Este ano temos sete candidatos à Presidência da República, o mais alto cargo da Nação: aquele que representa Portugal e o Povo Português. Portanto, um cargo que deve ser exercido com dignidade, honestidade, independência total dos restantes poderes, do qual se tenha, sobretudo, a noção da responsabilidade do que é ser Chefe de Estado.
É um erro os partidos políticos apresentarem candidatos à Presidência da República. Um Presidente da República tem de estar acima de qualquer partido político, e de qualquer poder, para que possa exercer o cargo com a máxima independência. Tem de ser um candidato independente. O seu princípio tem de ser defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa, de acordo com o juramento que faz na tomada de posse do cargo: «Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.»
Porém, jurar é fácil. Cumprir o juramento é que são elas!
Mas há mais atributos que se requerem de um candidato a Presidente da República.
Na imagem temos os candidatos à Presidência da República de Portugal, por ordem alfabética, porque isto de pôr uns mais à frente do que outros, seguindo sondagens encomendadas, não é honesto.
Todos merecem o nosso respeito. Afinal, são cidadãos que estão a exercer um dever cívico com a firme convicção de que são capazes de representar Portugal e o Povo Português com a máxima hombridade, não estão ali por mera vaidade de poderem ocupar o mais alto cargo da Nação, ou de se aproveitarem dele para segundas intenções. Pelo menos é o que esperamos deles
Desde o 25 de Abril que apenas um Presidente da República, eleito pelo Povo português, mereceu nota positiva durante e depois do mandato: o General Ramalho Eanes. Os restantes deixaram um desprestigiante rasto de muita parra e pouca uva.
O último deles (o ainda actual), nada fez de brilhante, por Portugal, nestes últimos cinco anos. Absolutamente nada que mereça ser destacado como um feito presidencial.
Na Presidência da República precisamos de uma pessoa que pense pela própria cabeça, não seja pau-mandado de ninguém, nem camaleão, nem maria-vai-com-as-outras, e que diga o que tem a dizer, sem papas-na-língua, com firmeza, doa a quem doer.
Precisamos de uma pessoa que tenha a noção do que representa chefiar uma Nação, servindo Portugal e os Portugueses unicamente; não pretender ser mais papista do que o Papa; e não enveredar por outros oceanos e servir interesses que não nos dizem respeito.
Precisamos de uma pessoa que execute, na íntegra, o juramento que faz, no momento da investidura do cargo, essencialmente o de defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa (CRP).
Precisamos de uma pessoa que combata a corrupção e não que a varra para debaixo do tapete; precisamos de uma pessoa que ponha os interesses de Portugal acima dos interesses dos estrangeiros, e que os defenda com garra e convicção. E, neste ponto, quero salientar, particularmente, a questão do Acordo Ortográfico de 1990, cuja aplicação todos os juristas e constitucionalistas são unânimes em considerar inconstitucional e ilegal, mas que uma imponderada e conveniente “interpretação” de uma Lei que nem sequer existe, mantém vigente, desrespeitando abusivamente a Constituição da República Portuguesa.
Precisamos de uma pessoa que tenha a noção do que representa viver num Estado de Direito e numa Democracia, accionando todos os mecanismos intrínsecos à CRP, para que esse Estado de Direito e essa Democracia sejam uma realidade e não uma vergonhosa farsa. Pois para ditadura já nos bastou a salazarista.
Precisamos de uma pessoa que seja popular, mas não popularucha.
Precisamos de uma pessoa que tenha a noção do ridículo e se comporte em conformidade com o elevado cargo de Chefe da Nação, que ocupa.
Precisamos de uma pessoa que fale, quando deve falar, e se cale, quando deve calar-se.
Precisamos de uma pessoa que tenha a noção de que ao ser Presidente da República, está a ser presidente das pessoas, mas também dos animais não-humanos (de todos e não apenas de alguns) e do meio ambiente, e tudo faça, para que os direitos de toda a fauna humana e não-humana, da flora e de tudo o resto que constitui o todo português sejam respeitados, conforme consta na CRP.
Enfim, na Presidência da República precisamos de alguém que saiba arregaçar as mangas, e, ao mesmo tempo, honrar as calças ou as saias que veste.
E como se instala uma tal pessoa na Presidência da República?
Com atitudes.
Não é com a linguagem pirosa (a expressão pirosa não é minha, é do Miguel Esteves Cardoso, mas concordo totalmente com ele) dita inclusiva, que tem a pretensão de dar visibilidade às mulheres, através de redundâncias linguísticas como convidadas e convidados, todas e todos, eles e elas, amigas e amigos, caras e caros, Portugueses e Portuguesas, que vamos dar oportunidade às mulheres para que ocupem cargos públicos de alta envergadura, e dar-lhes salários iguais aos do homem: o mesmo cargo, o mesmo salário. O que não acontece e jamais acontecerá com pirosices linguísticas.
O problema dos candidatos que se apresentam às eleições é que nenhum deles reúne a totalidade das condições aqui apresentadas, e que fazem de um candidato um bom candidato para chefiar a Nação Portuguesa.
Se não vejamos:
Ana Gomes: escrevi-lhe uma carta a pôr-lhe duas questões (*) que, não só para mim, como para milhares de portugueses, são cruciais para o País, mas por serem tabus e estarem ligadas a lobbies poderosos, que os governantes servem mais do que a Portugal, os órgãos de comunicação social não estão autorizados a abordar publicamente. São elas a questão do Acordo Ortográfico de 1990 (ao serviço dos interesses brasileiros, e que nos está a levar à perda da independência linguística e cultural, o que não é coisa pouca) e a vergonhosa prática medieval de torturar touros numa arena para divertimento, algo que recebe chorudos subsídios, retirados dos impostos dos portugueses, e que mantém Portugal com um pé na Idade Média, ou seja, numa etapa evolutiva ainda muito atrasada, o que também não é coisa pouca.
O que sei de Ana Gomes, a este respeito, é que ela usa a pirosa linguagem inclusiva do “todos e todas”, aplica o AO90 na página dela, no Facebook, não sei se está interessada em cumprir a Constituição da República Portuguesa, compelindo o governo a extinguir o AO90, e a repor a Grafia Portuguesa, em Portugal, para podermos recuperar a nossa identidade linguística e cultural.
Quanto às touradas sei que é NIM.
A resposta às minhas questões foi ZERO. Não respondeu. E para zero, zero e meio.
André Ventura: sei que é contra o AO90 (o que não basta) e está ao serviço do lobby tauromáquico. Quanto ao resto, abomino extremismos de direita tanto quanto de esquerda, porque se tocam e fundem. E sabemos ao que pode levar estes extremismos: a horrendas ditaduras. Não aprenderam nada com a História. A postura deste candidato é um ultraje à Democracia.
João Ferreira: suponho que, por ser membro do PCP, e este ser contra o AO90, o candidato também o seja. Mas também está ao serviço do lobby tauromáquico, a não ser que se distancie da postura do Partido, a este respeito. Não sei. Mas sei que não condena publicamente as perversas ditaduras comunistas do mundo actual. Daí que não tenha perfil para presidir aos destinos de um País que se quer livre e democrático.
Marcelo Rebelo de Sousa: sabe-se, por ser público, que é aficionado de touradas. [Nem sei como isto é possível, não entendo as pessoas que têm oportunidade de evoluir, afinal chegou a professor universitário, e não evoluíram]. Quanto ao AO90, sabe-se, porque também é público, que é um seu adepto ferrenho e utiliza a grafia brasileira, preconizada pelo dito pseudo-acordo, na página oficial da Presidência, dá entrevistas, como PR, com o sotaque brasileiro, usa expressões brasileiras, e está-se nas tintas para a destruição da Língua Portuguesa, violando, deste modo, a Constituição da República.
Marcelo Rebelo de Sousa, nestes últimos cinco anos, nada fez por Portugal. Absolutamente NADA, mas fez TUDO pelo seu imenso ego. Mais cinco anos a levar com as suas actuações narcisistas será desastroso para Portugal, que continuará a marcar passo. Não se julgue que Portugal é bem-visto lá fora, porque não é. Só quem não viaja, pensa que somos os maiores! Além disso, Marcelo vulgarizou bastamente o cargo de Presidente da República, ao ponto de já ter um cognome que ficará para a História: “Celinho das Selfies”.
Por outro lado, tal como Ana Gomes, nunca respondeu às minhas questões, acima de tudo as questões de uma cidadã votante, e dotada de espírito crítico, que transmite o pensar e o sentir de milhares de Portugueses. Para zero, zero e meio também.
Marisa Matias: não tem perfil para Presidente da República. Limita-se a dar visibilidade e a defender o programa político do Bloco de Esquerda, que não serve para pôr em prática na Presidência da República. Além disso é adepta do AO90 e da pirosa linguagem inclusiva do “todos e todas”. É contra as touradas, mas isso não basta para lhe dar um passaporte para Belém.
Tiago Mayan Gonçalves: nada sei do que ele pensa, quanto às questões que mais me interessam (a mim e a milhares de Portugueses), por serem tabus. Mas sei que o IL é pró-tourada. Também sei que, no seu site, escreve em mixordês, ou seja, num misto de Português, acordês e brasileirês. As outras questões, não sendo tabus, já sabemos o que todos pensam sobre elas. O candidato, embora demonstrando falta de experiência nestas andanças, parece-me ser uma pessoa equilibrada e inteligente. Contudo, candidatar-se pelo Iniciativa Liberal, é um obstáculo.
Vitorino Silva: Genuíno. Inteligente. Trabalhador. Perspicaz. Um verdadeiro filósofo popular. Tem a sabedoria do Povo. Adoro as suas metáforas. Conhece o Portugal profundo. Não tem os vícios nocivos dos políticos “profissionais”, que nada têm de novo, para nos dizer. É alguém em quem se pode confiar. Como cidadão português tem todo o direito de se candidatar a Presidente da República. Afinal, não são os canudos universitários que fazem um bom presidente. Já todos tivemos oportunidade de o comprovar. Ser calceteiro não seria o impedimento maior. Não sei se aderiu ao AO90. Não sei o que pensa sobre isso e sobre as touradas, mas sei que gosta de animais e é bastante carinhoso com eles. Não tive tempo de lhe escrever, e questioná-lo sobre estes dois temas, que, para mim e milhares de Portugueses, são cruciais, e ninguém debate. Mas de uma coisa eu tenho a certeza: de todos os candidatos aqui apresentados, o Vitorino Silva seria o único a dar-me a honra de uma resposta.
Quem temos para pôr Portugal a mexer e a fazê-lo regressar à sua dignidade de País livre e independente? Porque podem crer, neste momento, quando andam todos distraídos com o futebol, as telenovelas e os realities shows, o nosso País não tem uma Língua que o identifique como Nação independente, e está no rol dos sete países (em 193) que mantém práticas primitivas, indignas de seres humanos.
E isto, para milhares de Portugueses é de máxima importância, porque nem só de pão vive o homem.
***
(*) Um esclarecimento sobre as duas questões (AO90 e touradas) que aqui destaquei por serem tabus, mas também porque têm a ver com a nossa dignidade, enquanto País europeu e civilizado.
Eu, que conheço o mundo civilizado, onde pessoas civilizadas se divertem civilizadamente; eu, que domino outras Línguas, para além da minha Língua Materna, sinto-me esmagada pela vergonha que sinto quando vejo o Parlamento Português viabilizar o massacre de mamíferos sencientes, com um ADN semelhante ao dos humanos, e promover uma mixórdia ortográfica, que desprestigia Portugal, transformando-o na colónia de uma ex-colónia. E de todas as coisas, estas duas são realizadas em nome da mais pura estupidez. Isto é algo que não quero para o meu País.
E se há algo que me tira do sério é precisamente a estupidez.
E a estupidez humana [não há outra], segundo Ernest Renan [escritor, filósofo, teólogo, filólogo e historiador francês] é a única coisa que nos pode dar a noção do infinito…
Todas as outras questões, que são trazidas à liça, nos debates presidenciais, e são esmiuçadas publicamente, até à exaustão, não são tabus, e quando se corrompem, não se corrompem devido à estupidez dos seus intervenientes, mas tão-só à mais vergonhosa incompetência, ao mais descarado despudor, à mais indecorosa indignidade e à mais imoral desonestidade.
Isabel A. Ferreira
Apresento-vos mais um texto, um magnífico texto de um jovem que lê e estuda, e está a anos luz dos deputados da Nação que pugnam pela tortura de Touros nas arenas portuguesas.
Senhores deputados do PS, do PCP, do PSD, do CDS/PP: se ainda não leram, leiam este texto de Daniel Catarino da Silva e sintam-se envergonhados, pelo menos, desta vez…
Origem da imagem:
https://www.fascinioegito.sh06.com/boiapis.htm
O TOURO QUE QUERIA SER CÃO
Texto de Daniel Catarino da Silva
(Estudante de Biomedicina na University College London)
«A tourada, despida de toda a roupagem e maravilha sensorial, consiste em retirarmos prazer do sofrimento de um ser colocado em posição inferior. É a apologia da barbárie.
Discute-se se se discute civilização quando são discutidas touradas. Debatendo nós noções fundamentais acerca do tratamento de animais que consideramos em inferior posição e, assim, o autocontrolo sobre o nosso próprio poder e o quadro de valores que nos define enquanto espécie, que outra coisa poderemos nós estar a discutir que não civilização?
Recordo aqui uma porção elucidativa da lei aprovada em 2014 - “Quem, sem motivo legítimo, infligir dor, sofrimento ou quaisquer outros maus-tratos físicos a um animal de companhia é punido com pena de prisão”. Daqui retiro duas ilações. Ou deduções. Ou outra coisa qualquer. Existe um princípio fundamental que faz distinguir, em essência ou natureza, os animais de companhia dos demais. Ou, em alternativa, existe um motivo legítimo para, e cito, infligir dor e sofrimento nos animais. A famosa terceira via, porventura, é uma embriaguez de hipocrisia.
Sempre ouço, das mais diversas e tremendas fontes de sapiência, que nós, seres humanos, somos animais racionais, não somos como os outros. Somos mais evoluídos. Somos superiores. Não, meus caros, não somos. Está nos livros. E quem não os lê, que olhe em volta. A vaidosa superioridade, que espertamente gostamos de ostentar, serve apenas como hábil máscara de hipocrisia, ocultando em trajes, música, arenas e espectáculo, a saciedade que nos dá o cheiro a sangue. Somos iguais à bicharada que tanto desprezamos. Só que nos vestimos melhor.
A marcha pelos direitos dos animais assenta na consciencialização e no conhecimento que progressivamente acumulamos sobre a biologia animal e, especificamente, sobre aspectos da sua dimensão sensorial, emocional, social e até do seu sentido de consciência. Os humanos não são uma entidade celestial, lateral à arborização evolutiva que a Natureza arquitectou, num caminho para atingir um qualquer gáudio teleológico. A evolução é um processo gradual e que diferencia espécies fundamentalmente numa lógica quantitativa, na qual o Homem é excelso numas capacidades e medíocre noutras tantas.
Quer isto significar que não há a pedra e o Homem, haverá sim um gradiente de complexidade intelectual e social entre todos os animais. Gradiente, aliás, que espelha a maquinaria interna dos mesmos. O que atribui ao homem as suas excepcionais qualidades é, não uma descendência divina espírita, mas o cérebro que traz consigo. Do mesmo modo, tantas outras espécies, com complexidades distintas, carregam consigo o substrato biológico que lhes permite, embora com menor grau de complexidade, sentir felicidade, dor, ansiedade, angústia, desejo, entre tantas outras sensações. Espécies mais sofisticadas como o elefante, o golfinho ou o chimpanzé organizam-se em intricadas relações sociais, sociedades onde se assiste à prática de funerais, onde se faz o luto, onde há uma teia hierárquica social mutuamente reconhecida, onde se brinca e se ajuda, onde se ensina e se aprende. Onde há cuidado, protecção, laços que duram uma vida, onde há aquilo a que, francamente, qualquer um de nós que olhasse atentamente chamaria amor.
E onde temos uma noção mais próxima desta sofisticação da natureza é junto daquilo que temos por perto, já que ao desconhecido cedemos à tendência humana de voluntária desconsideração. Nos nossos gatos, e sobretudo nos nossos cães, encontramos ecos suaves da nossa própria dimensão e sentido de consciência, decorrendo daí uma vontade colectiva de os proteger, incluindo com instrumento legal. Sentimos repulsa, em geral, por quem abusa dos seus animais de estimação, agredindo-os sistematicamente, ou sujeitando-os a condições de vida degradantes. Ninguém grita, “Espanque o seu cão! Vá, mais!”. Mas, já pelo cair da noite, a chiqueza folclórica reúne-se no Campo Pequeno para se rejubilar com o tradicional e “legitimamente” admirado espectáculo cultural que é a grande tourada portuguesa. O puritanismo quotidiano contra a violência é substituído pelo excitante e vibrante arrepio dos poros que sentimos quando, lá em baixo, na arena, o mestre cavaleiro, de grande destreza, acaba de trucidar um pouco mais o dorso do animal. Mas, como diz a lei, tal é legítimo. E como não é de mais citar, certamente “existe um motivo legítimo para infligir dor e sofrimento nos animais” quando esse motivo é o deleite de uma multidão que “legitimamente” parece ter todo direito de tirar prazer da tortura de um animal. É porque é disso que se trata. É que para ouvir música, apreciar trajes, visitar arenas ou vislumbrar animais, existem outras actividades que não envolvem esfacelar um ser vivo.
Há com certeza um sentido de espectáculo numa tourada, mas isso está longe de configurar uma noção de arte ou cultura. Alguém duvida que uma luta de gladiadores ou outras demonstrações de maior crueldade nos circos romanos configuravam grandes espectáculos? Seguramente que, com toda a sua violência e visceralidade, aqueciam as paixões das suas assistências, tal é a tendência primal do homem para se enfeitiçar com o sangue, com a morte e com a brutalidade. Não por isso lhe podemos chamar arte, nem tão pouco poderemos justificar qualquer acto com a invocação da tradição. Como este parágrafo deixa subentendido, tradições perdem-se nos caminhos da História. Felizmente, as sociedades evoluíram ao longo de séculos para entender a arte como um elevador intelectual, como um elemento de transcendência da nossa “existência animal”, despertador e provocador da consciência cívica, como um veículo de significado e como uma forma de expressão e comunhão da nossa complexa humanidade.
A tourada, despida de toda a roupagem e maravilha sensorial, consiste em retirarmos prazer do sofrimento de um ser colocado em posição inferior. É a apologia da barbárie. Até segundo uma visão antropocêntrica, é-me difícil compreender esta lógica. Então, se nos consideramos mais valiosos que o restante mundo natural, se somos melhores que os outros animais, não deveria isso trazer a responsabilidade e o dever de deles cuidar? Não é a verdadeira medida de um homem ou mulher a forma como trata aqueles em posição inferior à sua? Eu sou um humanista e no meu modelo de humano não há espaço para o prazer com a tortura e o sofrimento.
A lei que temos contra os maus-tratos a animais está certa e espelha já a tal orientação de civilização. Mas o mesmo carácter pedagógico e dissuasor que imprime ao condenar o abuso dos animais de companhia é cabalmente e escandalosamente desautorizado, quando, no mesmo quadro legal, se permite não só maltratar, mas brutalizar outros animais, para puro deleite de uma plateia. O grande mantra: só lá vai quem quer. Bem, menos os touros. Como uns são filhos e outros enteados, também uns são cães e outros touros. Citando, com a devida ironia, Miguel Esteves Cardoso, como é linda a puta da vida.
(As passagens a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)
Fonte:
Fonte da imagem:
https://www.facebook.com/256322287821476/photos/a.419244928195877/1838525406267815/?type=3&theater
«Os caçadores podem ser muitos, mas aqueles que abominam a caça são mais ainda. E são mais novos. Muitos ainda não votam. Quando votarem terão morrido um número maior de defensores da caça.» (Miguel Esteves Cardoso)
Essa é que é essa!
Texto de Miguel Espeves Cardoso
«Salvem as Raposas»
Contaram-me esta história numa praia do Algarve, mas não sei se é verdade. Quando está muito calor há raposas que entram dentro de água para se refrescarem. Riem-se aos gritos da excitação e do alívio. Às vezes aproveitam para almoçar uma gaivota. As gaivotas sabem a tripa de peixe, mas as raposas não se importam.
Disse-nos que as raposas dormem nas dunas durante o dia. À noite ouvem-se as raposinhas a rir em voz alta, como se estivessem a acicatar-se umas às outras. Seja verdade ou não, é altura de dignificar as raposas e de proibir a caça delas. Merecem, no mínimo, a mesma protecção que os lobos.
As raposas são animais encantadores, engraçados e afectuosos, com um lugar central no nosso imaginário. Em Portugal podem ser caçadas entre Outubro e Janeiro com matilhas de até 50 cães. Oscar Wilde descrevia esta caça como "the unspeakable in pursuit of the inedible" [o indizível em perseguição do não comestível]. É um acto de grande coragem uma data de seres humanos a ver 50 cães a despedaçar uma raposa até à morte.
O Bloco, o PEV e o PAN apresentaram projectos de lei para acabar com esta barbaridade, mas os outros partidos vão chumbá-los, claro. Têm medo de perder os votos dos caçadores. Demonizam a raposa como se estivéssemos na Idade Média.
Os caçadores podem ser muitos, mas aqueles que abominam a caça são mais ainda. E são mais novos. Muitos ainda não votam. Quando votarem terão morrido um número maior de defensores da caça.
Tal como acontece em quase todas as fábulas, a raposa acabará por ganhar. E havemos de nos rir com ela.»
Fonte:
https://www.publico.pt/2018/10/06/sociedade/cronica/salvem-as-raposas-1846398#comments
***
Na verdade, os partidos que servem os lobbies que pugnam pela crueldade, pela violência, pela matança brutal de animais indefesos, em nome do divertimento, ou de práticas economicistas, chumbaram a proposta do PAN.
Mas não se pense que o PAN perdeu prestígio com esta aparente derrota. De cada vez que um projecto de evolução, apresentado pelo PAN, ou por outro qualquer partido político, é chumbado no Parlamento Português, são os partidos trogloditas, que ficam do lado da incultura e da involução, que perdem prestígio e credibilidade.
Portanto, ó caçadores desnaturados, o vosso riso de escárnio, não se compara ao riso límpido das Raposas, animais muito mais dignos e racionais do que qualquer um dos que as matam por mero instinto assassino.
Isabel A. Ferreira
O segundo acto
Texto de Miguel Esteves Cardoso
Daqui a 50 anos, em 2065, quase todos os opositores do analfabeto Acordo Ortográfico estarão mortos. Em contrapartida, as crianças que este ano, em 2015, começaram a ser ensinadas a escrever tortograficamente, terão 55 anos ou menos. Ou seja: mandarão no país e na língua oficial portuguesa.
A jogada repugnante dos acordistas imperialistas — ignorantes e cada vez mais desacompanhados pelas ex-colónias que tentaram recolonizar ortograficamente — terá ganho tanto por manha como por estultícia.
As vítimas e os alvos dos conspiradores do AO90 não somos nós: são as criancinhas que não sabem defender-se. Deseducando-as sistematicamente, conseguirão enganá-las facilmente. A ignorância é a inocência. Pensarão, a partir deste ano, que só existe aquela maneira de escrever a língua portuguesa.
Os adversários morrerão e predominará a inestética e estúpida ortografia de quem quis unir o "mundo lusófono" através de um Esperanto lusográfico que não tem uma única vontade colectiva ou raiz comum.
Como bilingue anglo-português, incito os jovens portugueses que falam bem inglês (quase todos) a falar português com a exactidão fonética, vinda do bom latim, da língua portuguesa. Eu digo "exacto" e "correcto" como digo "pacto" e "concreto". Digo "facto" como fact, tal como "pacto" como pact.
Falar como se escreve (ou escrevia) é um acto de rebeldia. Ler todas as letras é libertador. Compreender a raiz das palavras é conhecê-las e poder tratá-las por tu.
Às armas!
Fonte:
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/o-segundo-acto-1696097?fb_ref=Default#/comments