Era de esperar o quê?
Tudo o que diz respeito à tauromaquia está protegido por leis… parvas, mas ainda assim…leis…
E depois há o resto…
Observe-se bem este vídeo, que mostra a actuação do montador Marcelo Mendes em relação aos manifestantes que estavam sentados no chão, e onde NÃO SE VÊ ninguém a apedrejar, nem a atirar o que quer que seja.
Alguém que precisava de óculos para discernir, não os tinha colocados, na altura de ver a prova. Então, em vez de Justiça, fez-se justiça à portuguesa, que é acreditar mais no atacante, do que nas evidências que ficaram registadas em vídeo.
Enfim, nada que nos surpreenda.
A história conta-se numa penada.
O Juízo de Instrução Criminal (JIC) de Aveiro decidiu não levar a julgamento o montador Marcelo Mendes (não lhe chamo cavaleiro, porque cavaleiro é outra “louça”), que conforme se viu no vídeo, atacou a cavalo, vários manifestantes antitourada na Murtosa, em Setembro de 2012, quando lá foi realizada uma tortura de Touros, se bem que contra a maioria da população local, nada virada para estas manifestações imbecis, o que serviu (ao menos isso) para que nunca mais lá se realize iniciativas deste género inferior.
O montador estava acusado pelo Ministério Público (MP) da prática de um crime de coacção na forma tentada, mas o juiz de instrução decidiu não pronunciar o arguido, por falta de provas.
Ora, sobre a visualização do vídeo, e das provas nele contidas, vamos ler o que diz o Médico Veterinário, Dr. Vasco Reis:
«A informação sobre alguma experiência minha visa credibilizar as opiniões que apresento.
Que justificação tão inacreditável da parte do senhor juiz!
Se o cavalo tivesse prestado atenção aos manifestantes e se tivesse assustado, nunca iria carregar sobre os presumíveis assustadores, mas sim teria fugido afastando-se deles. Mas não é nada disso o que o vídeo comprova.
Qualquer pessoa, que tenha conhecimentos de equitação, seja por simples observação ou por experiência própria, como cavaleiro, reconhece sem qualquer dificuldade, ao prestar atenção a este vídeo, que a investida do cavalo montado pelo cavaleiro tauromáquico é provocada e comandada completamente pelo cavaleiro e que o cavalo está sempre dominado.
Esta montada nada mais faz do que reagir às ordens que o cavaleiro intencionalmente lhe transmite por pressão das pernas e violência das esporas, por tracção das rédeas e acção mais ou menos desagradável/dolorosa provocada pelos ferros na boca, pela posição do corpo e, certamente, por incitação vocal.
Os cavalos treinados e utilizados para toureio estão concentrados nas ordens que o cavaleiro lhe transmite e pouco ou nada reagem ao resto do que à volta acontece.
É incrível, irresponsável, ridícula, revoltante, a justificação que o juiz em questão apresenta para esta sua decisão. Se nada percebe de equitação em geral ou de equitação tauromáquica, devia ter solicitado o parecer de entendidos honestos.
O que afirmo é fundamentado por ser Médico Veterinário, conhecedor e proprietário de cavalos, cavaleiro experiente em concursos hípicos completos e ter sido, durante 3 anos, médico veterinário destacado profissionalmente para zelar pelo chamado respeito pelos touros lidados em touradas.
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Mas o que se lê no despacho de não pronuncia?
Depois de ouvir o montador acusado e as várias testemunhas, durante a fase de instrução, o juiz concluiu que se viveram momentos de "muita tensão", com "apupos, injúrias e arremesso de vários objectos".
Nestas condições, o magistrado considerou "verosímil" a tese do arguido, que alegou que a investida aconteceu não por sua vontade, mas apenas porque o cavalo se assustou.
«Em julgamento o arguido seria certamente absolvido ou, pelo menos, a absolvição seria muito mais certa que a condenação",
«Apesar de se tratar de um animal altamente treinado e habituado a situações de stress, não deixamos de estar perante um animal irracional, pelo que admitimos como possível que, no caso concreto, o cavalo se tenha assustado com as palavras de ordem gritadas pelos manifestantes e com os objectos arremessados e, por esse motivo, tenha investido contra as pessoas presentes sem que o arguido o tenha conseguido controlar", lê-se no despacho.
Na sequência dos acontecimentos, a Associação ANIMAL, que tinha dois elementos da direcção no local, apresentou queixa na GNR da Murtosa contra o montador, afirmando que «Se viveram momentos de pânico. As pessoas tiveram de fugir para não serem feridas pelo animal que era conduzido para cima delas, contudo não houve nenhum dano físico de maior".
Marcelo Mendes alegou que os participantes na manifestação "projectaram pedras e peças de fruta contra o cavalo" (conforme não se viu no vídeo) facto que o deixou "nervoso e difícil de controlar", uma versão contrariada pelos manifestantes que afirmaram que o montador investiu contra eles "de forma deliberada" (conforme se viu no vídeo).
Fonte Publico
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Duas considerações:
Primeira: como disse o Dr. Vasco Reis, basta ter o mínimo de conhecimentos de equitação, (ou até nenhum) para poder ver-se no vídeo que o cavalo esteve sempre controlado pelo montador.
Segunda: o animal irracional, a que se refere o senhor juiz, não era, com toda a certeza, o Cavalo.
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Proponho que ouçam esta pequena entrevista do montador Marcelo Mendes (agora ilibado de ter atacado manifestantes pacíficos) para avaliar da sua “desenvoltura” mental.
(Transcrevemos o que ele disse para facilitar a compreensão)
«Eu penso que é uma tradição secular, temos de mantê-la, há várias,… nós… eu penso que é um pouco o intuito do povo português perder aquilo que é nosso… imitarmos os outros, e enquanto que devia ser ao contrário… e eu creio que… não podemos deixar nós, eu e outras pessoas como eu, que estão directamente ligadas à festa, que isso aconteça.
Mas por vezes as pessoas argumentam que os touros sofrem… quer dizer… não sei se os touros sofrem,… o que é um facto é que os touros começam a ser lidados e nós cravamos dois, três ferros compridos e os touros investem sempre sobre o castigo.
Portanto, se um touro… se nós dermos um pontapé a um cão, o cão a seguir vai fugir e não vai voltar a levar outro, não é? Portanto, está provado, que o castigo que os touros sofrem, não… quer dizer, sofrem… ou que os touros estão sujeitos, não os faz sofrer, assim tanto como as pessoas pensam apesar de ver o sangue a correr… eu creio que é isto… que é que eu posso acrescentar mais?
Eu acho, na minha opinião isto acaba por ser o essencial…»
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Pois é, mais do que essencial. Isto diz tudo sobre o montador que nem sequer sabe o que anda a fazer dentro da arena…
Para terminar, e depois de tanta desgraça, uma piadinha saberá bem…
A 'coragem' do cavaleiro
Por Henrique Monteiro