Hoje, os Portugueses deveriam celebrar, com alegria, o dia 25 de Abril, que agora querem que seja grafado abril, com letra minúscula, como minúscula se revelou a Revolução que nos livrou de uma ditadura, para nos lançar numa autocracia lobista, disfarçada de Democracia…
Os jovens portugueses deveriam poder celebrar o 25 de Abril com a alegria que Agonia Sampaio colocou neste desenho. Mas que caminho para o futuro o 25 de Abril lhes abriu?
Na manhã do dia 25 de Abril de 1974, levantei-me cedo, como habitualmente, para ir dar aulas.
Apanhei a camioneta, e tudo parecia igual. As mesmas pessoas, caladas, indo para os seus empregos, como se carregassem um peso às costas. Era assim que se vivia naquela altura: como se carregássemos um peso às costas. Ninguém falava. Iam absortas, enleadas aos seus pensamentos.
Chegada a Vila do Conde, saí da camioneta, num ponto junto ao Mercado, e andei o habitual cerca de meio quilómetro até chegar à “Frei João”. À porta esperavam-me os meus alunos do primeiro tempo, contentíssimos, porque, disseram, hoje não há aulas setôra. Então porquê, perguntei. Houve uma revolução e não vai haver aulas, esclareceram-me. Uma revolução de quê, onde? Perguntei, pensando que se tratasse de algum problema na Escola. Não sabiam. O que sabiam era que houve uma revolução e não havia aulas.
Passei na Secretaria para saber o que estava a passar-se. Não sabiam muito bem, mas as ordens eram para suspender as aulas e ir toda a gente para casa.
Despedi-me dos alunos, e fiz o caminho de regresso, inquieta, e mal cheguei a casa apressei-me a ligar a televisão-miniatura, que era a minha, para saber notícias, pois na rua ninguém sabia de nada.
A informação era pouca. Passavam música, e de vez em quando lá vinha uma informação solta. Aquela seria uma revolução peculiar. Passei o dia colada ao mini-ecrã, no intuito de saber o que estava a passar-se. Mas foi apenas na manhã seguinte que soltaram a notícia do início de uma Revolução pacífica, a dos Cravos, que derrubou a ditadura, que atormentou os Portugueses durante décadas.
Até chorei! Finalmente iríamos respirar o ar da Libertação e da Democracia, e sentir o sabor da vontade do Povo Livre.
Porém, os dias, as semanas, os meses, os anos foram passando e eu sempre à espera de respirar o tal ar da Libertação e da Democracia, e de sentir o sabor da vontade do Povo Livre.
Que grande ilusão! Descobri que um Povo só é verdadeiramente livre através da Cultura, do Ensino, da Educação, e tudo isto não veio com a Revolução de Abril, muito pelo contrário, degradou-se paulatinamente, e o Povo, esse, confundiu Liberdade com “fazer tudo o que se quer”, e esse foi um erro que lhe está a sair bastante caro.
Os que, sucessivamente, foram ocupando as cadeiras do Poder, subiu-lhes o poder à cabeça e instituíram um sistema a que chamaram Democracia, pois até tivemos direito ao voto, e as mulheres até já podiam viajar sem autorização dos maridos, no entanto, para ser uma verdadeira Democracia faltava-lhe o principal: o poder do povo.
Enganam-se aqueles que pensam que lá por terem direito ao voto e escolherem livremente os que se dizem ser representantes do povo, vivem em Democracia. Erro crasso, no caso de Portugal.
Os que se dizem representantes do povo, durante as campanhas eleitorais, prometendo tudo e mais alguma coisa a esse mesmo Povo, na realidade, não são representantes do povo, porquanto quando chegam ao Poder, esquecem-se de que são representantes do povo, esquecem-se de que estão ao serviço do Povo e que é o povo que lhes paga os salários, apesar de estes serem superiores aos do Povo, e porque necessitam de mais algum, viram-se para os lobbies, e é a esses que os falsos representantes do povo obedecem e servem cegamente. E isto não é Democracia. Isto é uma autocracia lobista.
Livrámo-nos de uma ditadura, para entrarmos noutra. Porque há muitas formas de ditadura. E esta, actualmente em vigor, está a levar Portugal para o abismo social, cultural e linguístico, bem nas barbas de um Povo, que já se esqueceu dos valores preconizados pela Revolução dos Cravos, e que na realidade nunca chegaram a ser postos em prática, porque o povo nunca teve poder.
O povo desuniu-se, partidarizou-se, e a canção Portugal Ressuscitado, cantada por Fernando Tordo, Tonicha e o Grupo InClave, «Agora o povo unido nunca mais será vencido, nunca mais será vencido…», com letra de Ary dos Santos e música de Pedro Osório, fez sentido apenas naqueles tempos de ilusão.
O povo já não está unido, se é que alguma vez esteve. O povo foi completamente vencido pela autocracia que se instalou. Quem manda em Portugal não é o povo. Aliás, o povo nunca mandou em Portugal. Quem manda em Portugal são os estrangeiros, através de um Poder que está a marimbar-se para Portugal.
A Revolução de Abril ainda está por cumprir. Está nas mãos dos Portugueses ressuscitar Abril, utilizando a arma do voto.
Precisamos de uma nova revolução para acabar com esta autocracia lobista.
Por isso, hoje, o que temos para celebrar, se os pobres continuam pobres; os ricos, cada vez mais ricos; reina uma corrupção instalada no Poder, que nos mente descaradamente, servindo os lobbies instalados em Portugal; e com este negócio da venda da Língua Portuguesa ao Brasil estamos a ser colonizados, vilipendiados, e pior do que tudo isso, está-se a enganar as crianças e os jovens, a quem dão um mau exemplo.
O futuro do País está suspenso num abismo, por um fio de aranha...
Mas para um Povo sem Cultura basta ter pão, ainda que pouco, e bastante circo e beijinhos e abraços e selfies. E, deste modo, o Poder vai entretendo um Povo acrítico, amorfo, preocupado apenas com o seu próprio umbigo…
ACORDA PORTUGAL!
«Acordai, acordai homens que dormis a embalar a dor dos silêncios vis…» (***)
O 25 de Abril ainda está por cumprir.
(***) Verso de José Gomes Ferreira
Isabel A. Ferreira
O segundo acto
Texto de Miguel Esteves Cardoso
Daqui a 50 anos, em 2065, quase todos os opositores do analfabeto Acordo Ortográfico estarão mortos. Em contrapartida, as crianças que este ano, em 2015, começaram a ser ensinadas a escrever tortograficamente, terão 55 anos ou menos. Ou seja: mandarão no país e na língua oficial portuguesa.
A jogada repugnante dos acordistas imperialistas — ignorantes e cada vez mais desacompanhados pelas ex-colónias que tentaram recolonizar ortograficamente — terá ganho tanto por manha como por estultícia.
As vítimas e os alvos dos conspiradores do AO90 não somos nós: são as criancinhas que não sabem defender-se. Deseducando-as sistematicamente, conseguirão enganá-las facilmente. A ignorância é a inocência. Pensarão, a partir deste ano, que só existe aquela maneira de escrever a língua portuguesa.
Os adversários morrerão e predominará a inestética e estúpida ortografia de quem quis unir o "mundo lusófono" através de um Esperanto lusográfico que não tem uma única vontade colectiva ou raiz comum.
Como bilingue anglo-português, incito os jovens portugueses que falam bem inglês (quase todos) a falar português com a exactidão fonética, vinda do bom latim, da língua portuguesa. Eu digo "exacto" e "correcto" como digo "pacto" e "concreto". Digo "facto" como fact, tal como "pacto" como pact.
Falar como se escreve (ou escrevia) é um acto de rebeldia. Ler todas as letras é libertador. Compreender a raiz das palavras é conhecê-las e poder tratá-las por tu.
Às armas!
Fonte:
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/o-segundo-acto-1696097?fb_ref=Default#/comments