Um simples vírus, apenas visível ao microscópio, é mais poderoso do que o homem, que se julga o dono do Planeta Terra e arredores
O vírus do Ébola, visto ao microscópio (EL MUNDO)
Uma criatura microscópica traz o mundo em polvorosa.
Já ceifou milhares de vidas, e está em vias de ceifar muitas mais, sem possuir um arsenal de armas químicas, atómicas ou outras.
E o homem arroga-se o direito de matar vidas humanas e não humanas, em nome de uma estupidez que é apenas humana.
Como é possível?
O homem nada aprende com as atribulações que a Natureza lhe coloca no caminho, para que se aperceba de que é apenas uma criatura, entre milhares de outras criaturas que têm vida própria, e podem ser mais poderosas do que ele.
O homem nem sequer é dono da sua própria vida, e a prova disso é precisamente o que está a passar-se: basta ser atingido por Mr. Ébola, para ter todas as probabilidades de se desfazer em sangue.
***
«TU
Se souberes reconhecer o teu valor, saberás do valor de todas as coisas
Tu!
Quem és tu? Uma rocha? Um tronco de árvore? Um avião? Uma pêra? Um grão de poeira? A asa de uma borboleta? Um lagarto verde?
Não! Evidentemente! És apenas um ser vivo englobado no reino animal, o qual comporta, além de ti, uma infinidade de criaturas que têm vida tal como tu. Entre os animais, és um mamífero, e entre estes, um vertebrado dito racional, isto é, um ser pensante, em princípio, com capacidade de usar o raciocínio.
Logo, és um ser humano, do género feminino ou masculino, para o caso não importa, até porque à parte as diferenças físicas e o exclusivo da maternidade, uma mulher tem exactamente os mesmos direitos, os mesmos deveres, as mesmas responsabilidades, as mesmas obrigações, os mesmos privilégios de vida do que um homem.
O que importa reter é que és um ser humano, o único ser vivente que desenvolveu a aptidão da fala, a qual conduziu às palavras faladas e escritas, e consequentemente a todo um desenvolvimento civilizacional e cultural, vincando a diferença entre ti e um elefante, o que, por outro lado, te investe de uma responsabilidade maior, porquanto és o único ser vivo que conscientemente pode contribuir para a destruição do Planeta, caso sejas daqueles que não usam as regalias da civilização e da cultura em seu proveito. E como já sugeri, não deves fazer aos outros o que não gostas que te façam a ti. O que fizeres por ti e para ti terá reflexo nos outros.
Logo, tu és um ser importante. Sim! Mas não podes esquecer o facto de o elefante* ser importante também, merecendo todo o teu respeito.
Ele tem vida como tu. Respira como tu. Precisa alimentar-se como tu. Sofre dores horríveis como tu, quando lhe espetam uma faca. Sangra como tu. Adoece como tu. Padece de fome e de sede tal como tu, se não tiver alimentos ou água. O elefante, tal como tu, não terá também direito à vida?
É bem verdade que no Planeta, o ser vivo com mais aptidão para fazer e desfazer coisas, és tu. Um macaco não tem capacidade para construir pontes, mas também não inventa bombas atómicas. Tu sim.
Neste caso, o macaco é mais importante do que tu. Ele vive, mas não destrói o seu habitat, pois intui que se o destruir, destrói-se a si próprio. Portanto, não será importante que saibas reconhecer o que vales e o que não vales, para poderes ajuizar da importância e do valor de todas as coisas?
Tu podes matar um elefante, mas não tens o poder de aquietar a fúria dos ventos e evitar as tempestades, ou simplesmente calar a raiva dos vulcões...»
in «Manual de Civilidade» - Isabel A. Ferreira
*O Elefante representa aqui toda a vida animal não humana.
***
O homem pode destruir o Planeta e toda a vida que ele alberga, simplesmente porque não pensa.
Mas Mr. Ébola, apesar de não ser um ser pensante (ou será?) destrói o homem em dois tempos, sem que o homem possa valer a si próprio.
Por isso, devemos ser humildes, e reconhecer o nosso lugar no Planeta.
Não somos, nem de longe nem de perto, os donos do mundo.
Saibamos ocupar o nosso lugar na cadeia da evolução do Planeta.
E mais do que isso, deixemos que a Vida flua, porque também não somos os donos da Vida, nem sequer da nossa própria vida.