... este texto que lhe dediquei, na passagem do seu 80º aniversário, em 2007, e que aqui trago à luz, simplesmente porque quero repetir tudo o que lhe escrevi, para dizer da minha admiração e do meu afecto.
DEIXANDO FLUIR A VIDA…
Oitenta anos, Luísa Dacosta!
Uma vida.
Mas o que são oitenta anos, quando se tem a eternidade urdida numa obra, escrita com palavras feiticeiras, que nos prendem, como correntes de afecto?
Oitenta anos, vividos intensamente, sempre em busca de algo que lhe foge, perseguindo sonhos por sonhar, procurando uma luz que nunca viu, trilhando caminhos escarpados, com o Marão à frente, e depois descida a serra, olhar alongado num mar de águas generosas, que lhe mostrou como das palavras fazer barcos, que nos levam a muitos lugares.
Contudo, a busca e a fuga, o sonho e a descoberta de mundos secretos, nos lugares da infância, ou em povoados raros, como A-Ver-o-Mar, não farão parte do percurso daqueles que nascem com a grafia das palavras já desenhadas no seu destino?
Luísa viveu sempre suspensa por um fio frágil, sobre grandes abismos, que foi ultrapassando, em voos de águia, grifando os seus sonhos nas margens desses abismos, para que não se perdessem, e depois seguiu em frente, como se o futuro não existisse. O que diz da sua perseverança e devoção à liberdade, uma das suas mais amadas circunstâncias.
O que poderei dizer de uma escritora de quem já disse tudo o que tinha para dizer, num livro que lhe dediquei, por amor às suas palavras, lançado precisamente há um ano, no dia do seu 79º aniversário, no Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim?
Em «Luísa Dacosta – «no sonho, a liberdade…» – uma viagem pela sua vida, pela sua obra e pelo seu pensamento – prestei o meu tributo àquela que é reconhecida, pelos estudiosos, como uma das maiores estilistas da Língua Portuguesa, do século XX, e, no entanto, tão mal-amada pelos seus editores, tão pouco divulgada, nos órgãos de comunicação social, tão afastada das montras das livrarias, o que constitui um verdadeiro insulto à Cultura culta.
Ainda assim, todas as palavras já foram ditas, sublinhando a sua qualidade literária e a sublimação que nos provoca a leitura das suas obras.
Entrei no universo de Luísa Dacosta pelos anos 80, depois de ler «A-Ver-o-Mar – Crónicas», um livro que me foi oferecido por um amigo comum, Manuel Ferreira Lopes, então director da Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim, falecido recentemente.
Manuel era o mais dedicado amante da prosa de Luísa, e conseguiu transmitir-me esse entusiasmo, ficando eu, também prisioneira das palavras luminosas da autora de «Nos Jardins do Mar», talvez o livro mais representativo da sua prosa poética, um mergulho em águas míticas, onde um amor verdadeiro, ainda que improvável, acontece…
Um dia, Manuel apresentou-me Luísa, e a partir de então formámos uma tríade, assente em afectos e partilhas. Com Manuel, entrei pela primeira vez no ninho das palavras de Luísa, o moinho de A-Ver-o-Mar, onde os fotografei em amena cavaqueira, depois de um almoço delicioso, confeccionado pela própria Luísa, aliás, uma excelente cozinheira – polvo frito, à moda de Trás-os-Montes, província da sua origem.
Depois de almoçar, percorremos, os três, a praia, vazia, imensa, com o mar a embalar-nos os sentidos. A conversa fluiu e de tudo um pouco falámos. E a trindade fez-se una.
Depois dessa primeira vez, muitas outras vezes regressei ao moinho, e de todas as vezes, consenti-me confundir com as personagens de Luísa, para melhor me aninhar naquele útero, onde foram geradas as mais belas palavras com sabor a sal.
Foram muitas também as vezes que nós os três viajámos até à Galiza, hospedando-nos no Mosteiro de Oseira, onde Luísa aproveitava o silêncio e a paz dos claustros, para ultimar algumas das suas obras.
Com Manuel e o seu entusiasmo contagiante, acompanhei o percurso literário de Luísa a partir de 1984. Ambos partilhávamos o seu afecto e a paixão pelas suas palavras, e as nossas conversas, por muitas voltas que dessem, acabavam por envolver Luísa e a nossa grande mágoa de a ver tão distante das luzes da ribalta, enquanto outras autoras eram largamente divulgadas, dando-se relevo à mediocridade e à incultura, num país já de si tão pequenino.
No dia da morte de Manuel, em 14 de Agosto de 2006, Luísa e eu visitámo-lo na clínica onde foi internado de urgência. Não nos encontrámos, por escassos quinze minutos. Mas ambas estivemos lá, nos últimos momentos do nosso amigo comum. Ele não pôde ver-nos, com os olhos físicos, mas sentiu, com toda a certeza, a nossa presença, naquele quarto, onde a sua alma já pairava, recebendo o nosso adeus silencioso.
Escrevo estas linhas como se fossem também as de Manuel, para celebrar o seu 80º aniversário, Luísa Dacosta, como sei que ele gostaria.
Nunca se diz o suficiente sobre alguém que tem uma obra escrita com palavras cerzidas como quem faz renda de bilros.
Contudo, quero deixar aqui apenas o testemunho de um afecto e um recado, para si, querida amiga: quando se percorre tão intensamente, durante 80 anos, todas as voltas de um destino, e se escreve uma obra tão magistral, como é a sua, olha-se para o futuro como se ele fosse eterno, e para o passado como se ele começasse ontem, porque hoje, a vida é, se a deixamos fluir…
Isabel A. Ferreira
Luísa Dacosta:
N - 16 de Fevereiro de 1927, Vila Real
F - 15 de Fevereiro de 2015, Matosinhos
Este é um APELO cívico de um Grupo de Cidadãos Portugueses Pensantes e descontentes com os atropelos à Constituição da República Portuguesa, no que à Língua Portuguesa diz respeito.
[Actualização do número de subscritores em 25 de Maio de 2023: 268]
O exército, abaixo declarado, pode parecer um pequeno exército, aos olhos de quem só olha e não vê, porém, a História diz-nos que, por vezes, pequenos exércitos ganham grandes batalhas. Exemplo: Batalha de Aljubarrota. Basta serem constituídos por pessoas que contam, que fazem a diferença, que estão empenhadas, que sabem usar a arma certeira.
***
O APELO consta do seguinte:
Assunto: APELO cívico de um Grupo de Cidadãos Portugueses
Introdução:
Exmo. Senhor Presidente da República Portuguesa
Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa
Coube-me enviar a Vossa Excelência este APELO, para o qual esperamos a melhor atenção, uma vez que todos acreditamos que Portugal é um Estado de Direito, uma Democracia Plena, um País Livre e Soberano, onde os seus representantes costumam ouvir os apelos dos cidadãos pensantes, descontentes com o desnorte da sua Nação.
Em anexo segue o APELO a Vossa Excelência, com todos os subscritores identificados.
Aguardando uma resposta de Vossa Excelência, envio os meus mais respeitosos cumprimentos,
Isabel A. Ferreira
PS: Tornarei público, hoje, no meu Blogue «O Lugar da Língua Portuguesa», o envio deste APELO a Vossa Excelência.
Dirigimo-nos a Vossa Excelência apelando à Sua intervenção no sentido da defesa da Língua Portuguesa, tal como esta nos surge definida no n.º 3, do artigo 11.º da Constituição da República Portuguesa.
Permita-nos, Vossa Excelência, o exercício do nosso dever cívico e obrigação de invocarmos a Lei Fundamental, designadamente no que tange aos deveres e obrigações que dela decorrem para todos os agentes do Estado, e, em especial, para o Presidente da República, enquanto primeiro e máximo representante do Estado. Estado a quem cabe, nos termos da alínea f) do artigo 9.º também da Constituição da República Portuguesa “[a]ssegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da Língua Portuguesa”.
Bem sabemos, Excelência, que, nos últimos anos, em concreto desde que o Estado impôs aos portugueses a aplicação de uma grafia que consideramos inconstitucional, tais deveres não têm sido cumpridos.
Esta não é uma questão de somenos importância. É um imperativo de cidadania. É um dever que nos é imposto pela Constituição da República Portuguesa. Trata-se, na verdade, da defesa do nosso Património Linguístico – a Língua Portuguesa – da nossa Cultura e da nossa História, os quais estão a ser vilmente desprezados.
Apelamos a Vossa Excelência que, nos termos consagrados na Constituição da República Portuguesa e no uso dos poderes conferidos ao Presidente da República, diligencie uma efectiva promoção, defesa, valorização e difusão da Língua Portuguesa.
Apelamos a Vossa Excelência que defenda activa e intransigentemente uma Língua que conta 800 anos de História.
Apelamos a Vossa Excelência que contrarie a imposição aos Portugueses da Variante Brasileira do Português, composta por um léxico que traduz acentuadas diferenças fonológicas, morfológicas, sintácticas, semânticas e ortográficas, e essencialmente baseado no Formulário Ortográfico Brasileiro de 1943.
Apelamos-lhe, Senhor Presidente da República, que proporcione às nossas crianças a possibilidade de escreverem conforme a grafia da sua Língua Materna – aquela que foi também a Língua Materna de Gil Vicente, Camões, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Fernando Pessoa, Fernando Campos, Luís Rosas, Altino do Tojal, Luísa Dacosta, Fernando Dacosta, José Saramago e tantos, tantos outros, cujas obras estão a ser acordizadas, num manifesto insulto à Cultura Culta Literária Portuguesa – ao invés de numa grafia desestruturada, incoerente e desenraizada das restantes Línguas europeias, as quais também estão a aprender (Inglês, Castelhano, Francês).
Apelamos a Vossa Excelência, ao Presidente da República Portuguesa, mas também ao académico e cidadão Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que deixe à posteridade, como SEU legado, a reposição da Língua Portuguesa, a nossa Língua, aquela que fixa o Pensamento de um Povo, escrita e falada escorreitamente, com elegância visual, com beleza, com estilo, seguindo o exemplo dos nossos Grandes Clássicos, antigos e modernos, atrás já referidos, para que a nossa Língua, a nossa Cultura e a nossa História, de quase nove séculos, não se percam nas brumas do tempo.
Apelamos, em suma, a Vossa Excelência, que seja reconhecido e revertido o gravíssimo erro cometido e por via do qual o Estado Português adoptou o Acordo Ortográfico, anulando-o, e restituindo a Portugal e aos Portugueses a sua Língua.
Com os nossos melhores cumprimentos,
1 - Juliana Dias Marques, Estudante de Letras
2 - Maria Vieira Raposo, Técnica Superior Administrativa
3 - Nuno Furet, Agente de Animação Turística
4 - Germano da Silva Ribeiro, Professor do Ensino Secundário (aposentado)
5 - Rui José da Silva Dias Leite, Arquitecto
6 - João Robalo de Carvalho, Jurista
7 - José Silva Neves Dias, Professor Universitário
8 - Jaime de Sousa Oliveira, Professor Aposentado
9 - Maria da Purificação Pinto de Morais, Professora do Ensino Secundário
10 - Isabel A. Ferreira, Jornalista/Escritora, Ex-Professora de Português e História
11 - Alberto Henrique Sousa Miranda Raposo, Engenheiro civil, Aposentado
12 - Albano Pereira, Sócio-Gerente da Firma Táxis Rufimota, lda.
13 - José Manuel do Livramento, Eng.º Electrotécnico
14 - José António Girão, Professor Catedrático (Reformado) da Faculdade de Economia da UNL; ex-Vice-Reitor da UNL
15 - João Paulo Norberto, Desempregado
16 - Maria do Carmo Guerreiro Vieira Sousa Miranda Raposo, Professora Aposentada
17 - Mário Adolfo Gomes Ribeiro - Eng. Mecânico, Reformado
18 - José Manuel Gomes Ferreira, Engenheiro Electrotécnico
19 - Teresa Paula Soares de Araújo, Professora Ensino Superior
20 - Jorge Alexandre Barreto Ferreira, Engenheiro Electrotécnico e Máquinas
21 - Luís Serpa, Escritor e Marinheiro
22 - José Manuel da Silva Araújo, PhD, Professor e Investigador
23 - Fernando Costa, Funcionário Público Aposentado
24 - António Jorge Marques, Músico/Musicólogo
25 - Luís Cabral da Silva, Eng.º Electrotécnico, IST - Especialista em Transportes e Vias de Comunicação, O.E.
26 - Luís M. M. Campos e Cunha, Prof. Catedrático de Economia na Nova SBE
27 - Vanda Maria Calais Leitão, actualmente desempregada
28 - João Viana Antunes, Estudante
29 - José Manuel Campos d’Oliveira Lima, Reformado
30 - João José Baptista da Costa Ribeiro, Cirurgião Geral
31 - Maria Luísa Fêo e Torres, Aposentada
32 - Maria Elisabeth Matos Carreira da Costa - Professora Reformada
33 - Pedro Manuel Aires de Sousa, Terapeuta da Fala
34 - Francisco José Mendes Marques, Tradutor e Professor
35 - Diana Coelho - Professora de História
36 - José Manuel Moreira Tavares, Professor de Filosofia no Ensino Secundário
37 - Rui Veloso, Músico Compositor
38 - António José Serra do Amaral, Reformado da Função Pública Portuguesa
39 – Francisco Miguel Torres Vieira Nines Farinha, Comercial
40 - Carlos Alberto Feliciano Mendes Godinho, Reformado
41 - Mário António Pires Correia, Musicólogo
42 - Pedro António Caetano Soares, Bancário Reformado
43 - Ana Maria Alves Pinto Neves, Professora de História
44 - Cláudia Ribeiro, Estagiária de Museu, PhD
45 - Maria José Melo de Sousa, Professora do Ensino Secundário de Inglês e Alemão, Aposentada
46 - Jorge Manuel Gomes Malhó Costa, Programador e Produtor de Espectáculo
47 - Ana Luís de Avellar Henriques Sampaio Leite, Gestora de Empresas
48 - João Manuel Pais de Azevedo Andrade Correia, Engenheiro Civil, oficial
49 – António José Araújo da Cruz Mocho, Gestor e Empresário
50 - Manuel Gomes Vieira, Investigador Auxiliar em Engenharia Civil
51 - Celina Maria Monteiro Leitão de Aguiar, Assistente Social
52 - José Manuel Pereira Gonçalves, Empregado Bancário na Reforma
53 - João de Jesus Ferreira, Engenheiro (IST)
54 - Maria José Cunha Viana, Empregada de Escritório
55 - José Antunes, Jornalista e Fotógrafo
56 - Carlos Costa, Inspector Tributário Jurista
57 - Manuel Moreira Bateira, Professor Aposentado
58 - João Paulo de Miranda Plácido Santos, Pensionista/CGA
59 - Nuno de Saldanha e Daun, Gestor Financeiro, Reformado
60 - António Alberto Gomes da Rocha, Arquitecto
61 - Artur Manuel Duarte Ferreira, Reformado
62 - Alexandre Guilherme Pereira Leite Pita, Desempregado
63 - Manuel São Pedro Ramalhete, Economista e Professor Universitário Aposentado
64 - Maria José Abranches Gonçalves dos Santos, Professora de Português e Francês do Ensino Secundário, reformada
65 - Maria Filomena da Cunha Henriques de Lima, Reformada, mas continua no activo na área de Turismo
66 - Telmo Antunes dos Santos, Militar
67 - António José Monteiro Leitão de Aguiar - Corretor (Seguros)
68 - Ismael Teixeira, Operador de Produção
69 - Daniel da Silva Teodósio de Jesus, Intérprete de Conferências e Tradutor
70 - Eduardo Henrique Martins Loureiro, Consultor e Guardião Intransigente da Língua Portuguesa
71 - Armando dos Santos Marques Rito, Aposentado da Função Pública
72 - João Luís Fernandes da Silva Marcos, Reformado do Sector dos Transportes, como Gestor
73 - Bruno Miguel de Jesus Afonso, Tradutor Profissional
74 - Sérgio Amaro Antunes Teixeira, Biólogo
75 - Elisabete Maria Lourenço Henriques, Aposentada da CGD
76 - Edgar Serrano, Gestor de Negócio
77 - Manuel dos Santos da Cerveira Pinto Ferreira, Arquitecto e Professor Universitário
78 - Artur Jesus Teixeira Forte, Professor Aposentado
79 - Fernando Jorge Alves, Professor
80 - Carlos Manuel Mina Henriques, Contra-almirante Reformado
81 - Vítor Manuel Margarido Paixão Dias, Médico
82 - Fernando Coelho Kvistgaard (Dinamarca) Eng. Técnico Agrário, Reformado
83 - Jorge Joaquim Pacheco Coelho de Oliveira, Engenheiro Electrotécnico (IST) Reformado
84 - António Miguel Pinto dos Santos (Londres), Gerente de Restaurante
85 - Fernando Alberto Rosa Serrão, Técnico afecto à Direcção-Geral da Administração da Justiça, Aposentado
86 - Paulo Teixeira, Gestor Comercial
87 - Ademar Margarido de Sampaio Rodrigues Leite, Economista
88 - Alexandre Júlio Vinagre Pirata, Eng.º Agrónomo
89 - Telmo Mateus Pinheiro Carraca, Oficial de Vias Férreas (Construção e Manutenção)
90 - Maria Manuela Gomes Rodrigues, Desempregada
91 - António José Ferreira Simões Vieira, Empresário e Professor do Ensino Secundário Aposentado
92 - Fernando Manuel Dias de Lemos Rodrigues, Bancário Aposentado
93 - Alexandre M. Pereira Figueiredo, Professor do Ensino Superior e Investigador
94 - Maria Elisabete Eusébio Ferreira, Professora Aposentada do Terceiro Ciclo, Educação Tecnológica
95 - Orlando Machado, Escultor FBAUP
96 – Manuel Matos Monteiro, Escritor e Revisor
97 - Fernando Maria Rodrigues Mesquita Guimarães, Reformado
98 - Octávio dos Santos, Jornalista
99 - Maria Fernanda Bacelar, Reformada
100 - José Martins Barata de Castilho, Professor Catedrático Aposentado da Universidade de Lisboa (Iseg, onde é conhecido como Martins Barata), Escritor de Romances, História e Genealogia, tendo vários livros publicados na área da Economia
101 - Cândido Morais Gonçalves, Professor Aposentado
102 - Ana Cláudia Alves Oliveira, Redactora e Gestora de Conteúdos
103 – Albino José da Silva Carneiro, Sacerdote
104 - João Daniel de Andrade Gomes Luís, Técnico Superior
105 - Idalete Garcia Giga, Professora Universitária (Aposentada)
106 - Amadeu Fontoura Mata, Aposentado do Ministério das Finanças
107 - Armando Jorge Soares, Funcionário Internacional (OTAN), Aposentado
108 - António da Silva Magalhães, Coordenador de Investigação Criminal da Polícia Judiciária, Aposentado
109 - Artur Soares, Chefe de finanças
110 - Manuel de Campos Dias Figueiredo, Capitão-de-Mar-e-Guerra, Aposentado
111 - José dos Santos Martins, Administrativo (Reformado)
112 - Carlos Alberto Coelho de Magalhães Coimbra (Toronto-Canadá), Cientista de Informática (Aposentado)
113 - Olímpio Manuel Carreira Rato - Eng.º Mecânico, Reformado
114 - Maria da Conceição da Cunha Henriques Torres Lima, Economista
115 - Jorge Garrido, Eng.º Agrónomo (reformado)
116 - António Alberto Gomes da Rocha, Arquitecto
117 - Pedro Miguel Pina Contente, Informático
118 - Carla de Oliveira, Compositora, Guitarrista, Cantora
119 - Maria de Lurdes Nobre, Produtora Cultural
120 - Paula Isabel Pereira Arém Pinto Serrenho, Gestora
121 - Pedro Inácio, Consultor Informático
122 - Laura da Silva Oliveira Santos Rocha, Professora de Educação Especial
123 - Maria José Teixeira de Vasconcelos Dias, Professora
124 - João Moreira, Professor
125 - Luís Bigotte de Almeida, Médico e Professor Universitário
126 - Jorge Manuel Neves Tavares, Reformado
127 - Júlio Pires Raposo, Bibliotecário
128 - Alfredo Medeiros Martins da Silva, Reformado, (Licenciado em EB)
129 - Maximina Maria Girão da Cunha Ribeiro, Professora Jubilada do Ensino Superior
130 - Manuel Maria Saraiva da Costa (Sydney, Austrália), Organeiro Restaurador Aposentado
131 - Miguel Costa Paixão Gomes, Fiscalista
132 - Irene de Pinho Noites, Professora de Língua Portuguesa
133 - João Esperança Barroca, Professor
134 - Carlos Fiolhais, Professor de Física da Universidade de Coimbra (aposentado)
135 - António Miguel Ribeiro Dinis da Fonseca, Reformado (ex-Analista de Sistemas)
136 – Bárbara Caracol, Estudante
137 - Miguel Viana Antunes, Programador Informático
138 - Mário Macedo, Escritor de Ficção, Drama e Terror usando o pseudónimo Mário Amazan
139 - Carlos Guedes, Electricista Industrial
140 - Nuno Messias, Economista Reformado
141 - António Manuel Rodrigues da Mota, Professor
142 - Susana Maria Veríssimo Leite, Fotógrafa
143 - Manuel Tomás, Ferroviário
144 - Maria Isabel Ferreira dos Santos Cabrera, Profissional de Seguros, Reformada
145 - Celestina Rebelo, Desempregada
146 - Soledade Martinho Costa, Escritora
147 - Ana Olga André Senra dos Santos Carvalho, Desempregada
148 - José Pinto da Silva Ribeiro, Mecânico Aposentado
149 - Luís Manuel Robert Lopes, Professor de Música - guitarra clássica, Reformado
150 - Miracel Vinagre de Lacerda, Sem profissão
151 - Ana Maria da Cunha Henriques Torres Lima, Professora
152 - Maria do Pilar da Cunha Henriques de Lima, Economista da AT
153 - Paulo Veríssimo, Desempregado
154 – André Gago, actor
155 - Luiz Manoel Morais Cunha, Engenheiro Mecânico
156 - Alexandra Pinho Noites Lopes, Acupunctora
157 - José Agostinho Fins, Engenheiro Mecânico (IST)
158 - Cláudia Maria Raposo Coiteiro (Luanda, Angola), Socióloga de formação, e exerce as profissões de Formadora, Consultora e Coach.
159 - Teresa Alves Matos, Promotora Comercial
160 - Paulo Costa Pinto, Realizador de audiovisuais
161 - Maria Adelaide Veríssimo Leite, Técnica Profissional de Pesca, Aposentada
162 - José Francisco Oliveira Carneiro, reformado
163 - João Miguel dos Santos Monte, Programador iOS, desempregado
164 - António Jacinto Rebelo Pascoal, Professor/Escritor
165 - Eduardo Rui Pereira Serafim, Professor de Português e Latim
166 - Aurelino Costa, Poeta e Declamador de Poesia
167 - João Pedro Arez Fernandez Cabrera, Licenciado em Gestão de Empresas
168 - Margarida Maria Lopes Machado, Jornalista
169 - M. Carmen de Frias e Gouveia, Docente (da secção de Português) da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
***
Esta lista não se esgota nestes 169 subscritores. A subscrição continuará, e serão enviados, a Vossa Excelência, todos os nomes que vierem depois do envio deste APELO.
Entretanto, deixamos, para consulta de Vossa Excelência, duas publicações, onde constam os nomes dos Cidadãos Portugueses Pensantes, que rejeitam o acordo ortográfico de 1990, os quais, de um modo ou de outro, têm manifestado publicamente a recusa da grafia que nos foi imposta, e que não faz parte da Cultura Linguística Europeia.
Faltam aqui os inúmeros anónimos, instruídos e menos instruídos que, não tendo acesso aos média, murmuram, por aí, o seu imenso desgosto por ver a Língua Materna deles tão despedaçada.
Estas são as vozes contra a extinção da Língua Portuguesa
O que os portugueses cultos pensam sobre o Acordo Ortográfico de 1990
Isabel A. Ferreira
***
Neste mesmo dia, foi enviada uma segunda via do APELO com mais os seguintes nomes:
170 - Margarida da Conceição Reis Pedreira Lima, Médica de Medicina Geral e Familiar
171 - Maria de Fátima da Silva Roldão Cabral, Aposentada da Função pública
172 - Luís Pereira Alves da Silva, Engenheiro Electrotécnico e Mestre em Gestão.
173 - Helena Maria Afonso Antunes, Professora
174 - Rui Filipe Gomes da Fonseca, Analista de Sistemas (aposentado)
175 - Gastão Freire de Andrade de Brito e Silva, fotógrafo e “Ruinólogo”
176 - Carlos Laranjeira Craveiro, professor do ensino secundário
177 - Ana Isabel Buescu, Professora Universitária
178 - Manuel Neto dos Santos, Poeta, Tutor de Língua Portuguesa, Tradutor
179 - Fátima Teles Grilo, Professora de Português/Francês do Ensino Secundário, Aposentada
180 - Nuno Miguel da Conceição Custódio, Recepcionista de Hotel
181 - Pedro Jorge Mendonça de Carvalho, bate-chapas na situação de reformado
182 - Cátia Cassiano, Tradutora (Sydney, Austrália)
183 - Alfredo Gago da Câmara, Fadista e Letrista
184 - Acácio Bragança de Sousa Martins, Contabilista Certificado
185 - Maria de Jesus Henriques Sardinha Nogueira, Fisioterapeut
186 - Anabela de Fátima Cana-Verde das Dores, Técnica de Turismo,
187 - Maria de Fátima Carvalho da Silva Cardoso, Jurista e Escritora
188 - Manuela Sampaio, Doméstica
189 - Maria Júlia Martins de Almeida, Professora
190 - Teolinda Gersão, Escritora, Professora Catedrática aposentada da Universidade Nova de Lisboa
191 - Maria do Céu Bernardes de Castro e Melo Mendes, Médica
192 - Francisco Jorge Moreirinhas Monteiro Soeiro, Funcionário Bancário Reformado
193 - Natalina de Lourdes Pires Veleda Soeiro, Contabilista Reformada
194 - Manuel Jacinto, Reformado
***
Uma terceira via será enviada brevemente com mais 74 nomes.
***
Aos interessados:
Para subscreverem este APELO basta enviar para o e-mail deste Blogue isabelferreira@net.sapo.pt o vosso nome e profissão.
Situada na travessa de Cedofeita, nº 64 A, na cidade do Porto, a Livraria Lumière (Alfarrabista) acaba de lançar o seu 44º Catálogo Bibliográfico de Livros Seleccionados, homenageando Luísa Dacosta, uma das maiores estilistas da Língua Portuguesa, recentemente falecida.
Capa do catálogo
Contracapa
No Catálogo constam cerca de 260 obras, algumas raras, dos mais variados autores portugueses, entre eles a homenageada.
Esta é uma oportunidade para os apreciadores da escrita de Luísa Dacosta adquirem o livro «Luísa Dacosta – no sonho a liberdade…», da autoria de Isabel A. Ferreira, do qual esta livraria tem a exclusividade de venda.
«Trata-se de um trabalho que, de modo algum pretende ser académico ou erudito, crítico ou de análise linguística. É apenas um olhar despretensioso, de leitora e admiradora da escrita de Luísa Dacosta; a experiência de uma jornalista que segue o percurso literário da escritora desde 1984; uma abordagem pessoal, tendo também em conta o que viveu a escritora, ao longo de vários anos, e o conhecimento do seu modo desassossegado de ser, e do seu pensamento irreverente».
Os leitores podem fazer a sua encomenda por telefone, carta ou e-mail, ou então deslocar-se à livraria, um espaço simpático, onde podemos encontrar os livros que desejamos, escritos em bom Português.
Link para o catálogo:
https://drive.google.com/file/d/0B3aUDDhZdqF9Y0pibTVaOE02eHM/view
Link para a Livraria:
http://livrarialumiere.blogspot.pt/
Completaria hoje 88 anos
Morreu ontem, no hospital de Matosinhos.
O seu corpo encontra-se no tanatório daquela cidade.
Amanhã será cremado, pelas 10h.
Aqui deixo a minha homenagem à escritora que considero uma das maiores estilistas da Língua Portuguesa e cuja vida e obra acompanhei desde 1991, e sobre essa vida e essa obra escrevi um livro, que lhe dediquei com muito afecto: «Luísa Dacosta - "no sonho a liberdade"...»
Até sempre, Luísa Dacosta!
Luísa Dacosta em A-Ver-o-Mar (Póvoa de Varzim), em 16 de Julho de 1995
Luísa Dacosta nasceu em Vila Real de Trás-os-Montes, a 16 de Fevereiro de 1927, provavelmente num daqueles dias surpreendentes de Inverno que a fadou com o desassossego que distingue os seres marginais.
Depois de uma infância e de uma adolescência vividas em liberdade, rodeada de mimo, mas também de vivências que foram determinantes na construção da sua personalidade e que viriam, mais tarde, a ser perpetuadas na sua obra manifestamente autobiográfica, a jovem da província abalou para a capital, onde novas emoções, novas realidades, novos rumos, novas circunstâncias, dariam um novo sentido à sua existência. E quando, em 1944, iniciou a licenciatura em Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a jovem Luísa trazia já em si a força e a coragem que caracterizam a mulher transmontana, facto que, aliado a uma genuína e saudável rebeldia, dela fez um ser indomável, como os seres selvagens que habitam as alturas, daí a sua visão do mundo conter a dimensão dos grandes horizontes. Ao mesmo tempo, possui uma natureza frágil e dócil que, por vezes, permite enredá-la em redes tecidas por mãos misteriosas, ocultas entre a folhagem de bosques, por onde vagueia um tempo sem tempo. O tempo daquela que escreve.
Ora um tal ânimo não poderia ser desperdiçado numa vida feita de lugares-comuns, de banalidades, de insignificâncias. Autora de uma obra poderosa, assente em mitos que a habitaram, como o de Tristão e Isolda, Narciso, Ceres, Penélope, e nas suas próprias vivências, acrescida de inegável qualidade literária, registo fragmentário de instantes efémeros que marcam uma existência, com Luísa a realidade mais simples transforma-se num momento raro, feito de palavras que flutuam e dançam ao som de ventos que não sopram, vestem-se de roupagem nova, libertando-se, desse modo, da sua forma banal, transformando-se elas próprias, as palavras, em seres únicos, etéreos, eternos e encantatórios.
Com Luísa, a poesia brota de todas as coisas: «Pela janela vem ainda um vago perfume a rosas, mas sem aquela onda sufocante de seiva, de vida, que outrora abafava com seu peso a minha infância, dolorosa, de penetrar o segredo das coisas.» (in Na Água do Tempo – Diário, Quimera).
Com Luísa, os enredos são mágicos: «Penélope incansável, a madrugada destece a urdidura dos filtros da noite, apaga a magia das sombras, esfria as estrelas. Mas não cala o apelo mítico, que sobe dos abismos e se desgarra. Como um lamento de ave, ecoa. Paira sobre as águas. Chega até mim.» (in Morrer a Ocidente – Crónicas, Figueirinhas).
Com Luísa os sons humanizam-se: «Soltou-se, dos abismos, o búzio do vento. Que dor se esfarrapa e franja de encontro aos penedos? Que voz, dolorida, endoidada, cavalgando ondas e crinas de espuma, espraia desesperos e uiva pelas margens da noite? – Meu amor! Meu amor!» (in A-Ver-o-Mar – Crónicas, Figueirinhas).
Com Luísa, o sofrimento é sublimado: «Sombrios, como as raízes da noite, eram os seus cabelos. E os olhos, pesados de amargura, tinham o brilho, incansável, das estrelas. À janela da vida, esperava o amor, o único – sobre o qual o tempo não tem poder.» (in Corpo Recusado, Figueirinhas).
Algumas das principais obras de Luísa Dacosta foram escritas no seu moinho de A-Ver-o-Mar, um presente de amor e depois concha de solidão, onde, qual ave de arribação, «só ia de ano a ano» … E, naquele lugar, onde o silêncio e o mar se enlaçam e as gaivotas adormecem a cada entardecer, o moinho, de paredes brancas, foi berço de uma prosa poética, invulgar, porque imbuída dos segredos das águas e dos sons marinhos, e das toadas da terra, quase imperceptíveis, que as noites vazias tornaram reais. Quem lê A-Ver-o-Mar – Crónicas, não esquece a beleza com que as cenas mais banais do quotidiano das gentes locais são descritas: «A tarde feria-se de sombras, toldava-se dos fumos da ceia. Era chegada a hora em que tudo dói, magoa, sangra, quer seja uma ausência, uma luz, uma pedra.»
Além das obras referidas e ainda outras (que incluem o conto, o ensaio, a crítica) escritas para adultos, obras autobiográficas, que encerram o seu peculiar universo, nas quais, como se disse, os enredos são mágicos, os sons humanizados, o sofrimento sublimado, e as palavras, que dizem da recusa, da solidão, do sofrimento, da angústia, são colhidas como quem colhe flores em jardins secretos, habitados por ninfas, a autora, porque dedicou parte da sua vida ao ensino preparatório, escreveu também vários livros para crianças, e, desse modo, ficou do lado do sonho.
Antes de conhecer a Luísa Dacosta/Mulher, conheci a Luísa Dacosta/Menina, através dos livros que escreveu para os mais pequeninos, e tal como acontece às crianças, também me deixei seduzir com as histórias próprias da infância, onde, todavia, a realidade nunca está ausente. Mais tarde, descobri, nas crónicas de A-Ver-o-Mar, aquele apelo à inocência das mulheres da beira-mar, sofridas, as quais vivem vidas sem sonhos, (como poderá viver-se sem sonhos?...) e cujo destino se enrola nas águas do grande oceano, que lhes dá o sustento, mas também a morte dos seus homens. Foi a partir de então que comecei a render-me à força da narrativa de Luísa, límpida e ausente de lugares-comuns, e parti para a descoberta daquela que escreve como quem faz renda, arrancando da palavra/bilro novas sonâncias encantatórias, que em nós ficam ecoando como vozes longínquas. Escrita/pintura feita de palavras de água púrpura, rósea, anil, violeta que transforma os textos em recriadas aguarelas, e molda paisagens, seres, emoções, sentimentos…
Seguiu-se Morrer a Ocidente, onde a ficção se confunde com a realidade, continuando no domínio das crónicas com sabor a sal. E tal como aquele soldado que, longe da pátria, e a propósito do texto Na Respiração do Tempo, publicado n’ A Vida Mundial escreveu à autora: «... senti o apelo da água... é um renovar tão profundo beber a maresia, a que aqui, a 2000 km do mar, senti nítido o cheiro iodado da Apúlia, pela mão das suas palavras... ler quem tão bem entende o mar, é um murmúrio de livres águas, bem consolador neste quotidiano difícil... Reli há dias... é uma das coisas mais belas, mais íntimas e mais verdadeiras (porque me toca por dentro) que tenho sentido», também eu descobri naqueles textos pedacinhos do meu mundo feito de breves momentos felizes, onde o mar ocupa um lugar relevante (foi à beira-mar que nasci e passei parte da minha existência) e o seu cheiro a algas, as suas gaivotas, as suas águas cantando segredos, ali, naquelas palavras debruadas com os sonhos de Luísa.
Mas foi O Planeta Desconhecido e Romance Daquela que Fui Antes de Mim que mais me impressionou, enquanto leitora. Trata-se de uma obra trespassada de mágoa e de melancolia, se bem que ateada de palavras escritas com saber, que nos lançam no sublime enfeitado de caos, e dão-nos, nua e cruamente, a dimensão da realidade que somos e, sobretudo, para onde vamos, cativos de um tempo que nos desfigura o corpo e nos arrasta até à outra margem da vida. Um livro belo que celebra as emoções, mas também a palavra. Uma vez mais.
Quando é urgente fugir do mundo e da realidade, a leitura é o meu porto de abrigo, e são dois os mestres que me ajudam nessa fuga: Pablo Neruda e Luísa Dacosta.
Pablo leva-me «ao pé dos vulcões, junto aos ventisqueiros, entre os grandes lagos, ao fragrante, ao silencioso, ao emaranhado bosque chileno... onde afundo os meus pés na folhagem morta... e sinto o aroma selvagem do loureiro»... (in Confesso que Vivi).
Luísa «faz-me resistir à vida, ao desgaste do tempo, à morte do corpo, ao apagar das alegrias, ao vazio circundante, ao corte das raízes, à não publicação dos (também meus) sonhos a morrer na gaveta...» (in Na Água do Tempo).
É neste universo, entre a cadência da vida e a beleza das palavras que se move Luísa Dacosta, sem dúvida, um dos nomes mais expressivos da Literatura Portuguesa Contemporânea. Contudo, devido, talvez, à sua recusa em enveredar pela vulgaridade e pelo mediático, conceitos tão entranhados na sociedade actual, cúmplices de uma gritante cegueira cultural, que, infelizmente, tanto valoriza e cultua a mediocridade, uma escritora de tal importância, inclusive, estudada nas universidades do nosso País e até no estrangeiro, não tem merecido, por parte dos media, o justo reconhecimento, nem a oportuna divulgação.
Disse-me, certa vez, um dos seus editores: «Os livros dela não se vendem». Como pode vender-se algo que não é adequadamente promovido? Como pode vender-se algo que não está ao alcance das pessoas? Como pode vender-se algo de que não se tem conhecimento? Em que livrarias estão os livros de Luísa Dacosta, para que as pessoas possam, ao menos, folheá-los? Em que Feiras do Livro estão os livros de Luísa Dacosta, para que as pessoas possam vê-los e, possivelmente, comprá-los?
(…)
Não estarão os livros de Luísa, (…) encerrados em sacos pretos, esquecidos nos recantos mais escondidos das livrarias? As palavras-chave para que um livro se venda são: promover, divulgar, mostrar… E o que não existe, passará a existir. E o que não se vende, talvez passe a vender-se. Não é assim que acontece com os autores que vendem, ainda que alguns não tenham a mínima qualidade literária? Se a má literatura se vende, por que não há-de vender-se a boa Literatura?
Dar a conhecer o universo da mulher/escritora, com o intuito de despertar os leitores para a sua obra, e de os acompanhar na descoberta do seu mundo, imensamente fértil em palavras delicadamente cerzidas, que são as suas, é o objectivo principal deste livro. Trata-se de um trabalho que, de modo algum, pretende ser académico ou erudito, crítico ou de análise linguística. É apenas um olhar, o meu olhar, despretensioso, de leitora e admiradora da escrita de Luísa Dacosta; a experiência de uma jornalista que segue o percurso literário da escritora desde 1984; uma abordagem pessoal, tendo também em conta o que vivi com a escritora, ao longo de vários anos, e o conhecimento do seu modo desassossegado de ser, e do seu pensamento irreverente.
A ideia não é a de analisar a sua obra sob o ponto de vista literário – para tal, há especialistas como Glória Padrão, José Augusto Seabra, Albano Martins, Paula Morão, Ramiro Teixeira, José António Gomes e Alzira Seixo, entre outros – embora, inevitavelmente, possa deambular, uma vez ou outra, e muito vagamente, por esse campo. O cerne de «Luísa Dacosta – «no sonho, a liberdade...» é o de acolher o todo – quem escreve e o que escreve – numa visão meramente jornalística, mais próxima do leitor comum, colocando esta questão básica: quem é Luísa Dacosta? E partindo-se do pressuposto de que conhecendo-se aquela que escreve melhor se compreende aquilo que escreve, atinge-se o âmago do meu objectivo: falar da obra de um dos nomes maiores da criação literária portuguesa contemporânea, dos seus motivos, e do que ao redor dessa obra se foi construindo.
Aliás, penso que todos os que gostam verdadeiramente de ler interessam-se por ler os livros daqueles de quem conhecem o pensamento, o modo de ser, de ver as coisas e de estar no mundo, conseguindo, desse modo, olhar com outros olhos a sua obra.
Partindo da infância, passando pela adolescência, pela juventude, pela publicação do primeiro livro até à actualidade, a minha ideia foi a de reunir numa só obra o saber da menina/mulher que escreve livros, por que os escreve, e como os escreve, aproveitando excertos das suas obras, para ir divagando sobre as coisas do seu universo, e aprofundar um pouco mais o seu pensamento, entremeando com alguns episódios que tive a oportunidade de vivenciar com a autora, procurando despertar o leitor comum para a obra desta que, à margem do mundo, é, sem dúvida, repito, uma das mais fascinantes escritoras portuguesas do século XX, pelo modo como usa a palavra.
Penso que a análise puramente literária da obra de um escritor interessará, talvez, prioritariamente aos estudiosos de Literatura, por isso, a ideia foi realizar um trabalho que conquiste os muito cultos, mas também, e essencialmente, os menos eruditos, para que não só possam ter acesso, como interessar-se por uma obra tão inexplicavelmente colocada à margem do rio literário que por aí vai serpenteando, pejado de ervas ressequidas, a que, também inexplicavelmente, é consagrado o melhor “adubo”.
(…)
Luísa fez da Língua Portuguesa um ninho, onde ninhou palavras que se assemelham a pássaros: livres e belos no seu voejar. Por isso, atrevo-me a dizer que o seu mundo é mais além, é o dos tais seres selvagens que habitam as alturas. E, dessas alturas, Luísa Dacosta pode contemplar horizontes infinitos e lançar as suas palavras a ventos que não sopram, porém, o paraíso literário estará sempre onde estiver um livro seu...
Luísa Dacosta, na Foz do Douro (Matosinhos) em 29 de Julho de 2003
Há muito que acalentava a ideia de fazer uma longa entrevista a Luísa Dacosta, com o intuito de dar a conhecer a dimensão do seu mundo literário, tão pouco divulgado nos órgãos de comunicação social, e tão mal acarinhado pelos seus editores. Um desperdício. Uma blasfémia. Uma lacuna que entendi necessário preencher. Mas o que fazer quando os textos escritos sobre Cultura, uma determinada Cultura, não merecem o melhor acolhimento nas páginas dos jornais? Qual deles se interessaria em publicar uma longa entrevista sobre uma escritora não mediática, não da moda, não “light”, como outras que tantas parangonas têm merecido?
Esperei o momento certo.
Nos finais do ano de 2002, propus à autora a entrevista, depois de verificar que o seu último livro, O Planeta Desconhecido e Romance da que Fui Antes de Mim, uma admirável urdidura ao redor da velhice e de um tempo que já foi mas ainda nos pertence, andava alheado das montras das livrarias e das páginas dos jornais, e, desse modo, o seu nome continuava a ser esquecido. Tão injustamente.
A proposta foi aceite. E naquela tarde de 22 de Abril de 2003, desloquei-me a Matosinhos, onde, no recato do apartamento da escritora, numa sala acolhedora, rodeada de recordações: retratos, pinturas, quase todas ilustrações dos seus livros, obras de arte, esculturas, livros, flores, pequenos objectos de grandes afectos, sentada diante daquela que escreve iniciei a entrevista, propriamente dita, que se prolongou exactamente até ao dia 22 de Julho de 2003. Sempre às terças-feiras, ao início da tarde. Entre as 14h30 e as 16h30. Nessas duas horas, a conversa fluía, e as palavras iam ficando registadas num pequeno gravador. Terminada a tarefa imposta para cada tarde, no recolhimento da casa, lanchava-se, um lanche onde não faltava o chá, uma especialidade da escritora. Um chá que variava de sabores. Devo dizer que nunca havia tomado chá de pétalas de rosas. Um requinte de Luísa Dacosta, aliás, também uma excelente cozinheira. Um dote de mulher transmontana, nas artes de bem receber.
Mas voltando ao lanche, além do chá, não faltavam pãezinhos especiais, com manteiga e compota, biscoitos, por vezes, bombons e outros mimos, com que Luísa me deliciava. Enfim, um lanche requintado, na sua simplicidade de lanche.
Outras vezes, íamos à pastelaria «Chá das Cinco», um espaço acolhedor, discretamente decorado à moda antiga, situada na avenida Brasil, na Foz do Douro, onde tomávamos ora chá, ora batido de manga com doce, “scones” ou torradas, enquanto conversávamos amenamente sobre os casos e ocasos da vida. Depois, dávamos um passeio à beira-rio, e aproveitávamos para maldizer (e o termo é mesmo esse) certas coisas deste nosso mundo conturbado: os políticos e as políticas, a incultura, e também a imundície que nos rodeava, naquelas calçadas que calcorreávamos, a falta de civismo dos que alcunho de “portuguesinhos”, que atiram tudo para o chão, apesar dos recipientes de lixo, espalhados pelos lugares. Lamentável, porque a marginal da Foz do Douro é um lugar lindo, onde podemos dar belas caminhadas se nos alhearmos da imundície que nos rodeia.
E o mar ali tão perto, belo e poderoso, enrolando as suas águas, naquelas praias da foz, pejadas de lixo, mas também de rochas negras, esverdeadas, avermelhadas, prateadas... Rochedos, aos quais ambas nos rendíamos, seduzidas pela sua beleza, à luz, magnífica, do entardecer.
Luísa Dacosta recebeu-me sempre com aquele seu sorriso afável, ainda tão de menina. E esta sua presença humana transformou o encontro entre jornalista e escritora numa afectuosa cumplicidade, e a entrevista, no longo desabafo de um ser que vive à margem do mundo, numa quase forçada solidão, por sentir e pensar de um modo muito mais além.
Ciosa da sua privacidade, a escritora só falou do que entendeu poder partilhar connosco, sem trair as suas mais íntimas vivências. Segredos só seus. Há coisas que são só nossas, e não devem nunca sair de nós. Porém, o que foi dito faz jus ao espírito livre de Luísa.
Dos episódios mais marcantes da sua vida, apenas falou de alguns, poucos. Dos afectivos. De algumas amizades. Não quis falar dos vivos. Mas evocou os mortos, mesmo aquele que não conheceu pessoalmente, mas com o qual se correspondeu e teve uma grande influência na sua vida, como adiante se verá: o Padre Joaquim Alves Correia, exilado na América, mesmo post de mortem. Depois houve o seu encontro com o amigo António José Saraiva, que foi também muito importante para a sua ligação à Literatura e a um conhecimento mais profundo da Língua e de certos autores. E também os dois anos (o que lhe consentiu a vida) de convivência e amizade com Irene Lisboa, embora nem sempre estivessem juntas: Irene, mais em Lisboa, Luísa, doente em Portalegre. Porém, a força combativa da escrita daquela escritora, sufocada por autoras de segundo plano que estiveram mais em voga e tiveram outra aura, foi muito importante para Luísa. Por último, a David Mourão-Ferreira Luísa deve a colaboração no Colóquio/Letras e o apoio à sua obra para a infância, que até certa altura nunca tinha sido comprada pela Gulbenkian. E a David, diz Luísa, deve essa respiração.
in «Luísa Dacosta - "no sonho a liberdade"…» - Um livro sobre a vida, a obra e o pensamento de Luísa Dacosta.
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Faz hoje precisamente 9 anos que o livro foi lançado, no Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim (16 de Fevereiro de 2006), uma prenda de aniversário, pela passagem dos 79 anos da escritora.
Isabel A. Ferreira