É um acto sangrento, bárbaro, cruel e desumano, para com um ser que não pode defender-se.
Como cidadã do mundo, sinto-me envergonhada por estes massacres de animais para entretenimento de alguns. Profundamente envergonhada.
(Fiz minhas as palavras de Cândido Coelho, um abolicionista, acérrimo defensor dos direitos dos animais humanos e não humanos)
E além de envergonhada, sinto-me esmagada na minha sensibilidade, mas o que vejo nesta imagem, é-me indiferente, porque ali não vejo um ser humano. Vejo um monstro a ser agredido por um animal não humano, que tem todo o direito e legitimidade para se defender do seu carrasco.
Como qualquer um de nós o faria.
Fonte:
Um atentado à inteligência e à lucidez do ser humano
A propósito do texto supra citado (que pode ser consultado, clicando no link) recebi um comentário de Artur Sequeira Portela, ao qual respondi, conforme me deu na gana.
E é esse comentário que gostaria de partilhar com todos os que são anti-massacre de Touros.
Eis o que respondi a Artur Sequeira Portela:
Em primeiro lugar, obrigada, por ter se identificado.
1) O silogismo que anima os grupos anti-tourada é hipócrita e falacioso. Para essa gente, o espectáculo da tourada consiste no prazer extraído do sofrimento de um animal. “Ergo”, quanto mais sofrer o touro, maior o prazer do aficionado. Não preciso de salientar a indigência de semelhante raciocínio…
– Na verdade, meu caro Artur, num espectáculo taurino, quando o Touro é atacado com as bandarilhas e o sangue do animal começa a escorrer, ou quando se ouve o rugido de dor do Touro, ou quando os Cavalos são estripados na arena pelos cornos do Touro, chora-se muito na plateia. Aqueles “olés”, que se ouvem quase em êxtase, são gritos do sofrimento imenso que o público sente, ao ver um magnífico animal a ser massacrado, daquele modo delicado e afectuoso. E a “indigência de semelhante raciocínio” é nossa.
2) Decorrendo da lógica anti-taurina acima exposta, estes grupos são abjectamente desumanos, por darem prioridade ao sofrimento do touro sobre tantos outros espectáculos onde animais são feridos. Inclusive o animal homem. Sabem o que é o Strike-Force, o Vale Tudo, etc.? Não extrai o público prazer de ver dois homens esfacelando-se, estrangulando-se até perderem os sentidos? A lógica anti-taurina, que condena os adeptos da tourada, não deveria condenar os adeptos das lutas entre seres humanos? É condenável ver um bicho sofrer, mas já se aceita o prazer em ver homens sofrer? Há grupos anti-luta livre?
– Coitadinhos dos homenzinhos que entram nesses jogos parvos, porque os OBRIGARAM. Sim, porque não puderam DIZER NÃO! Não lhes pediram opinião. Sofrem como uns doidos, porque NÃO TIVERAM OUTRA OPÇÃO. Lutas entre SERES HUMANOS? Diz o Artur. Humanos ou brutos?Morro de pena deles!
3) Quem classifica a tourada de “barbárie”, fá-lo com a autoridade moral de quem conhece a fundo um universo cultural, que, na realidade, ignora completamente. A prova disso mesmo é a convicção absurda – cultivada com sanha – de que o prazer na tourada é consequência do sofrimento do touro: mais sofrimento, mais prazer.
– NÃO! De modo algum, Artur. Os aficionados vão ao Massacre de Touros para VER O TOURO A RIR ÀS GARGALHADAS, quando lhe furam o corpo! E isso não é barbárie, obviamente. É CULTURA. Da mais requintada e elevada. A nossa convicção, claro que é absurda! Olha se ir ver um Touro a rir às gargalhadas, depois de lhe espetarem farpas, que o faz sangrar até à morte, é “barbárie”! Nem pensar! É como se estivéssemos a ver um filme de amor, cheio de carícias e beijos, na mais romântica das cenas!
4) Quem gosta de touradas é um bárbaro? Não será profundamente arrogante declarar-se autoridade moral para decidir o que é “cultura”, “barbaridade”, etc.? Será bárbaro fazer da matança do porco uma celebração, será ausência de cultura? Ou, pelo contrário, não será antes a perpetuação de um gesto ancestral, que nos identifica como povo e consiste, por isso mesmo, num elemento de riqueza cultural inestimável?
– Mas claro, Artur, tudo isso é um elemento de riqueza cultural INESTIMÁVEL. Coisas que dizem do SER MUITO CULTURAL que vocês são. MATAR ou MASSACRAR UM ANIMAL NÃO HUMANO é CULTURA DA MAIS PURA. Daquelas coisas que deviam merecer o PRÉMIO NOBEL DA ESSÊNCIA E DA DIGNIDADE HUMANAS.
5) Mais do que poupar um bicho ao sofrimento, não se tratará antes de um estrebuchar da má consciência da esquerda urbanóide? Sim, porque não é o sofrimento do animal per se que move a turba das passeatas fracturantes: é o público que vai à tourada. É sobretudo uma condenação moral de quem aprecia a tourada, e não a tentativa de erradicar qualquer espécie de dor animal. Isso seria ingénuo e imbecil: nada há de mais violento e cruel que a madrasta Natureza.
– Eis aqui um daqueles raciocínios que merecem igualmente o PRÉMIO NOBEL DA INTELIGÊNCIA NATA. E já agora, “esquerda urbanóide” é algum partido político novo?
6) Os argumentos dos grupos anti-taurinos pretendem vestir moralismos mentecaptos com a fina roupagem das verdades universais.
– Mas que bela prosa! “Moralismos mentecaptos”... Os Touros são massacrados até à morte, há gente que histericamente grita “olés” a cada estocada, e nós é que somos os mentecaptos! Claro! Isto é coisa de uma cabeça com muita, muita inteligência dentro, Artur! Merece montes de aplausos.
7) Eu acho bárbaro que se comam delícias-do-mar, douradinhos, assim como hamburgueres de proto-animais criados em sítios que fazem Auschwitz parecer o Ondaparque. Mas, na sabedoria do povo, longe da vista, longe do coração. Com um filete quadrado e ultra-processado no prato, podemos aliviar a nossa parola consciência, ignorando que aquilo já fez parte de um animal, outrora vivo, engordado numa espécie de fábrica e abatido para nossa alimentação. Os movimentos anti-taurinos fazem parte de uma tendência social de origem urbana, que tem entre as suas consequências mais óbvias o repúdio colectivo das manifestações de virilidade, o culto da tirania moralista e a negação dos hábitos rurais, por violentos e pouco higiénicos, excepção feita ao pitoresco inócuo.
– Disse bem, MANIFESTAÇÕES DE VIRILIDADE contra um animal indefeso, meio drogado, para não poder defender-se das farpas e das espadas, com a valentia que lhe é característica. Assim até eu me batia com um daqueles coitadinhos que vão fazer o Vale Tudo, e são estraçalhados. O Artur acha bárbaro comer delícias-do-mar? Então não coma. Eu cá não como coisas que acho bárbaras comer. Nem sou obrigada a tal.
8) Não deixa de ser irónico que a moderna sociedade que limpa o rabo ao seu caniche, depois de lhe ter apanhado o cocó do passeio, e se repugna com as touradas, tem nojo de cuidar dos seus humanos velhos, que despeja em simpáticos asilos.
– Esta é para morrer a rir ou para morrer a chorar? O que terá a ver o fiofó (vá ao dicionário ver o significado desta palavra, se não sabe) com as calças? Está a ver? Neste arrazoado todo que para aqui escreveu, não me deu nem um só argumento válido para eu acreditar que o massacre de Touros é um acto cultural de alto nível, uma obra de arte e um acto de muita virilidade, que leva as pessoas a um estado superior de inteligência nunca visto. Olhe, sabe o que mais, Artur? Perdeu uma boa oportunidade de ficar no seu canto, calado, para não se expor ao ridículo, como se expôs. Sejam mais criativos. Argumentem, se quiserem argumentar, mas façam-no com inteligência. Por favor!
(Escusado será dizer que o Artur não rebateu nem uma linha do que eu lhe escrevi).
Isabel A. Ferreira