Tudo o que é belo é efémero.
A minha fuga até ao paraíso foi efémera também.
Estou de regresso ao ninho dos pérfidos.
E quanto isto me custa!
Porém, o grito angustiante da Natureza é mais forte, e vem na ponta daquele vento que me arrasta para o olho do furacão.
Regresso ao ninho dos hipócritas, dos traidores, dos incultos, dos brutos, dos que nasceram sem alma, sem senso, sem sensibilidade.
E os seres indefesos (humanos e não humanos), que caem nas mãos destes pérfidos, clamam desesperadamente por defesa, e eu, que não sou indiferente aos gritos do sofrimento do outro, não tenho outra alternativa senão continuar a lutar contra mentes aberrantes, com as únicas armas que possuo: as palavras. Nuas e cruas e cortantes como o fio da navalha.
É preciso dizer que não estamos a lidar com gente normal.
Não estamos a lidar com gente que sabe ouvir e entender as palavras benévolas e o saber dos sábios (não o meu, que é ínfimo), logo à primeira.
E isto acontece a muitos níveis: ao da política, da governação, da justiça, da educação, da cultura, da moral, da crença.
Aos que podem e mandam no nosso pobre e fracassado País, falta-lhes a capacidade de discernir entre o bem e o mal. Entre o bom e o mau. Entre o belo e o feio.
O que acontece é o mesmo que aconteceria se me deslocasse a um manicómio para “pregar” racionalidade aos perturbados mentais lá internados.
Eles ficam a olhar, de olhos esbugalhados e a boca escancarada, e nada percebem do que se diz. Acham que os doentes mentais somos nós, e não são capazes de raciocinar, de observar, de apreender, de compreender, de aprender, de sentir, de ver com olhos de ver, de integrar-se no tempo que corre, e deixar o passado que já passou, enfim, são incapazes de evoluir, porque já nasceram datados.
E isto é bastante frustrante, para quem sente o apelo do grito dos que sofrem às mãos destas mentes formatadas, envoltas nas trevas primordiais, onde nunca se fez luz, e por mais informação que se derrame sobre essas mentes obscuras, jamais conseguiremos arrancá-los do torpor da ignorância, simplesmente porque se recusam a evoluir.
Além disso, nenhum perturbado mental se apercebe de que tem uma incapacidade intelectual que o impede de percepcionar (conhecer através dos sentidos) o mundo que o rodeia.
A alienação é total.
E é com este tipo de criaturas mentalmente cegas que lidamos. É contra esta ultrapassada espécie de animais humanos que lutamos.
Por isso, a estratégia não pode ser “gritar” a nossa razão, porque eles nunca a entenderão. Nem sequer sabem o que isso é. Mas também não fazem qualquer esforço para perceberem.
A única via é a marginalização, é colocá-los à “borda do prato”, é fazê-los “sentir” que não são desejados numa sociedade humana, onde a Vida, qualquer vida, é única e inviolável.
A única forma de combater essas criaturas das trevas é repetir-lhes até à exaustão o quanto são inúteis, asquerosas, feias, más, cruéis, repulsivas, e que não têm lugar no mundo contemporâneo se não estão dispostas a evoluir.
Pertencem ao tempo dos mortos. Cheiram a matéria putrefacta.
Nada mais fere tão profundamente uma criatura irracional do que a rejeição, total e implacável.
Deixá-la a um canto, a babar a sua irracionalidade, sem o calor que se desprende da verdadeira humanidade, é o caminho.
Os poderosos, os políticos, os governantes, os que mandam e são cegos e surdos, nada vêem e nada ouvem a não ser o eco do vazio que existe neles próprios, e aí é que está a raiz do mal que é preciso arrancar, custe o que custar.
E é por aí que irei.
Chega de ser razoável com a irracionalidade optativa dos pérfidos.
E se alguém quiser acompanhar-me… aqui deixo o meu apelo…
Poderia ter escolhido viver tranquilamente, nos refúgios onde, por vezes, me afasto do mundo cruel que me rodeia.
Poderia permanecer lá… até ao fim dos meus dias, entre os seres que me animam e que são meus iguais…
Mas há um grito que me convoca para a luta que venho travando contra o animal-homem-predador… um mísero ser que ataca a Humanidade, a Natureza e a Vida…
Uma luta árdua… que me exaure a alma…
Necessito desta fuga…
Lá… entre a quietude da Criação, estarei um tempo efémero…
Mas regressarei ao ninho dos pérfidos, para continuar a combater a crueza da selvática natureza humana…