Domingo, 28 de Agosto de 2016

Barrancos - capital portuguesa da selvajaria tauromáquica

 

Em Barrancos, tudo é feito à bruta: a tourada, a morte do Touro e até o modo como se aplaude a morte deste ser senciente, muito mais sensível do que qualquer um destes pré-humanos que o torturam e aplaudem a sua dolorosa morte.

 

Repare-se na t-shirt do  barranquenho.

 

Em Barrancos, diz-se que a tradição é a cultura de um povo. Mas Albert Einstein considera que a tradição é a personalidade dos imbecis.

 

Eu acredito mais no saber do Sábio, do que na ignorância dos barranquenhos.

 

Que vergonha, Doutor Jorge Sampaio, ter o seu nome ligado à barbárie de Barrancos!

 

Barranquenho.jpeg

 Foto: Nuno Veiga

 

O Médico-Veterinário, Dr. Vasco Reis, deixa-nos esta reflexão, com a qual concordo plenamente, e da minha parte, também tenho o nome do Dr. Jorge Sampaio (entre muitos outros) na lista negra dos que, em Portugal, contribuíram para entravar a evolução do meu País, com actos dignos de trogloditas, e que ficarão perpetuados no «Livro Negro da Tauromaquia» que está a ser escrito, para louvor dos Touros e Cavalos, sacrificados ao longo dos últimos séculos, e para desonra dos tauricidas e aficionados de todas as vertentes da selvajaria tauromáquica, o que envergonhará, com toda a certeza, os seus descendentes.

 

«Há muitos responsáveis e cúmplices pela atrocidade pública que acontece em Barrancos, além do Jorge Sampaio e do Durão Barroso e dos deputados da Assembleia da República que em 2001 votaram a lei que legalizou "a excepção de Barrancos". Para o "cocktail" das causas devem contribuir: ignorância; “tribalismo troglodita” do meio onde nascem e crescem os futuros aficionados e que, pelos vistos, "impregna" os cérebros de maneira quase indelével de gentes anónimas e proeminentes e de alguma comunicação social e de alguns membros dos governos e de responsáveis pela educação de crianças e de jovens e de autoridades permissivas e de legislação permitindo a tortura pública de seres sencientes, touros e cavalos, etc. Pessoalmente, cortei publicamente em 2001 o relacionamento amistoso e de companheirismo, que mantinha com o Jorge Sampaio, desde os tempos da nossa luta académica em 1961/62 como membros da RIA, a qual se opôs, apoiada por milhares de jovens, à agressão do governo fascista contra os estudantes no âmbito do "Dia do Estudante"!» (Vasco Reis).

 

O Dr. Vasco Reis, que já lidou de perto com Touros e Cavalos, tem estudos científicos superiores nas áreas, entre outras, da Biologia, Zoologia, Anatomia, Deontologia e Bioética, Embriologia, Fisiologia, Genética, Reprodução Animal, enfim, uma sucessão de saberes que lhe dá autoridade para dizer que «os animais humanos e não-humanos são seres dotados de sistema nervoso, mais ou menos desenvolvido, que lhes permitem sentir e tomar consciência do que se passa em seu redor e do que é agradável, perigoso e agressivo e doloroso».

 

Também lhe dá autoridade para dizer que:

 

«Estes seres experimentam sensações, emoções e sentimentos muito semelhantes. Este facto leva-os a utilizar mecanismos de defesa e de fuga, sem as quais, não poderiam sobreviver. Portanto, medo e dor são condições essenciais de sobrevivência.»

 

Portanto, «afirmar-se que nalguma situação não medicada, algum animal possa não sentir medo e dor se for ameaçado ou ferido, é testemunho da maior ignorância, ou intenção de negar uma verdade vital» (Dr. Vasco Reis)

 

O que move os governantes a apoiar estas práticas bárbaras é uma monumental ignorância e interesses obscuros de uma máfiazinha à qual se vergam, vá-se lá saber porquê!

 

Sujam o nome. Arrastam o nome pela bosta que os bovinos, tomados de um medo que também é humano, deixam pelo chão, mas preferem sujar o nome, do que ouvir a voz da Ciência, do Saber, da Razão.

 

De acordo com o Dr. Vasco Reis, «a ciência revela que o esquema anatómico, a fisiologia e a neurologia do touro, do cavalo e do homem e de outros mamíferos são extremamente semelhantes. As reacções destas espécies são análogas perante a ameaça, o susto, o ferimento. O senso comum apreende e a ciência confirma-o

 

Augusto Cury, médico, psiquiatra, psicoterapeuta, doutor em psicanálise, professor e escritor brasileiro diz que «a capacidade de se colocar no lugar do outro é uma das funções mais importantes da inteligência. Demonstra o grau de maturidade do ser humano

 

Logo, a incapacidade de os tauricidas e aficionados se colocarem no lugar dos bovinos, que são torturados barbaramente, demonstra não terem qualquer grau de maturidade humana e serem portadores de um QI abaixo de zero.

 

Diz o Dr. Vasco Reis que «depois desta explicação, imaginem o sofrimento horrível que uma pessoa teria se fosse posta no lugar de um touro capturado e conduzido ao “calvário” de uma tourada».

 

Pois!

 

Mas os nossos governantes, e nomeadamente o ex-presidente da República, Jorge Sampaio (que até estudou em Londres) em vez de levar a evolução a Barrancos, fê-la regredir para o tempo cavernícola, se bem que eu considere os homens das cavernas muito mais civilizados do que os actuais barranquenhos, simplesmente porque não deixaram qualquer vestígio de crueldade para com os animais, que matavam exclusivamente para se alimentarem deles, e não para se divertirem com o seu sofrimento.

 

Isabel A. Ferreira

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:03

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Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2014

Carta aberta à jornalista Isabel A. Ferreira, criadora do «Arco de Almedina»

 

Recebi esta carta, hoje, e é com emoção que a publico, porque além de ser aberta, contém matéria de interesse público, a favor dos meus amados Touros e Cavalos.

Obrigada, Dr. Vasco Reis, e bem-haja por ser como é.

Isabel A. Ferreira

 

 
É deste modo, livres e belos, que Touros e Cavalos devem estar na Natureza, e é assim que nós, seres sencientes tal como eles, gostamos de vê-los
 
 

Aljezur, 13 de Janeiro de 2014.

 

Cara Isabel,

 

Tenho acompanhado a sua dedicada, generosa, corajosa, persistente acção em defesa do ambiente, dos animais e das pessoas, o que reconheço e agradeço profundamente.

 

A obra é muito extensa, mas vou modestamente lembrar a sua intervenção quando alerta para uma iniciativa com o intuito de aliciar jovens para a tauromaquia, o que está a acontecer numa escola de Alter do Chão.

 

Esta iniciativa é protagonizada por um professor e seus apoiantes, entre os quais estão os pais de alunos.

 

O professor responsável, atingido pelo alerta da Isabel, não se conformou com a denúncia desta iniciativa destinada a criar futuros adeptos e artistas tauromáquicos e fez queixa contra si.

 

Por isso vai a Isabel responder perante autoridades neste dia 13 de Janeiro. 

 

A tauromaquia é uma actividade extremamente cruel para os animais; degradante para os próprios aficionados, artistas, lobistas; extremamente prejudicial para o prestígio do país; deturpador de mentalidades juvenis; profundamente confrangedora para pessoas conscientes e compassivas.

 

Não deve, portanto, ser matéria didáctica.

 

Não obstante, tauromáquicos estão a aproveitar-se da persuasão sobre estes jovens, perante a indiferença ou com a conivência de pais, professores, escolas, institutos de juventude, ministérios, Misericórdias, igrejas, políticos, grande parte da sociedade.

 

Como a sabedoria tradicional ensina, “DE PEQUENINO SE TORCE O PEPINO”, para o bem e para o mal.

 

A Isabel é só uma das muitas pessoas que protestou contra esta perniciosa, escandalosa iniciativa.

 

Creio que não vai ter grandes dificuldades em justificar a sua atitude, feita no melhor interesse do país e das suas pessoas, nomeadamente dos seus jovens.

 

A propósito: há que fazer, desta vez para atingir o bem, algo paralelo ao que os tauromáquicos estão a fazer em escolas para levarem jovens para o mal.

 

Um ponto fundamental e urgente da estratégia abolicionista é, que os respeitadores da Terra, da Vida, da Paz, da Tranquilidade, da Ética, da Compaixão se organizem e contribuam para a educação da juventude no sentido do respeito pelo ambiente e pelos seus seres vivos, vegetais e animais, humanos e não-humanos.

 

Que se apresente e difunda a força dos argumentos do senso comum e da ciência com os meios do contacto directo, do exemplo, da comunicação social, da solidariedade e em texto, palestra, vídeo.

 

Que se produza bom material didáctico e se ponha à disposição de professores e escolas.

 

Além de ser uma acção positiva e libertadora para os animais não-humanos, também o é para a sociedade humana.

 

Os animais juvenis, não-humanos e humanos, são receptivos a experiências que os impressionam e marcam para a vida, de uma maneira geral de maneira tão mais forte, quanto mais precocemente elas acontecem. É mais uma semelhança entre as espécies animais não-humanas e a humana, além do esquema anatómico, a fisiologia, a neurologia, a emotividade, a consciência do que se passa à sua volta, a capacidade de experimentar empatia ou desconfiança, medo, prazer, dor, etc. Animais juvenis aprendem com os progenitores e, por exemplo, a confiar nos humanos, se têm cedo um contacto agradável com gente.

 

Já agora, deixo-lhe a minha opinião a propósito de activismo e de estratégias.

 

O filósofo Arthur Schopenhauer afirmou que:

 

O Homem faz da Terra um inferno para os animais

e

A compaixão universal é a base de toda a moral”.

 

Penso que concordamos com isso!

 

Acho que a Isabel é muito ciente da susceptibilidade dos animais e da terrível exploração e do sofrimento de que são alvo e vítimas.

 

Isso confrange-a, indigna-a, revolta-a. Sofre solidariamente de uma maneira terrível. Faz o possível por alertar para isso, para explicar o porquê da crueldade e, obviamente por ser ciente, professora, sincera, faz o possível por comunicar conhecimento.

 

Não poupa críticas aos que vitimam os animais e que as merecem.

 

Não teme represálias iníquas e vai aguentando críticas de outros abolicionistas motivados por outras estratégias.

 

É um impulso/estratégia seu que obriga à reflexão e à compreensão das pessoas, a que se deve seguir uma opinião e opção de quem a escuta ou lê. Estou certo que assim ajudou a abrir e informou a consciência de muitas pessoas para a preocupação com os animais e para o activismo na sua protecção.

 

Não compartilho da afirmação feita dogma de que atitudes como a sua vão afugentar ignorantes, distraídos e indiferentes. Antes pelo contrário, acho que vão fazê-los pensar e compreender.

 

Não é silenciando ou adoçando a pílula da crueldade que se acordam consciências.

 

Há muitas estratégias para a luta abolicionista.

 

Todas elas podem ser úteis, até as que se interessam mais pelo politicamente correcto, pelos contactos velados, pelo secretismo, por oposição a manifestações, por não se ser reactivo.

 

Mais me parece um distanciamento no sentimento e na preocupação pelo atroz sofrimento dos touros, dos cavalos e das pessoas que sofrem na sua consciência solidária pelas vítimas da tauromaquia.

 

Creio que elas se complementam e, no seu conjunto e solidariedade, fortalecem a luta.

 

Penso que nenhuma tem o direito de monopolizar a luta, de se considerar a única positiva e de criticar as outras.

 

Parece haver, por vezes mais cerimónia e respeito pelo adversário do outro lado da luta, do que pelos que lutam deste lado.

 

Penso que isso leva a divisionismos, frustrações, perdas de energia e de tempo e a deserções.

 

Eu próprio, se este clima prossegue, sou capaz de deixar o contacto com tais “activistas” supercríticos, que certamente não vão sentir a minha falta.

 

Tenho-me dedicado a esta luta por não saber de colegas da profissão que estejam disponíveis.

 

Quem me dera poder retirar-me da luta, já que vou a caminho dos 76 anos de idade!

 

Um abraço de toda a solidariedade e de enorme admiração.

 

Vasco Reis

 

***

Touro, Cavalo, Homem.

 

Nas três espécies:

 

O desenvolvimento embrionário é idêntico nas primeiras fases e pouco diverge nas fases seguintes, além de aspectos morfológicos e de alguns órgãos não essenciais.

 

Pode verificar-se que o esquema anatómico (aparelhos e sistemas) é comum; fisiologia e neurologia são idênticas.

 

A semelhança de sistema nervoso (centros nervosos, nervos) é flagrante.

A partir de encéfalos (central onde se processa o sentir, o pensar, o compreender, o decidir, o reagir) com estruturas correspondentes nas três espécies, é de se esperar que senciência/sentidos, emoções, consciência, sentimentos, estados de disposição, reacções sejam muito semelhantes nas três.

 

Os vários comportamentos confirmam isso mesmo, implicando semelhanças de necessidades (ar, alimento, água, movimento, espaço, liberdade); de sentidos; de consciência do que se passa à volta; de inteligência; de sentimentos; de emoções; de humores; de reacções a agressão, dor, ferimento, susto, prisão, cio; de confiança e desconfiança; de amizade; de sentido de guarda e de protecção; de ligação sentimental maternal, filial, paternal, fraternal, de grupo; de gosto por carícia, por desafio, por provocação, por brincadeira, etc.

 

Agressão a um touro ou a um cavalo - seres sencientes - é causadora de sofrimento, não muito diverso do que sofreria um ser humano em circunstâncias análogas.

 

Sofrimento físico (dor) é fundamental para compelir o ser a defender-se, a afastar-se do agente causador e a procurar segurança e alívio. A dor é assim fundamental e imprescindível para a defesa e a sobrevivência do ser e da espécie.

 

Não é reacção que se ponha de lado com mais ou menos excitação ou com mais ou menos hormonas (ao contrário do que Illera pretende na sua pseudo ciência).

 

As plantas são seres desprovidos de sistema nervoso e, portanto, não podem sentir dor, não têm consciência, não podem reagir rapidamente, não podem fugir. Não sofrem!

 

Vasco Reis, médico-veterinário

 

Aljezur, 13 de Janeiro de 2014.

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:41

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Sexta-feira, 10 de Maio de 2013

Emoções na escala animal

 

Uma análise inteligente, lúcida e baseada no Saber da Ciência.

Quem se atreverá a contestá-la?

 

 

Por Vasco Reis (Médico-Veterinário)

 

«Ponto de vista vital»

 

Interessa tentar compreender a vida e a diversidade dos seus seres e as suas características vitais. Importa que os seres vivos não sejam tratados como coisas inertes, quando na realidade não o são.

 

Um observador razoável pode interpretar as experiências que vai somando no dia a dia ao viver em contacto com os seres vegetais e animais (humanos e não humanos).

 

Assim vai poder chegar a convicções, género senso comum, ainda antes de a ciência ter confirmado os fenómenos. No entanto, a investigação e a confirmação científicas dão maior certeza e força ao que empírica e filosoficamente se admitiu.

 

Comecei por me interrogar e cogitar:

Porque fogem as baratas, quando se abre a porta de um armário onde estavam escondidas tranquilamente?

 

Porque fogem moscas e mosquitos quando tentamos apanhá-los, para que não nos incomodem?

 

Porque se escondem os caracóis nas casas, porque se fecham os mexilhões nas conchas, quando se sentem ameaçados?

 

Porque fogem ou reagem os animais, desde os considerados mais simples até aos considerados mais complicados/evoluídos, incluindo os humanos?

Respondendo empiricamente/logicamente: porque experimentam emoções (susto, desconfiança, medo) e quando atingidos, sentem dor, que é a melhor e a imprescindível educadora para adquirirem a sensação e a certeza dos perigos à sua volta.

 

Sem capacidade de sentir desconfiança, susto, medo e DOR, estariam os animais condenados a serem agredidos sem reacção de defesa/fuga e, portanto, condenados à não sobrevivência.

 

Deve existir uma parte da reacção que resulta das ordens saídas dos genes (vagamente apelidada de instinto) e outra causada pela experiência de sofrimento/dor que acontece ao longo da vida.

 

A dor e o medo de sentir dor são os melhores aliados para a defesa da integridade física e da vida de todas as espécies animais.

 

Sistema receptor, transmissor, interpretador de estímulos e emissor de respostas é o sistema nervoso, desde sistemas considerados rudimentares, até sistemas considerados evoluídos.

 

É absolutamente errada a invenção de que nas touradas os touros possuem mecanismos que os impedem de sentir dor, ou que lhes diminuem muito a dor!

 

Plantas não têm sistema nervoso, não têm meios de locomoção, não têm capacidade de fugir da agressão. Líquido que pode escorrer da superfície de cortes (que alguém compara a lágrimas) não passa de seiva (transportadora de substâncias nutritivas numa função comparável à da linfa em animais).

 

Logicamente, se a natureza não forneceu as plantas com sistemas que lhes permitisse fugir da agressão/perigo, ela não deu às plantas a capacidade de sofrer física e mentalmente. Elas não são dotadas de sistema nervoso, nem de algo funcionalmente comparável.

 

“A natureza não é sádica, nem desperdiçada”.

 

Desafio e agradeço a quem pense de outra maneira, a apresentar uma explicação alternativa.

 

Vasco Reis

8.5.2013

 

***

 

Nota marginal:

 

A esmagadora maioria dos cientistas que se debruçaram sobre se devemos explicar da mesma forma o comportamento dos animais em comparação com o nosso, uma vez que temos sistemas nervosos semelhantes, concorda com este ponto de vista.

 

Lord Brain, um dos mais importantes neurologistas do nosso tempo afirmou:

 

«Pessoalmente, não vejo razão para conceder uma mente aos meus congéneres humanos e negá-la aos animais (...) Pelo menos, não posso negar que os interesses e actividades dos animais estão relacionados com uma consciência e uma capacidade de sentir da mesma forma que os meus, e que estes podem ser, tanto quanto sei, tão vividos quanto os meus

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 09:57

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Segunda-feira, 3 de Outubro de 2011

Testemunho do Doutor Vasco Reis *

 

Um importante testemunho sobre o que é, verddaeiramente, uma tourada.


 

 
 

«A pior forma de cobardia, é testar o poder na fraqueza dos outros»

 

(Um texto do Doutor Vasco Reis, Médico-Veterinário, que subscrevo inteiramente e que transcrevo com a devida vénia)

 

Importa debater a questão da Tauromaquia em Portugal, abordando-a com toda a objectividade e publicitar este debate, para que os portugueses compreendam bem do que se trata e formem uma opinião sobre a sua utilidade, o seu mérito ou demérito e a sua aceitação ou repúdio. 

... 

Para isso é preciso argumentar profunda, científica, ética, cultural, socialmente.

O touro é o elemento sempre massacrado da tauromaquia, desde intensa prolongada ansiedade, repetidos e dolorosos ferimentos, esgotamento anímico e físico e quase sempre a morte em longa agonia.

O cavalo, dominado e violentado pelo cavaleiro tauromáquico é o elemento obrigado a arriscar tudo e a sofrer perante o touro, desde ansiedade, ferimento físico até a morte.

Estes factos, inegáveis e indissociáveis da tauromaquia, seriam suficientes para interditar a sua existência numa sociedade culta, consciente, pacífica e compassiva.

É esta a opinião dos anti-tauromáquicos, que dispõem de imensos argumentos ditados pelo senso comum e confirmados pela ciência.

Da parte dos tauromáquicos e dos seus aficionados colhem-se argumentos falaciosos, não ditados pelo senso comum, não confirmados pela ciência, baseando-se na tradição, no gosto pelo “espectáculo”, em interesses económicos, omitindo praticamente (ignorado ou não) o sofrimento sempre presente destes condenados a serem “actores” à força - o touro e, no toureio montado - o cavalo.

Na verdade, plantas não têm sistema nervoso, não têm sensibilidade, não têm consciência.

Animais são seres dotados de sistema nervoso mais ou menos desenvolvido, que lhes permitem sentir e tomar consciência do que se passa em seu redor e do que é perigoso e agressivo e doloroso. Este facto leva-os a utilizar mecanismos de defesa e de fuga para poderem sobreviver. Sem essas capacidades não poderiam sobreviver.

Portanto, medo e dor são essenciais e condição de sobrevivência.

É testemunho da maior ignorância ou intenção de ludíbrio o afirmar que algum animal em qualquer situação possa não sentir medo e dor, se for ameaçado ou ferido.

A ciência revela que a constituição anatómica e a fisiologia do touro, do cavalo e do homem são extremamente semelhantes. Os ADN são quase coincidentes.

As reacções destas espécies são análogas perante a ameaça, o susto, o ferimento.

O senso comum apreende isto e a ciência o confirma.

O especismo é uma atitude que, arrogantemente coloca o Homem numa posição de superioridade, que lhe permite dispor sobre os animais como entender.

A compaixão selectiva visa tratar bem certas espécies (em geral cães e gatos) e menos outras, quase consideradas como objectos.

Os animais não humanos são considerados menos inteligentes do que os seres humanos. Podem estar mais ou menos próximos e mais ou menos familiarizados connosco, mas eles são tanto ou mais sensíveis do que nós ao medo ao susto e à dor.

É, portanto, nosso dever ético não lhes causar sofrimento desnecessário.

"A compaixão universal é o fundamento da ética" - um belo pensamento do filósofo alemão Arthur Schopenhauer.

A tauromaquia está eivada de especismo sobre o touro e sobre o cavalo.

O homem faz espectáculo e demonstração da sua "superioridade" provocando, fintando, ferindo com panóplia de ferros que cortam, cravam, atravessam, esgotam, por vezes matam o touro, em suma lhe provocam enorme e prolongado sofrimento, para gaúdio de uma assistência que se diverte com o sofrimento, a agonia e morte de um animal.

Isto é comparável aos espectáculos de circo romano, há muito considerado espectáculo bárbaro, onde escravos e cristãos eram obrigados a lutarem e matarem-se uns aos outros ou eram atirados aos leões para serem devorados.

O cavalo é dominado com ferros castigando as gengivas bucais e por esporas mais ou menos agressivas, até cortantes, no ventre.

Esta montada é posta em risco de mais ferimento e de morte pelo cavaleiro tauromáquico, que o utiliza como veículo para combater e vencer o touro.

O sofrimento do cavalo soma-se aqui ao do touro.

Na tauromaquia, touro e cavalo são excluídos de qualquer compaixão, antes pelo contrário estão completamente submetidos à violência e ao sofrimento.

E o espectáculo é legal em Portugal, publicitado e mostrado na comunicação social, aclamado, fonte de negócio.

Mas nesta “arte” não são somente touros e cavalos que sofrem.

São muitas as pessoas conscientes e compassivas, que por esta prática de violência e de crueldade se sentem extremamente preocupadas e indignadas e sofrem solidariamente e a consideram anti-educativa, fonte de enorme vergonha para o país, atentatório de reputação internacional, obstáculo dissuasor do turismo de pessoas conscientes, que se negam a visitar um país onde tais práticas, que consideram "bárbaras", acontecem!

Com certeza que existem boas e inócuas alternativas para os aficionados, para os trabalhadores tauromáquicos, para os "artistas", para os campos e para os touros e cavalos.

Será positivo para os aficionados irem ver e até pagar bilhete para assistir ao sofrimento de animais?

Chamar arte à tauromaquia e compará-la ao ballet, ao teatro, etc., é falacioso.

Afirmar comparativamente que o ballet também provoca dor é infeliz e despropositado.

O que se assiste no enredo do teatro, de uma peça de ballet é representação, sem provocação real, sem ferimento, sem morte e os actores estão ali voluntariamente.

Porque fazem sofrer os animais os chamados “artistas”? Dar-lhes-à isso algum gozo?

Será isso admirável, corajoso, heróico?

Porque não fazer o espectáculo teatralmente e com o belo aparato visual e musical, mas sem os touros e sem o sofrimento animal?

Eu seria espectador para isso.

Os campos podem ser utilizados de outro modo e continuar a serem subsidiados.

A raça pode ser mantida sem a cruel tauromaquia e continuar a ser subsidiada.

Os trabalhadores, campinos e ganadeiros podem continuar o seu trabalho.

Os forcados, cujo papel só surge depois do touro ter sido massacrado previamente, podem dedicar-se a actividades ou desportos onde valentia, luta corpo a corpo são fulcrais, como boxe, luta livre e outros e acrescidos de espírito de grupo, como o rugby, por exemplo.

Creiam, que eu tenho conhecimentos e experiência para escrever este texto.

Sou médico-veterinário desde 1967. Estudei em Portugal e na Alemanha. Trabalhei na Suíça sete anos, na Alemanha 10 anos, nos Açores três anos (na Praia da Vitória, Ilha Terceira, onde existe aficción e onde tive de intervir obrigatoriamente no acompanhamento dos touros nas touradas, na minha qualidade de médico veterinário municipal), 22 anos em Aljezur em Portugal Continental.

Trabalhei sempre com gado bovino e cavalos.

Fui cavaleiro de concurso hípico completo e detentor de dois cavalos polivalentes. Conheço bem cavalos, a sua personalidade e as suas aptidões.

Fui entusiástico jogador de rugby durante três, anos, o que interrompi por acidente, que me impossibilitou a continuação da prática.

Aconselho, pela sua superior qualidade, alguns vídeos extremamente informativos, muito influentes no processo que teve lugar no Parlamento da Catalunha.

(*) Médico-Veterinário municipal aposentado.

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:51

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