Quando se fala da “geringonça” e dos seus feitos, só nos dizem: deficit quase zero; redução drástica do desemprego; recuperação de rendimentos; passes sociais para mobilidade; e menos despesa das famílias, e tal e coisa que mexe nos bolsos…
Por que pintam um quadro com cores tão garridas? Para dar a ilusão de uma realidade luminosa e de uma estabilidade que, de facto, não existem?
Vejamos então a realidade, mais negra do que luminosa.
Nem só de dinheiro no bolso vive o homem. Há tanto para além do bolso!... O que não significa que o bolso não seja importante. Porém, a realidade é outra:
- A OCDE está menos optimista que o governo português, quanto ao crescimento económico e ao défice para 2019, tendo revisto em baixa a estimativa do PIB para 1,8% e agravado a previsão do défice para 0,5%. E isto não é bom.
- O desemprego jovem é uma realidade assustadora, que fará com que os nossos jovens habilitados saiam do país à procura de outros mundos. E isto não é nada bom.
- Os rendimentos não foram assim tão recuperados, basta ver a onda de contestação social que desde 2018 assola o país, em demasiados e variados sectores. E isto também não é bom.
- De que adianta haver passes sociais para mobilidade, se não há transportes, e se as pessoas vão apinhadas como sardinhas em lata para os seus empregos? Se suprimem comboios, carruagens, barcos? Se se passa horas no trânsito? Se se chega aos empregos (quando se consegue) mais morto do que vivo? Depois queixam-se do fraco rendimento no trabalho. E isto é péssimo.
- As despesas das famílias continuam a ser altas, porque os impostos, as taxas e taxinhas, para tudo e mais alguma coisa, levam-nos os olhos da cara e uma percentagem bastante elevada dos magros ordenados dos portugueses. Enquanto os ordenados gordos continuam a estar nos bolsos de quem não os merecem, porque nada fazem pelo Povo e pelo País. E isto é aviltante.
- Alugar ou comprar uma casa é atirar as pessoas menos abonadas para uma cova de ladrões.
Pintam o quadro com cores garridas para quê? Para dar a ilusão de uma realidade luminosa e de uma estabilidade que, de facto, não existem?
Há que haver um equilíbrio entre o TER e o SER. Aliás, a minha filosofia vai mais para o SER do que para o TER, porque para mim, basta TER o essencial, e, neste momento, poucos são os portugueses que têm o essencial. Outros têm demais, à custa dos que têm de menos. Há muita miséria por aí, para uns poucos andarem a encher os bolsos ou a viver à custa do erário público, como os ladrões dos bancos, e outros ladrões, e os subsídio-dependentes. Há emprego que chegue para os imigrantes, empregos que os malandros portugueses recusam.
A realidade do país não é das melhores. Não há do que nos orgulharmos.
A ameaça ambiental paira sobre Portugal, aliás, paira sobre todo o Planeta, e andam por aí muito preocupados em encher os bolsos, com os lucros que surripiam à custa da destruição do que é ESSENCIAL para a vida do Homem e da restante fauna do Planeta, como se o vil metal servisse para alguma coisa debaixo de sete palmos de terra!
Houve algumas melhorias? Houve. Mas bolso cheio em mente vazia num Planeta árido para que servirá?
E já agora: o que são esquerdas e direitas? Apenas palavras que, por vezes, vão dar ao mesmo.
Já vi o PS e o PCP, que se dizem de esquerda, a aprovar políticas de direita e monarquistas, com o PSD e CDS/PP.
E tudo isto tem de ser penalizado nas próximas eleições legislativas.
Isabel A. Ferreira
"Queremos mesmo sentar o Planeta no Parlamento Europeu"
Porque para VOTAR é preciso CONHECER.
Neste momento, o PAN parece-me uma óptima alternativa. Tem visão de futuro e não se verga a lobbies. E os Portugueses já estão fartos de “invertebrados” do tempo pré-histórico.
Manter no Poder os que já demonstraram incompetência governativa é passar um atestado de idiotice a si próprio.
Temos de mudar o rumo do Poder, porque o Poder está na mão do Povo, não está na mão dos governantes.
Isabel A. Ferreira
© PAN
Francisco Guerreiro, dirigente do PAN - Partido Pessoas - Animais - Natureza, e cabeça de lista nas eleições europeias de 26 de Maio é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.
Entrevista de Melissa Lopes
«É vegan e tem como hobby recolher lixo nas praias e florestas do país. Francisco Guerreiro, militante do PAN desde 2012, é candidato pelo partido às eleições europeias do próximo 26 de Maio.
Europeísta convicto, mas não acrítico, Francisco tem como ambição “sentar o Planeta no Parlamento Europeu”. Está convencido de que “nunca é tarde” para lutar pelo ambiente, sendo um acérrimo defensor de que “pequenas mudanças fazem realmente a diferença”.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Francisco critica a falta de coragem para romper com modelos vigentes e a incapacidade de tomar decisões económicas tendo em conta consequências ambientais calculadas. E o "depois vê-se”, lamenta.
Acolhido pela família europeia dos Verdes, se lá chegar, o PAN quer trabalhar no reforço da agricultura biológica, na transição energética e no apoio humanitário. No fundo, levar para Bruxelas a influência que o partido tem tido no Parlamento português.
Está preparado para ir para Bruxelas?
Este é um desafio a vários níveis, não só para o partido como para o paradigma que nós queremos explicar aos cidadãos e implementar. Felizmente, temos tido essa oportunidade nos últimos três anos dos quatro para os quais fomos eleitos. Acho que há esse reconhecimento da sociedade civil, de que temos, com poucos meios, trabalhado bastante e apresentado propostas válidas. Tanto é que nunca se debateu tanto questões ligadas aos direitos sociais, ambientais, animais. E isso faz com que os outros partidos se queiram posicionar. Isso para nós é positivo.
Somos europeístas convictos, mas não somos acríticos.
Não somos nem melhores nem piores do que os outros partidos, somos diferentes. Acho que os cidadãos conseguem perceber, hoje em dia, essa diferença. É surpreendente como é que um deputado, em 230, às vezes consegue passar propostas por larga maioria ou unanimidade, como foi o caso da aprovação da tara recuperável para embalagens plásticas e que depois vai ser alargada para metal e vidro. Medidas muito concretas direccionadas para o bem-estar das populações e do meio ambiente que conseguem ser feitas com a vontade de construir pontes. Muitas vezes não é a primeira proposta, a inicial...
… é a proposta trabalhada posteriormente.
Também é para isso que cá estamos. As pessoas compreendem que não há um governo PAN e que nós também votamos proposta a proposta, programa de Governo, Orçamento, tudo muito bem contextualizado. E o desafio das europeias vai um bocado nessa senda. O trabalho que temos feito no Parlamento nacional, gostaríamos também de o fazer no Parlamento Europeu.
Qual o nível de europeísmo do PAN?
É total. Somos europeístas convictos, mas não somos acríticos. Há obviamente sectores que têm de se alterar, especialmente no modo como a Europa gere os seus recursos, não só os dinheiros, mas também o modo como produz e distribui a sua economia.
Temos, por exemplo, a PAC (Política de Agricultura Comum), que é uma fatia substancial do peso do orçamento comunitário continua a direccionar-se muito para indústrias muito poluentes, nomeadamente para a agro-pecuária intensiva. Gostaríamos que esses recursos fossem alocados para modos de produção e distribuição de alimentos mais positivos, não só para a saúde humana como para os ecossistemas, nomeadamente no reforço da estratégia de agricultura biológica nos Estados-membros.
Em Portugal, temos feito esse caminho, temos sido largamente ignorados, infelizmente. Mas achamos que é uma visão a longo prazo que a comunidade europeia também deve ter.
Lá, como cá, há interesses instalados que não permitem esses avanços?
Sim. E o modo como sempre se fez as coisas é o mesmo, apenas se tem refinado e não se tem alterado. O modo como olhamos para a produção de alimentos, para o modo de os distribuir.
Não nos questionamos, é isso?
Não nos questionamos. Mesmo em relação ao impacto que tem estarmos a fazer comércio internacional, muitas vezes a custo de direitos humanos, direitos sociais e ambientais... Temos de repensar o modo como fazemos esses acordos.
E qual é a sugestão do PAN? Que objectivos quer perseguir?
Somos europeístas ao ponto de acharmos que é fundamental termos trocas comerciais, como é óbvio. Mas essas trocas devem valer os valores que nós achamos fundamentais: direitos humanos, protecção do meio ambiente, uma justaposição de forças, justaposição muitas vezes para países que estão em desenvolvimento e que precisam de um apoio extra e não propriamente quase um dumping de determinado tipo de mercadorias.
E é importante perceber que ainda temos um impacto muito grande na emissão de gases de efeito de estufa. Queremos promover também a transição energética dentro dos Estados-membros. Tentar, ao máximo, que sejam independentes energeticamente, para não estarem dependentes de países como a Rússia, países africanos e países do Médio Oriente, através de gás e de petróleo. Isso para nós é fundamental. Um dos nossos objectivos, um lema que temos é que queremos mesmo sentar o Planeta no Parlamento Europeu.
Não está neste momento?
Achamos que a ecologia é sempre secundarizada. Ou seja, olhamos para políticas económicas e depois vemos os efeitos hipotéticos ou secundários ou terciários que elas têm no ambiente. E vamos tentando colmatá-los, de modo mais profícuo ou não. E não pensamos ao contrário.
O que vemos é que Portugal, por exemplo, segundo a WWF, consome 2,2 planetas por ano, ou seja, nem chega a Agosto e já estamos a crédito.
Antecipando os problemas ambientais antes de tomar decisões económicas?
Exactamente. Não pensamos como é que conseguimos representar uma sociedade com estes valores que representamos – o altruísmo, a solidariedade, a dignidade humana, o bem-estar animal, a protecção ambiental – tendo em conta o longo prazo.
O que vemos é que Portugal, por exemplo, segundo a WWF, consome 2,2 planetas por ano, ou seja, nem chega a Agosto e já estamos a crédito. Qualquer país europeu é insustentável do ponto de vista da gestão dos recursos. Se não metermos esta linha condutora nas políticas públicas europeias será muito difícil depois conseguirmos construir um projecto de futuro.
Temos também de reduzir a quantidade de bens que consumimos, temos de pensar a forma como esses bens são reutilizados. Não basta só dizermos que somos a favor de uma economia circular se depois ela não se operacionaliza. Se continuarmos numa espiral de consumo de bens é depois difícil gerir esses resíduos.
De que forma podem ser combatidos os fenómenos populistas que crescem na UE?
Os fenómenos populistas contrariam-se com mais e melhor debate político, transparência, participação cívica e educação. Acresce o papel fundamental dos meios de comunicação que não podem ceder à tentativa de imediatismo económico e devem garantir os seus princípios deontológicos no tratamento e disseminação de informação. Isto tudo sem nunca esquecer o papel fundamental da não violência como eixo condutor de toda esta dinâmica. Não é com extremos ideológicos que se transita de modelo social.
Se for eleito, o PAN será acolhido pela família dos Verdes europeus. Terá assim mais força?
Um dos nossos grandes desafios – e é também por isso que estamos na família dos Verdes europeus – será trazer o ambiente para o Parlamento Europeu. Achamos que Portugal tem um défice de foco ecológico nos 21 representantes que lá estão e gostávamos de ter esse contributo. Num universo de 740 eurodeputados, sensivelmente, o nosso poder de influência será reduzido por si. Por isso é que ficamos numa família europeia.
Sobre o combate à expansão dos microplásticos e ao uso de plásticos, por exemplo, há uma estratégia que foi lançada o ano passado que aponta já algumas metas que são positivas mas temos de envolver a indústria, os cidadãos, tem que haver uma aposta na educação ambiental. Temos de partir do pressuposto que é geracional.
Escasseiam essas políticas de educação ambiental?
Se não tivermos políticas de educação ambiental não conseguimos construir esta identidade colectiva de visão a longo prazo. Vemos que a nossa biodiversidade está a ser posta em questão. Há uma usurpação do próprio interesse democrático dos interesses dos cidadãos em preservar as suas democracias que vai além do simples voto. As pessoas estão realmente preocupadas com a sua perspectiva de futuro, com a biodiversidade, com a qualidade dos rios, com a poluição generalizada, com uma alteração de estar na sociedade, de como consumimos, de como produzimos os nossos bens, qual é o impacto que tem, por exemplo, estarmos a trazer bananas do Equador.
O mundo despertou agora para esses problemas todos, já em cima deles, digamos assim. Não vamos tarde?
Achamos que nunca é tarde. É por isso, também, que estamos na política. Não é tarde e sentimos que há cada vez mais apoio às ideias e aos valores do PAN por isso mesmo. As pessoas estão cansadas dos partidos que olham para o mundo da mesma maneira.
De uma maneira que é egoísta, não planeando a longo prazo?
De uma maneira bastante restritiva. Consideramos que é uma visão que está adaptada ao tempo de cada partido. Se olharmos para estes partidos, conseguimos ver que têm a mesma visão que tinham há décadas. Há pequenas evoluções, óbvio, mas [a visão] está muito circunscrita à ideologia vigente daquele partido. Daí a emergência do PAN e de partidos como o PAN.
Os problemas existem e as soluções também. Muitas vezes vemos que há uma falta de vontade de romper com o paradigma vigente porque é fácil fazer como sempre foi feito e é difícil assumir que há mudanças a fazer, como partidos, como sociedade, como cidadãos e que temos que de arregaçar as mangas e encarar isto de modo positivo. Mostrando o problema e apontando soluções que são, muitas vezes, mais fáceis do que imaginamos. Obviamente que vamos contra sectores que estão instituídos. Um dos nossos objectivos é tentar mostrar uma transição que tem de ser rápida, mas efectivamente concretizável.
Muita da legislação que vem da UE já vem condicionada pelo lobby das grandes indústrias.
Não basta dizer qual é o problema, temos de apontar soluções e concretizá-las a nível económico. Uma das nossas bandeiras vai ser trabalhar, dentro da família dos Verdes europeus, para que o orçamento seja o mais exequível possível para apostar nestas transições que são muito importantes, fomentando uma economia verdadeiramente circular, olhando para esta questão do poder que a Europa tem como um só como algo positivo, sem esquecer as questões soberanas.
Em Portugal, tivemos e temos oportunidade de fazer algo muito bom, muitas vezes, porque há directivas europeias, algum discurso político tem a tendência de apontar o dedo sempre a Bruxelas quando nós próprios temos dificuldade em equilibrar os nossos orçamentos, em fazer apostas em infra-estruturas públicas que tenham realmente mais valias para todos nós, que se façam os investimentos que sejam benéficos para o Estado português.
As pessoas sentem-se distantes dos partidos tradicionais.
E não é justo apontar o dedo a Bruxelas?
Não nos parece de todo viável apontar só o dedo a Bruxelas e dizer que os tecnocratas é que gerem tudo. Muitas das directivas que aplicamos são muito positivas. Achamos também que é fundamental pensar nas singularidades de cada país, mas tentando ver linhas em comum, porque consideramos que é muito mais o que nos une – e os problemas comuns são globais - do que propriamente o que nos separa.
As pessoas sentem-se distantes dos partidos tradicionais porque não apresentam soluções positivas. Achamos que a democracia deve ser o mais participativa possível, que se devem criar mais ferramentas para a participação cívica para que as pessoas percebam a importância de estarem na Europa e de construir uma Europa global com uma influência positiva no mundo.
Mas temos de ver os factos. Muita da legislação que vem da UE já vem condicionada pelo lobby das grandes indústrias e ela, muitas vezes, são contraproducentes para as reais necessidades das populações.
O lobby das grandes indústrias irá ser um grande adversário no Parlamento Europeu?
Cremos que sim. Têm um lobby muito forte, têm uma presença constante em Bruxelas, são opinion makers, são criadores de legislação, muitas vezes é um combate muito desigual, não só em termos de recursos, mas também em termos de influência.
Mas acreditamos que empoderando mais os cidadãos, mais possibilidades estes têm de se manifestar contra determinadas políticas e visões. Obviamente que vai ser um caminho difícil, mas que tem de ser traçado e os desafios que temos são muito prementes, ou seja, estamos mesmo num pré-colapso da nossa biodiversidade global e os sinais estão à vista: alterações climáticas, poluição generalizada, e não temos um discurso catastrofista.
É preciso uma responsabilização nossa e dos agentes políticos e tem de haver um combate no sentido de uma apresentação de propostas muito concretas e assertivas no quadro europeu e passa, também, por chamarmos à equação quem tem um peso muito negativo na nossa economia e sociedade. Também queremos mostrar que essas indústrias têm a mais a ganhar se se juntarem a esta corrente.
Falou nas directivas positivas de Bruxelas. Lembro-me de uma que Portugal não está a cumprir e que se prende com o transporte de animais vivos para o Médio Oriente (Bruxelas diz que o transporte não deve exceder as 8 horas. Portugal faz transportes de oito dias).
No que concerne ao bem-estar animal, temos muitas directivas que mostram que estamos a anos luz.
E neste caso concreto, o negócio iniciou-se em 2015… não foi assim há tanto tempo. Não foi nos anos 80, por exemplo.
Lá está, o princípio economicista que tem repercussões no bem-estar animal. Numa abordagem filosófico-ética, existem limites ao nosso economicismo e o transporte de animais vivos é uma realidade muito dura e crua que só agora está a ser exposta. Como disse, temos matrizes muito positivas e que depois não seguimos.
Foi o André Silva que fez o convite ao Francisco para ser cabeça de lista às europeias?
Não. Foi auto-propositor. É definido em sede de comissão de política nacional, mas creio que também é exemplificativo do trabalho que tenho vindo a fazer no partido. Tenho também trabalhado junto do André na assessoria, não só política, mas também na área do ambiente, tenho responsabilidades municipais, sou coordenador na secretaria da comunicação. Dedico muito tempo do meu livre a tentar aproximar a ideologia, filosofia e a prática do partido às pessoas. Foi uma escolha natural e consensual. É um grande desafio, sem dúvida, a nível familiar e profissional.
E qualquer que seja o resultado [das eleições] vai ser muito importante. Até porque podemos ver claras diferenças em relação à candidatura de há cinco anos para agora. Não só pela exposição e responsabilidade que temos, mas também pelas expectativa que as pessoas têm do PAN. E no fundo vamos tentar fazer uma campanha diferente, que seja mais próxima dos cidadãos.
E que combata a abstenção, que é elevadíssima nestas eleições.
Sim, acima dos 60%, para nós é assustador. Queremos chamar as pessoas a esse nível. Mais do que votar no PAN, acima de defender o nosso projecto político, queremos defender a democracia. E defender a democracia é defender que as pessoas leiam os programas, as ideias, e escolham entre as várias opções. Parece-nos muito difícil que, entre 20 e tal partidos, não haja um ou outro que se aproxime à sua sensibilidade. Há programas políticos que se vão relacionar com qualquer cidadão.
Se o cidadão se disponibilizar a ‘consumir’ essa informação.
Mas lá está, as redes sociais podem ajudar nisso. Temos o bom e o menos bom das redes sociais e o que nós vemos é que no nosso caso tem vindo o melhor ao de cima. As pessoas comentam, criticam, nós respondemos, sentimos o apoio directo. Como não temos muita cobertura nos meios convencionais, na televisão, as redes sociais são uma ferramenta para informarmos os cidadãos e de nos aproximarmos destes. A partir daí, fazem as suas escolhas. Longe de nós pensarmos que todas as pessoas que seguem o PAN votam no PAN, mas, pelo menos, ficam esclarecidas. Mostramos que é possível fazer possível fora deste espectro dicotómico Esquerda-Direita, fora do paradigma economicista e produtivista.
Os políticos enchem muito a boca a falar da valorização do Interior.
Esse paradigma economicista reflecte-se em que maus exemplos, na prática, em Portugal?
Não podemos, por exemplo, estar só a olhar para o PIB quando há toda uma abrangência para além do que produzimos e consumimos. Questionamos e somos muito críticos das super culturas intensivas no Alentejo, queríamos que fosse feito um estudo para saber qual o impacto que tem no ambiente e nem isso foi aprovado. A biodiversidade (lagartos, abelhas, etc.) desaparece quando temos monoculturas intensivas. Gostamos de abordar que 80% do consumo água em Portugal vai para a agro-pecuária e para a agricultura, mas depois as campanhas de sensibilização são essencialmente para o ser-humano tomar banhos mais curtos, fechar a torneira enquanto lavam os dentes, o que é importante, mas corresponde a cerca de 20%. Reflecte um bocado uma falta de perspectiva do Governo e dos partidos convencionais a curto prazo. O Alqueva, que foi uma grande aposta, tem desperdícios que rondam os 40% e agora vai fazer-se investimentos para melhorar.
É desperdiçada como?
Devido à questão do regadio. A água é dispersa, não há sistema gota a gota. Depois há falhas no sistema. É aquilo que vemos sempre: primeiro faz-se e depois percebe-se. Como a questão do aeroporto do Montijo, não faz sentido quando já temos um aeroporto construído em Beja, com a possibilidade de se expandir. Bastaria melhorar a linha férrea e a infra-estrutura rodoviária.
Os políticos enchem muito a boca a falar da valorização do Interior, quando aqui tínhamos uma aposta muito clara na melhoria das condições de vida, para trazer pessoas, investimento e PME’s para esta zona. E vai-se construir um aeroporto no Montijo, com os impactos claríssimos no ambiente e que não tem possibilidades de expansão, e que vai trazer mais ruído, mais poluição, mais especulação.
Francisco Guerreiro é militante do PAN desde 2012© DR
Sobre o aeroporto no Montijo, António Costa já afirmou que não tem plano B caso o estudo de impacto ambiental seja negativo.
Não tem se não quiser. Porque existem soluções. O primeiro-ministro diz que foram estudadas 'n' soluções ao longo destes anos. Mas uma opção muito clara é Beja.
E foi estudada?
Nem sequer é considerada. O aeroporto (de Beja) já está construído. E, se é só uma questão de melhorar as infra-estruturas, é mais do que válida. O problema é que os acordos são sempre feitos com uma vertente muito unidireccional – os agentes mais interessados negoceiam e os restantes ficam sempre à margem das negociações. Fazer pré-acordos com a ANA sem fazer estudos de impacto ambiental, sem haver um debate público generalizado sobre a matéria, parece-nos muito curto. E, mais uma vez, estamos a centralizar tudo na área metropolitana de Lisboa. Podia haver uma aposta no aeroporto de Beja que trazia não só uma melhoria na qualidade de vida das pessoas do Baixo Alentejo, como uma melhoria das infra-estruturas. Havia um investimento a longo prazo e não sobrecarregávamos o Litoral.
A opção Montijo não é uma solução a longo prazo?
Numa perspectiva das alterações climáticas, em que o nível médio das águas tende a subir, construir um aeroporto à beira de um rio… parece-nos uma visão a curto prazo. Diz-se que é uma visão a longo prazo, mas não é.
É, portanto, uma má solução?
É uma clara má solução, a nosso ver. A linha directiva é a mesma, primeiro constrói-se e depois percebe-se.
O primeiro-ministro está confiante de que o estudo de impacte ambiental vai permitir a construção.
Deve saber alguma coisa que nós não sabemos. Mas o que vemos é que em casos em que são mesmo negativos, a APA (Associação Portuguesa do Ambiente) serve de validação. Vemos isso através das dragagens do Sado, em que claramente que não se conhecia o impacto nas espécies, que não se percebia que espécies seriam afectadas, que o único ponto forte seria a melhoria, que não havia benefícios em termos ambientais e que o único ponto forte seria a melhoria económica daquele porto, quando temos o porto de Sines mesmo ao lado, a APA veio dizer que sim, desde que se faça isto e aquilo. Vemos que o ambiente está em segundo ou em terceiro plano. Não é a base de onde tudo emana, é ao contrário.
Com o crescimento do partido, houve uma exposição mediática do PAN devido a temas polémicos como é o caso da tauromaquia. Como acompanhou a recente polémica que se gerou à volta do fim da tauromaquia, que começou com a questão do IVA?
Com naturalidade. Nós também fomos eleitos para incomodar. Tem sido uma matriz constante. Recebemos feedbacks e vemos reconhecido esse esforço e capacidade de mexer com sectores intocáveis, incómodos, de não termos barreiras intransponíveis.
A questão das touradas foi um processo natural. Fomos mais moderados do que os moderados. Quisemos que menores de 18 anos não pudessem participar em espectáculos tauromáquicos, foi rejeitado, quisemos acabar com o financiamento público das touradas, também foi rejeitado, questionámos a relação entre a Câmara Municipal de Lisboa e a praça de touros do Campo Pequeno, também não tivemos resposta. Há uma série de factores de que vamos falando e em que somos hipermoderados, dentro do tema, mas que nem isso é acompanhado.
Costa é uma pessoa com visão. Sabe que a tauromaquia tem os seus dias contados.
Nem nas questões de justiça fiscal conseguimos. O nosso objectivo foi trazer à sociedade um tema que muitos portugueses desconheciam. Mesmo quem não desgosta de touradas não acha justo que os artistas tauromáquicos sejam equiparados a médicos com isenção do pagamento do IVA. É surreal. Foi um momento que catapultou esta ideia de que o PAN é incómodo e que fala de sectores que até agora são intocáveis.
É positivo para nós o caminho que se fez, mesmo dentro do PS, a abstenção de alguns deputados do PSD. É positivo ver que há temas que têm de ser trazidos à sociedade e ao debate para os próprios partidos se posicionarem. É um trabalho que queremos continuar a ter no seio do Parlamento Europeu através de todos os mecanismos possíveis e imagináveis.
Foi surpreendente a posição de António Costa na carta aberta a Manuel Alegre?
António Costa é uma pessoa com visão, sabe, tal como muitas pessoas dentro da política sabem – que a tauromaquia tem os seus dias contados. E, então, posicionou-se, com todo o respeito que se deve ter. Percebeu que tendencialmente se deve caminhar para este lado. Agora, dando a liberdade de voto dentro do próprio partido, as propostas acabaram por não passar, mas foi um processo interessante, mesmo históricos do partido vieram, e muito bem, defender abertamente aquilo em que acreditam. É importante [que o façam], em vez de estarem escondidos. Só assim se constrói a democracia, falando abertamente dos temas, dos prós e dos contras.
E em relação ao envolvimento da ministra da Cultura que ao dizer que se tratava de algo civilizacional, foi criticada…
Não podemos dizer que a tauromaquia não tem violência, é uma acção violenta extrema e gratuita. E a ministra posicionou-se tendo as suas consequências políticas, mas também fez com que se debatesse se é ético, se não é ético, se é civilizacional, se não é, os custos que tem ou não. É uma posição que à ministra diz respeito, mas para nós foi positivo.
E quanto tempo faltará para o Parlamento aprovar o fim das touradas?
Está para mais breve do que se calhar é esperado.
O crescimento do PAN e a natural mediatização já trouxeram alguns incómodos ao partido. Na reportagem da TVI sobre o IRA ultrapassou-se a linha daquilo que deve ser o escrutínio público aos partidos?
Extravasou porque fez uma reportagem tendenciosa. Não houve um critério jornalístico e uma linha que se baseie na deontologia. Fazer uma reportagem de investigação tendo em conta um vídeo de sátira parece-nos bastante fora do que são os critérios jornalísticos. As pessoas compreenderam que não foi uma peça isenta, não foi uma peça com o objectivo de esclarecer o público e que descredibilizou o papel que o jornalismo deve ter num mundo cada vez mais bombardeado de notícias falsas. E isso não é positivo para as nossas democracias. Acho que isto resulta do facto de estarmos a crescer, e é normal. Mas há aqui um papel de responsabilização da classe jornalística em se readaptar às exigências.
Foi um dos piores momentos do PAN até agora?
Foi um momento mediático menos positivo, mas nós gerimo-lo com a maior sensibilidade possível.
Receberam mensagens de apoio?
Sim, curiosamente. E vimos que as pessoas questionaram muito. Viram a reportagem e depois questionaram-nos e compreenderam. Foi num momento muito específico, em que estavam em debate questões da tauromaquia. Recebemos um apoio generalizado e, aliás, as últimas sondagens mostram que não só não tivemos nenhum impacto como subimos. Vimos que a sociedade ficou alerta e que, através da nossa resposta, viram que não tinha qualquer sentido aquela reportagem e os exemplos que seguiram do canal também não foram os melhores.
Não nos furtamos a que haja investigações, mas tem de haver limites.
Quais?
Os eventos que a TVI vai tendo nesta guerra das audiências. Vão acabando por mostrar que, se calhar não vale tudo. É um debate que devemos ter é até onde é que devemos ir para ser líderes de audiências. São critérios jornalísticos e editoriais que cabe mais ao sector do que propriamente a nós.
Mas, isso [as fake news] condiciona. E nós não nos furtamos a que haja investigações e análises – o jornalismo serve para isso mesmo, para tocar em todos os sectores da sociedade, sejam eles quais forem -, mas tem de haver limites e o código deontológico tem de ser essa bússola que deve guiar todos os profissionais. Podemos ganhar no curto prazo em audiência, mas perdemos, a longo prazo, na nossa democracia.
Com o aproximar de eleições estão à espera de mais situações deste género?
É expectável. Mas só podemos continuar a trabalhar, mostrar do que é que somos feitos e aguentar. Não temos nada que não possa ser escrutinado. Que o jornalismo faça o seu trabalho e nós cá estaremos.
O PAN tem oito anos. Está no partido desde sempre? Como é que se ‘conheceram’?
Praticamente. Um amigo meu mostrou-me um clip em que o Paulo Borges (presidente na altura) falava dos valores do PAN. Identifiquei-me. Nunca tinha estado ligado à política, e apesar de ter votado sempre (à excepção de uma vez), era muito desalinhado. Não me revia nos partidos tradicionais, no modo como olhavam para a sociedade, para o sistema, como viam o mundo, como projectavam a construção desse mundo.
E através dos valores do partido, consegui perceber que era ali que me identificava. Tivemos grandes desafios no processo. Antes éramos partido pelos Animais e pela Natureza. A ideologia era a mesma, mas as pessoas na primeira abordagem não percebiam e perguntavam ‘Então e as pessoas?”.
E ainda hoje perguntam?
Ainda perguntam, mas já é menos, felizmente [risos].
Passei por esse processo todo. Fui candidato às autárquicas em Coimbra, em que não ficámos em último. E agora voltei a ser por Cascais onde tivemos 5,4%, foi o melhor resultado dentro do partido. Foi um processo natural. Acabei por dar muito tempo voluntariamente ao PAN, na comunicação, a reestruturar o partido, na fundamentação das nossas posições, a criar pontes e estrutura. Nunca me imaginei a concorrer a um cargo de eurodeputado, ou qualquer tipo de cargo político, mas tem sido muito orgânico e as coisas vão acontecendo. O convite para trabalhar como assessor do André também surgiu. Tenho aprendido muito e vejo que há uma dissociação da compreensão colectiva do que realmente se faz no Parlamento e é muito trabalho, muitas informações, muitas horas de comissões, debates, reuniões.
É um trabalho que não ‘passa’ para fora?
Às vezes é mal interpretado o sentimento colectivo do “não fazem nada”.
Generalizações.
Generalizam por maus exemplos, claro. Mas não podemos cair no ridículo de achar que não se trabalha e trabalha-se muito e em muitas temáticas. Basta ver o site do Parlamento que tem informação de tudo e mais alguma coisa. Queremos mesmo cativar as pessoas a serem mais activas e a pressionar os partidos políticos.
E desilusões na política?
Será mais uma desilusão pessoal do panorama nacional e internacional de como é que problemas tão graves são tão desconsiderados. Olhamos para a natureza como algo muito eufemístico, algo que não é palpável. Os problemas que temos são gravíssimos. A minha mãe é bióloga, sempre vi a BBC Vida Selvagem, sempre tive uma relação muito directa com a questão da biodiversidade, preservação do ambiente e das espécies e do envolvimento do ser humano.
E é disso que nasce o hobby recolher lixo nas praias e florestas?
Sim, desde sempre que recolho lixo.
Esse lixo que recolhe é cada vez mais ou tem vindo a reduzir?
Tenho a percepção de que é cada vez mais. Infelizmente é cada vez mais, mas também mais pessoas se andam a mobilizar.
Até já é um desporto ('plogging').
Não entro nisto por desporto porque é algo que surge com a necessidade de fazer algo pela comunidade. É o meu modo de ajudar a comunidade. Passei muitos Verões no Algarve e sempre que passava e via lixo, ia apanhando. Já nem sei as toneladas de lixo que recolhi. Mas sempre foi algo natural, faz mesmo confusão comportamentos que são tão fáceis de ser alterados. Por exemplo, atirar beatas para o chão.
Que agora vai ser punido em Lisboa ...
Pelo menos em Lisboa. Mas mais do que a punição, que é importante, é tentar explicar os impactos que têm esses comportamentos. Para mim, é natural. É como a reciclagem: já não penso.
Na reciclagem as pessoas desconfiam que depois o lixo que separaram vai todo para o mesmo lado, na hora da recolha.
Muitas vezes é falta de informação, há sistemas de distribuição diferentes.
Mas isso acontece? De o lixo acabar por ser todo misturado?
Mesmo que aconteça, depois voltam a separar. É ineficiente. Mas são casos muito pontuais, até hoje nunca vi nenhum facto que o provasse. Acho que é mais uma desculpa para não o fazer do que propriamente algo concreto. Não educarmos faz com que tenhamos taxas de reciclagem que são uma vergonha a nível europeu, não cumprimos nem as metas mínimas. Deve haver aqui uma consciência colectiva de que o desperdício que faço não me afecta só a mim, mas tudo o resto.
Isto de recolher o lixo é a minha boa acção constante, fora da política. Ainda no período do Natal recolhi cerca de 200 litros de lixo, na lagoa de Santo André. Isto reflecte o nosso alheamento dos problemas da sociedade. Pequenas mudanças fazem realmente a diferença.
Que outros contributos individuais dá ao ambiente?
Sou vegan, é um contributo que é muito pessoal, não sou um promotor do veganismo para os restantes. A mim faz-me todo o sentido levar a ecologia ao mais profundo acto também de compaixão e de responsabilidade para com os outros seres do Planeta, com o ser humano e com o Planeta. É tão comum como separar o lixo. Tenho a felicidade de ser casado com uma pessoa fantástica que cozinha maravilhosamente bem, o que também ajuda [sorriso].
Tem filhos?
Tenho uma filha de 11 anos.
E é vegan também?
Está na transição.
Não lhe impuseram esse tipo de alimentação?
De modo algum, é uma escolha dela. Prefere ser vegetariana. Respeitamos as decisões, tudo o que ela faz. Gosta de mostrar que tem um sinal positivo ao mundo. São alterações que são escolha dela, respeitamos e apoiamos.
Fonte:
(Aviso: este texto foi corrigido para a grafia portuguesa em vigor (a de 1945), via corrector automático, visto a aplicação do AO90 ser ilegal, em Portugal, e este Blogue não pactuar com ilegalidades).
Porque já estou farta de comentários como os do Tiago…
Porque já estou farta de que optem pela ignorância…
Tiago, deixou um comentário ao post A tourada à corda na ilha Terceira, além de ser uma prática primitiva e grosseira, de gente que não evoluiu, dá mau nome à ilha - mas os terceirenses não querem saber disso para nada… às 23:28, 2016-08-12.
Comentário:
Boas, Eu acredito que as touradas conhecerão o seu fim, acho-o inevitável. A evolução da sociedade face aos direitos dos animais a isso puxa. Mas pergunto-lhe: o que serão dos touros sem as touradas? Caminharão no mesmo caminho dos burros (falo do animal), que roça no precipício da extinção? Sem propósito ou habitat natural, o que serão dos touros?
Vi num dos seus comentários transcritos, as touradas prejudicam a economia da ilha. Isso é falso, infelizmente. As touradas empurram uma enorme massa de gente que, sim, gera negócio que só se pode classificar como gigantesco, 2.6 do PIB bruto da região e 11.4 da ilha – procurei os números aqui:
https://www.noticiasaominuto.com/economia/580521/touradas-a-corda-representam-2-47-do-pib-dos-acores
Não podemos, por tanto, arrancar as touradas como se de um penso rápido numa ferida. Não dá a ganhar só algumas famílias, como li, mas muitos negócios. Vê-se muitos turistas, de países de morais supostamente mais avançadas, e não os vejo com caras de horror, mas antes a comer, beber e correr à frente dos touros.
Açoriano civilizado – outro disse – não sei o que é isso. Parece-me um significado muito simplificado se for só de alguém que defende a abolição de touradas, já que não sei o que fazem por trás de portas fechadas. “Queimadelas com ferros” – li noutro comentário, como se fosse algo exclusivo da da ilha ou da espécie animal.
A tradição em Portugal (todo território) ordena que todos os equinos e bovinos sejam ferrados. Não apoio esta prática. Defenda as suas ideias, lute por elas, mas não nos ofenda; ilumine-nos, não nos alienei. Seja aquilo que acredita ser, mais evoluída. O problema, se me permite o atrevimento, de quem defende a abolição é o mesmo de quem defende as touradas, frustração por não saberem usar dos seus argumentos para um discurso iluminado que não tombe para a agressividade. Meus cumprimentos.
***
Tiago, nas suas várias perguntas «o que serão dos touros sem as touradas? Caminharão no mesmo caminho dos burros (falo do animal), que roça no precipício da extinção? Sem propósito ou habitat natural, o que serão dos touros?» noto que nada sabe de Touros, de Burros, ou de qualquer outro animal, nem sequer de si próprio, e quer a abolição das touradas tanto como eu quero que elas se mantenham.
Vamos por partes:
Os touros são bovinos. Touros ditos “bravos”, esses que são utilizados na diversão dos broncos, NÃO EXISTEM NA NATUREZA, por isso, não se extinguirão. E os bovinos continuarão a existir, muito para além dos seus carrascos. Também os Burros não se extinguirão, quando a besta humana deixar de os torturar como burros de carga e de trabalho escravo. O que acontecerá a esses animais é continuarem a viver, no seu habitat, pacificamente, longe das investidas brutas dos seus algozes.
Além disso, os bovinos não nasceram para ser torturados em arenas, para divertir a besta humana. Nem os Burros nasceram para servir de escravos à besta humana.
Portanto, não é racional dizer: sem propósito o que serão dos Touros? Que propósito é esse? Divertir broncos?
Sem propósito de serem torturados numa arena, os bovinos que os ganadeiros torturam desde a nascença para se tornarem “touros bravos” serão apenas BOVINOS e CONTINUARÃO simplesmente a viver.
Quanto ao que diz do PIB é uma MENTIRA já exposta em público. Aqui:
Comunicado do MCATA sobre o recente estudo que atribui às touradas uma determinada contribuição para o PIB da ilha Terceira
http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/comunicado-do-mcata-sobre-o-recente-662259
É óbvio que PODEMOS ARRANCAR as touradas das ilhas como se fossem um penso rápido debaixo de uma ferida gangrenada. A cheirar mal.
Podemos e devemos.
Quanto aos tão referidos “turistas” que vão assistir à selvajaria, serão “turistas de garrafão”, que os há em toda a parte? Sim, porque um turista CULTO nunca irá gastar o seu dinheiro num divertimento de broncos.
Quanto à “tradição” que diz que…. blá, blá, blá… blá, blá, blá… sabe o que é tradição? É a personalidade dos imbecis. E isto não sou eu que o digo, é Einstein.
Estou farta de VOS ILUMINAR. Estou farta de publicar ESTUDOS que dizem da grande barbárie que são as touradas, à corda ou sem corda. E o que fazem? Recusam-se a evoluir.
Optam por continuar na ignorância, nas trevas, no buraco escuro. E assim como o pior cego é aquele que não quer ver, o pior ignorante é aquele que não quer deixar de ser ignorante.
E permita-me agora ILUMINÁ-LO (uma vez mais):
Frustrados são os que precisam de mostrar uma “virilidade” que não têm, a torturar Touros INDEFESOS. Além de FRUSTRADOS são COBARDES.
Isso é o que significa FRUSTRADOS.
Nós, que os DEFENDEMOS, não somos frustrados. Muito pelo contrário.
Também para sua informação, o nosso (o meu) discurso não é agressivo. É simplesmente INDIGNADO, como é de nosso direito. O direito à INDIGNAÇÃO está consignadao na Constituição da República Portuguesa.
É um discurso proporcional à BRUTALIDADE das touradas.
Só tenho discursos iluminados para POETAS e POESIA.
Para os grosseiros torturadores de Touros, o meu discurso é de REVOLTA, de REPUGNÂNCIA.
Ficou esclarecido, Tiago?
Isabel A. Ferreira
O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA) considera oportuno fazer algumas considerações e repor a verdade sobre alguns factos em relação ao recente estudo titulado “Os valores económicos e sociais da tourada à corda”, da autoria de Domingos Borges, que afirma que as touradas podem ser responsáveis por 11,4 % do PIB da ilha Terceira.
Antes de mais, é preciso deixar bem claro que o Produto Interior Bruto (PIB) não é um sinónimo de criação de riqueza, ideia errónea que muitas vezes é passada na comunicação social. Na realidade, o PIB tanto pode indicar criação de riqueza como uma simples transferência de dinheiro ou mesmo uma perda de riqueza para uma região ou país.
O PIB é um indicador que reflecte o valor total da produção de bens e serviços num país ou região num determinado período. No entanto, segundo Ladislau Dowbor, economista e consultor da ONU, é “uma cifra que, tecnicamente, ajuda a medir a velocidade que a máquina gira, mas não diz o que ela produz, com que custos ambientais, e nem para quem”.
Para perceber melhor a questão podemos citar determinadas actividades económicas que entram dentro do cômputo do PIB mas que em nada favorecem a economia ou as populações que dela dependem, como pode ser por exemplo um aumento no sector funerário após uma epidemia, no sector de produção de armas quando o país entra em guerra, ou no sector madeireiro após um incêndio florestal.
Em relação às touradas, elas encontram-se economicamente na categoria de espectáculo, e como tal são um sector económico não produtivo, que não produz riqueza. Os touros são criados para participarem num espectáculo e com isso em nada beneficia materialmente, directa ou indirectamente, a população, para a qual só servem como distracção por breves momentos. É na realidade um tipo de economia dissipativa que gasta recursos humanos, materiais e naturais.
No referido estudo faz-se no entanto referência a outras actividades, estas sim produtivas, associadas ao espectáculo tauromáquico. Mas se as analisamos com atenção chegamos à conclusão de que a sua produtividade é muito reduzida ou nula. Aquilo que é pago ao ganadeiro é uma transferência de dinheiro da população para o bolso de um particular. O que é pago em licenças é uma transferência de dinheiro da população para a autarquia. O que é gasto em combustível e desgaste de veículos, citado no estudo, é na realidade uma perda de dinheiro para a economia da região, que com isto deve importar mais gasolina e mais carros. O sector das comidas e bebidas é realmente uma actividade produtiva, mas ela existe todo o ano independentemente do tipo de espectáculo e das touradas. E quando consideramos que aquilo que é mais consumido, a cerveja, é toda importada, percebemos que também aqui temos mais uma perda económica para a região.
E ainda poderíamos falar também da perda da produtividade no âmbito laboral que significa ter mais de uma tourada por dia na Terceira durante a Primavera e o Verão. Ou dos gastos médicos dos cerca de 300 pessoas feridas por ano nas touradas.
Não vamos aqui a discutir os números do referido estudo, mas eles são claramente exorbitantes quando referem um PIB do 11,4% às touradas na Terceira. Um outro recente estudo, muito mais realista, da autoria de Tomaz Dentinho e João Paes, calcula que representam apenas um 0,6% do PIB da ilha Terceira, uma diferença abismal. Como referência, podemos dizer que o sector leiteiro, um dos sectores produtivos mais importantes da região, contribui com um 9% para o PIB regional.
O MCATA considera que o referido estudo, realizado desde e com o apoio do mundo tauromáquico, não tem outro propósito para além de amplificar os números de forma absurda e exagerada e ocultar a natureza não produtiva das touradas, apoiando assim o negócio da tauromaquia num momento em que esta actividade é tão criticada nos Açores e no mundo inteiro.
Na realidade, a economia da ilha Terceira só ganharia com o fim das touradas e dos subsídios públicos a elas atribuídos. A qualidade de vida e o futuro dos terceirenses melhoraria sem dúvida se o dinheiro gasto nas touradas fosse destinando a sectores produtivos da economia e que melhorassem a produtividade, a competitividade e a inovação no tecido empresarial da ilha. Afinal, qual é o interesse de ter um PIB, por pouco ou muito elevado que este seja, baseado apenas em perdas e despesas e não na criação de riqueza?
Comunicado do Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/
20/07/2016
Fonte:
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/2016/07/comunicado-do-mcata-sobre-o-recente.html
Texto de José Ormonde
Maio de 2016, mês da tortura
Tal como manda a tradição e impõe o vício adquirido por muita deseducação que começa quase no berço, a 1 de Maio começa a época oficial das touradas à corda.
Hoje, na ilha que as importou e as manteve e que é centro difusor das mesmas, a ilha Terceira, estão marcadas três touradas à corda e este mês realizar-se-ão 35 (trinta e cinco).
Segundo um economista que deve ser bom no excell mas mau na vida real, isso será um grande contributo para o PIB pois há muitas despesas na realização das ditas, como o pagamento aos ganadeiros, às taxas e licenças para as autarquias, as licenças para os foguetes, a gasolina e o gasóleo para os transportes, os custos dos tratamentos dos feridos, se houver morte há ainda as despesas com o funeral, etc. Enfim, não se cria riqueza, mas é uma alegria e haverá sempre alguém que pagará a crise, distribuindo migalhas pelos mais desfavorecidos e milhões pelos empresários chupistas.
Como se isso não bastasse, uma associação que devia ser solidária mas que é adepta da caridadezinha e pouco açoriana, decide organizar a 29 de Maio uma tourada para angariar fundos para criar uma bolsa para estudos na área da oncologia.
Sobre a sua falta de açorianidade todos sabemos que desde sempre a direcção da Liga Portuguesa Contra o Cancro esteve sempre centrada na ilha Terceira e as delegações noutras ilhas nunca tiveram qualquer autonomia, o que não sabíamos era que para além da localização havia ligação à indústria tauromáquica que como se sabe vive da exploração e tortura e morte de animais para divertimento humano.
Conhecendo como se conhece os dirigentes terceirenses da Liga e os da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, entidades parceiras no infeliz evento, não é difícil concluir que se o objectivo é a criação de uma bolsa, eles a título individual ou através das suas empresas têm meios mais do que suficientes para a criação de três ou quatro bolsas. Mas, a bolsa não é mais do que um pretexto para organizarem mais uma tourada que é o que, no fundo, eles gostam.
José Ormonde
Açores, 1 de Maio de 2016
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(AVISO: uma vez que a aplicação do AO/90 é ilegal, não estando efectivamente em vigor em Portugal, este texto foi reproduzido para Língua Portuguesa, via corrector automático).