Um artigo de André Silva (deputado do PAN) com o qual concordo plenamente… e junto-me ao coro das críticas à candidata a primeira-ministra de Portugal, que não tem o mínimo senso comum...
«Cristas afirmou que "talvez" tenha pena dos animais se pensar "muito, muito, muito, muito, muito". Para além deste enorme esforço cognitivo, reforçou ainda que olha para a tourada "como um bailado" e que no CDS a tauromaquia é uma tradição com um elevado número de aficionados. Vejamos: talvez esta visão estratégica nem sequer esteja assim tão apurada»
Por André Silva
13-03-2018
«Assunção Cristas teve um fim-de-semana muito ocupado com a realização do congresso do CDS em Lamego, no qual enviou muitos recados políticos que materializam a estratégia do já habitual e tradicional tango entre o jogo político e o jogo mediático. Até aqui, nada de novo. O que é mesmo bizarro é que alguém que afirma ver-se como Primeira-Ministra de Portugal reduza a realidade dos assuntos sensíveis a afirmações a "preto e branco".
Sobre a crueldade das touradas, Cristas afirmou que "talvez" tenha pena dos animais se pensar "muito, muito, muito, muito, muito". Para além deste enorme esforço cognitivo, reforçou ainda que olha para a tourada "como um bailado" e que no CDS a tauromaquia é uma tradição com um elevado número de aficionados. Vejamos: talvez esta visão estratégica nem sequer esteja assim tão apurada. Aliás, acredito que cada vez mais simpatizantes do CDS não se revêm nesta posição do partido. Mas vá aceitando que são necessários os sound bites generalistas e de compreensão fácil, não deixa de ser surpreendente a ligeireza com que uma candidata a Primeira Ministra, que se assume como afável e humana, desconsidere a sensibilidade da maioria da população portuguesa sobre este tema.
Se o CDS acredita que o expoente da excelência da nossa espécie está num ser humano arriscar a sua vida em frente a um animal e que a manutenção de tradições violentas é prioritária em relação à evolução humana – evolução esta que num dado momento passou a rejeitar a crueldade e a brutalidade gratuitas para divertimento de alguns –, então este partido não reúne os mais elevados princípios éticos para se posicionar como a principal alternativa ao Governo. E mesmo que a perpetuação do tauronegócio defendida pelo CDS fosse uma possibilidade, teria que ocorrer um retrocesso civilizacional no nosso país, cujos cidadãos estão cada vez mais comprometidos com uma democracia evoluída e com uma sociedade que não se alimenta do conflito estéril e da dominação de alguns por outros.
Comprometido com o sentido humanista que entende a cultura como um contributo caracterizador da evolução mental e civilizacional das sociedades que também serve para nos tornarmos melhores – e que, na verdade, melhor corresponde à sensibilidade contemporânea –, talvez possa deixar uma alternativa cultural para Assunção Cristas poder apreciar com a família: uma grande estreia de animação, O Touro Ferdinando, que para além de retratar questões contemporâneas como a protecção e o bem-estar animal, é um filme divertido e que educa pela sensibilidade, pelo respeito e pela empatia com todas as formas de vida. Sem querer revelar tudo, adianto já um pequeno resumo: pela sua figura imponente e assustadora, Ferdinando é escolhido como o maior e o mais rápido touro para participar nas corridas em Madrid. Mas como tem um coração generoso e não gosta de lutar com os outros, tudo faz para voltar à calma e à tranquilidade da quinta onde vivia.
Cara Assunção Cristas, recomendo mesmo e asseguro que sairá da sala de cinema com muito, muito, muito, muito, muito maior capacidade de se colocar no lugar do outro.»
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