz. Angola está em paz (ausência de tiros) há 19 anos…
E agora? Há muito que existe paz, nomeadamente em Angola e mais ou menos na Guiné-Bissau. Será que as canas de pesca são mais caras que as Kalashnikov? Será que os angolanos só vão ter direito à cana de pesca quando o rio Kwanza nascer na foz?
Segundo declarações de José Eduardo dos Santos, feitas em 2008, existia a esperança de que “a vontade política que norteia a CPLP, bem como as excelentes relações entre os seus membros dêem lugar a programas concretos que fomentem o crescimento económico, a erradicação da pobreza e a integração social, para que a médio/largo prazo pudéssemos estar todos no mesmo patamar de desenvolvimento”. Isto foi dito há 13 anos.
E acrescentava: “deve-se, por isso, pensar muito a sério na criação de facilidades financeiras para a promoção recíproca do investimento e da cooperação económica”.
Todos estão de acordo. Só que… continua a não fazer sentido pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres. Em vez de se preocupar com o povo que não pode tomar antibióticos (e não pode porque eles, quando existem, são para tomar depois de uma coisa que o povo não tem: refeições), a CPLP mostra-se mais virada para questões políticas, para o suposto aprofundamento da democracia.
Que adiantará ter uma democracia quando se tem a barriga vazia? Valerá a pena pedir, ou exigir, que se respeite a legitimidade democrática se o povo apenas quer deixar de morrer à fome?
Ainda não foi desta, e seguramente nunca será, que a CPLP – organização que voltará agora a ser presidida por um país lusófono cujo presidente nunca foi nominalmente eleito e cujo partido (o MPLA) está no poder há 45 anos, vai perceber a porcaria que anda a fazer em muitos países lusófonos.
De facto, a dita CPLP é uma treta, e a Lusofonia é uma miragem de meia dúzia de sonhadores. O melhor é mesmo encerrar para sempre a ideia de que a língua (entre outras coisas) nos pode ajudar a ter uma pátria comum espalhada pelos cantos do mundo.
E quando se tiver coragem para oficializar o fim do que se pensou poder ser uma comunidade lusófona, então já não custará tanto ajudar os filhos do vizinho com aquilo que deveríamos dar aos nossos próprios filhos.
É claro que na lusofonia existem muitos seres humanos que continuam a ser gerados com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome. Mas, é claro, morrem em… português… o que, se calhar, significa um êxito para a CPLP.
Alguém na CPLP quer saber que no país que vai presidir à organização, 68% da população é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é das mais alta do mundo? Não, ninguém quer saber.
Alguém na CPLP quer saber que apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?
Alguém na CPLP quer saber que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade?
Alguém na CPLP quer saber que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?
Alguém na CPLP quer saber que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação que é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino?
Alguém na CPLP quer saber que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos?
Alguém na CPLP quer saber que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo regime para amordaçar os angolanos?
Alguém na CPLP quer saber que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população; que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda?
Alguém na CPLP quer saber que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?
Não. O silêncio (ou cobardia) são de ouro para todos aqueles que existem para se servir e não para servir. E quando não têm justificação para tamanha cobardia, lá aparecem a inaugurar uma nova sede…
Cremos que o moçambicano Tomaz Salomão, na qualidade de secretário executivo da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral), foi quem melhor definiu a realidade africana, definição essa que também se aplica à CPLP. Quando confrontado com a presença de muitos regimes ditatoriais disse: “São ditadores, mas pronto, paciência… são as pessoas que estão lá. E os critérios da liderança da organização não obrigam à realização de eleições democráticas”.»
Em Portugal, a política é a política da treta, e os políticos são uns refinados treteiros. É o que me apraz dizer, depois de ler este texto de Manuel Damas.(Isabel A. Ferreira)
Há cada vez mais pessoas a viver nas ruas, em tendas e cartões. Os dados oficiais mais recentes apontam para 10.773 pessoas sem-abrigo em Portugal, o que representa um aumento de 78% em quatro anos. Em 2018 eram 6.044...
Passou para 10.773...
Os números podem, no entanto, ser ainda maiores, dado que a contabilidade oficial reporta a 31 de Dezembro de 2022 e os últimos tempos foram de uma subida astronómica.
E o único dinheiro que existe...é para respostas de emergência e temporárias. Na passada terça-feira, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, Marcelo Rebelo de Sousa pediu novas abordagens e modelos de acção no combate à pobreza, alegando que o país não se pode conformar com quase dois milhões de pobres.
“É, pois, importante, que esta data sirva para reforçar o alerta face às novas realidades que têm agravado as condições de pobreza, exigindo novas abordagens e modelos de acção para o seu combate”, alerta o Presidente da República.
Novas abordagens e novos modelos... Ou, como soi dizer-se...
Um enorme e vazio blá, blá, blá, apenas com o intuito de ser notícia.
Basta lembrar o orçamento de 18 milhões de euros, por ano, da Presidência da República, para viagens absolutamente desnecessárias, infrutíferas, estapafúrdias e sem qualquer retorno, apenas para alimentar o egocentrismo e o narcisismo de "sua insselência"...o Grão Mestre da Carica Tonta.
Um País com 10 milhões de habitantes em que, 02 milhões deles são pobres... É uma incomensurável e infinda... Vergonha!
Em defesa da Língua Portuguesa, a autora deste Blogue não adopta o Acordo Ortográfico de 1990, nem publica textos acordizados, devido a este ser ilegal e inconstitucional, linguisticamente inconsistente, estruturalmente incongruente, para além de, comprovadamente, ser causa de uma crescente e perniciosa iliteracia em publicações oficiais e privadas, nas escolas, nos órgãos de comunicação social, na população em geral, e por estar a criar uma geração de analfabetos escolarizados e funcionais. Caso os textos a publicar estejam escritos em Português híbrido, «O Lugar da Língua Portuguesa» acciona a correcção automática.
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