Esta vai directinha para os Açores e Ponte de Lima
Como pode isto ser divertido?...
Isto é pura cobardia e uma demonstração clara da invirilidade dos protagonistas. Aqui o herói é o Bovino.
Isto é bullying, ou seja, um acto de violência física e psicológica, intencional e repetido, praticado por um indivíduo ou bully (termo inglês, que significa tiranete, isto é, aquele que abusa da sua autoridade ou posição, para oprimir os que dele dependem) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo esse acto executado dentro de uma relação desigual de poder, ou seja, entre um bovino indefeso e amarrado, e um bully, ao qual também podemos chamar um cobarde desmedido.
E este bullying é traumatizante e martirizante para o desventurado Bovino que cai nas brutas mãos dos tiranetes.
Além de ser uma ideia idiota, o facto de esses cobardes dizerem que na tourada à corda mostram a sua “virilidade” vilipendiando aquele ser tão vilmente subjugado, tão indefeso.
O que isto significa é precisamente o contrário: falta de virilidade.
Um Homem viril jamais, jamais em tempo algum, praticaria bullying contra um animal indefeso, para mostrar o que na realidade não tem.
Um verdadeiro Homem viril (o contrário do reles macho) não precisa mostrar nada. Basta-lhe passear abraçado á sua amada, por um belo jardim, onde se sente o perfume das flores e a carícia do vento.
Por isso é preciso acabar com este estranho modo de demonstrar uma invirilidade dissimulada num acto violento e cobarde, ou seja, através da “tourada à corda”.
Hoje em dia, já ninguém considera “herói”, um torturador de bovinos indefesos.
Só mesmo os ignorantes.
Por conta desta falsa “valentia” são torturados o Bovino, e as mulheres e as crianças destes machos mal-amanhados, as quais levam pancada quando o “valentão” chega a casa a cair de bêbado.
Sim, porque sem álcool, mas muito álcool, estes cobardes bullies não seriam capazes nem de chegar perto de um passarinho engaiolado.
Esta mulher terá capacidade mental para criar um filho?
Esta imagem poderia ter acontecido algures em Portugal, porque este tipo de gente aficionada é igual em todos os países onde a tauromaquia ainda perdura como uma peste negra…
Isto passou-se à porta de uma arena. Pobre criança. Que educação poderá dar-lhe esta que não sabe o que é ser mãe?
E aqui, além do gesto obsceno (a obscenidade é uma característica entranhada nos aficionados como uma segunda pele) ainda temos o riso boçal do “macho” que não sabe ser Homem.
Fonte:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=684080494984251&set=pcb.684080558317578&type=1&theater
«Contra as touradas, contra garraiadas, contra abusos. Estas tradições e outras pseudo-tradições peguemo-las de caras».
(Um texto que dispensa comentários e diz tudo o que há a dizer sobre a idiotice das touradas e garraiadas)
A pega de caras
Por Paula Sequeiros (Investigadora em Sociologia da Cultura)
«O garbo, a pose, o traje de luzes! O cheiro a sangue a borbotar do cachaço do touro ferido pela espada, pelas bandarilhas. O homem macho feito espetáculo [espeCtáculo - PT]. Que melhor nome podia ter? O marialva, o matador. O touro bravo, a natureza bruta, dominada, jaz aos pés.
Versão mais soft (?), sem morte do animal. À vista. Morte assegurada, muitas horas mais tarde, fora da arena. Versão espetáculo [espeCtáculo - PT] do sofrimento de animais, de todas as maneiras. Dos touros, mas também dos cavalos treinados para enfrentar outro animal, tornado inimigo pela tourada.
O dicionário define garraio: 1. Touro novo (que ainda não foi corrido). 2. [Figurado] Homem inexperiente.i
Touro não é animal em estado natural. É produto de apuramento genético para fabricar animal de aspeto [aspeCto - PT] fero, inimigo-ator, [aCtor - PT] animal-espetáculo [espeCtáculo- PT], animal-para-morrer. Produto, portanto, mais que animal. Garraio: produto incipiente na linha de produção, pretérito do produto final.
Homem domina animal, civilização domina natureza – duplamente. Recria-a por capricho, cria-a para morrer à mão. Tradição ancestral. Imagem dum passado em caixilho dourado, pechisbeque. História-mito, almofada onde adormece a consciência do animal humano para esquecer que o é, para ascender a diferente, superior animal com direito à vida e à morte de todos os outros. Mito caprichado da supremacia. Retirado da natureza, estádio vil em que animal mata animal para comer.
Dentro da civilização duma natureza-objeto [objeCto - PT], no abuso por gozo puro, requinte cultural do homem-macho. Natureza criada pelo patriarcado e pelo industrialismo à sua própria imagem. No mundo há muitas outras naturezas. A tradição estava criada. A tradição está servida.
«Civilização, obviamente, refere-se a um padrão complexo de dominação de pessoas e de toda a gente (todas as coisas) mais, atribuído frequentemente à tecnologia – fantasiada como «a Máquina». Natureza é um símbolo tão potente de inocência em parte porque 'ela' é imaginada como privada de tecnologia, para ser o objeto [objeCto - PT] da visão e assim uma fonte tanto de saúde como de pureza. Homem não está na natureza em parte porque não é visto, não é espetáculo».ii
Praxe académica, garraiada, queima-das-fitas.
«A praxe, enquanto ritual iniciático, transmite todo o tipo de valores reacionários [reaCcionários - PT] . Valores como a submissão, o sexismo, a homofobia e o corporativismo são exaltados, numa 'escola de vida' na qual se ensina a supressão do pensamento crítico, a obediência cega à ordem estabelecida e a necessidade de impor hierarquias de tipo militarista na sociedade». iii
Garraiada vai bem com praxe. Praxe também é tradição, ou não? Faz-se correr animal jovem (também podia ter sido aluno, como antigamente, outro garraio), enquanto outros maltratam, batem, puxam o rabo. Não o fariam se fosse outro animal, talvez. Garraio existe para ser garraiado.
Caloiro existe para ser praxado.
Morreu? Foi sem querer. Bicho é coisa, bicho é não-homem, bicho é apenas natureza. Feito para isso. Homem-macho opõe-se a bicho, não tem 'coisas' por animais, não é abichanado. Civilização é homem-macho.
Praxe rima com abuso. Praxe rima com macho.
Abusos sobre raparigas? Não é praxe, é exagero. Acontece é muito.
«A contestação da Praxe em Portugal não é coisa recente. Em textos que datam da primeira metade do século XVIII, já alguns estudantes atacam, por vezes em forma versificada, as assuadas rituais ou verbais: canelões e investidas».iv
A tradição reinventa-se, justifica-se todos os dias. Ou transforma-se.
Que tem feminismo a ver com touradas e garraiadas? Tem tudo.
O pensamento feminista associa natureza e humanidade, não as opõe. Forjado na luta contra a opressão de género, opõe-se a todo o género de opressões.
Contesta a história patriarcal, as tradições de negar direitos, de naturalizar maus-tratos. Celebra a reinvenção do quotidiano, sonha outras tradições.
Contra as touradas, contra garraiadas, contra abusos.
Estas tradições e outras pseudo-tradições peguêmo-las de caras.
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Bibliografia:
i Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
ii Haraway, Donna. 1994. “Teddy bear patriarchy: taxidermy in the garden of Eden, New York city, 1908-1936.” P. 49-95 in Culture power history: a reader in contemporary social theory, edited by Nicholas B. Dirks, Geoff Eley, and Sherry B. Ortner. Princeton, N.J.: Princeton University Press.: Princeton University.
iii Coelho, Ricardo. 2012. A praxe como escola de vida. Esquerda.net. 22 abril [Abril - PT].
iv Frias, Aníbal. 2003. “Praxe académica e culturas universitárias em Coimbra. Lógicas das tradições e dinâmicas identitárias.” Revista Crítica de Ciências Sociais, 2003 (66, Outubro):81-116.»
Fonte: