Este é o monumento erguido em homenagem a Spinoza, em Haia, e foi assim comentado por Renan em 1882: "Maldição sobre o passante que insultar essa suave cabeça pensativa. Será punido como todas as almas vulgares são punidas — pela sua própria vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que é divino. Este homem, do seu pedestal de granito, apontará a todos o caminho da bem-aventurança por ele encontrado; e por todos os tempos o homem culto que por aqui passar dirá em seu coração: este foi aquele que teve a mais profunda visão de Deus"…
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Quando perguntaram a Einstein, se acreditava em Deus, respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no deus que se interessa pela sorte e pelas acções dos homens”.
Este foi sempre também o meu Deus, mas só hoje descobri este texto que Spinoza escreveu no século XVII…
Vou transcrevê-lo e dedicá-lo a todos os que praticam a violência, a crueldade e a tortura sobre seres vivos, humanos e não-humanos, para que não digam que ninguém lhes proporcionou a oportunidade de deixarem de ser violentos, cruéis, torturadores, assassinos....
Isabel A. Ferreira
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«Se Deus tivesse falado…»
Texto de Baruch Spinoza (*)
Pára de rezar e bater no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes da tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
A minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. É aí onde Eu vivo e aí expresso o meu amor por ti. Pára de me culpar da tua vida miserável: eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que a tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar o teu amor, o teu êxtase, a tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ler supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes ler-me num amanhecer, numa paisagem, no olhar dos teus amigos, nos olhos do teu filhinho... não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir coisas. Tu vais dizer-me como fazer o meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor. Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso culpar-te se respondes a algo que eu coloquei em ti?
Como posso castigar-te por seres como és, se Eu sou aquele que te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar todos os meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que espécie de Deus pode fazer isso? Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita o teu próximo (todos os seres que criei) e não faças a ele o que não queres que te façam a ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida, que o teu estado de alerta seja o teu guia. Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única de que precisas.
Eu fiz-te absolutamente livre. Não há prémios nem castigos. Não há pecados, nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registo. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não poderia dizer-te se há algo depois desta vida, mas posso dar-te um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse a tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza de que Eu não vou perguntar-te se foste comportado ou não. Eu vou perguntar-te se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas a tua amada, quando agasalhas a tua filhinha, quando acaricias o teu cão, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que me agradeçam. Tu sentes-te grato? Demonstra-o cuidando de ti, da tua saúde, das tuas relações, do mundo. Sentes-te olhado, surpreendido? Expressa a tua alegria! Esse é o jeito de me louvar. Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para quê tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti... É aí que estou a acenar-te…
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(*) Estas palavras foram escritas por Baruch (Benedito) Spinoza, que nasceu em 1632 em Amsterdão, no seio de uma família judaica portuguesa, que fugiu da Inquisição em Portugal, e faleceu em Haia em 21 de Fevereiro de 1677. É considerado o fundador do Criticismo Bíblico Moderno.
A abolição da selvajaria tauromáquica não devia passar por referendos, mas unicamente pela consciência civilizacional dos deputados da Nação. Estar hoje a falar nisto, é sinal do atraso civilizacional em que Portugal ainda se encontra.
Touro em extrema agonia, depois de ser bárbara e cobardemente torturado.
São a favor ou contra o que vêem nesta imagem? Isto é pergunta que se faça, nos tempos que correm? Estaremos ainda na Idade das Trevas, onde a estupidez imperava?
É esta selvajaria, que a Assembleia da República Portuguesa quer que se continue a perpetuar, com os dinheiros públicos? Onde está a consciência civilizacional dos deputados?
Abolição JÁ! para esta barbárie. A tortura de um ser vivo NÃO é referendável.
Do que li nas notícias, o referendo defendido pelo PAN foi rejeitado pelo Chega, CDS-PP, Iniciativa Liberal, PSD, PS e PCP, contando apenas com o apoio do BE e Livre e a abstenção de três deputados socialistas.
A discussão que se travou e os argumentos apresentados pelos deputados da Nação, aficionados de selvajaria tauromáquica, uma prática bárbara medieval, que não dignifica a espécie humana, foi algo que me chocou, pela pobreza, pela falta de empatia (o sentimento mais nobre do ser humano) por seres indefesos, inofensivos e inocentes; pela cobardia que caracteriza quem defende práticas bárbaras, pois só os cobardes adoram praticar, aplaudir e apoiar a tortura de seres vivos, que não podem defender-se e que não pediram para lutar nas arenas contra gente armada de bandarilhas afiadas e de espadas. É da mais VIL cobardia lutar com armas na mão contra seres desarmados (ainda por cima embolados).
O PAN apresentou também um projecto de lei que propunha o impedimento da assistência e a participação em actividades tauromáquicas, a menores de 16 anos, que também foi chumbado, porque, e segundo o deputado Pedro Pinto, do Chega, «quem educa as crianças são os pais», como se assistir ou praticar a tortura de Touros fizesse parte da EDUCAÇÃO de uma criança. E a isto a CPCJ não está atenta: à educação para a violência, impingida aos filhos dos aficionados e dos tauricidas.
Este projecto de lei do PAN foi chumbado com os votos contra do Chega, CDS-PP, PSD, PCP e 17 deputados do PS, a abstenção da Iniciativa Liberal e votos favoráveis do PS, BE, PAN e Livre, enquanto a iniciativa do BE mereceu os votos contra do Chega, CDS-PP, PSD, PS e PCP, abstenção de sete deputados socialistas e votos favoráveis do BE, Livre, PAN e quatro deputados do PS.
Os diplomas foram votados depois de um vergonhoso debate sobre a protecção e bem-estar animal em Portugal, em que o tema das touradas dividiu o plenário.
Divide o plenário, mas não, a sociedade portuguesa, porque mais de 80% dos portugueses sé CONTRA a selvajaria tauromáquica.
Inês Sousa Real, deputada do PAN, começou a sua intervenção por classificar as actividades tauromáquicas como um «retrocesso civilizacional inqualificável» e uma «actividade cruel e atroz», referindo o que há 200 anos foi defendido nas Cortes Constituintes: este tipo de “espectáculos” tauromáquicos, são contrários às luzes do século e à natureza humana.
Verdade. Há 200 anos a tauromaquia foi proibida. Fez-se LUZ.
Mas como em tudo, em Portugal, a civilização NÃO se fixa, como noutros países, que promoviam a mesma prática, mas aboliram-na em nome da CIVILIZAÇÃO. Em Portugal, retrocedeu-se ao tempo das trevas e a selvajaria tauromáquica foi aqui reintroduzida, com contornos cada vez mais cruéis envolvidos em requintes de malvadez, e hoje, é uma das práticas mais selváticas, mas com muitos adeptos na Assembleia da República Portuguesa. Chego a pensar que muitos deputados da Nação se candidatam unicamente para proteger o lobby da selvajaria.
Isto é digno da mais veemente repugnância.
A intenção do PAN era deixar nas mãos do povo a decisão de abolir ou não estas práticas selváticas, porém a maioria parlamentar chumbou esta intenção, chegando o deputado socialista Pedro Sousa, a considerar que o debate em torno desta matéria, é sobre “o tipo de civilização que queremos”, mas também sobre “o tipo de democracia em que queremos viver”.
Ora os portugueses querem um tipo de civilização em que as práticas bárbaras contra seres vivos sejam a nódoa de um passado que já passou, e NÃO a nódoa do século XXI depois de Cristo. Quanto ao tipo de Democracia que queremos, obviamente, queremos uma Democracia onde a civilização e a cultura cultas sejam a nota dominante, uma vez que as práticas selváticas NÃO encaixam na ideologia democrática. Não esquecer de que essa prática bárbara era o entretenimento maior da monarquia, onde reinava a ignorância, e não havia os divertimentos civilizados que hoje existem.
Pedro Sousa, considerou ainda que «uma democracia robusta é aquela que permite ao povo decidir sobre a expressão da sua cultura. Não deve caber à Assembleia da República decidir sobre estas matérias», numa posição partilhada também, à direita, pela Iniciativa Liberal.
Mas expressão de que cultura? Se só há dois tipos de cultura: a culta e a popular. A cultura selvática e inculta dos trogloditas não se encaixa na definição de Cultura. Quando muito será a coltura dos broncos.
Além disso, já houve referendos sobre matérias não-referendáveis, como as da vida e da morte: aborto e eutanásia. Contudo, a vida e a morte não se referendam. E não cabe à Assembleia da República fazer leis que permitam decidir quem vive e quem morre. Esse argumento é irracional.
“O verdadeiro teste de uma sociedade livre está em permitir aquilo de que discordamos”, defendeu o deputado da Iniciativa Liberal, Mário Amorim Lopes, considerando que, “de forma natural, a sociedade caminhará, por vontade própria, para o fim das touradas”.
Não, Mário Amorim Lopes, numa sociedade livre não vale tudo!
Não podemos permitir o que é pernicioso para os seres vivos que estão ao nosso cuidado. Numa sociedade verdadeiramente livre NÃO podemos permitir a pedofilia, a violação, o assassinato, a ladroagem, a corrupção, a vigarice, podemos? Discordamos de tudo isto, mas em nome da tal sociedade livre podemos aceitar tais barbaridades?
A tauromaquia está no rol das coisas que são nocivas à sociedade, da qual fazem parte os animais não-humanos. E é nesta empatia por seres que NÃO têm voz para se defenderem, que está toda a grandeza da humanidade. Ouçamos Mahatma Gandhi: «A grandeza de uma Nação pode ser julgada pelo modo como os seus animais não-humanos são tratados.» Quanto à Nação portuguesa essa grandeza ainda está muitos zeros abaixo de zero.
Os animais NÃO são brinquedos, que possam ser usados e abusados para divertir sádicos e psicopatas.
Na Assembleia da República há um FORCADO social-democrata (PSD): Gonçalo Valente, que começou a dizer algo que o desqualificou imediatamente: “Eu fui forcado”. Gonçalo Valente não sabe que numa tourada, a criatura mais cobarde é o forcado, porque tortura um animal já moribundo, ferido por dentro e por fora, a sangrar, e num sofrimento atroz? Torturar um ser moribundo é COBARDIA, da mais pura e dura.
O ex-forcado teve ainda o desplante de pedir responsabilidade e tolerância para com as convicções de cada um, como se torturar Touros e Cavalos numa arena fosse uma questão de convicção!!!!
Não! A selvajaria tauromáquica é uma questão civilizacional, de cultura culta, de ética, de bom senso.
Depois veio o deputado Paulo Núncio, do CDS-PP, partido político, como não podia deixar de ser, sempre ao lado da tauromaquia, acusar o PAN de querer “determinar por decreto o que as pessoas vêem, fazem e gostam”. Como se a selvajaria tauromáquica fosse uma questão de ver, fazer ou gostar. Não estamos no tempo do Coliseu Romano ou das fogueiras da Inquisição. É do sadismo gostar de ver ou fazer sofrer um animal indefeso, e isto pertence ao foro psiquiátrico.
Por sua vez, Pedro Pinto, do Chega disse esta coisa insólita: «Ir a uma corrida de touros é um acto de liberdade”. Liberdade para quem? O Touro também participa na corrida. Terá a liberdade de querer ir à corrida, ser torturado? Saberá Pedro Pinto o significado de liberdade? Não sabe. Se soubesse não diria tamanho disparate. A nossa liberdade acaba, quando começa a liberdade do OUTRO, ainda que esse outro seja um Touro. Nunca ouviu dizer?
O BE e o Livre posicionaram-se ao lado do PAN contra a realização das touradas, mas consideram que a resposta deve passar, antes de mais, pelo fim dos apoios públicos.
«Se as touradas sobrevivem em Portugal é porque continuam a ser financiadas com o dinheiro público», argumentou a deputada do Livre, Isabel Mendes Lopes, enquanto o bloquista Fabian Figueiredo afirmou que «o mínimo que o Estado pode fazer é vedar a utilização do dinheiro dos contribuintes para promover uma prática arcaica».
O mínimo que o Estado pode fazer é vedar a utilização do dinheiro dos contribuintes para promover uma prática arcaica? O mínimo?
O mínimo que o Estado pode e DEVE fazer é, em nome da Civilização, ABOLIR imediatamente as práticas selváticas tauromáquicas, em todas as suas vertentes. Não é por acaso que em 196 países, que existem no mundo, apenas SETE (agora que a Colômbia se pôs ao lado da civilização) são trogloditas. Por que será?
O BE tinha também a votação um projecto de lei que impedia o apoio institucional à realização de touradas e outras práticas bárbaras que inflijam sofrimento físico ou psíquico ou provoquem a morte de animais, rejeitado com os votos contra do Chega, CDS-PP, PSD, PS e PCP, e votos favoráveis da IL, PAN, Livre, BE e 11 deputados do PS.
Votos contra do Chega, CDS-PP, PSD, PS e PCP! Como podemos confiar em partidos políticos que CULTUAM a morte? O culto da morte era uma prática medieval, que levava muita gente às fogueiras. Era uma tradição bárbara. Felizmente foi abolida. Se não fosse, hoje teríamos muitos deputados da Nação a serem queimados nas fogueiras.
Sem se posicionar quanto aos eventos tauromáquicos, Alfredo Maia, do PCP, questionou a constitucionalidade da recomendação de referendo, pela ausência de um projecto de lei concreto com vista à abolição das touradas.
Alfredo Maia, meu colega no Jornal «O Primeiro de Janeiro», então? Não o tinha como um NIM. O mais importante desta questão é a inconstitucionalidade do referendo, ou será a abolição desta prática bárbara, que minimiza a grandeza da Nação Portuguesa?
Eu sou contra o Referendo, pelos motivos que já referi aqui .
A abolição da tortura de Touros e Cavalos é uma questão que pertence à consciência civilizacional.
E não me venham falar que há muita gente a depender desta actividade, porque não é verdade. Os ganadeiros enchem os bolsos com dinheiros públicos. Mas se é verdade, que vão plantar hortas e pomares e searas, porque são actividades muito dignas e especialmente necessárias, porque a alimentação é uma das prioridades do ser humano, não, torturar Touros, para divertir sádicos e psicopatas.
Isabel A. Ferreira
Fonte desta publicação:
https://observador.pt/2024/10/04/parlamento-chumba-referendo-sobre-abolicao-das-touradas/
É sempre triste comprovar que Portugal não avança para o Século XXI d.C., devido a leis retrógradas avalizadas por gente retrógrada, que ainda permite que a barbárie continue a sujar e a enxovalhar um País que quase nada tem que se aproveite.
Esta “corrida real” surpreendeu a todos, depois de um interregno.
O que faria ressuscitar a barbárie no seio de uma família que devia dar o BOM exemplo de educação, de civilização, de ética, de evolução? Que tipo de civilidade o casal real está a passar aos seus filhos?
Misturam-se com a ralé tauromáquica? Bem sabemos que a tauromaquia sempre fez parte dos “divertimentos” da inculta realeza espanhola, e foi introduzida em Portugal por Filipe II de Espanha, I de Portugal, em 1581, o qual tinha uma grande TARA por práticas cruéis, não só pela tortura de Touros, como gostava de assistir aos autos de fé, e delirava com o atroz sofrimento de pessoas inocentes, nas fogueiras da Inquisição. E fazia isto para se entreter.
Até essa data fatídica de 1581, a monarquia portuguesa não se entretinha a ver torturar Touros, uma prática bárbara, cruel, violenta, desumana, abominável, aberrante, execrável, deplorável, inaceitável, lamentável, atroz, patética, vergonhosa, desprezível, que apenas gente sem um pingo de empatia e, diga-se em abono da verdade, muito ignorante, assistia, sendo algo condizente com a ralé com a qual a realeza não gostava de se misturar, por isso faziam “touradas reais”.
Porém, as touradas já foram proibidas em Portugal, no Reinado de Dona Maria II, em 1836, através de um decreto assinado por Passos Manuel, secretário de Estados dos Negócios do Reino, onde os “espectáculos” tauromáquicos eram considerados "um divertimento bárbaro e impróprio de Nações civilizadas".
Pois é! Em 2022, as touradas continuam a ser um divertimento bárbaro e impróprio de nações civilizadas. A lucidez de Dona Maria II, no entanto, não foi tida em conta, e da lucidez passou-se às trevas, em pouco tempo, porque, em Portugal o povo culto e esclarecido, apesar de não ser uma minoria, NÃO tem força suficiente para destruir as paredes de betão armado da ESTUPIDEZ, que se ergueram ali para os lados de São Bento.
Bem podia a Senhora Dona Isabel, Duquesa de Bragança (como fica mal na imagem, ao lado de algo que envergonha as pedras das calçadas de Lisboa!) seguir as ideias avançadas de Dona Maria II e contribuir para catapultar Portugal, para o século XXI d.C., dando o BOM exemplo, considerando as touradas “um divertimento bárbaro e impróprio de Nações civilizadas”.
A Dona Isabel de Herédia não terá divertimentos mais civilizados para frequentar em Lisboa?
Lisboa NÃO tem uma Casa Da Ópera, mas tem um campo pequeno, onde se torturam Touros, animais sencientes, para divertir gente sem um pingo de empatia, gente sádica, gente sem ética.
A imagem que aqui deixo é absolutamente DEPRIMENTE, e diz do atraso civilizacional em que Portugal ainda está mergulhado, com uma capital troglodita (Lisboa, quem diria!!!!), e uma família real que ainda não saiu da Idade Média, uma vez que sabemos que a origem das touradas remonta à época medieval, em Espanha, havendo registos desses eventos trogloditas no século XII, normalmente para comemorações das família reais.
Mas essa época ficou muito lá para trás. Na Espanha, cada vez mais, as touradas são rejeitadas. Em Portugal, o público escasseia, tendo-se andado por aí a torturar Touros para cadeiras vazias.
Mas em São Bento, onde a LUZ da civilização não consegue entrar, predominam as trevas, e a esmagadora maioria dos deputados da Nação celebra com os membros da família real portuguesa a barbárie de origem espanhola, que se implantou em Portugal, com um rei que se divertia a ver arder pessoas nas fogueiras da Inquisição.
Quanta miséria moral, social e cultural para aqui vai!!!!!!
Isabel A. Ferreira
Um excelente texto de Maria Do Carmo Tinoco publicado no Facebook
«Nero também achava poético ver os cristãos serem devorados e deleitava-se com os que serviam de archote para os jogos na arena.
Tomás de Torquemada também, deveria achar bastante poéticas as fogueiras dos autos de fé e os “artísticos” método usados para extrair as confissões nos calabouços da Inquisição.
Estas práticas tradicionais eram tão apelativas que nos autos de fé e demais execuções as pessoas deleitavam-se de tal forma com o sofrimento dos executados, que marcavam lugar para assistirem, com boa visibilidade, ao “espectáculo”.
Também foi tradição “exportar” pessoas. Eram literalmente agarradas nas suas terras de origem, agrilhoadas e despachadas para onde fosse necessário.
Também foi tradição vendê-las em mercados e feiras.
Dirão que estamos a falar de pessoas, mas lembrem-se que nesta época estas pessoas eram tratadas como animais.
Se estas práticas ancestrais cederam ao avanço da humanidade, por envergonharem quem as praticou, nomeadamente Portugal, no que à escravatura diz respeito em cujos primeiros passos para abolição fomos pioneiros, hoje em dia, estranhamente, deixamos esta nossa característica de pioneiros em questões de humanidade, desenvolvidas durante o Iluminismo, que dominou a Europa do século XVII até aos nossos dias, ficar relegado para um plano que apenas nos embaça o brilho.
Iluminismo, intelectualidade, filosofia, luz, humanidade. Foram grandes dias esses se comparados com o obscurantismo, a violência, o prazer com o sofrimento de seres que são nossos parceiros na jornada, que não foram nascidos para servirem prazeres doentios nem serem instrumentos “da banalidade do mal” que ainda entorpece quem paga para assistir a este flagelo que assola 8 países do Planeta.
O ser humano é o único ser que banaliza o mal, que é capaz de o praticar só porque pode e porque a quem o faz e a quem assiste lhes dá prazer. Alguns morrem neste processo hediondo e os demais chamam-lhes depois heróis. Sabe-se lá sob que dúbia perspectiva é que se vê ali heroísmo. Vê-se dor também, para satisfação dos sádicos das bancadas, que se levantam em urros e brados enquanto um animal fica na arena a escorrer sangue e cheio de dores e outro sai em braços não nas melhores condições a sangrar por dentro para vir depois a morrer vitima de uma suposta coragem embrutecida e nada lúcida que o levou a tentar enfrentar um animal ferido, acossado, dolorido.
Que profunda estupidez e crueldade em tudo isto, que boçalidade. Que inutilidade de vidas desfeitas de forma bárbara numa arena que teve cabimento há 2 mil anos, mas que hoje já não deveria ter.
De que estamos à espera para terminar de vez com esta degradante prática? De que estamos à espera para evoluir? De que estamos à espera para honrar ancestrais que foram mais humanos do que nós? E de que estamos à espera para inverter esta involução que nos agrilhoa e nos torna escravos da boçalidade, da maldade? De que estamos à espera para votar de vez ao esquecimento, poetas/políticos falhados, que nunca conseguiram alcançar a notoriedade com que sonhavam pela sua arte, quer oratória quer escrita?
Maria Do Carmo Tinoco
(No passado dia 13 de Outubro) «a televisão pública portuguesa, que todos pagamos, mostrou "tradições! antigas em directo, tal como a da imagem. A ideia é massacrar touros e sangrá-los para mostrar bravura, segundo dizem, tal como há 300 anos. Além disso, viram-se adultos a picar uma mula para fora da arena (parece que eram os forcados de então). Como classificar este comportamento em pleno século XXI?
Até tenho medo de pensar que outras “tradições” antigas portuguesas a RTP possa decidir passar, sei lá, aquelas da inquisição, da expulsão de homens, mulheres e crianças, ou tão só o famoso 'água-vai' janela fora, do tempo do saudoso penico. Didáctico e cultural, pois então...»
(Adélia Gominho)
Dez cobardes adultos picam uma pobre mula, em directo na RTP1, já denominada Reles Televisão Portuguesa num Blogue...
Fonte:
Para cúmulo, ouvimos que 53%, do orçamento do Ministério da Cultura (ou devemos dizer da Incultura?) vai uma vez mais para a RTP.
A contribuição audiovisual, que os portugueses são obrigados a pagar à força de ficarem sem electricidade em casa, também aumentou.
E para quê? Para transmitirem estes tristes programas terceiro-mundistas numa televisão que se diz ser de serviço público, dirigido a uma sociedade que se diz ser civilizada, num país que se diz ser europeu.
Que mais este governo tem na manga para insultar a inteligência dos Portugueses e esbanjar dinheiros públicos?
Isabel A. Ferreira
Um texto DI...VI...NO...
Uma realidade triste e boçal, do nosso triste e boçal país... muito bem observada...
Vale a pena ler.
Texto de Teresa Botelho
«Açores, Terceira e Touros à Corda»
Eis o maior divertimento, digno da região com o menor grau de escolaridade do país, (último senso do INE) e que é a marca da ignorância e selvajaria a que alguns chamam "cultura e tradição"!
Correr à frente de um animal em stress e num grau de esgotamento que o faz cair e ferir-se, entre os aplausos de uma multidão cujos interesses verdadeiramente culturais se resumem a zero, é sem sombra de dúvidas a vergonha de um pobre país subdesenvolvido, para quem a educação não tem sido prioridade nem interesse.
Se o desejo de mostrar aos turistas, como se diverte um povo, quem vem de fora e por acidente assiste a isto, não se surpreenderá muito pela performance do touro, mas sim pela imagem degradante da plateia obesa, do mulherio desleixado e mal amado, das crianças pequenas penduradas nos muros e cujo abandono escolar é o pão nosso de cada dia, da estúpida alegria dos pés rapados que se exibem em trejeitos imitando coragem, dos ventres oscilantes e avantajados pelo excesso de bebida e da miséria que se repercute na mais baixa esperança de vida desta terra europeia, cujo progresso parou no tempo e no dia a dia à toa dos seus habitantes e onde a taxa de suicídios entre os jovens é das mais altas do país, o que reflecte uma insularidade amorfa e sem horizontes à vista.
Estas "proezas" com touros à corda, são apreciadas nas zonas menos alfabetizadas e esquecidas, também no continente, como por exemplo em Ponte de Lima.
O divertimento desses seres que na presença de um animal indefeso e desorientado, se transformam em trogloditas, embora fortemente contestado pelos conterrâneos mais informados e evoluídos, não encontra o devido eco junto dos poderes locais, a quem estes festejos convêm e até financiam, para que a maioria dos seus brutalizados munícipes, tenham o seu escape de violência gratuita e não a devida lucidez de os contestem nas eleições.
Com rios de álcool e comerciantes contentes, vão-se encontrando Santos para dar o nome a "tradições", ressuscitadas das épocas mais remotas do obscurantismo, com padres exímios na manipulação da ignorância dos seus "rebanhos" iletrados, mas sempre alinhados ao poder, no doentio saudosismo da Inquisição, do Estado Novo e da caça às bruxas.
Assim se vê um país, lá do alto da pirâmide da verdadeira cultura e assim se marcha, na falência de princípios, de valores e deveres para que a todos sejam dadas as mesmas oportunidades, a educação e a cultura a que têm direito e a vida que merecem, mas que pacificamente ainda ignoram...
Fonte Blogue Retalhos de Outono
(Recebido via e-mail)
«Partilho hoje convosco um texto de um querido amigo sobre o Massacre dos Judeus pela Inquisição. Há 510 anos foram mortos 2000-3000 judeus no Largo da Igreja S. Domingos (Lisboa) O actual Teatro D. Maria era a sede da Inquisição na altura. A origem do massacre partiu da comunidade Dominicana da Igreja de São Domingos. Esta igreja ainda hoje tem o Espírito desse passado, que foi “purificado” pelo terramoto e incêndios posteriores. Quem a visita ainda sente a presença de toda esta história e o “cheiro” a carne-sangue-fogo. Visitem esta Igreja e estejam lá (os que conseguirem) em silêncio e reflexão sobre este passado.» Pedro Belo
Texto de Paulo Mendes Pinto
«...Mas o chão cheirava a sangue»
Há uns anos atrás, escrevi, com a Susana Mateus, um pequeno livro sobre o massacre dos judeus em 1506. Passado um tempo de sabático afastamento ao tema duro da morte, regressei através d’O último cabalista de Lisboa de Richard Zimler. Adorei o texto do escritor luso-americano e revivi toda a minha pesquisa feita anos antes, todo o frenesim de escrever o livro, como se de uma “missão” se tratasse.
Há uns dias apanhei um pretexto e fui a S. Domingos, ao espaço onde esse massacre começou há mais de 500 anos. É claro que de 1506 já nada lá podemos encontrar. Tudo é posterior, quer a Igreja dos Dominicanos, quer o Teatro D. Maria, que está mais ou menos onde dantes esteve o Palácio da Inquisição.
Mas o chão cheira a sangue… Como que dando um tom irónico ao local, hoje o largo fronteiro à Ginjinha do Rossio, é dos espaços mais multiculturais da cidade lisboeta. Junto ao Palácio da Independência, como que afirmando que a multiplicidade é a nossa matriz – mesmo para os que a escamoteiam – somam-se os grupos de negros, por vezes em alegre alarde, despreocupados, ou não, em convívio solto que parece multissecular.
Mas não o é, não. Este local foi palco das mais atrozes cenas de violência que podemos imaginar. Não sabemos se morreram 4000 pessoas, judeus, ou se foram menos, uns 2000… enfim, trocos, pequenos pormenores quando se passa o limite do que de exacto o número possibilita.
Nesse dia, vim da Praça da Figueira, onde antes se situava o Hospital de Todos os Santos, instituição que recebeu os bens da Judiaria desmantelada por ordem de D. Manuel aquando do Baptismo Forçado dos Judeus em 1497. Entrei, mesmo junto ao velhinho Braz & Braz no pequeno largo fronteiro à Igreja.
Vi o monumento inaugurado aquando dos Oceanos de Paz, em 2001, com a mensagem do Cardeal Patriarca de Lisboa. De facto, como se matou em nome de Deus!... Vi o mais recente monumento, bilingue, dedicado às vítimas desse 19 de Abril de 1506. Estava com os meus filhos. Contei-lhes tudo.
Entrámos na Igreja que, mais um aspecto irónico, hoje apresenta um tecto como que flamejante, recordando o incêndio que já no século XX a vitimou, mas também, como que rememorando o fogo em que arderam centenas, ou milhares de pessoas às suas portas, sendo que os primeiros mortos desse morticínio foram perpetrados ainda dentro das suas paredes sagradas.
Neste tecto que hoje recorda o fogo, eram pendurados, nos séculos XVI e XVII, os sambenitos com que os sentenciados eram marcados – as vestes rituais que indicavam o crime e a sentença e que, no caso dos “relaxados em carne”, tinha a pintura do rosto do ainda vivo a ser queimado e transformado em morto.
Custou. Ficámos em silêncio. Rodeados por umas dezenas de pessoas - de crentes que, entre o turbilhão do Rossio e a voragem do Martim Moniz, decidira vir orar ou simplesmente recuperar o folgo desse ritmo alucinante da cidade moderna - sentimos o peso de uma solidão indizível. Apenas eu, os meus filhos e a minha companheira, sabíamos que no ar que respirávamos vagueavam as minúsculas partículas de milhares de vivos que contra a sua vontade se transformaram na mais normal cinza.
A cinza, essa, já as águas da chuva-que-tudo-limpa levou para o Tejo, ou não fossem os rios as marcas do esquecimento, os limes que criam barreiras e nos colocam de um lado da margem, dependentes de um barqueiro. Mas a memória, essa não foi por água que foi limpa. Não houve, nem purificação, nem sublimação. É de negação à memória que falo. Sim, esquecimento, na sua mais brutal força.
Quer no Antigo Egipto, quer na Roma Antiga, existiam formas muito bonitas de perpetuar a memória de alguém que morria. Uma delas era pelo nome. Em ambas as culturas, junto aos túmulos, colocavam-se frases e pedir a quem passasse que lesse o nome do morto. Dessa forma, repetindo o nome, dava-se vida.
Hoje, em Lisboa, ainda não conseguimos dar vida a esses nossos mortos que tão aviltantemente foram roubados a este mundo.
Para quando uma lista, um memorial com esses nomes?»
Fonte do texto: http://qeetempus.blogspot.pt/2013/07/mas-o-chao-ja-cheirava-sangue.html
… porque o povinho de Barrancos nasceu e cresceu a achar (porque nem sequer consegue pensar) que o mundo gira à volta da tortura de Touros, que o Estado português promove, e nunca lhe deu a oportunidade de evoluir…
Vejam o que esta imagem nos mostra: umas criaturas (uma até está dependurada de cabeça para baixo, tal deve ser a piela!) que são a negação da espécie humana.
O maior culpado desta incultura, em Barrancos, é o ex-presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, que ficará para sempre ligado a esta selvajaria, pois foi ele que ratificou a lei de excepção que permite a matança cruel de Touros em público, para que os sádicos possam masturbar-se mentalmente ao visualizar o atroz sofrimento de um animal…
E pensar que Jorge Sampaio foi recentemente um dos agraciados na primeira edição do Prémio Nelson Mandela, das Nações Unidas, pelo seu trabalho por um mundo melhor... (um mundo melhor...?).
Eis o mundo melhor que ele deixou ao povinho de Barrancos e a Portugal: uma indignidade!
O Prémio Nelson Mandela ficou, deste modo, conspurcado…
Com toda a certeza, a ONU desconhece esta faceta de aficionado de Touradas, de Jorge Sampaio.
Algo que não abona nada em seu favor, pois uma vez abolida esta selvajaria, todos os que de um modo ou de outro estiveram ligados a ela, ficarão perpetuados no Livro Negro da Tauromaquia, tal como os outros têm o nome escrito a negro nos Livros Negros do Circo Romano, da Escravatura, da Inquisição, do Holocausto Judeu… enfim… em tudo o que era e já não é…
Quando a abolição da tauromaquia acontecer (porque ela vai acontecer e já não falta muito), Jorge Sampaio será recordado, não pelo trabalho que realizou por um mundo melhor, mas porque, ao contrário de fazer evoluir o povinho atrasado de Barrancos, deu-lhe lenha para se queimar na fogueira de um ignóbil costume bárbaro, atirando-o para um tempo anterior ao dos homens das cavernas, que eram muito mais civilizados do que os que hoje se divertem a torturar e a matar seres vivos para se divertirem.
Não culpem o povinho de Barrancos pelo atraso civilizacional em que está mergulhado.
Culpem Jorge Sampaio que o afundou ainda mais no repugnante e desprezível mundinho dos sádicos.
Isabel A. Ferreira
Este é o monumento erguido em homenagem a Spinoza, em Haia, e foi assim comentado por Renan em 1882: «Maldição sobre o passante que insultar essa suave cabeça pensativa. Será punido como todas as almas vulgares são punidas — pela sua própria vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que é divino. Este homem, do seu pedestal de granito, apontará a todos o caminho da bem-aventurança por ele encontrado; e por todos os tempos o homem culto que por aqui passar dirá em seu coração: este foi aquele que teve a mais profunda visão de Deus»…
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Quando perguntaram a Einstein, se acreditava em Deus, respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no deus que se interessa pela sorte e pelas acções dos homens”.
Este foi sempre também o meu Deus, mas só hoje descobri este texto que Spinoza escreveu no século XVII…
Vou transcrevê-lo e dedicá-lo a todos os que praticam a violência, a crueldade e a tortura sobre seres vivos, humanos e não-humanos, para que não digam que ninguém lhes proporcionou a oportunidade de deixarem de ser violentos, cruéis, torturadores, assassinos…
Isabel A. Ferreira
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«Se Deus tivesse falado…»
Texto de Baruch Spinoza (*)
Pára de rezar e bater no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes da tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
A minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. É aí onde Eu vivo e aí expresso o meu amor por ti. Pára de me culpar da tua vida miserável: eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que a tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar o teu amor, o teu êxtase, a tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ler supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes ler-me num amanhecer, numa paisagem, no olhar dos teus amigos, nos olhos do teu filhinho... não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir coisas. Tu vais dizer-me como fazer o meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor. Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso culpar-te se respondes a algo que eu coloquei em ti?
Como posso castigar-te por seres como és, se Eu sou aquele que te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar todos os meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que espécie de Deus pode fazer isso? Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita o teu próximo (todos os seres que criei) e não faças a ele o que não queres que te façam a ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida, que o teu estado de alerta seja o teu guia. Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única de que precisas.
Eu fiz-te absolutamente livre. Não há prémios nem castigos. Não há pecados, nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registo. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não poderia dizer-te se há algo depois desta vida, mas posso dar-te um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse a tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza de que Eu não vou perguntar-te se foste comportado ou não. Eu vou perguntar-te se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas a tua amada, quando agasalhas a tua filhinha, quando acaricias o teu cão, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que me agradeçam. Tu sentes-te grato? Demonstra-o cuidando de ti, da tua saúde, das tuas relações, do mundo. Sentes-te olhado, surpreendido? Expressa a tua alegria! Esse é o jeito de me louvar. Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para quê tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti... É aí que estou a acenar-te…
***
(*) Estas palavras foram escritas por Baruch (Benedito) Spinoza, que nasceu em 1632 em Amsterdão, no seio de uma família judaica portuguesa, que fugiu da Inquisição em Portugal, e faleceu em Haia em 21 de Fevereiro de 1677. É considerado o fundador do Criticismo Bíblico Moderno.
E o Touro, que era branco, pintou-se de vermelho do sangue que lhe escorre das entranhas...
Crónica
Até que ponto, em nome da “cultura” de um país, devemos aceitar, de braços em riste e com um sorriso escancarado, a tortura e a morte de um animal indefeso?
Texto de Ana Chaves • 03/05/2012 - 16:46
No passado domingo, dia 29 de Abril de 2012, o cavalo Xelim de Rui Fernandes morreu durante a corrida Real Maestranza, em Sevilha, vítima de uma cornada tão violenta que lhe deixou as vísceras de fora. Posto isto, Rui Fernandes, digno de um notável respeito pela vida animal, decidiu matar o touro, cortando-lhe uma orelha, com petição de segunda.
Disseminada a imagem em que o toureiro segurava a orelha do touro que acabara de sacrificar, os comentários na página oficial de Facebook do próprio começavam a multiplicar-se. Se para uns gerava a mais profunda comoção pela perda de um animal “tão nobre quanto o cavalo”, lia-se por lá, por outro, a indignação multiplicava-se na caixa de comentários do “herói” da Caparica. Mas as críticas não haviam de lá permanecer por muito tempo, mesmo as não insultuosas.
Crendices seculares, tradição, herança cultural ou simples desfile cruel e venal, a tourada representa uma das facetas mais sombrias da natureza humana.
O que muitos não sabem (ou fingem não saber) – e atenção que isto pode conter “spoilers”! – é o que se passa antes da cena que move os aficionados à praça. Cerca de 24 horas (muitas vezes mais) antes da tourada, o touro é colocado num recinto minúsculo, fechado, sendo privado de água e comida, ao mesmo tempo em que lhe são colocados pesos hiperbólicos nas costas e administrados laxantes que originam a rápida desidratação.
Como se isso não bastasse, e não raras vezes, as pontas dos cornos são serradas, ficando o animal sensível ao mais leve toque, agudizando a sua dor. Para além disto, os olhos são molhados com um líquido que lhe dificulta a visão. É assim que o touro, debilitado, é levado para a praça. É assim que o touro é, ainda, perfurado por bandarilhas que lhe dilaceram as entranhas para gaúdio e regozijo de muitos.
E antes que as críticas a esta crónica se iniciem, parece-me pouco justo dizer que a tourada é similar à exploração de gado para consumo, ao negócio das peles, ou outros que tais. Há ainda quem diga que se não fossem os toureiros já não existiam touros, dada a extinção da raça tourina brava. Esta afirmação está na mesma linha de raciocínio de que quem defendia as vítimas de tortura era o torcionário.
Mas se queremos manter as tradições, voltemos à Inquisição e à morte na fogueira, voltemos ao Circo Romano onde os cristãos cantavam, sem temor, enquanto aguardavam a morte.