Domingo, 3 de Outubro de 2021

«O Percurso da Sombra» - Novo livro de Poesia de J. J. Silva Garcia

 

 

Este é um daqueles livros que não são para ler. São para degustar a meia voz, ouvindo o som de cada palavra, para que a simbiose entre o Poeta e o Leitor possa resultar perfeita.

 

«O Percurso da Sombra» é uma viagem pelas palavras que o Poeta Nefelibata «gravou nas nuvens por serem da matéria das estrelas». Palavras alternadas com os Desenhos de Teh, traços delineados no branco das páginas, e que, ao nosso olhar, ganham movimento.

 

Este é um livro que diz da luz e das sombras, de ausências e de lugares, de silêncios e de sons de outros mundos.

 

O Poeta leva-nos a um tempo que «é uma unidade cósmica onde se encontram o passado, o presente e o futuro»  

 

Parabéns J. J. Silva Garcia. A tua Poesia transpõe-nos para um tempo que vai para além de todos os tempos: o tempo cósmico.

 

No final do teu Percurso da Sombra perguntas: «haverá um vulcão infinito dentro do azul?». Eu, como leitora que mergulhou nas sombras e luzes, que percorreram os teus poemas, respondo-te: sim, há um vulcão infinito dentro do azul, desse mundo que é o teu, mas também é o meu mundo.

 

Nota importante: este livro está escrito numa Língua Portuguesa primorosa, livre do imperfeitíssimo AO90, facto que, só por si, já conferiria ao livro um apontamento de qualidade e de verdadeira magia. Contudo, uma obra perfeita só poderia ser escrita numa linguagem perfeita, para que eu pudesse recomendá-la vivamente.

 

 O livro está à venda aqui:
https://www.blue-book.pt/produto/o-percurso-da-sombra/


Isabel A. Ferreira

 

Silva garcia.png

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:46

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Domingo, 22 de Novembro de 2020

Ao Poeta vila-condense Dário Marujo (A. Monteiro dos Santos) pela passagem do 12º aniversário da sua morte

 

Passam hoje 12 anos sobre a morte de A. Monteiro dos Santos (paleógrafo e investigador) ou Dário Marujo, o Poeta (24 de Janeiro de 1944 - 22 de Novembro de 2008).

 

Um Homem do Saber, de Saberes feito, que deu um precioso contributo para a História de Vila do Conde e de Eça de Queiroz.  E escreveu versos. Era Poeta.

No entanto, Vila do Conde esqueceu-se dele.

 

Mas eu não me esqueci, porque éramos amigos. E os amigos não se esquecem. Ao seu Saber recorri infinitas vezes, para poder servir Vila do Conde, com rigor, como correspondente de imprensa.

 

Hoje, recordá-lo-ei com dois poemas, que me dizem muito: um nasceu de mim, o outro foi-me dedicado.

 

Monteiro dos Santos - tapeçaria de Régio.jpg

A. Monteiro dos Santos junto à tapeçaria assinada por José Régio, que durante muitos anos ornamentou o Gabinete do Presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde (Foto tirada por mim, em 19 de Setembro de 1994).

 

Meu caro e saudoso amigo,

 

Não foi muito o tempo que tiveste para viver, mas foi o suficiente para te tornar imortal, através da tua poesia, do teu saber, da obra que deixaste...

 

Nenhuma pergunta havia que não deixasses sem resposta. Eras uma espécie de enciclopédia ambulante. Viveste entre os livros, trabalhaste entre os livros. Soubeste utilizar esta circunstância da melhor maneira. Serviste vila do conde através do teu Saber.

 

Mas também foste Poeta. Nasceste Poeta.

 

Assinavas os teus livros de poemas com o nome de Dário Marujo, um nome do qual eu não gostava. E um dia perguntaste-me porquê? E eu respondi: «Porque o teu nome cheira a docas, cheira a cais…».  

 

E logo ali, naquele preciso momento, nasceu o poema com que abriu o seu primeiro livro de poesia intitulado Se eu Fosse o Dono da Vida… (de 1997), e que aqui reproduzo, com saudade…

 

O Meu Nome

 

O meu nome cheira a docas,

O meu nome cheira a cais,

De partida e de chegada.

Filho de um mar de gaivotas,

Colhidas nos vendavais.

O meu nome é maresia,

O meu nome é mar salgado,

É filho da alegria,

O meu nome é sem pecado.

É filho de um mar chão,

E também de um mar bravio,

Que trago na minha mão.

O meu nome é desafio,

O meu nome cheira a docas,

O meu nome cheira a cais,

Marujos em mastros reais,

No tempo das caravelas,

Filho do Sol, da chuva, do vento,

Tenho-o escrito nas velas,

Desta nau do pensamento,

O meu nome é panamá,

Corpete, manta de seda,

Farda branca, imaculada,

É jersey e é alcaxa,

Farda de azul-escuro,

É estóico, é lutador.

Nos lábios sempre uma trova,

No coração um Amor.

Desta doçura não fujo,

 

Meu nome é DÁRIO MARUJO.

 

*

Depois de ouvir este belo poema, fiquei a entender e a gostar do nome Dário Marujo, inspirado nos seus tempos de juventude, quando era marinheiro…

*

Recordo aqui também, aquele dia em que por ocasião do meu aniversário (também em Janeiro, a uns escassos dias do teu dia), quando a nossa amizade estava já consolidada, tu começaste a oferecer-me a prenda mais bonita que alguém pode receber: um poema.

 

E o poema que se segue foi o primeiro de muitos que me dedicaste, para me presenteares no dia do meu aniversário:

 

 

À Isabel A. Ferreira, no dia do seu aniversário natalício

 

Se te dói o desgosto que tens

Por campear a maldade,

Por reinar a estupidez,

Por vingar a ingratidão;

Se te dói a mudez de outras almas

Que apenas têm cabeça

Para acenar,

Sem pensar;

Se te agride a bajulice,

Ser humano feito bicho,

Sanguessuga, chupa-sangue,

Invertebrado e malvado,

Rastejante, feito cobra,

Todo feito de manobra.

Se o velhaco te dói mais

Que o maior celerado...

(Eu sei o quanto te dói,

Te magoa, te punge,

Te fere e te entristece)

Aceita

A minha receita:

...

Ergue a tua fronte

Acima do NADA.

Sê mais forte que essas doninhas

Que enxameiam ao teu redor.

Fazendo isto, tu serás mulher

E ninguém será mais do que tu

E serás tu mais que qualquer!

 

A. Monteiro dos Santos/ Janeiro de 1988

 

*

Ah! meu amigo, apesar de passados todos estes anos, ainda me dói os desgostos e continuo rodeada de doninhas. Porém, nunca deixei de seguir a tua receita, sempre de fronte erguida e acima do nada que me rodeia. Só assim tenho conseguido sobreviver.

 

Vila do Conde, tua terra natal, e minha terra do coração, já não é a mesma sem a tua presença, a presença de um amigo verdadeiro, daqueles que já não se fazem... e que me guiava pela riqueza histórica vila-condense…

 

Monteiro Santos junto Biblioteca.png

Estejas onde estiveres, continuo a oferecer-te esta rosa amarela (símbolo do nosso grupo de poetas), a rosa que fotografaste no pequeno jardim, da pequena rotunda, em 2 de Maio de 1994, junto à antiga Biblioteca Municipal, hoje o Arquivo de Vila do Conde.

 

Continuarei a dizer-te: até sempre amigo!

Continuarás connosco, porque os Poetas são eternos.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:06

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Terça-feira, 14 de Janeiro de 2020

«O poeta alegre»

 

"Ser poeta é ser mais alto"

Um inspirado texto de Teresa Botelho, a propósito da fúria do poeta, em relação ao aumento do IVA das Touradas. Relembrar, para não esquecer.

 

Sim, ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens, infelizmente, existem “poetas” (e como é possível?) que passam a poetas menores, quando elogiam, aplaudem e apoiam a tortura de Touros, achando que tal barbárie é cultura.

 

Faço minhas todas as palavras da Teresa Botelho.

Isabel A. Ferreira

 

Florbela espanca.png

 

Texto de Teresa Botelho

 

«Que dirias tu, Florbela Espanca, se tivesses conseguido respirar a aragem da igualdade e da consciencialização que este novo século nos trouxe?

 

Que dirias tu, mulher de sensibilidade à flor da pele, se este século tivesse conseguido dar uns passos atrás para te explicar que o amor ao próximo pode ter outros focos que não apenas aquele que tu sentiste e pelo qual morreste?

 

Que dirias tu amiga, se soubesses que "ser poeta", nem sempre "é ser mais alto" quando se mistura poesia com violência, sadismo, ódio e sangue...

 

Que dirias tu então de um artista com sensibilidade de fachada que usou a sua habilidade poética para se promover à custa de um povo carente de liberdades, pisado, humilhado e reprimido durante mais de quarenta anos, para se pavonear entre condecorações e honrarias enquanto vai usufruindo subvenções mensais que ultrapassam os cerca de 8 salários mínimos de qualquer trabalhador?

 

Que dirias tu ainda, se eu te dissesse que a democracia de hoje, é como a de certos poetas, cuja coerência de sentimentos, apenas desacreditam o que um dia escreveram, movidos por outros interesses que lhe alimentam o espírito devasso, doentio e incoerente?

 

Há fascistas mascarados de democratas, porque precisam adicionar conteúdos de vanguarda às suas personalidades tacanhas, mas cuja noção de democracia, só existe para conforto dos seus egos mesquinhos. É isso que se passa com um certo "poeta alegre", ensandecido pela perspectiva de perder o sádico gozo da caça e o espectáculo macabro de nobres herbívoros sangrados por cobardes "gladiadores" reluzentes, em arenas tristemente legalizadas.

 

É assim que se atraiçoam os valores culturais e civilizacionais de um povo que ao contrário do que alguns pensam, cresceu, passando a condenar essa violência gratuita, comparticipada e apoiada por um Estado retrógrado e imoral, composto por farsantes e parasitas avessos à evolução ética de um país que tão tristemente manipulam para seu próprio beneficio.

 

Foi a um "poeta" traidor, a quem a idade aguçou a ambição que assistimos, numa certa campanha eleitoral à presidência da República, feita de verónicas, cavaleiros e pegas de caras que a moral triunfou com uns quantos pares de bandarilhas negras, cravadas sem erro no seu velho lombo flácido!

 

Como deve ter sido difícil e doloroso perder a pose perante tão cruel derrota e como deve ser difícil dar a mão à palmatória e ter que aceitar que os tempos mudaram e que o "outro", não é apenas um "poeta alegre" presunçoso de copo cheio que vive de mordomias, mas também o é o touro que se esvai em sangue e cuja poesia existia na música ritmada do seu chocalho, enquanto petisca a erva fresca que a Mãe Natureza tão generosamente lhe ofereceu!»

 

Fonte:

https://www.facebook.com/terezabotelho/posts/2951034341625360

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:26

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Sexta-feira, 9 de Novembro de 2018

«Os Touros e a Liberdade»

 

 

Num momento em que a Cultura e a Civilização foi posta em causa por um "poeta" (Manuel Alegre) recordemos este magnífico texto de Duarte Belo, fotógrafo, filho do Poeta Ruy Belo.

 

TOURO.jpg

E pensar que este magnífico Touro

é transformado nisto, para que os incultos se divirtam:

TOURO2.jpg

 …por “gente” como esta:

TOUREIRO.png

«O problema destas criaturas é que lhes falta mundo, educação, cultura. A única realidade que conhecem é mesmo esta, dos costumes bárbaros, da brejeirice. Muitos, só conhecem, e mal, o mundinho onde vivem ou quanto muito foram a Badajoz comprar caramelos. Não evoluem, porque não podem. Não têm capacidade. Pararam no tempo. São uns pobres de espírito. São empedernidos, fossilizados. A única esperança é que entrem em extinção, brevemente» (Judite Corte-Real)

 

***

«Os Touros e a Liberdade»

 

«Numa viagem recente atravessei Portugal de norte a sul. Já em terras alentejanas paro o carro para fotografar animais a pastar. Quando me aproximo da cerca, as vacas e os bois levantam a cabeça e olham-me fixamente. Por breves momentos como que se estabeleceu ali um diálogo entre duas espécies biológicas diferentes. Fiz algumas fotografias. Haveria de recordar, mais tarde, outros encontros com animais, outras imagens, num percurso mental pelo meu arquivo fotográfico.

 

Não posso negar que tenho dificuldade em compreender que espectáculo é esse em que se amputa a principal arma de defesa de um animal, os seus chifres, e se o empurra para o centro de uma arena, onde, do alto de um cavalo leve, rápido e ágil, é proporcionada ao cavaleiro a posição dominante e segura para espetar bandarilhas no seu dorso. O sangue não tardará a escorrer pelo seu corpo negro, musculado e pujante. O animal, longe dos horizontes vastos em que cresceu, vai revelar um sofrimento crescente.

 

As touradas são a exibição pública de um confronto entre duas espécies em que há uma que sai sempre derrotada. A aparente manifestação de bravura dos toureiros é o símbolo arcaico de sociedades desiguais em que um macho dominante simbolizava a defesa contra os inimigos da comunidade, fossem eles de tribos rivais ou as próprias intempéries vindas do céu ou os abalos da terra.

 

O mundo mudou. Terá passado o tempo em que as touradas eram elogiadas em páginas de bela literatura. Hoje há enormes problemas ambientais com a que a humanidade se defronta. É o aquecimento global ou a extinção acelerada de numerosas espécies. Está em risco um equilíbrio planetário do qual dependemos para a nossa própria sobrevivência. Poderá parecer que as touradas nenhuma relação têm com os problemas ambientais com que nos deparamos na actualidade, mas têm tudo em comum. É a continuidade de uma atitude arrogante perante a Natureza. Assumamos a nossa condição animal. Será quando nos soubermos reintegrar, regressar, em certa medida, à Natureza, respeitar as outras espécies que connosco partilham esta casa comum, a Terra, que daremos um passo em frente num processo civilizacional que não tem regresso.

 

Há muitas coisas que estão mal na nossa sociedade, há tradições profundamente nefastas que urge ultrapassar. Uma tomada de consciência sobre aquilo que realmente podemos ser como espécie biológica, no contexto desta contemporaneidade, poderá conduzir-nos a uma sociedade mais livre, justa e igualitária.

 

Talvez apenas o conhecimento nos transporte a estados clarividentes de consciência de tempo, de espaço, de vida. O conhecimento do mundo baseado nessa fascinante narrativa que a ciência nos tem vindo a desvendar, tão sabiamente acompanhada pelas leituras da arte, da poesia, das intuições disruptivas, é uma estrada fascinante. Olhemos longe o horizonte. Projectemos viagens que não signifiquem a anulação, a destruição do outro, seja ele humano ou não. Já nos podemos libertar dessa cruel e bárbara dimensão que ao longo de milénios fez de nós a mais poderosa máquina de sobrevivência e destruição. A extinção das touradas será bom sinal para uma humanidade mais livre, para um mundo melhor.

Duarte Belo»

 

(AVISO: este texto foi corrigido para a grafia portuguesa, via corrector automático, visto a aplicação do AO90 ser ilegal em Portugal).

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:57

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Terça-feira, 17 de Dezembro de 2013

O QUE SE APRENDE NA ESCOLA TAURINA DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE ALTER DO CHÃO

 
 

Reparem no “instrumento” que esta CRIANÇA (quantos anos terá?) tem nas mãos…

 

Será uma flor, para com ela acariciar o pobre bezerrinho?

 

Reparem no corno que está à vista…

 
O que sairá daqui? Um artista plástico? Um poeta? Um escritor? Um escultor? Um arquitecto? Um cineasta?
 
 
 
 
 

Foto: D.R.

 

A notícia é esta:

 

«Depois de ter frequentado a escola de Alter do Chão, o jovem bezerrista "El Juanito", filho do popular bandarilheiro Hugo Silva, ingressou na Escola de Toureio José Falcão, em Vila Franca.

 

Agora, nas mãos do maestro Vítor Mendes, a ilusão do pequeno Juanito em tornar-se figura do toureio aumentou!»

 

 Fonte:

http://diariotaurino.blogspot.pt/2011/12/el-juanito-na-escola-de-toureio-de-vila.html

 

***

Quem não concorda com este tipo de "ensino" a crianças, tem o DEVER de assinar esta petição:

 

PETIÇÃO

http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT71746

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:53

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Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2011

PARA O MEU AMIGO A. MONTEIRO DOS SANTOS

 

 

 

Hoje, 24 de Janeiro... dia do teu aniversário natalício, nada mais tenho para te oferecer do que dar a conhecer um teu poema inédito...

Partiste, meu amigo.

Mas deixaste-nos as tuas palavras.

É com elas que te homenageio, hoje, como se aqui estivesses, entre nós...

...

Queria oferecer-te uma flor,

Cravo, rosa ou jasmim,

Aberta em sorriso de criança,

De formas variegadas,

Multicolor,

E caule de esperança.

Busco-a no meu jardim,

Como o filósofo procurou

Um homem bom.

Será que a não encontro,

Tal como a ele sucedeu?

Não, achei e não a quero

Só para mim.

É linda, da cor do do céu,

É tua também,

Do teu mundo, da tua infância.

Dá-la à tua Mãe,

Pois ela tem a fragrância

Que a flor silvestre tem.

E se o Mundo ficar perfumado,

Com esta simples planta,

Já se cumpriu o meu fado

Que não tem lei, nem tem dono,

É Universo de esperança.

Onde espreguiço o meu sonho!

 

Vila do Conde, 27 de Janeiro de 1992

A. Monteiro dos Santos

 

 

 

tags:
publicado por Isabel A. Ferreira às 18:38

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Segunda-feira, 22 de Novembro de 2010

Ao Poeta vila-condense Dário Marujo (A. Monteiro dos Santos)

  

 

Dário Marujo, no «Cantinho dos Poetas» da Cervejaria "Vela Atlântica" (Póvoa de Varzim) , no V Encontro dos Poetas da "Página Jovem», do "Cantinho do Nicolau", do  Jornal «O Comércio do Porto»  (Foto: Isabel A. Ferreira)

 

(Na passagem do segundo aniversário da sua morte)

 

22 de Novembro de 2008/22 de Novembro de 2010

  

A notícia não me apanhou de surpresa. Mas doeu.

O meu amigo havia partido.

Mas deixou-nos os seus versos.

E é com um verso dele, do livro «Se Eu Fosse Dono da Vida...» que lhe grito cá de baixo:

  

«Comandante! Não me esqueci de ti! E do contributo que deste à tua tão querida terra – Vila do Conde; e ao Clube do Poetas da Página Jovem, do “Cantinho do Nicolau”.»

 

***

 

Fazer Versos

 

Há os que dizem

Que só fazem versos

Quando estão tristes,

Melancólicos, solitários,

Deprimidos, infelizes,

Enfaixados na saudade,

Calcados, amargurados. 

Eu, por mim, sou ao contrário:

Só escrevo versos

Quando estou alegre,

Quando me sinto amado,

Quando estou feliz,

Contente, radiante,

Quando sou amante.

Por isso, os meus versos,

Os feitos com o coração,

Tão poucos são,

E no tempo tão dispersos...

***

Até sempre, amigo!

© Foto e texto Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:58

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Sábado, 26 de Julho de 2008

O Poeta, a Música e o Mar

 

Copyright © Isabel A. Ferreira 2008
 
 
Chamavam-lhe o Poeta.
Não apenas porque escrevesse poesia, mas porque entendia a linguagem das flores; porque sabia como descobrir nas nuvens as formas de um veado; porque sentia a nostalgia do canto de um pássaro engaiolado; porque se preocupava com a monotonia da vida de um caracol; e, principalmente, porque conhecia o segredo de como plantar o Sol no seu jardim.
 
Era poeta porque amava a vida.
Viver para ele, além de muitas outras banalidades, significava ajudar os menos fortes a subir a montanha. Todos nós somos humanos, e ser humano é ser fraco também. Esta era a sua filosofia.
 
Era um homem sonhador, sentimental, apaixonado, por natureza. Subia às nuvens com a mesma facilidade com que descia aos infernos. Por isso, quando se deixava envolver pela magia de um olhar, de um sorriso, de uma palavra ou de um simples gesto, nunca se levava a sério. Ou... quase nunca.
 
Mas lá veio um dia em que o envolvimento lhe foi fatal, e, ao fazer uma viagem pelo interior de si próprio, encontrou-se no meio de uma revolução. Tentara racionalizar os seus sentimentos, simplesmente porque tinha medo das palavras que pudesse pronunciar em voz alta, e perdera assim, uma batalha.
 
Era um ser confuso. Atormentado (qual o poeta que não o é?!). Sentia-se perdido num mundo selvagem onde o egoísmo e a indiferença imperavam. Vivia dia após dia na dor, na tristeza, na angústia, na ansiedade e naquela solidão que dele fazia um verdadeiro poeta.
 
Refugiava-se na música, e foi ao som das mais belas melodias que ele escreveu as suas páginas mais célebres, como esta, dedicada à sua amada, dele separada por uma distância abismal:
 
«Tudo começou em ti. Tudo começou por ti. Contigo. Depois veio a música... «La vie bréve» (de Manuel de Falla) e eu voei alto... contigo. Dançámos. Sorrimos. Dançámos novamente. Olhámo-nos nos olhos. Fixámos esse olhar e o tempo parou nesse instante... E a música soou mais suave... «Claire de Lune» (de J. Massenet). Mas já não dançávamos. Caminhávamos apenas, de mãos dadas, por um bosque sombrio... Silenciosos... (as palavras quebrariam a magia do momento). Novamente a música... «Valse Triste» (de Jan Sibelius). No bosque sombrio, tu, a música e eu... O sorriso, o silêncio e o sonho desfazem-se... (O sonho... sempre o sonho...). Parámos no fim do caminho. Para além... (lá do outro lado do sonho) a realidade esperava-nos. Era melhor despedirmo-nos. Olhos nos olhos. Sem lágrimas. Sem palavras... «La vie bréve» (novamente). Sonho apenas sonhado. Restei eu (do lado de cá do meu sonho)... Tudo começou em ti. Depois veio a música. E agora... tudo termina em mim...»
 
Em outro momento louco escreveu:
 
«Ouço Wagner. A sua música, inspirada também num amor impossível, sublimado pela dor da renúncia. Criação máxima da sua musicalidade. Melodia quase fúnebre para um funeral de amor. Mas, pelo menos, Wagner teve o consolo de ter talento para sublimar os seus mais profundos sentimentos. O seu romance impossível não foi em vão. Ah! quem me dera ter o talento de Wagner para poder também cantar tudo o que sonhei!... Mas não! Não quero sonhos. Não quero sublimações. Não quero cânticos. Nem melodias. Nem poesias. Não quero palavras. Nem olhares. Nem fugas. Nem silêncios. Não quero ausências. Nem medos. Queria apenas que o tempo parasse naquela manhã em que te vi chorar à beira do caminho!».
 
Num outro momento, não menos arrebatado do que todos os anteriores momentos, ele escreveu: «Ao som de «Os Barqueiros do Volga» navego em mar alto... perdido e só... Ah! Se pelo menos avistasse uma barquinha...».
 
E era no mar que banhava a cidade onde nascera, que ele, o poeta encontrava o equilíbrio do seu atormentado mundo interior. Passava horas, pasmado, estendido no areal. Fizesse chuva, fizesse sol, lá estava ele, olhar perdido nas ondas que o entonteciam e enfeitiçavam, porque elas traziam o canto das sereias, no qual ele escutava a voz da sua amada.
 
E só por ela foi poeta.
E por ela, numa tarde morna de Outono, acabou por seguir aquela voz, e afundou-se nas águas calmas do seu mar...
 
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 16:48

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