A entrevistadora não teve o mínimo sentido crítico, o entrevistado mostrou que não vale nada... E a revista "Caras" demonstrou estar ao serviço do lobby tauromáquico.
Ó Ordem dos Médicos-Veterinários, de que estão à espera para banir da Ordem quem assim é apenas uma "espécie" de veterinário? Que vergonha!!!
Isabel A. Ferreira
***
Em entrevista à revista “Caras”, publicada na edição de 18 de Maio de 2013, Murteira Grave responde a questões colocadas por Rita Ferro e fala na “espécie dos toiros de lide”. Se essa classificação viesse de um aficionado comum, apesar de errada do ponto de vista da taxonomia, não seria muito extraordinária, tendo em conta os elevados índices de analfabetismo entre a população aficionada. Mas a afirmação é de um suposto veterinário, um perito em touros, pelo que a gafe é de uma gravidade estrondosa. Um veterinário inserido na indústria tauromáquica revelar esta incapacidade para proceder à classificação biológica dos touros é verdadeiramente sintomático da impossibilidade dos aficionados alicerçarem a defesa da tauromaquia com argumentação coerente, racional e verdadeira. E mais, tal lapso imperdoável pode potenciar dúvidas legítimas em relação ao diploma académico do ganadeiro em questão.
Uma criança que frequente o 5.º ano de escolaridade, altura em que aprende a classificar os seres vivos, sabe que os touros não são uma espécie, mas sim os indivíduos machos de uma espécie designada por Bos Tauros, à qual pertencem todos os bovinos, incluindo aqueles que são torturados em espectáculos tauromáquicos. Ou seja, os touros que existem no planeta são todos da mesma espécie, o que pode variar é a raça, que é algo bem diferente.
Os touros ditos de “lide” não são uma espécie com toda a certeza e nem sequer reúnem os requisitos para serem classificados como uma raça distinta entre os bovinos. Por conseguinte, a “bíblia” tauromáquica "El Cossío" não se atreve a determinar que o touro dito de “lide” constitui uma raça, como se pode constatar na ficha zoológica que apresenta relativamente a estes animais.
http://www.animanaturalis.org/704
Ficha zoológica do touro dito de “lide” segundo a enciclopédia tauromáquica “El Cossío”:
Tipo – Vertebrados
Classe – Mamíferos
Subclasse – Monodelfos
Ordem – Ungulados
Subordem – Artiodáctilos
Secção – Ruminantes
Família – Cavicórnios
Subfamília – Bovinos
Género – Bos
Espécie – Bos Tauros
Raça – Bos Tauros Africanus
Sub-raça ou Variedade – Andaluza, Navarra etc.
Este caso de ignorância relativamente à classificação biológica dos touros deveria ter como desfecho o regresso do suposto veterinário à escola, para aprender que os touros não são uma espécie e para aprender a definição de espécie.
Espécie - grupo de seres vivos com características semelhantes, que se cruzam entre si dando origem a descendentes férteis.
Em comentário acerca do antropomorfismo, o ganadeiro Murteira Grave diz que "antropomorfismo é a teoria que extrapola para os animais os sentimentos humanos”. Acusa os anti touradas de padecerem desse antropomorfismo mas, no mesmo comentário, acaba por antropomorfizar o touro dizendo que o touro “realiza o seu grande bem lutando” e que “realiza-se plenamente na corrida”. Ou seja, o perito tauromáquico explica que “o toiro é um profissional da fúria” e que as touradas são o culminar da realização profissional dos bovinos, numa clara e absurda antropomorfização dos animais. Como todos sabem, os animais não têm uma especial preocupação em realizar um grande bem ou em realizarem-se pessoal e profissionalmente, sendo estas afirmações do ganadeiro um exemplo crasso da visão antropomórfica subjectiva distorcida dos bovinos. É uma visão distorcida porque atribuí características a um animal herbívoro que contradizem a natureza dos herbívoros, tal como é descrita pelos etólogos.
“O Sofrimento implica zonas mais profundas do organismo e supõe uma consciência reflexiva que, naturalmente, o animal não possui” – Murteira Grave in entrevista da revista Caras, publicada na edição de 18 de Maio de 2013.
Esta poderia ser uma consideração de algum nazi-fascista, numa tentativa desesperada de justificar as macabras experiências científicas em seres humanos ou a eliminação física dos deficientes levadas a cabo durante o holocausto perpetrado pelo regime nazi. Mas não, é um suposto veterinário da indústria tauromáquica negando a capacidade dos animais sofrerem. Para este perito tauromáquico, o sistema nervoso central é algo inútil no caso dos animais porque neles a dor não se traduz em sofrimento. Por isso, certamente considerará sem sentido toda a panóplia de legislação comunitária no sentido de evitar ou minimizar o sofrimento dos animais. Diria ele, que esta legislação e considerações científicas são obra de animalistas que desconhecem a realidade dos animais:
- Legislação europeia para evitar e minimizar o sofrimento dos animais
http://europa.eu/legislation_summaries/food_safety/animal_welfare/index_pt.htm
- O sofrimento do Touro de lide explicado pelo veterinário José Enrique Zaldívar Laguía
http://mmedia.uv.es/buildhtml/19860
- ‘Suffering’ in bullfighting bulls; An ethologist’s perspective - By Jordi Casamitjana
- Adaptive Metabolic Responses in Females of the Fighting Breed Submitted to Different Sequences of Stress Stimuli
Segundo Murteira Grave, infligir cortes de pouca profundidade não é coisa que cause sofrimento, porque este implica zonas mais profundas. Para o ganadeiro, não existindo “consciência reflexiva” não há sofrimento, pelo que deve deduzir que os bebés e os deficientes profundos não têm capacidade para sofrer.
O que se pode dizer destas teorias aberrantes que tentam justificar a injustificável tortura de seres inocentes? São aberrações, nada mais do que isso.
E ainda por cima, os aficionados não se entendem uns com os outros, como se isto se tratasse de uma brincadeira de opiniões. Uns dizem que os touros não sofrem, e outros dizem que sim, como é o caso deste empresário tauromáquico:
“Eu acho que de facto existe sofrimento. E esse sofrimento tem de ser assumido.” - Carlos Pegado, empresário tauromáquico no debate do programa Aqui & Agora na SIC sobre direitos dos animais.
Fonte:
http://pelostourosvivos.blogspot.com/2013/05/o-perito-tauromaquico-que-nao-sabe.html
Eis o magnífico ser, em toda a sua plenitude e dignidade, antes de ir para a arena
Esta será a primeira de algumas Cartas Abertas que tomarei a liberdade, como cidadã que tem o direito à indignação, de dirigir a determinadas entidades, que têm o dever moral de zelar pelo bem-estar de todos os seres, mas não zelam. Estão quietas, no seu canto, porque nada fazem que contribuia para melhorar a sociedade, tornam-se cúmplices da barbárie que reina no nosso País, e fazem dele um País muito abaixo do desejável, na questão da Ética Animal, não só por questões económicas, mas também por uma acentuada ignorância, que é necessário banir.
EM NOME DA CULTURA, DA CIVILIZAÇÃO E DA ÉTICA ANIMAL
Exmo. Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos-Veterinários Portugueses:
Como médico veterinário, ninguém melhor do que V. Exa. saberá sobre o sofrimento e a dor que um animal não-humano sente ao ser barbaramente molestado, ou simplesmente quando fica doente e necessita de cuidados médicos.
Porque sempre convivi com animais, sei do sofrimento deles, quando apanham SIDA, quando têm cancro de mama, quando ficam diabéticos, quando têm problemas renais, quando partem uma perna, quando têm um tumor maligno, quando cegam, quando se intoxicam, enfim, eu sei do sofrimento deles, e não sou médica-veterinária.
V. Exa., tal como eu, sabe perfeitamente que o corpo de um animal não-humano tem as mesmas características do de um animal humano. E um sistema nervoso central. Logo sentem a dor e sofrem tal como nós.
Não é verdade?
Posto isto, e sendo verdade que um animal da envergadura de um Touro, sofre atrocidades antes, durante e depois da “lide”, e tendo em conta que massacrar Touros numa arena é uma prática selvagem e inadequada a um povo que se quer civilizado, pois pressupõe o mais absoluto desprezo pela vida de um ser inocente, que é encurralado, torturado lentamente e morto perante um público insensível, sádico e sórdido, incapaz de ver a cruel e trágica realidade, mascarada de um espectáculo enganosamente alegre, vistoso e colorido, venho sugerir a V. Exa. que tome uma posição pública, perante o Governo Português, como é de sua obrigação, como cidadão e como médico-veterinário, e dê o seu contributo para que se limpe o nosso País desta nódoa negra, que não dá prestígio nem ao País, nem aos veterinários portugueses, que perante a tortura e a crueldade exercida sobre animais sencientes, que sofrem horrores às mãos de cobardes predadores, nada fazem, tornando-se, deste modo, cúmplices dessa crueldade.
Para terminar, Sr. Bastonário, e muito a propósito, deixo-o com a resposta de Voltaire a Descartes, no seu Dicionário Filosófico:
«Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Talvez porque tenho o dom de falar julgas que tenho sentimento, memória, ideias! Pois bem, Calo-me. Vês-me entrar em casa, aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a escrivaninha, onde me lembro tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria. Percebes que experimentei sentimentos de aflição e prazer, e que tenho memória e conhecimento? Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o seu dono e procura-o por toda a parte, com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e por fim encontra no gabinete o seu ente querido, a quem manifesta a sua alegria através de latidos, saltos e carícias. Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para te mostrarem as veias mesentéricas dele. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas. Reponde-me maquinista, teria a Natureza “encaixado” nesse animal todos os órgãos do sentimento sem objectivo algum? Terá nervos para ser um animal insensível? Não inquines à Natureza tão impertinente contradição».
O resto, Sr. Bastonário, deixo à consciência de V. Exa..
Respeitosamente,
Isabel A. Ferreira
(Cidadã portuguesa, com direito à indignação, consigndao na Constituição da República Portuguesa)
Eis o que resta do magnífico ser, depois de cobardemente massacrado na arena, por criaturas desumanas, cruéis e insanas.
Ver aqui a Exposição da "arte" tauromáquica