Os Pombos, naturalmente…
Este pombo transporta a flor branca, que as pessoas são convidadas a deixar numa taça, e no Dia Mundial da Paz (1 de Janeiro) ir atirá-las ao mar, num gesto de (falso) “amor à Humanidade”, porque o amor à Humanidade, implica fazer dele um exemplo de VIDA…
Este é o pombo que, depois de estar preso numa gaiola, é libertado, e em pleno voo, de uma liberdade envenenada, será atingido por um tiro, e morrerá ou não, conforme a pontaria do matador… E se não tiver morte instantânea, ficará numa dolorosa agonia, até dar o último suspiro… E chamam a isto “grande competição”…
Estes são os que, hipocritamente, seguem o pacifismo de Mahatma Gandhi, aquele que disse:
Estas são as caras da chacina dos pombos, caras e nomes que ficarão para sempre ligados a uma prática tão sanguinária quanto primitiva.
E não me venham dizer para não “misturar as águas”, e que uma coisa nada tem a ver com a outra. Quem promove o Encontro pela Paz, promove a chacina dos Pombos. E é como diz Gandhi:
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Posto isto vou transcrever a carta que dirigi aos autarcas poveiros, e que caiu em saco roto, pois rotos são os valores que eles defendem…
Póvoa de Varzim, 27 de Novembro de 2012
Exmo. Senhor Doutor Luís Diamantino,
Digníssimo Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
C/C Doutor José Macedo Vieira
Digníssimo Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
Exmo. Senhor:
(…) Não posso compactuar com uma “cultura” que está em pleno pé de igualdade com a outra “cultura” e “arte” que a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim mete no mesmo saco: a tauromaquia (com vacadas, agora em Rates) e o tiro aos pombos, também em Rates. Actividades dignas apenas de trogloditas.
Como acreditar em quem quer “vender gato por lebre” a cidadãos que amam a CULTURA CULTA e repudiam a cultura inculta?
A Póvoa de Varzim é uma cidade tauromáquica. Em 2013 receberá o campeonato de tiro aos pombos, uma actividade que além de incluir uma infinita dose de covardia, tal como a outra, é de uma asquerosidade inenarrável. E ainda há o apoio ao Clube de Caçadores da Estela, com a sua horripilante “Batida à Raposa”, um acto de gente medieval. E a Caça Desportiva? E o campo de concentração dos cães, no Horto Municipal? E a permissão de circos, com animais aprisionados e maltratados, em território poveiro?
Que cultura da violência e crueldade é esta, numa mesma cidade, Doutor Luís Diamantino?
Como cidadã portuguesa, não posso deixar de manifestar o meu repúdio pela prática de actividades violentas, primitivas, cruéis e ofensivas para com os Animais e a Natureza, e a sensibilidade de quem é verdadeiramente Culto, num município (…) que se diz da “cultura” e do lazer e onde até é “bom viver”. Que legitimidade tem este slogan?
As touradas, as vacadas, o tiro aos pombos e todas as formas de violência contra animais não humanos são rituais sanguinários e primitivos, os quais, infelizmente, permanecem até aos dias de hoje, no nosso país terceiromundista, mas que estão completamente ultrapassados e que não se justificam nos tempos em que já se colocou os pés na Lua.
Sabe disso, não sabe, Doutor Luís Diamantino?
E a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim até pode dizer que tudo isso é permitido por lei. Será? Mas também sabemos que os municípios FOGEM à aplicação das leis quando INTERESSES MAIS ALTOS SE LEVANTAM. E aí já podem “fugir” à lei.
E a mim, Doutor Luís Diamantino, não adianta dizer que não é bem assim, porque particularmente eu SEI (…), mas o povo português também sabe das falcatruas que determinados autarcas fazem para “dar a volta às leis” e prevaricarem em benefício próprio, inclusive com o aval de autoridades também corruptas.
E no caso dos maus-tratos a animais nem seria preciso fazer falcatruas, bastava apelar para a DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS (que Portugal assinou para “inglês ver”) ou apelar para a CONSCIÊNCIA HUMANA dos autarcas poveiros. Ou outras vias mais terra-a-terra, como fazem noutras circunstâncias.
Além disso, existe algo que uma pessoa DIGNA não faz: «quando alguém compreende que é contrário à sua dignidade de HOMEM obedecer a leis injustas, nenhuma tirania pode escravizá-lo», quem o disse foi um HOMEM INTEIRO – Gandhi.
É o que eu sigo. Correndo riscos e arcando com as consequências, é o que eu sigo.
Estas práticas são de uma violência extrema e de uma enorme falta de respeito para com os animais não humanos, provocando-lhes um sofrimento indizível e inútil, tanto físico como psicológico, apenas para que uns poucos encham os bolsos e os sádicos aplaudam e dêem aso às suas fantasias obscuras.
Admira-me o Doutor Macedo Vieira, como médico, não saiba nada de Ciências Biológicas, de Ética e de Mamíferos Superiores. E do sofrimento REAL de que eles padecem ao serem torturados. Tanto quanto um ser humano. E ele tinha OBRIGAÇÃO de saber disso.
E diz-se o Doutor José Macedo Vieira um “humanista”!!!
Se ele não sabe, e “estudou” Medicina, como poderão saber os ignorantes aficionados e matadores de pombos, que não estudaram nada de nada?
E o Doutor Luís Diamantino, que frequentou uma Universidade, que é professor? Que valores humanos tem para ensinar aos seus alunos, aos seus filhos, se é conivente com esta barbárie?
A tauromaquia e o tiro aos pombos são actividades bárbaras, que em nada beneficiam os animais humanos e não humanos, que nelas são intervenientes, e que envergonham Portugal, no que se refere à maneira como os animais são tratados, e são absolutamente indignas do Ser Humano.
Num país que se quer civilizado e desenvolvido não se admite que animais sejam perseguidos, torturados e mutilados em nome do entretenimento e de uma cultura inculta.
E mais: «Como corolário de uma tradição religiosa que superlativou o homem como ser imortal, destinado à salvação e à ressurreição, distinguindo-o de todas as outras criaturas terrenas, a nossa civilização (?) despreza os animais e trata-os com uma crueldade inenarrável em nome da ECONOMIA, da CIÊNCIA e do ESPECTÁCULO», in «Da Imortalidade dos Animais», de Eugen Drewrmann (autor da obra «Funcionários de Deus»), cuja leitura recomendo veementemente.
Não pode considerar-se entretenimento e aplaudir-se algo que é extremamente cruel e sanguinário. Isto pertence ao foro das aberrações.
A esmagadora maioria da sociedade portuguesa, incluindo a poveira, afirma-se hoje contra esta obscena cultura de violência que as actividades lúdicas que envolvem brutalidade e crueldade contra seres vivos representam.
Nós queremos que a Póvoa de Varzim seja uma cidade realmente evoluída e progressista, onde os animais não humanos sejam bem tratados, protegidos e respeitados.
Só assim o «Correntes d’Escritas” e o Festival Internacional de Música e o Encontro pela Paz farão sentido nesta cidade. Em 2013, estes três eventos culturais não bastarão para disfarçar os PODRES da autarquia poveira. Algo terá de mudar.
(…)
Por isso venho apelar ao raciocínio humano, à lucidez, ao bom senso e à sensibilidade do Doutor Luís Diamantino, para esta questão, fazendo lembrar que estas são práticas indignas de seres que se dizem racionais.
É que os divertimentos onde são utilizados animais não são nada racionais. Pelo contrário, só demonstram a irracionalidade de quem os permite, apesar de existirem leis (parvas).
Peço, pois, a V. Exa. que, tendo em conta o acima exposto, se digne proceder a diligências no sentido de abolir na Póvoa de Varzim estas práticas primitivas, proclamando a Póvoa de Varzim Cidade Anti-Taurina, e anulando o campeonato de tiro aos pombos, e as restantes actividades, onde animais não humanos são torturados barbaramente.
Quando fui à inauguração daquele fatídico campo de tiro, em Rates, o Doutor Manuel Vaz (então Presidente da Câmara Municipal da PV) assegurou-nos de que ele seria apenas para tiro aos pratos. E nesse tempo eram os pratos que na realidade levavam os tiros.
E o que faz o Doutor José Macedo Vieira? Coloca nos pratos os inocentes pombos, mortos a tiro, desalmadamente (alguns ficando vivos, em agonia lenta), e deixa os pratos intactos.
Aproxima-se o “Correntes d’Escritas”. Muitos escritores não sabem que estão a participar numa farsa. A Cultura Culta não pode correr a par da cultura inculta que a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, também promove.
Esperamos que por ocasião do “Correntes” estas barbaridades já tenham sido banidas da Póvoa. Seria uma boa notícia para transmitir aos escritores, e a Póvoa e os seus actuais autarcas (que estão na lista dos proscritos) poderão elevar-se e dar um exemplo da Dignidade e da Humanidade que esperamos de quem tem a função de promover uma Cultura condizente com a evolução dos tempos e das mentalidades.
E acabariam o vosso mandato em grande.
E poderiam transformar a MONUMENTAL NÓDOA NEGRA DA PÓVOA DE VARZIM (vulgo, praça de touros), num belo anfiteatro coberto (aliás já houve um projecto nesse sentido), que pudesse receber o «Correntes d’Escritas» (que já não cabe no Auditório), e os concertos do Festival Internacional de Música, e o Encontro pela Paz…
Agradecendo antecipadamente a atenção de V. Ex.ª e, DESTA VEZ, ficando na expectativa de uma resposta a este apelo que espero seja positiva, para bem da cidade da Póvoa de Varzim, da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, dos seus governantes e dos poveiros, despeço-me com os meus melhores cumprimentos,
O que os autarcas poveiros estão a fazer é um insulto à população. Esperamos que esta saiba retribuir, não votando neles nas próximas eleições.
Isabel A. Ferreira