Não resisto a comentar este episódio que, a meu ver, está a ser demasiado empolado, transformando o Rubiales num monstro, e a indefesa Jennifer numa virgem ofendida.
Quando vi as imagens pela primeira vez, considerei que aquela comemoração efusiva não deveria ter acontecido, entre um treinador e uma jogadora, mas aconteceu. E se aconteceu, pensei cá para mim, é porque, tal como aconteceu com Iker Casillas, quando beijou a jornalista de serviço, Sara Carbonero, em directo, eles teriam um caso secreto. Talvez! E então?
Então quando vi as imagens o que vi?
Primeiro: a Jennifer a levantar o Rubiales, num abraço daqueles que levantam as pessoas do chão. Faço isso muitas vezes, com as pessoas que me são queridas, família, amigas, quando não as vejo há algum tempo! Mas nunca levantei nenhum amigo, por mais querido que ele fosse.
Segundo: vi a Jennifer a ser beijada por Rubiales, enleada no mesmo abraço, sem que houvesse da parte dela um gesto, ainda que discreto, de rejeição. O abraço continuou e ela saiu daquele beijo e daquele abraço a SORRIR. O sorriso dela é bem visível.
E o que pensei? Pensei que aquela atitude já era comum entre os dois, e não fiquei nem surpreendida, nem chocada. Foi uma demonstração pública de algo que talvez fosse ainda segredo.
Chocada fiquei com as notícias que se seguiram a este acto PÚBLICO: Rubiales assediou sexualmente uma das suas jogadoras, e deu-lhe um beijo NÃO consentido.
Não consentido? Não é isto que as imagens mostram.
Além disso, a Jennifer deveria ter vindo imediatamente a público, mostrando a cara e a voz, REPUDIAR o sucedido, e dizer o que se diz que ela disse, mas ninguém ainda ouviu “Nunca consentí el beso”. Nem os abraços dele? Afinal, o que é que ela tinha a perder? NADA. O acto foi público, foi visto por milhões de pessoas, se aquilo não foi consentido, ela sairia dali uma heroína, que teve a coragem de denunciar, no MOMENTO CERTO (e não daqui por vinte anos, como muitas fazem) um acto NÃO consentido.
Os abraços dela a ele e, sobretudo, aquele que o levantou do chão foram fingidos? O sorriso aberto ao sair do beijo também foi fingido?
Abomino, numa abominação visceral, o assédio sexual por parte dos que podem, querem e fazem, o que lhes dá na veneta, às suas subalternas. Também abomino que essas subalternas não os denunciem IMEDIATAMENTE, e passados anos venham dizer que foram violadas e assediadas e a pedir indemnizações pelo mal causado, num momento em que precisavam deles, e não lhes convinha denunciá-los. Isto é algo que NÃO se deve calar por motivo algum.
Não quero com isto dizer que Luis Rubiales seja inocente, ou devesse fazer o que fez, para comemorar algo gradioso, como vencer um campeonado do mundo. Há uma Ética a cumprir nestes casos.
Contudo, só estou a interpretar este caso à luz do que VI, e uma imagem vale mais do que mil palavras, como toda a gente sabe.
Além disso há uma questão que não vi ainda ninguém pôr: supondo (SUPONDO) que Luis Rubiales fosse um predador sexual, e atitudes daquelas já eram comuns nos bastidores dos jogos, por alma de quem é que VIRIA a PÚBLICO expor essa sua cobardia para que lhe acontecesse o que veio a acontecer? Que se saiba, nenhum predador sexual faz as coisas tão às claras. Seria preciso investigar este caso à luz da razão, e não à luz do que dá jeito que seja.
Isabel A. Ferreira