Este Natal poderia ser realmente Feliz, se o Touro e o Cavalo, estes dois ANIMAIS magníficos (que em Portugal, inexplicavelmente, os legisladores não consideram animais), pudessem estar tranquilos, a pastar nos campos, ou a aquecer crianças, nas "grutas" deste mundo, sem o estigma da tortura a pesar-lhes na vida.
Não foi esse o exemplo deixado por Jesus Cristo, aquele, cujo nascimento os católicos (NÃO) celebram nesta época, esquecendo-se de que foi ao bafo de um Bovino e de um Burro, que aquele Menino foi aquecido.
Hoje torturam os Bovinos e os Cavalos, impiedosamente, para celebrarem a demência.
Que Natal? Que exemplo dá a Igreja Católica?
Que celebração?
Esta é a época do consumismo. Da hipocrisia.
Quase todos fingem uma solidariedade que durante o ano não praticam.
O que se celebra nesta época?
Não é o nascimento de Jesus.
Celebra-se a coca-cola, e tudo o que ela trouxe atrás dela.
O Menino Jesus não existe mais. É o Pai Natal quem reina.
É uma farsa que se agiganta para vender objectos.
E o espírito natalício fica submerso nessa onda desmesurada do consumo e da falsa caridade.
Milhares de pessoas no mundo passam fome e morrem de fome TODOS OS DIAS.
Mas nesta época, oferecem-lhes comida para “celebrar”.
Para celebrar o quê?
O VAZIO das almas afundadas na ganância? Na mediocridade? Na desumanização? Na ignorância?
Passada esta época, tudo regressa à ANORMALIDADE.
Isabel A. Ferreira
Mais um excelente texto de Julio Ortega, que não posso deixar de transcrever, porque ele também “fala” por mim.
Texto de JULIO ORTEGA
Queridos Reis Magos*:
Este ano não vos escrevo para pedir que me tragais prendas, mas para que leveis umas tantas coisas. Não, não estou louco, acontece que me dei conta de que o que sobra na minha vida está a ocupar o espaço daquilo que me falta, e que sou um menino mais pobre pelo que tenho, do que pelo que já não quero ter.
Por favor, levai os animais das mesas de Natal da minha casa. Não me importa quão tenras estejam as costeletas do cordeirinho. Não quero mastigar o seu cadáver, e necessito de que os meus pais, por causa disso, não me olhem como se eu estivesse louco ou como se fosse ficar doente, bem como temo que também terás de lançar no teu saco os preconceitos deles.
Levai as armas da casa do meu tio, que é caçador. Não quero que ele me torne a dizer: «Rapaz, não falta muito para que venhas caçar comigo, e logo verás como juntos passaremos uns bons momentos!»
Não! Tenho medo do meu tio, porque o meu tio gosta de matar e sorri quando o faz. Levai as espingardas e os sorrisos dele e, sobretudo, não permitais que me leve a mim com ele.
Levai as corridas de touros da minha cidade. E a esses senhores que vêm à minha escola tentar convencer-nos de que os toureiros são uns heróis.
Lembro-me que lhes perguntei se eu também seria um herói se apanhasse um pano e uma faca da cozinha da minha casa, saísse para a rua e depois de dar uns tantos “capotazos” (passos que o toureiro realiza com a capa) ao primeiro cão que encontrasse e o matasse, cravando-lhe uma e outra vez a faca.
Um, que me assegurou ter toureado em Las Ventas, disse-me piscando-me um olho: «Bem, não o faças porque é proibido, e além disso isso não é arte, como na tauromaquia, mas só cá entre nós, serias muito valente!»
Levai os circos com animais. Melhor dizendo, levai os animais e deixai os circos. Sim, levai os elefantes, os leões, os macacos ou os tigres para o lugar de onde nunca deveriam ter saído, os seus verdadeiros habitats, e deixai os trapezistas, os malabaristas, os palhaços, os contorcionistas…
Deixai os que trabalham debaixo do toldo de forma voluntária e por um salário, não os escravos que o fazem, porque estão drogados ou porque lhes dói o castigo físico.
Tal como nos dói a todos nós.
Abri todas as jaulas dos jardins zoológicos, levai os animais que lá estão para santuários, e levai também as chaves para que nunca mais possam fechar-se os cadeados. Não quero que os meus pais tornem a dizer-me, a sorrir: «Olha, esta tarde vamos ao zoo, ver os animais», e que eu já não saiba como explicar-lhes que ali só vejo criaturas tristes, doentes de tanto tédio e solidão, prisioneiros que perderam a alegria nos olhares, e toda a esperança de liberdade, e que a mim isso não me diverte, ao contrário, só me destroça o coração.
Animais? Não. Fantasmas com forma de animais.
Levai os cães e os gatos das montras, levai-os das lojas de animais, porque não quero abrir um embrulho a 6 de Janeiro, e que o meu presente ladre, mie, pie ou dê voltas dentro de um aquário. Não sou um carcereiro, nem um traficante de vidas.
A amizade não necessita de pedigree, nem as ruas precisam de mais cães e gatos abandonados, porque cresceram, porque sujam, porque fazem gastar dinheiro ou porque estragam as férias.
Levai o egoísmo, a indiferença, a crueldade, a ganância e a ignorância dos adultos. E se não podeis levar uma carga tão grande e tão pesada, trazei-me o seu montante, para que eu possa enfrentar esses adultos e uma sociedade onde os hábitos, as tradições, as diversões e os negócios são tantas vezes o alibi de um crime.
Prefiro a desobediência que rompe os laços de sangue, a que outros sangrem devido à minha cobardia.
*(Em Espanha o mais importante da festa de Natal é a chegada dos Reis Magos, a Belém, por isso as cartas dos meninos são escritas aos Reis, e não ao Pai Natal (moda da coca-cola) ou ao Menino Jesus (a principal personagem da Natividade).
Fonte do original, traduzido por Isabel A. Ferreira
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