Hoje, dia 09 de Agosto de 2016, pelas 7h30m, hora a que me levantei, fui à varanda das traseiras do meu prédio e pude olhar o Sol, “olhos nos olhos”.
Um Sol vermelho. Filtrado pelos fumos dos incêndios que lavram, há uns dias, ao redor da cidade.
Um dia escurecido, logo pela manhã.
E se não fosse a tragédia por detrás deste Sol, diria que era imensamente belo.
O Fogo. Um elemento da Natureza que o homem, um ser liliputiano, nunca dominou, não domina, nem nunca dominará. E nem por isso aprendeu que ele, homem pequeno, não é a medida de todas as coisas.
A Natureza encarrega-se de lhe enviar os sinais mais evidentes, nas tempestades, nos fogos, nas erupções dos vulcões, nos furacões, nos tsunamis, nas doidas ventanias, como que gritando eu sou mais forte do que tu, por isso reduz-te à tua insignificância, mas, ainda assim, o homem pequeno considera-se o dono do mundo. Um ser superior a todos os outros seres.
E no entanto, a minhoca poderá escapar à fúria do Fogo, escavando fundo na terra. As plantas renascerão depois do Fogo. O homem pequeno não.
O Fogo destrói-lhe a casa, os bens, os animais domésticos, as florestas. Morrem bombeiros. Morrem pessoas. Morrem animais selvagens. Mas ainda assim, o homem pequeno não se verga à evidência de que o Fogo é mais poderoso do que ele.
E não só o Fogo, mas também a Água e o Vento e a própria Terra.
E nestas demonstrações do infinito poder da Natureza, que sempre existiram desde o início dos tempos, o homem primitivo, muito mais humilde e sábio do que o homem do terceiro milénio da era cristã, curvava-se diante destas forças, que ele sabia serem muito mais poderosas do que ele. Mas o dito homem moderno ainda não sabe.
Em Portugal não se faz prevenção. Os governantes obrigam o povo a pagar impostos, dos quais uma boa fatia é para aplicar mal e sordidamente em coisas inúteis, supérfluas, do foro da imoralidade.
A maioria dos fogos é provocada por mãos criminosas.
Os criminosos raramente são apanhados. Mas aos que são apanhados, aplicam-lhe umas peninhas de passarinho e depois libertam-nos. E eles reincidem.
E depois há o interesse dos madeireiros e de outros interesseiros. Sempre o interesse de alguém a comandar a desgraça dos outros. Sejam esses outros humanos ou não humanos.
Não gosto do Verão, não pelo Verão em si, mas pelo que o homem pequeno da era moderna faz dele: um verdadeiro inferno para os animais de todas as espécies, humanas e não humanas.
No Verão, em Portugal, somos agredidos desalmadamente pela brutalidade do homem pequeno.
As cidades, povoações, vilas e aldeias, civilizacionalmente atrasadas, agridem a sensibilidade dos seres sencientes, humanos e não humanos, com a violência das atitudes tomadas pelos seus governantes, ou pela sua inércia.
Em Portugal, excepto para aqueles que se estão nas tintas para o que se passa ao lado, o Verão é, na verdade, a época dos horrores.
E nem o Sol, belo e vermelho como uma maçã, ameniza a dor de sentir a tragédia que é ter homens pequenos por governantes.
Isabel A. Ferreira