A Madeira já proibiu os circos com animais. Não tem touradas. Enfim... dá um bom exemplo de modernidade, de humanismo, de civilidade.
Ao contrário dos Açores e de Portugal Continental, que ainda vivem com um pé na Idade das Trevas.
«"Um marco histórico" declararam as associações de defesa dos animais.
O Parlamento madeirense aprovou uma lei que proíbe o abate de animais de companhia.
A nova legislação vai ao encontro das associações de defesa dos animais que se queixavam da morte de cães e gatos na região.
Para as associações de defesa dos animais esta era uma questão ética que carecia de imediata proibição por se tratar de uma matança indiscriminada e um péssimo cartaz turístico para a Madeira.
“Até ao ano passado o número de abates rondava os 75% de entradas no canil municipal”, ou seja, “é o mesmo que dizer que em quatro animais, três eram abatidos”, disse João Henrique Freitas, representante das associações de animais.
O problema foi levado à Assembleia legislativa pela mão do PCP em forma de decreto legislativo, proibindo o abate dos animais de companhia.
A legislação prevê ainda um centro de esterilização e a obrigação municipal de recolha de animais errantes e foi aprovada por unanimidade.
“Foi um marco histórico” para João Henrique Freitas.
Na Madeira são abandonados, em média, oito animais por dia, sendo que quatro são abatidos por falta de condições dos canis e gatis ou até por decisão dos donos.»
Fonte:
Um importante testemunho sobre o que é, verddaeiramente, uma tourada.
«A pior forma de cobardia, é testar o poder na fraqueza dos outros»
(Um texto do Doutor Vasco Reis, Médico-Veterinário, que subscrevo inteiramente e que transcrevo com a devida vénia)
Importa debater a questão da Tauromaquia em Portugal, abordando-a com toda a objectividade e publicitar este debate, para que os portugueses compreendam bem do que se trata e formem uma opinião sobre a sua utilidade, o seu mérito ou demérito e a sua aceitação ou repúdio.
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Para isso é preciso argumentar profunda, científica, ética, cultural, socialmente.
O touro é o elemento sempre massacrado da tauromaquia, desde intensa prolongada ansiedade, repetidos e dolorosos ferimentos, esgotamento anímico e físico e quase sempre a morte em longa agonia.
O cavalo, dominado e violentado pelo cavaleiro tauromáquico é o elemento obrigado a arriscar tudo e a sofrer perante o touro, desde ansiedade, ferimento físico até a morte.
Estes factos, inegáveis e indissociáveis da tauromaquia, seriam suficientes para interditar a sua existência numa sociedade culta, consciente, pacífica e compassiva.
É esta a opinião dos anti-tauromáquicos, que dispõem de imensos argumentos ditados pelo senso comum e confirmados pela ciência.
Da parte dos tauromáquicos e dos seus aficionados colhem-se argumentos falaciosos, não ditados pelo senso comum, não confirmados pela ciência, baseando-se na tradição, no gosto pelo “espectáculo”, em interesses económicos, omitindo praticamente (ignorado ou não) o sofrimento sempre presente destes condenados a serem “actores” à força - o touro e, no toureio montado - o cavalo.
Na verdade, plantas não têm sistema nervoso, não têm sensibilidade, não têm consciência.
Animais são seres dotados de sistema nervoso mais ou menos desenvolvido, que lhes permitem sentir e tomar consciência do que se passa em seu redor e do que é perigoso e agressivo e doloroso. Este facto leva-os a utilizar mecanismos de defesa e de fuga para poderem sobreviver. Sem essas capacidades não poderiam sobreviver.
Portanto, medo e dor são essenciais e condição de sobrevivência.
É testemunho da maior ignorância ou intenção de ludíbrio o afirmar que algum animal em qualquer situação possa não sentir medo e dor, se for ameaçado ou ferido.
A ciência revela que a constituição anatómica e a fisiologia do touro, do cavalo e do homem são extremamente semelhantes. Os ADN são quase coincidentes.
As reacções destas espécies são análogas perante a ameaça, o susto, o ferimento.
O senso comum apreende isto e a ciência o confirma.
O especismo é uma atitude que, arrogantemente coloca o Homem numa posição de superioridade, que lhe permite dispor sobre os animais como entender.
A compaixão selectiva visa tratar bem certas espécies (em geral cães e gatos) e menos outras, quase consideradas como objectos.
Os animais não humanos são considerados menos inteligentes do que os seres humanos. Podem estar mais ou menos próximos e mais ou menos familiarizados connosco, mas eles são tanto ou mais sensíveis do que nós ao medo ao susto e à dor.
É, portanto, nosso dever ético não lhes causar sofrimento desnecessário.
"A compaixão universal é o fundamento da ética" - um belo pensamento do filósofo alemão Arthur Schopenhauer.
A tauromaquia está eivada de especismo sobre o touro e sobre o cavalo.
O homem faz espectáculo e demonstração da sua "superioridade" provocando, fintando, ferindo com panóplia de ferros que cortam, cravam, atravessam, esgotam, por vezes matam o touro, em suma lhe provocam enorme e prolongado sofrimento, para gaúdio de uma assistência que se diverte com o sofrimento, a agonia e morte de um animal.
Isto é comparável aos espectáculos de circo romano, há muito considerado espectáculo bárbaro, onde escravos e cristãos eram obrigados a lutarem e matarem-se uns aos outros ou eram atirados aos leões para serem devorados.
O cavalo é dominado com ferros castigando as gengivas bucais e por esporas mais ou menos agressivas, até cortantes, no ventre.
Esta montada é posta em risco de mais ferimento e de morte pelo cavaleiro tauromáquico, que o utiliza como veículo para combater e vencer o touro.
O sofrimento do cavalo soma-se aqui ao do touro.
Na tauromaquia, touro e cavalo são excluídos de qualquer compaixão, antes pelo contrário estão completamente submetidos à violência e ao sofrimento.
E o espectáculo é legal em Portugal, publicitado e mostrado na comunicação social, aclamado, fonte de negócio.
Mas nesta “arte” não são somente touros e cavalos que sofrem.
São muitas as pessoas conscientes e compassivas, que por esta prática de violência e de crueldade se sentem extremamente preocupadas e indignadas e sofrem solidariamente e a consideram anti-educativa, fonte de enorme vergonha para o país, atentatório de reputação internacional, obstáculo dissuasor do turismo de pessoas conscientes, que se negam a visitar um país onde tais práticas, que consideram "bárbaras", acontecem!
Com certeza que existem boas e inócuas alternativas para os aficionados, para os trabalhadores tauromáquicos, para os "artistas", para os campos e para os touros e cavalos.
Será positivo para os aficionados irem ver e até pagar bilhete para assistir ao sofrimento de animais?
Chamar arte à tauromaquia e compará-la ao ballet, ao teatro, etc., é falacioso.
Afirmar comparativamente que o ballet também provoca dor é infeliz e despropositado.
O que se assiste no enredo do teatro, de uma peça de ballet é representação, sem provocação real, sem ferimento, sem morte e os actores estão ali voluntariamente.
Porque fazem sofrer os animais os chamados “artistas”? Dar-lhes-à isso algum gozo?
Será isso admirável, corajoso, heróico?
Porque não fazer o espectáculo teatralmente e com o belo aparato visual e musical, mas sem os touros e sem o sofrimento animal?
Eu seria espectador para isso.
Os campos podem ser utilizados de outro modo e continuar a serem subsidiados.
A raça pode ser mantida sem a cruel tauromaquia e continuar a ser subsidiada.
Os trabalhadores, campinos e ganadeiros podem continuar o seu trabalho.
Os forcados, cujo papel só surge depois do touro ter sido massacrado previamente, podem dedicar-se a actividades ou desportos onde valentia, luta corpo a corpo são fulcrais, como boxe, luta livre e outros e acrescidos de espírito de grupo, como o rugby, por exemplo.
Creiam, que eu tenho conhecimentos e experiência para escrever este texto.
Sou médico-veterinário desde 1967. Estudei em Portugal e na Alemanha. Trabalhei na Suíça sete anos, na Alemanha 10 anos, nos Açores três anos (na Praia da Vitória, Ilha Terceira, onde existe aficción e onde tive de intervir obrigatoriamente no acompanhamento dos touros nas touradas, na minha qualidade de médico veterinário municipal), 22 anos em Aljezur em Portugal Continental.
Trabalhei sempre com gado bovino e cavalos.
Fui cavaleiro de concurso hípico completo e detentor de dois cavalos polivalentes. Conheço bem cavalos, a sua personalidade e as suas aptidões.
Fui entusiástico jogador de rugby durante três, anos, o que interrompi por acidente, que me impossibilitou a continuação da prática.
Aconselho, pela sua superior qualidade, alguns vídeos extremamente informativos, muito influentes no processo que teve lugar no Parlamento da Catalunha.
(*) Médico-Veterinário municipal aposentado.