Uma carta dirigida ao Dr. Luís Marques Mendes, comentador da SIC, que me foi enviada via e-mail, por um português residente no Canadá, há vários anos. Uma visão de alguém que, longe de Portugal, tem uma percepção racional do que aqui se passa, a percepção de alguém que saiu de Portugal, mas não quer voltar, porque Portugal não lhe oferece o que se espera do próprio país, um país que praticamente expulsa os seus, a sua mão-de-obra qualificada, e recebe os de fora, concedendo-lhes, de mão-beijada, o que não concede aos de dentro.
Subscrevo esta Carta.
Isabel A. Ferreira
«Prezado Dr. Marques Mendes,
Não é que discorde do que disse no seu comentário de ontem (que ouvi até ao fim, antes de começar a escrever...).
Mas gostava de lhe dar a minha visão do assunto, comparando o Portugal que conhecia com o Canadá que conheço.
Portugal desceu da Galiza, e não indo atrás até aos Visigodos e "Mouros", passou há muitos anos a ter uma população homogénea, com relativamente pouca diferenciação.
O Canadá tinha população original, povos chamados Micmac, Algonquin, Huron, Mohawk, Cree, Inuit, etc...
Contudo, vieram imigrantes que os dominaram, tentaram apagá-los (retirando crianças às famílias, instalando-as em 'escolas' residenciais, proibindo-as de falar as suas próprias línguas, e fazendo coisas abusivas do género que recentemente foi assunto em Portugal).
O actual Papa veio há pouco tempo ao Canadá, andou por aí, pediu desculpa, mas não foi tão longe como os nativos esperavam, e quando no avião de volta a Roma lhe perguntaram porque não tinha usado a palavra 'genocídio', ele disse que não lhe tinha ocorrido!!... Ha!...
Os povos nativos (chamados aqui "Primeiras Nações") ainda existem, em poucos números, marginalizados, alguns em 'reservas'. Fazem-lhes o favor de não pagar impostos federais (aqui no sul do Ontário, passei uma vez num local que sabia ser "pertença" deles, e vi um posto de gasolina com preços fantasticamente baixos... Mas não me venderam, porque eu não tinha nem cara nem cartão que me identificasse como tendo esse direito...).
Onde eu quero chegar, é que em contraste com Portugal, o Canadá é um país de imigrantes.
Primeiro franceses, depois britânicos que tomaram a primazia, e chamaram a esta colónia "Domínio do Canadá" (nome que ainda era oficial quando eu cheguei).
Era tão "dominado", que ainda havia, por lei, o costume de tocar o 'God save the Queen' no fim de sessões de cinema (o que fazia os espectadores fugirem assim que as legendas finais começavam a aparecer).
Aliás, o Canadá nos anos 60 não tinha bandeira própria nem sequer hino!
O PM do dia era contra...
Mesmo a propósito, foi agora no dia 1 o Dia do Canadá (que antes era chamado em inglês Dominion Day).
Então por favor veja estes dois artigos do Toronto Star (jornal que apoia os partidos Liberais, i.e., tanto o federal como o do Ontário - aqui há partidos federais, e cada província e território também tem os seus).
Têm a ver com imigração e diversidade.
Neste, não perca os comentários...
E neste, repare nos números, especialmente na população imigrante em Toronto.
Então com a eleição de Olívia Chow na semana passada (com 37% dos votos, porque nos sistemas não-democráticos britânicos não há segunda volta), temos uma Presidente da Câmara apoiada pelo partido de cujo o seu falecido marido era líder, mas que não fala inglês correcto, e tem pronúncia esquisita.
Ana Bailão, em segundo lugar, veio de Portugal com 15 anos... Era apoiada por este jornal.
Imagine um estrangeiro/a a candidatar-se a Presidente da Câmara e a ganhar...
Ora tanta e tão variada imigração faz com que o país se torne amorfo.
O Quebeque era bem afrancesado e a parte onde vivo era feita quase exclusivamente de anglo-saxónicos.
Depois vieram ucranianos, que se dirigiram às pradarias do Manitoba.
Depois italianos, portugueses só na década de 50, e depois então é que se escancaram as portas, mais recentemente com migrantes ilegais que apesar de estarem nos EUA, vêm pedir "refúgio" no Canadá.
Isto impede que exista uma consciência "nacional" no país, ainda mais prejudicada por o Chefe de Estado ser o rei de Inglaterra!
Em Portugal, ainda não se chegou a este ponto.
Mas o Benformoso já não é o que era...
Nem o Martim Moniz, tomado por uma multidão festejando o Eid na semana passada. Para onde foi a procissão da Senhora da Saúde?...
E no interior, também. Perto de Viseu, uma igreja é dispensada a ucranianos regularmente.
Em entrevistas de rua, é confrangedor o número de brasileiros a quem é emprestado o microfone.
800.000 estrangeiros num país tão pequeno são demais!
E dentro destes números, 31% de brasileiros ainda é pior.
Portugal levou africanos para o Brasil.
Estes, com a pronúncia das línguas deles, por ser bastante sonora, afectaram o Português que se falava nesse tempo (não sei, mas podia ainda ser parecido com o Galego).
Agora, a quantidade enorme de brasileiros, com a sua qualidade igualmente sonora (uma característica dominante) também têm grande influência na língua.
Quando o PM, falando por nós todos, diz que gostaríamos de falar com o sotaque deles, e quando o PR se põe a imitar a fala brasileira (deixando Chico Buarque espantado), e quando a SIC tem um (ocasional) repórter brasileiro em Portugal, e a TVI/CNN usa um brasileiro para falar de futebol (como se se tivessem esgotado portugueses com esse talento), o futuro da língua verdadeiramente portuguesa não é brilhante.
Isto para não falar no desastre que é o Acordo de 1990 (não usado no Brasil!) e nos erros que já se ouvem há tempo no Português falado (até já escutei o PR a dizer que "se resolva rápido", em vez de rapidamente).
Imigrantes do sul da Ásia não afectam a Língua Portuguesa, e até a aprendem.
Africanos dos PALOP têm uma certa pronúncia, mas nem chega a ofender, pois falam Português.
A Ksenia Ashrafullina (8 anos de Portugal) é como eu, tem jeito para línguas, e fala um português excelente, por vezes mesmo com a naturalidade duma portuguesa.
Tem a cidadania portuguesa, e assim devia ser chamada, e não ainda 'russa', como referida, entre outros, até pelo PR, o que é uma desfeita.
Não lhe serviu de muito adquirir a cidadania, e esse tipo de imigração, que não considera como "novos portugueses" os imigrantes, não lhes deve agradar.
Contudo, brasileiros acham que falam português, e não aprendem a falar o português local, como uma senhora que num hospital disse que tinha um "corrimento marron", e ficou toda ofendida, dizendo-se "discriminada", porque a enfermeira não sabia que eles usam essa palavra em vez de "castanho".
E brasileiros não entendem completamente o Português, como é minha experiência, e foi demonstrado quando Lula não entendeu uma pergunta que lhe foi feita e repetida por uma jornalista bem perto dele!
Houve quem dissesse que ele não queria responder, mas acredito que ele não compreendeu mesmo o Português!
Eu viajei muito no Brasil, desde Manaus, nordeste, sertão, até Foz do Iguaçu, e senti essa falta de sintonização e desconhecimento do português padrão.
O visto "para procurar emprego", criado pelo governo, é um convite à imigração ilegal e à permanência fora dos limites.
Isto é o governo a dizer “venham e fiquem”, porque precisamos de gente, seja quem for.
Ainda estou à espera dos escândalos que essa JMJ vai produzir, culpa dum governo que se confunde com religiosos.
Pelo que vejo de longe, Lisboa está a ficar descaracterizada, e não me admirava se daqui a umas dezenas de anos, deitassem abaixo a Alfama e a minha Mouraria e pusessem arranha céus...
Cuidado com imigração a mais!
Eu preferia Portugal pobrezinho, mas ainda português.
"Enquanto houver Santo António, Lisboa não morre mais."
Pois, mas o teclado Google quer que escreva Antônio, à brasileira...
[Tive que interromper a escrita, e quase perdi o fio à meada, para ver "Os Batanetes", na TVI Internacional, como que o Monty Python à portuguesa antiga...]
Calorosos cumprimentos,
C. Coimbra»
Justificação para tal viagem: a Santa Sé foi o primeiro Estado a reconhecer a independência de Portugal, em 1179.
E para manter a tradição, tal como aconteceu em 2016, do Vaticano Marcelo parte para Espanha. Para quê? Para ver o Rei de Espanha, Filipe VI.
Justificação? Talvez para que Espanha nos mantenha no nosso cantinho ocidental, sem pretensão alguma de nos dominar.
A nós, Portugueses de segunda, manda-nos confinar. E ELE, só para manter a tradição (?) vai a Roma, ver o Papa, e a Espanha, ver Filipe VI.
Espero que tenha pago a viagem do bolso dele, porque para manter a tradição, não é justificação que se dê para uma viagem, em tempo de pandemia, paga com os nossos impostos.
Sua Excelência, põe em prática aquele muito acertado ditado «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço, porque eu tenho PODER para fazer o que bem entender, e vós existis apenas para OBEDECER ao que digo».
Imagem: EPA
A não ser que Marcelo Rebelo de Sousa tenha ido à Santa Sé apenas como peregrino, como católico, e não como Presidente da República de Portugal, este beija-mão excede todos os limites do bom senso e do protocolo de um Estado laico.
Isabel A. Ferreira
Uma extraordinária Lição de História, recebida via e-mail, a propósito das considerações do Primeiro-Ministro de Portugal, ao dizer que o discurso do Ministro das Finanças holandês o repugnava, quando este Bóer, disse que a Espanha não devia ser ajudada da catástrofe em que o coronavírus está a deixá-la, porque depois não conseguia pagar a dívida.
António Costa criticou as conclusões do Conselho Europeu extraordinário LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
Origem da foto:
«Não vou discutir a questão dos Eurobonds, que já é velha e em que a posição dos diversos países europeus não mudou. O que me ocorre comentar é o acinte do ministro holandês para com a Espanha.
Porquê em especial a Espanha?
Há coisas da História que ficam na memória colectiva dos povos, não tanto enquanto memória dos factos, mas como memória emocional, em ódios e estimas. E o facto é que há na Holanda um ressentimento secular contra Espanha e também contra Portugal, como se constata em blogs e ciber-grupos quando se fala dos Descobrimentos ibéricos. Donde vem isso?
É que a Espanha e a Holanda travaram uma guerra durante 80 anos, entre 1568 e 1648! A qual acabou com a vitória holandesa na Europa, mas a derrota no Ultramar espanhol. É uma longa história, que não vou desenvolver, mas referir apenas que, sem justificação, a Holanda alargou essa guerra a Portugal, no que foi sem dúvida a primeira guerra imperialista moderna da História europeia.
Por cá é pouco conhecida, como tudo o que respeita à História do nosso império ultramarino, mas essa guerra foi a guerra mais longa que Portugal travou na sua História, a seguir à guerra contra os mouros.
Basicamente, a Holanda procurou roubar a Portugal o seu império ultramarino. Começou por piratear sistematicamente os nossos galeões e caravelas, e no Oriente tirou-nos tudo o que pôde - Ceilão, as Molucas (actual Indonésia, de que só nos deixou Timor), o comércio com o Japão, e só não nos tirou Macau por que o imperador chinês nos protegeu, ao contrário do imperador japonês.
Na África tirou-nos o Cabo, não conseguiu tirar Moçambique, mas tentou também tirar-nos o Brasil e as colónias da África atlântica. Que foi onde a guerra foi mais acesa e longa.
A guerra no Brasil foi pela apropriação das plantações de açúcar, e durou 65 anos. Foram os próprios brasileiros quem derrotou e expulsou os holandeses, embora estes tenham depois ido plantar açúcar na Guiana. Como o açúcar brasileiro (que todos os outros depois copiaram no Haiti, em Cuba, etc.) era uma agro-indústria inviável sem os escravos africanos, a Holanda tomou-nos São Tomé e Príncipe, a Mina na costa da Guiné, e em 1640, quando já não éramos súbditos dos espanhóis e, portanto, sem desculpa, Luanda. Mas apenas Luanda, nunca conseguindo desalojar os portugueses das suas posições no interior, graças aos nossos aliados africanos e também à ajuda brasileira.
Também no Brasil, como em Angola, os holandeses nunca conseguiram passar de algumas cidades costeiras para o interior. No interior dominaram sempre os portugueses, os luso-brasileiros, e em Angola os luso-africanos. No Brasil os luso-brasileiros mantiveram cercadas as cidades costeiras sob domínio holandês, desbaratando-os quando tentavam penetrar no interior. E foram os brasileiros quem financiou, construiu e equipou a armada que foi a Luanda e a São Tomé recuperar aquelas fontes de escravos para as plantações de açúcar. A historiografia brasileira oficial considera que foi nessa guerra que se forjou a sua nacionalidade, com a luta combinada de destacamentos luso-brasileiros brancos, tropas índias, e tropas negras formadas por ex-escravos. Todos juntos contra os holandeses.
A questão religiosa foi importante, neste desfecho da guerra luso-holandesa. A aversão calvinista dos holandeses aos ícones religiosos católicos, aos santinhos e aos andores com a Nossa Senhora, às relíquias sagradas e ao Papa, não colhia apoio entre africanos e índios cristianizados pelos estimados jesuítas. Pelo contrário, escandalizava-os.
A Holanda perdeu essa guerra no Atlântico, portanto, mas ficou ressentida.
Nota: a Holanda era a parte norte de uma nação mais vasta, os "países baixos", cuja parte sul acabou por ficar do lado espanhol. Não só com a maioria católica do sul que não se revia no calvinismo holandês, como de parte dos próprios protestantes de outras igrejas, dada a intolerância calvinista. Essa parte sul acabou por conseguir a sua independência em 1830 e é desde então a Bélgica. Com quem Portugal sempre se deu bem.
A História tem muita força...
OBS:
Bem esteve o António Costa quando afirmou que o discurso do Ministro das Finanças holandês, o repugnava, quando este calmeirão Bóer, disse que a Espanha não devia ser ajudada da catástrofe em que o coronavírus a está a deixar porque depois não conseguia pagar a dívida.
Com os melhores cumprimentos
José Abílio Mourato
Portalegre
Só há paz na aldeia, enquanto houver água no poço
(Anónimo)
(Texto dedicado a todos os animais humanos da "espécie" ICE
(Incompatível Com Evolução)
Texto de Sônia T. Felipe (***)
«No livro «Acertos Abolicionistas» publiquei um texto (A dignidade dos cadáveres e lugares sagrados, p. 55) abordando a proibição do bispo D. Odilo de enterrar animais de estimação junto com seus pais adoptivos nos cemitérios humanos. Para esse bispo da Igreja Católica, fazer isso tira a dignidade dos humanos. Comer cadáveres não tira, mas enterrar os cadáveres dos animais amados junto com o cadáver de quem os amou tiraria.
O Papa Francisco acaba de declarar que os animais têm alma e que elas vão para o céu. Finalmente! É a primeira vez na história papal que o dogma do vivo-vazio de alma, disseminado por Descartes no século XVII é derrotado por um Papa. E eu estava esperando por isso há quase quatro séculos.
Enfim, se os animais têm alma, o que todos nós sempre soubemos acerca de todos os animais, inclusive dos que são comidos pelo Papa Francisco (não estou atacando o Papa, não, tenho aqui em casa o livro das receitas predilectas de todos os papas e não há uma sequer vegana!) e por todos os católicos e cristãos ao redor do mundo, eles têm senciência.
Se há senciência em qualquer animal, a capacidade de sentir como dor ou prazer os estímulos do ambiente natural ou social, então há racionalidade também, ainda que cada animal tenha sua forma de raciocinar (que já expus nos outros dois livros, «Ética e Experimentação Animal» e «Por uma Questão de Princípios»), uma forma adequada ao tipo de sensibilidade e de consciência de sua espécie e do indivíduo que vive experiências que outros podem não viver.
Ao contrário do que algumas pessoas pensam, ser racional não é ser apenas frio e calculista, não é visar obter apenas vantagens para si. Portanto, a razão não é apenas a capacidade mental de planejar vinganças, típica da mente humana, embora ela esteja imbricada nessas acções. Geralmente, a prática do mal está mais ligada às emoções fora do controle do que, justamente, ao controle delas pelo raciocínio.
A racionalidade é a capacidade de raciocinar para manter-se vivo da forma mais segura possível. Essa existe em cada espécie animal e é desenvolvida no ambiente natural delas e pelas interacções sociais. Os animais são seres políticos, no sentido aristotélico que designa a vida só possível "entre os muitos".
Nossas vidas e as vidas de todos os animais incluem a presença de outros animais que cada indivíduo animal deve aprender a conhecer para poder distinguir se neles há, ou não, ameaça e riscos para sua própria sobrevivência. Esse é um aprendizado da razão.
A senciência é a capacidade de sentir as coisas e de as traduzir com alguma emoção-chave, do tipo: muita dor, dor, desagradável, desconfortável; ou, muito prazeroso, prazeroso, agradável, confortável.
Uma vez arrumadas essas informações na memória, cada animal segue se orientando por elas e procurando se aproximar mais das coisas e dos outros animais que propiciam sensações de prazer em todas aquelas gradações, ou se afastar das coisas e dos outros animais que provocam as sensações ruins.
Mas para que esse arquivo possa ser ordenado e consultado de cada vez, é preciso que ali haja também a capacidade da razão. E a razão vai se ampliando a cada nova experiência, porque na memória do animal existem muitas informações que ele pode usar para se preservar em vida e preservar a vida dos que dependem dele para isso, seus filhos pequenos, seus pares na hierarquia social. Isso é racionalidade. Todos os animais são racionais a seu modo específico, a seu próprio modo.
Apenas os humanos usam a razão e são racionais no sentido de planejar obter o máximo de vantagens para si à custa do máximo de desvantagem para outros animais: éguas, vacas, porcas, galinhas, ovelhas etc., e seus pares machos.
Todos os animais são racionais, cada um dentro do parâmetro de raciocínios que sua mente específica requer e possibilita. Se não houvesse razão nos animais, para que serviria sua capacidade de sentir dor e de sofrer, de sentir-se bem e de estar feliz?
A dor e o sofrimento são as duas chaves das portas de entrada das informações ambientais para que o animal possa se defender delas a seu próprio modo, evitá-las e comportar-se de modo a não pôr sua vida em risco quando não há outros meios (e no caso dos animais os meios são muito escassos) para se defender do mal.
E, para que possamos entender a evolução moral da nossa espécie, que agora inclui os animais no âmbito do devido respeito moral e jurídico, é bom lembrar do que afirma Frans de Waal: «temos a capacidade de agir moralmente, porque somos animais.»
É a racionalidade presente em todos os animais que permite a cada um deles entender que o bem do seu grupo é uma garantia para o próprio bem; que o mal de seu grupo é ameaça contra seu bem próprio.
Confúcio também se refere à capacidade ou incapacidade da mente humana de suportar a dor no outro, porque essa mente sabe muito bem que toda dor que se espalha no mundo espalha-se de tal modo que ela tem efeito bumerangue. Um dia, sem que a gente menos espere, ela está à nossa porta. Não é vingança. É colheita.
Para essa semana pré-natalina, é bom que pensemos que todos os animais sentem dor e sofrem, todos querem estar na vida sem essa dor e tormento, e todos sabem que o que causa dor é sempre algo que ameaça a integridade física, psíquica ou social de cada animal senciente.
Todos os animais são racionais, no sentido explicitado, e, agora, acabamos de saber pelo Papa Francisco, que todos os animais têm alma, conforme já o escreveu Irvênia Prada (Médica e Professora da Faculdade de Veterinária da USP), em seu livro sobre a alma nos animais.
O círculo está cada vez mais apertado para os antropocentristas, especistas e bem-estaristas. É melhor desassinar esse contrato cheio de cláusulas perversas desfavoráveis a todos os animais. Moralidade é a capacidade de ampliar o campo da racionalidade. E já não somos mais inocentes no que diz respeito à senciência, racionalidade e à alma dos animais outros que não os humanos.»
(***) Sônia T. Felipe é doutorada em Filosofia Moral e Teoria Política, pela Universidade de Konstanz, Alemanha; professora reformada da graduação e pós-graduação em Filosofia, e do doutorado interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina; orientou dissertações e teses nas áreas de Teorias da Justiça, Ética Animal e Ética ambiental.
(Aviso: este texto foi reescrito para Língua Portuguesa, através de corrector ortográfico).
«Não há machado que corte, a raiz ao pensamento, não há morte para o vento… não há morte…» (Carlos de Oliveira)
Ontem, dia 11 de Janeiro de 2015, todo o mundo civilizado (e não só os que se juntaram na Praça da República em Paris), disse um rotundo não ao terrorismo e demonstrou que é possível a união dos povos ao redor da liberdade de culto, de ideias, de expressão, de culturas e da civilização que ainda não chegou a quem em nome de um deus assassina seres humanos.
Foto: Peter Dejon/AP
Um uníssono grito em Paris contra os que querem impor ao mundo a desordem da mente
O mundo não mais será o mesmo depois desta demonstração de força contra os fracos de espírito.
Ontem, o terrorismo foi reduzido à sua insignificância.
Podem calar umas tantas vozes, mas milhares de outras se farão ouvir e gritarão que um deus, porque é um ser superior, não se ofende com meros desenhos satíricos, alguns de muito mau gosto (deve dizer-se), uma vez que não passam de riscos e dizem apenas da personalidade de quem os cria.
E nenhum terráqueo, por muito que se julgue representante do divino, tem o direito de fazer a justiça que cabe unicamente aos deuses colocados em causa por esses desenhos.
Ontem, juntaram-se líderes políticos de todo o mundo.
Ontem, gente de todas as crenças religiosas e políticas uniram-se para mostrar que a liberdade é possível.
Notou-se a estranha ausência de Barack Obama (ou de um seu representante mais directo) e também a ausência de líderes religiosos muçulmanos (estiveram lá líderes políticos muçulmanos, o que não é a mesma coisa), para dizerem, com a sua presença, o que com as palavras não dizem.
Repudiar actos terroristas de extremistas, perpetrados em nome de uma religião, seja qual for, qualquer cidadão comum, com um mínimo de lucidez o faz.
O que é preciso é que sejam os próprios líderes religiosos a orientarem esses extremistas, perdidos no tempo, no sentido do caminho de uma prática religiosa pacífica e livre do estigma da vingança.
No entanto, desde o ano 632, os muçulmanos não se entendem numa questão primordial: quem é o elemento congregador do Islamismo, ou seja, o correspondente ao Papa cristão, que aglutina as questões da fé?
Existem muitos títulos para designar os líderes religiosos e políticos muçulmanos: Aiatolá, Califa, Emir, Imã, Marajá, Rajá, Mulá, Ulemá, Paxá, Sultão, Vizir, Xá, Xeque, contudo, as entidades islâmicas de topo ainda não chegaram a um consenso (e existem várias facções que os dividem) daí que não seja fácil uma liderança que possa manter a unidade da fé islâmica e desmistificar a questão do “mártir”, que conduz a actos condenáveis à luz da razão ou de qualquer desígnio divino.
No entanto, e apesar destas ausências notadas, milhões de pessoas, por todo o mundo, deixaram uma mensagem bem clara aos terroristas: nenhuma arma de fogo jamais calará as vozes da consciência dos povos livres e civilizados.
E a este grito, junto um outro grito, o meu grito, pela menina-bomba que foi utilizada por terroristas na Nigéria, no passado dia 9 de Janeiro, e matou vinte pessoas (incluindo a inocente menina), e poucos, no mundo, se importaram…
Arcebispo Carlo Martini
(Excelente texto sobre o papel da Igreja Católica nos dias de hoje, o qual subscrevo inteiramente)
Por JOAQUIM FREIXO (BLOG "MUNDOS PARALELOS")
«O jornal italiano “Corriere della Sera” publicou, neste sábado (1), a última entrevista do cardeal Carlo Martini, ex-arcebispo de Milão que morreu nesta sexta-feira, aos 85 anos. Na conversa, gravada em agosto, o religioso disse que “a Igreja Católica está cansada” e “200 anos atrasada”.*
*Destaque entre os católicos progressistas, Martini defendia um posicionamento mais liberal da Igreja Católica, pois acreditava que só assim a instituição iria se aproximar novamente das pessoas. Entre as medidas pregadas pelo ex-arcebispo para conter o afastamento dos fiéis estavam o reconhecimento dos erros do passado e a implantação de mudanças radicais na instituição, começando pelo próprio Papa.*
*“A nossa cultura envelheceu, as nossas igrejas são grandes e estão vazias e a burocracia aumenta, os nossos ritos religiosos e as vestes que usamos são pomposos”, disse na entrevista, concedida a um padre jesuíta. “Sei que não podemos nos livrar disso facilmente, mas pelo menos poderíamos tentar ser como os homens livres e mais próximos dos fiéis”.*
Ao longo deste blogue, temos sido críticos dos credos religiosos ocidentais! Apontamos vários desvios, como raiz dos problemas, que se verificaram no mundo ocidental, devido as linhas religiosas seguidas, de mãos dadas com o poder político, que a nosso ver, estiveram na origem da perda de conhecimentos e valores, refletindo-se pela negativa, na mentalidade dos povos. A mancha é grande e negra! E só pode ser realmente lavada, com um perdão ao mundo, acompanhado de um projeto de mudança radical, como disse o Arcebispo Carlo Martini, e muitos outros antes dele. O Papa João XXIII preconizou essa mudança através do Vaticano II. O Papa João Paulo II esqueceu essa mudança, e elaborou um Catecismo da Igreja, de acordo com o Concílio de Trento, recuou trezentos anos no tempo.
A Igreja católica, com todas as suas vicissitudes, que são muitas, faz parte das raízes dos povos, esta enraizada nas suas tradições, o seu desaparecimento corresponderá a um enorme vazio. Teve servidores maus, mas também teve bons.
A Igreja Católica encontra-se na encruzilhada do libre arbítrio, mantem a mesma linha, a médio prazo, morte!
Faz uma mudança radical, glória.
Dizemos glória, porque sabemos que no seio da Igreja Católica há grandes nomes que conhecem os caminhos do espírito, amor e verdade. Já os referimos em posts deste blogue.
O Vaticano II previa a substituição da alo-redenção, pela Auto-Redenção, o que significa deixar a pedinchice, que vem de fora para dentro, por uma renovação de dentro para fora.
A Auto-Redenção corresponde a uma renovação permanente, aliada aos caminhos do espirito, passa a ser um ensino ordenado, pedagógico, sem dogmas ou mistérios. A Igreja Católica passa a ter as respostas que hoje não têm.
De entre muitas religiões, que praticam a Auto-Redenção, damos como o exemplo o Budismo, que assenta numa higiene mental do homem, onde estão implícitos os caminhos do espírito. As diferenças entre o Cristianismo original, Ariano e o Budismo são mínimas. O Budismo desceu dos Himalaias, e está em expansão no mundo. O Cristianismo Bizantino, da Igreja Católica, está em regressão, e acaba na extinção, se não for substituído pelas linhas de orientação do Cristianismo Ariano, do verdadeiro Jesus O Cristo, e do Deus Universal Uno e Único.
Se as cúpulas da Igreja católica forem iluminadas pelo bom senso, optarem por deixar de ser o centro, com os seus representantes menos endeusados e mais integrados nos tecidos sociais. Dotados com as respostas que hoje não tem, com as infraestruturas que tem, em pouco tempo passam a ter as suas Igrejas cheias, e as seita, a desaparecerem.
Para o bem do mundo ocidental, a meu ver, e como referiu o Arcebispo Carlo Martini, seria bom que houvesse a coragem necessária, para que se fizesse a mudança radical, e a Igreja Católica se acertasse com o tempo.
JPF
29/01/13»
in:
http://joaquimfreixo-mundosparalelos.blogspot.pt/2013/01/a-igreja-catolica-e-o-futuro.html?spref=fb
(Este texto foi enviado aos principais membros da Igreja Católica Portuguesa)