Um pertinente texto de José Ormonde, oriundo dos Açores
(Bandeira do Espírito Santo)
Os defensores das touradas à corda, nomeadamente aqueles que querem que aquela brutalidade seja considerada património imaterial da humanidade, pretendem fazer crer que não há festas do Espírito Santo sem touradas à corda.
Se formos às origens das festas do Espírito Santo em Portugal Continental ou mesmo nas várias ilhas dos Açores facilmente se concluirá que tal não corresponde à verdade. Com efeito, consulte-se os micaelenses Armando Corte Rodrigues ou Aníbal Bicudo e não verão qualquer referência a touradas nas festas do Espírito Santo. De igual modo, sendo a introdução das touradas em São Jorge e na Graciosa datadas do século passado, a partir da Terceira, prova-se que só passou a haver associação entre as duas coisas a partir de então.
Na ilha de São Miguel, sendo a reintrodução das mesmas mais recente, também se confirma que só por oportunismo da indústria tauromáquica e falta de fé, de compaixão, de educação e de escrúpulos, por parte dos mordomos de algumas irmandades é que se associam impérios do Espírito Santo a touradas à corda que até, em abono da verdade, não o são.
Se formos à ilha Terceira, onde as duas coisas parecem estar intimamente associadas, a verdade é que tal se deve ao oportunismo da indústria tauromáquica que se aproveita da ingenuidade, da deseducação e do vício das pessoas para sacar dinheiro. A confirmar o mencionado, o insuspeito historiador terceirense Frederico Lopes, no seu livro Notas Etnográficas, afirmou que as touradas à corda são o “remate certo de todas as festas, quer religiosas quer profanas”.
Como afirmou Frederico Lopes a indústria tauromáquica também associou touradas às festas do Espírito Santo, mas como se verá a seguir nem sempre às de corda. Com efeito, uma consulta ao jornal “O Angrense”, que se publicou na ilha Terceira entre 1836 e 1910, verifica-se que se realizavam touradas de praça para apoiar impérios e claro os ganadeiros e outros.
A título de exemplo, abaixo transcrevemos as seguintes notícias:
“Realiza-se amanhã, 30, uma corrida de touros, na praça de São João em benefício do Espírito Santo de S. João de Deus” (O Angrense, 3 de Agosto de 1874).
“Deve realizar-se, no próximo domingo, a corrida de touros, na praça de S. João, em benefício do Império dos Quatro Cantos”(O Angrense, 31 de Outubro de 1875).
Embora desconheçamos mais pormenores, parece-nos que no passado há algo de diferente com o que se passa hoje. Assim, se no passado as touradas, embora condenáveis, eram de beneficência, isto é, em princípio destinavam-se a financiar os impérios, hoje, com a inclusão das touradas nos programas dos impérios o objectivo é precisamente sacar dinheiro dos irmãos ou da irmandade, que se devia destinar à solidariedade com os mais desfavorecidos, para o entregar a uma indústria anacrónica e imoral.
Face ao exposto, por que mantém um silêncio cúmplice a hierarquia da Igreja Católica?
Açores, 26 de Maio de 2016
José Ormonde
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(AVISO: uma vez que a aplicação do AO/90 é ilegal, não estando efectivamente em vigor em Portugal, este texto foi reproduzido para Língua Portuguesa, via corrector automático).
Acabei de receber esta fotografia relacionada com o desfile de animais durante as Festas do Espírito Santo. No caso concreto, a fotografia foi tirada na Rua do Penedo, em Vila Franca do Campo, ilha de São Miguel, Açores.
Não será possível realizar festas sem fazer sofrer animais? A igreja católica tem a certeza de que o Espírito Santo aplaudirá esta barbárie?
Isto é a maior demonstração do atraso civilizacional em que ainda está mergulhado o arquipélago dos Açores, em pleno século XXI depois de Cristo.
Touro a sangrar na Rua do Penedo - Vila Franca do Campo (Açores) tinha uma argola enfiada nas narinas. Isto será coisa de gente civilizada?
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Eis a minha resposta às várias dezenas de comentários que fizeram a esta publicação:
Açorianos, esta é a vossa "cultura" que tanto defenderam nos comentários que me enviaram…
Isabel A. Ferreira
Que diferença de postura civilizacional!
Tourada à corda nos Açores
E AGORA, NA ILHA DE SÃO MIGUEL, INTRODUZIRAM MAIS ESTA ESTUPIDEZ, COMO SE O RESTO JÁ NÃO BASTASSE PARA DESQUALIFICAR O TURISMO AÇORIANO
Um duplo atentado: aos Direitos das Crianças e aos Direitos dos Animais Não-Humanos.
A todas as pessoas singulares ou colectivas, solicita-se o envio do correio electrónico, abaixo dirigido à directora regional da educação do Governo regional dos Açores.
Muito obrigada.
Enviar para:
Cc: apacores@gmail.com, cantinhoanimaisacores@hotmail.com, acoresmelhores@gmail.com
Exmos. Senhores,
Através da comunicação social tomámos conhecimento de um anúncio onde se mencionava a exibição de um circo “dentro do ginásio de uma escola” na freguesia dos Ginetes, na ilha de São Miguel (Açores).
Confirmando o que o senso comum nos induz, na recente Declaração de Cambridge sobre a consciência, assinada por uma plêiade dos mais competentes cientistas, afirma-se que muitas espécies animais, incluindo os mamíferos e as aves, além de serem seres sencientes, são seres conscientes, muito à semelhança dos seres humanos.
A utilização de animais em espectáculos circenses é cada vez mais condenada pelas sociedades contemporâneas. A utilização de animais para entretenimento já não faz qualquer sentido nos tempos que correm.
Existem muitas razões para esta tomada de posição, nomeadamente, as condições inadequadas de cativeiro a que os animais são submetidos, o uso de violência nos treinos e condicionamento dos animais, a privação de liberdade e de contacto com membros da sua espécie, entre outras.
Uma outra razão que conduz a este repúdio prende-se com o facto dos supostos objectivos educacionais, resultantes da exibição de animais em actividades circenses, junto das crianças e jovens, falharem por completo. Quando as crianças e jovens observam os animais a “actuarem” num circo não são levados a reflectir sobre a importância da protecção das espécies selvagens em liberdade. Muito pelo contrário.
Os animais utilizados nos circos são submetidos a restrições físicas e sociais graves, na medida em que estão privados de viver no seu meio ambiente natural e de interacção com outros animais da mesma espécie. Estes animais são coagidos a ter comportamentos muito distintos dos que habitualmente têm no seu meio ambiente natural, pelo que, nos circos com animais, as crianças e jovens assimilam e interiorizam que é normal e socialmente aceite privar os animais da sua liberdade apenas para o nosso divertimento.
Os animais não escolheram ser artistas de circo e não é desta forma que queremos que as nossas crianças e jovens os vejam.
Tendo tomado conhecimento que o Circo Família Cardinali exibe animais selvagens em escolas, e por todas as razões acima descritas, vimos, por este meio, manifestar a nossa desaprovação na utilização de animais em actividades circenses e, particularmente, na sua exibição em estabelecimentos escolares cuja população-alvo preferencial são crianças e jovens.
Cumprimentos,
Isabel A. Ferreira
Fonte: «AÇORES MELHORES»
No próximo dia 7 de Julho está programada uma TOURADA À CORDA, Junto à Igreja Paroquial, integrada no programa das festas da Nossa Senhora da Luz, na paróquia da Pedreira, concelho de Nordeste na Ilha de São Miguel.
Primeiro isto é um DESRESPEITO à Santa que, de tão amargurada, nem consegue ILUMINAR os espíritos POBRES que vivem nesta localidade.
E o Senhor Padre? O que diz o Senhor Padre?
O Senhor Padre está naturalmente do lado da Igreja Católica, que sempre foi cúmplice destas e de outras barbaridades.
Mas a Nossa Senhora da Luz não APROVA uma iniciativa de tortura contra um SER VIVO. De outro modo não seria SANTA.
Então vamos apelar à CONSCIÊNCIA do Senhor Padre para que não permita que tal crueldade se realize em HONRA de Nossa Senhora da Luz (logo em honra de Nossa Senhora da LUZ!)
Sr. Padre Agostinho:
Considerando a crise socioeconómica em que os Açores estão mergulhados, à qual não ficam imunes as paróquias que se debatem com falta de recursos;
Considerando que não há tradição de touradas em S. Miguel e, mesmo que houvesse, não há tradição ou divertimento que justifiquem o sofrimento e maus-tratos a um animal, como é o caso da tourada;
Considerando que a Igreja Católica deveria ter uma posição clara de OPOSIÇÃO às touradas, que foram condenadas e proibidas pelo Papa Pio V, que as considerava como espectáculos alheios de caridade cristã;
Considerando que as touradas em nada contribuem para educar os cidadãos e cidadãs para o respeito aos animais, além de causarem sofrimento aos mesmos e porem em risco a vida das pessoas;
Considerando que a tourada à corda prevista para a Pedreira vem conspurcar as respeitadas festas da Nossa Senhora da Luz,
Vimos apelar a V. Revª. para que intervenha junto de quem de direito para que retire do programa a referida tourada, que poderá originar sofrimento, sem qualquer justificação, aos animais, e que se use com parcimónia o dinheiro esbanjado para o efeito.
Senhor Padre Agostinho, que Nossa Senhora da Luz o INSPIRE.
Com os melhores cumprimentos,
Isabel A. Ferreira