Texto de Rozana Salles
«Por muitos e muitos anos sobrevivi desconhecendo o AMOR da raça humana. Quando envelheci e adoeci, pois não tinha mais nenhuma serventia para o meu "dono", fui covardemente, cruelmente abandonada na calçada; descartada como se minha vida não valesse NADA. Ali permaneci horas e horas observando a todos e a tudo, pois até então, desconhecia aquela nova realidade.
As pessoas que ali passavam me enxergavam como um monte de lixo fétido, e muitas se desviavam de mim humilhando-me; chamando-me de cadela sarnenta.
Quantas vezes tentei me levantar para livrar-me de águas sujas que corriam em meu corpinho franzino e cansado? Nem me lembro! Mas, enfim, já não tinha forças e os meus ossos estavam todos doloridos.
Quando, quase entregue à fatalidade, subitamente, como um derradeiro apelo de minhas carências, surge um Ser que reluzia um brilho em seu olhar. Cuidadosamente e carinhosamente me pegou em seus braços levando-me para sua casa.
Naquele momento eu conheci um sentimento o qual eu nunca recebera. Chamava-me lindamente de Vivi! Acobertava-me de carinho e beijos! Alimentou-me com comidinha gostosa, bainho quente, caminha macia e cheirosa... E remedinho para que eu não sentisse mais dor. Parecia um sonho!
Mas não era! Os meus amiguinhos despertavam-me com os seus latidos, faziam me ver que eu estava vivendo uma realidade jamais imaginada. Eu estava feliz!!! Eu estava sendo amada pela primeira vez. E os dias foram passando...e muitos humanos vinham me ver e traziam consigo Luz a qual me iluminava e alimentava a minha Alma.
Era o AMOR que por mim fora tão almejado e esperado. Já não sobrevivia mais, mas sim VIVIA intensamente com alegria cada dia.
Mas, numa madrugada percebi que meu corpo se manifestara de uma forma na qual senti que a minha jornada terrestre chegara ao fim e que faria a minha viagem astral. Suportei as dores físicas, pois nenhuma dor impediria de ver o amanhecer, de poder me despedir, de traduzir através de meu olhar a minha eterna gratidão por minha mãezinha Marta que me deu o DIREITO À VIDA! O DIREITO DE SER FELIZ!
E vocês Seres Humanos especiais, são os meus Irmãos de Luz que me deram em 27 dias o que eu nunca havia recebido em 16 anos de sobrevida: o de SER AMADA!!! E este tão pouco tempo que é compreendido por todos, para mim foi uma eternidade, portanto, eu lhes peço: ENXUGUEM SUAS LÁGRIMAS, pois, não foi a morte quem me rompeu os dias nesta trajetória, mas, sim, foi a vida quem me elevou para uma nova e maravilhosa realidade!!!
Afinal, o espírito é eterno e apenas fiz uma viagem para uma dimensão superior e sagrada onde TODOS os merecedores um dia se encontrarão. Meu corpo já não está entre vós, mas a minha porção Divina estará sempre presente em vossos corações! Fiquem em Paz!
Vivi»
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