Um excelente texto de Maria Do Carmo Tinoco publicado no Facebook
«Nero também achava poético ver os cristãos serem devorados e deleitava-se com os que serviam de archote para os jogos na arena.
Tomás de Torquemada também, deveria achar bastante poéticas as fogueiras dos autos de fé e os “artísticos” método usados para extrair as confissões nos calabouços da Inquisição.
Estas práticas tradicionais eram tão apelativas que nos autos de fé e demais execuções as pessoas deleitavam-se de tal forma com o sofrimento dos executados, que marcavam lugar para assistirem, com boa visibilidade, ao “espectáculo”.
Também foi tradição “exportar” pessoas. Eram literalmente agarradas nas suas terras de origem, agrilhoadas e despachadas para onde fosse necessário.
Também foi tradição vendê-las em mercados e feiras.
Dirão que estamos a falar de pessoas, mas lembrem-se que nesta época estas pessoas eram tratadas como animais.
Se estas práticas ancestrais cederam ao avanço da humanidade, por envergonharem quem as praticou, nomeadamente Portugal, no que à escravatura diz respeito em cujos primeiros passos para abolição fomos pioneiros, hoje em dia, estranhamente, deixamos esta nossa característica de pioneiros em questões de humanidade, desenvolvidas durante o Iluminismo, que dominou a Europa do século XVII até aos nossos dias, ficar relegado para um plano que apenas nos embaça o brilho.
Iluminismo, intelectualidade, filosofia, luz, humanidade. Foram grandes dias esses se comparados com o obscurantismo, a violência, o prazer com o sofrimento de seres que são nossos parceiros na jornada, que não foram nascidos para servirem prazeres doentios nem serem instrumentos “da banalidade do mal” que ainda entorpece quem paga para assistir a este flagelo que assola 8 países do Planeta.
O ser humano é o único ser que banaliza o mal, que é capaz de o praticar só porque pode e porque a quem o faz e a quem assiste lhes dá prazer. Alguns morrem neste processo hediondo e os demais chamam-lhes depois heróis. Sabe-se lá sob que dúbia perspectiva é que se vê ali heroísmo. Vê-se dor também, para satisfação dos sádicos das bancadas, que se levantam em urros e brados enquanto um animal fica na arena a escorrer sangue e cheio de dores e outro sai em braços não nas melhores condições a sangrar por dentro para vir depois a morrer vitima de uma suposta coragem embrutecida e nada lúcida que o levou a tentar enfrentar um animal ferido, acossado, dolorido.
Que profunda estupidez e crueldade em tudo isto, que boçalidade. Que inutilidade de vidas desfeitas de forma bárbara numa arena que teve cabimento há 2 mil anos, mas que hoje já não deveria ter.
De que estamos à espera para terminar de vez com esta degradante prática? De que estamos à espera para evoluir? De que estamos à espera para honrar ancestrais que foram mais humanos do que nós? E de que estamos à espera para inverter esta involução que nos agrilhoa e nos torna escravos da boçalidade, da maldade? De que estamos à espera para votar de vez ao esquecimento, poetas/políticos falhados, que nunca conseguiram alcançar a notoriedade com que sonhavam pela sua arte, quer oratória quer escrita?
Maria Do Carmo Tinoco
Esta, veio de França… um país que já foi o centro do Iluminismo***
Eis um vídeo que mostra um touro jovem a quem cortaram as orelhas ainda em vida (4life Anti-tauromaquia)
*** O Iluminismo foi um movimento cultural da elite intelectual europeia do século XVIII que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval. Abarcou inúmeras tendências e, entre elas, buscava-se um conhecimento apurado da Natureza, com o objectivo de torná-la útil ao homem moderno e progressista.
Originário do período compreendido entre os anos de 1650 e 1700, o Iluminismo foi despertado pelos filósofos Baruch Spinoza (1632-1677), John Locke (1632-1704), Pierre Bayle (1647-1706) e pelo matemático Isaac Newton (1643-1727).
Vive la France!
Este é um passo evolutivo bastante significativo.
A França (do Iluminismo) andava a vaguear nas trevas a este respeito: ter como Património Cultural a tortura de seres vivos para divertir os sádicos?
Crédit photo : Viviane De SSP
O CRAC Europa - o Comité Radicalmente Anti Corrida (de Touros) - e a Associação Direitos dos Animais lutaram durante vários anos para revogar o registo das touradas como Património Cultural Imaterial da França.
Esta quinta-feira, 4 de Junho de 2015, esta contestação deu os seus frutos: o Tribunal Administrativo de Apelação de Paris deu-lhes razão!
«Esta é a primeira grande vitória na luta anti-touradas durante pelo menos 15 anos!», disse ao Planète Animaux (Planeta Animal) Jean-Pierre Garrigues, presidente do CRAC Europa.
Congratulamo-nos com este triunfo, esperando que os tribunais portugueses aprendam alguma coisa, em questões civilizacionais, com os seus parceiros franceses.
Fonte:
A pergunta a fazer é: porquê?
«As touradas existiram em praticamente toda a Europa medieval.
Com o iluminismo desapareceram de todos os países mais desenvolvidos ficando os resíduos dessa tradição na Península Ibérica. Facto que mereceu muitas críticas em Portugal ao longo dos séculos XVIII e XIX por parte de várias personalidades, como foi o caso de Alexandre Herculano:
"Espectáculo de eras bárbaras (as touradas) que a civilização desenvolvendo-se gradualmente por algumas civilizações, ainda não pode desterrar da Península" - Alexandre Herculano. Jornal do Comércio de 15 de Setembro de 1874.»
Agostinho Rio Novo
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