Era o dia 22 de Novembro de 2008.
E o Poeta morreu.
Retrato de A. Monteiro dos Santos, por TEREZA
Na véspera tinha estado no Hospital de Vila do Conde a visitá-lo. A última visita. O último adeus. Ele estava numa espécie de coma, já envolto naquela luz que orienta as almas no caminho até ao outro lado.
Não sei se me ouviu, mas despedi-me dele com “um até um dia, amigo, e que encontres a serenidade que tanto procuraste em vida”.
É sempre muito triste despedirmo-nos de alguém que parte.
A António Monteiro dos Santos devo o meu conhecimento e afecto que me ligou a Vila do Conde, à sua História, aos seus Poetas, a José Régio e família (o irmão Apolinário, e sobrinhos com quem privei). A Vila do Conde para onde fui dar aulas, no ano lectivo de 1973/74, na Escola Frei João de Vila do Conde, era ainda Bacharel.
Mais tarde, já como Correspondente dos Jornais «O Primeiro de Janeiro» e «O Comércio do Porto» conheci António Monteiro dos Santos, na Biblioteca Municipal, onde fui buscar o conhecimento das coisas de Vila do Conde.
Ele era um poço de saber. Um excelente paleógrafo. Pedi-lhe ajuda para que me introduzisse na História da cidade, da sua gente, dos seus hábitos, e o que Monteiro dos Santos me ensinou fez-me apaixonar por «Vila do Conde espraiada/entre pinhais, rio e mar!» (José Régio).
Depois veio a Poesia: «Por Ti Pintei a Lua» e “Se Eu Fosse Dono da Vida», sob o nome de Dário Marujo, «um nome que cheira a docas, um nome que cheira a cais», um nome que vem do tempo em que era Marinheiro, “filho de um mar de gaivotas»…
É de “Se Eu Fosse Dono da Vida”, com uma pintura (de Carlos Touguinhó) o poema «Até Onde» com que direi uma vez mais: «Até um dia, amigo»…
«ATÉ ONDE»
Até onde nos vai levar
Esta poesia? Se for feia e agreste
Como rigoroso dia de Inverno
O mais certo é que nos leve
À profundeza do inferno.
Se dor quente como o Verão,
Se cair nos lábios como mel,
Se souber a mosto,
Se for radiosa,
Como o sol de Agosto,
Se for nossa
Se falar de nós,
Se for sem véu,
Há-de levar-nos ao céu.
***
Lamento que Vila do Conde ainda não tenha celebrado este seu Poeta.
Isabel A. Ferreira