Por uma Cultura Culta, em Portugal
Exmo. Senhor Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa
Digníssimo Presidente da República Portuguesa,
Foram várias as vezes que ousei escrever a V. Excelência, abordando, publicamente, matérias que, aos meus olhos de cidadã portuguesa, imbuída de juízo crítico, considerei pertinentes, por serem do interesse de Portugal e dos Portugueses.
Aqui estou, uma vez mais, a dirigir-me a V. Excelência, com o mesmo intuito, aproveitando duas circunstâncias actuais, bastante significativas: uma, de enorme júbilo; outra, de enorme tristeza.
A de júbilo, alude à atribuição do Prémio Camilo Castelo Branco/2017, à insigne escritora portuguesa, Teolinda Gersão que, há tempos, dirigiu ao Senhor Presidente, as palavras reproduzidas na imagem que ilustra esta carta, e que, já agora, aproveito, para fazer também minhas.
A atribuição deste prémio a uma das vozes críticas à imposição, que V. Excelência sabe ser ilegal e inconstitucional, da ortografia brasileira aos Portugueses, nomeadamente às crianças portuguesas, as mais enganadas e prejudicadas com esta atitude incompreensível à luz de todas as razões, além de ser merecida, do ponto de vista literário, pois Teolinda Gersão é uma fabulosa artesã da Língua Portuguesa, constitui uma bofetada bem assente na cara de todos aqueles que, por motivos obscuros, teimam em trocar a qualidade pela quantidade, estando, com isto, a servir de pasto à ignorância, se me permite esta expressão menos erudita.
A de tristeza, diz respeito à tragédia dos fogos que consumiram vidas humanas a fauna e flora portuguesas, de um modo brutal, irracional, inconcebível, jamais visto, e que deixou a Europa e o mundo estupefactos. Como é que num país territorialmente tão pequeno, foi possível uma tragédia desta dimensão? Mais um caso único português, para o Guinness World Records.
Pois bem, Senhor Presidente da República Portuguesa, foi com grande expectativa que, ontem, aguardei a comunicação de V. Excelência, ao País. Devo confessar que esperava mais do mesmo, como é hábito dos nossos governantes, que não costumam dar-nos nada de novo, muito pelo contrário.
Mas ontem, ontem, dia 17 de Outubro de 2017, precisamente quatro meses passados sobre a tragédia de Pedrógão Grande, o senhor surpreendeu Portugal com o discurso mais notável, jamais proferido, por um Presidente da República Portuguesa, um discurso realmente digno de um Presidente da República Portuguesa, no qual demonstrou a força e o poder que um Presidente da República pode e deve ter, quando o País está à beira de se afundar num abismo de incompetências, de jogos de poder, de incapacidades, de um “brincar à política” nunca visto.
Ontem, o Senhor Presidente demonstrou ser o Presidente de todos os Portugueses quando, humildemente, pediu desculpas, sem ter culpas, pela tragédia sem precedentes, que se abateu sobre Portugal, atitude que o primeiro-ministro de Portugal não teve.
Pela primeira vez, um Presidente da República fez cair um governante que, ao que parece, já teria pedido a demissão, mas não a aceitaram, porque enquanto os “canhões” estivessem virados para o Ministério da Administração Interna, o primeiro-ministro continuaria em segurança.
Foi então que eu, e talvez milhares de Portugueses, com o mesmo sentido crítico e cívico, nos apercebemos de que se o Presidente da República quer, o Presidente da República pode, ou seja, ontem, V. Excelência mostrou que tem poder para influir na governação do país, quando ele está desgovernado.
Posto isto, e uma vez que Portugal está no mau caminho, no que respeita a outros Ministérios, como por exemplo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (que é mais dos negócios dos estrangeiros, e tem Portugal suspenso por um fio de teia de aranha sob um abismo, no que respeita à Língua Oficial Portuguesa, que o PR tem o dever de defender); o Ministério da Cultura (que não sabe distinguir Cultura Culta de cultura inculta, e anda por aí a apoiar, para vergonha de Portugal, a selvajaria tauromáquica); o Ministério da Educação (que anda a enganar as crianças portuguesas, exigindo-lhes que aprendam uma ortografia que não é a portuguesa), para falar apenas nos que mais disparates têm feito, no que respeita à Língua, à Cultura e ao Ensino, três pilares que sustentam a alma portuguesa, porque nem só de pão vive o homem, venho solicitar ao Senhor Presidente, e tenho certeza, em nome de milhares de Portugueses que, da mesma forma que ontem veio a público, exercer o seu poder, para defender Portugal do descalabro total, e para que não tenha de vir novamente a público pedir perdão aos Portugueses, desta vez, com culpas redobradas, por ter deixado “queimar” a Língua Portuguesa, num fogo tão endoidecido, como o que fez arder mais de uma centena de Portugueses, uma vastíssima área das nossas florestas, incluindo o Pinhal de Leiria, património português, a nossa fauna, morta aos milhares, fábricas, culturas agrícolas, o que tornou Portugal muito mais pobre e negro, venha a público, defender também, com igual força e poder, a Língua Oficial Portuguesa, a Língua Portuguesa, consignada na Constituição da República Portuguesa, e que o Presidente da República Portuguesa tem o supremo dever de defender.
Senhor Presidente, V. Excelência sabe como a Língua Portuguesa anda por aí espezinhada, mal escrita, mal falada, mal ensinada. É que, em Portugal, não se escreve nem em Português, nem em acordês, mas sim num vergonhoso mixordês, que é isto mesmo que anda por aí a circular, como língua de uma nação europeia, um daqueles casos únicos, que fez entrar Portugal para o Guinness World Records.
Em Portugal, está-se a formar uma geração de semianalfabetos, aqueles que aprenderão os rudimentos da escrita e da leitura, mas nunca serão capazes de escrever, ler e compreender o que lêem, corrente e correctamente, a sua própria língua. Mas estão a aprender a escrever e a ler correctamente o Inglês, o Francês e o Castelhano, por exemplo.
E V. Excelência sabe que tenho razão. Basta olhar à volta, na nossa comunicação social (felizmente nem toda), e nos ofícios e mensagens estatais, tudo rabiscado na mais vergonhosa e pobre ortografia.
Aguardo, aguardamos todos, que V. Excelência use do poder que ontem demonstrou ter, para recomendar a demissão do MNE, do MC e do ME, porque não estão a servir Portugal, mas tão-só os interesses de grupos económicos obscuros.
Com os meus mais respeitosos cumprimentos,
Isabel A. Ferreira
Mortos, demasiados mortos, contando com os animais não-humanos; feridos, demasiados feridos; fogos, demasiados fogos para um só dia; habitações destruídas, demasiadas habitações; zonas agrícolas, zonas florestais, zonas industriais… tudo demasiado, tudo devastado por um fogo demasiado estranho…
Falhas, demasiadas falhas, de quem não podia falhar…
E os governantes sacodem a água do capote, julgando que com os pingos que caem do capote podem apagar este fogo que devora Portugal!
Origem da imagem:
http://aurinegra.pt/periodo-critico-de-incendios-prolongado-ate-15-de-outubro/
O que está a acontecer no nosso país é demasiado grave. Ontem ouvi um comentador da SIC dizer que “temos florestas a arder, em Portugal, por interesses…».
Sabemos que sim. E o que se fez e o que está a fazer-se para esmagar esses interesses?
E o que tem a dizer a ministra da Administração Interna e o primeiro-ministro de Portugal em relação a estes interesses e a tudo o resto que está a acabar com a flora e a fauna portuguesas e a destruir vidas humanas e bens?
Braga - 15 de Outubro de 2017
(Origem da foto:)
Há muitas coisas horríveis a acontecer em Portugal, sem que se encontre responsáveis… As coisas acontecem simplesmente, porque sim?
Hoje, ouvi Jaime Marta Soares, presidente da Liga Portuguesa de Bombeiros, dizer que Portugal “tem um inimigo muito forte – a Natureza”! Engana-se, senhor Jaime Marta Soares. A Natureza é que tem um inimigo muito forte e destrutivo – o homem-predador, governantes incompetentes...
Mas ouve-se dizer que todos são muito competentes… E se com todas as competências tudo falhou, o que seria se não fossem competentes?... O certo, certo, é que o FOGO é mais poderoso do que todos os “competentes” juntos, e disto os homens devem tirar as suas conclusões.
Nunca em Portugal se viveu um tal inferno, como este ano de 2017, o ano de todos os incêndios; o ano de todos os descalabros; o ano de todas as falhas; o ano de todas as irresponsabilidades; o ano de todas as incompetências, mas tudo isto já vem de longe, vem de outros governos, de outros ministros....
E não venham dizer que a culpa é apenas das alterações climáticas, deste calor extemporâneo, deste fogo que surge pela calada da noite… sem avisar…
Vieira de Leiria – 15 de Outubro de 2017
(Fonte da imagem)
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Temos de procurar os culpados não só entre o actual governo, como nos anteriores, e nos incompetentes ministros da Agricultura; na falta gritante de uma política florestal; no desleixo do povo português, no que respeita à limpeza das suas propriedades; na protecção ao lobby madeireiro; à falta de preparação dos bombeiros portugueses, que apagam fogos florestais com os mesmos meios com que apagam fogos urbanos. E tudo isto junto configura um crime para o qual não tem havido castigo. E os incendiários são detidos, para depois serem devolvidos à sociedade por juízes que não viram as suas casas a arder, e voltarem a incendiar.
Entretanto, Portugal desguarnece-se das suas florestas, e despovoa-se da sua fauna…
(Fonte da imagem)
É impossível ficar indiferente a esta descomunal incompetência. O relatório de Pedrógão Grande arrasa com a estratégia do governo de António Costa, que tem andado a brincar aos governantezinhos, e não só no que respeita a esta matéria, mas em muitas outras, facto que põe Portugal no Guinness World Records de Casos Únicos.
Marinha Grande -15 de Outubro de 2107
(Fonte da imagem)
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É urgente pôr Portugal no caminho da lucidez.
É urgente parar de brincar aos governantes, e andar por aí aos beijinhos e aos abraços e a dançar e a tirar selfies, enquanto Portugal arde num fogo literalemente dos infernos.
Isabel A. Ferreira