Repare-se na quantidade de bandarilhas que ferem o corpo do Touro, dorso rasgado, a sofrer dores horrorosas... E o Nuno Carvalho, ali, diante de um Touro ferido, desconhecia que seria a última vez que poderia utilizar as suas pernas... Isto não bastaria para acabar hoje mesmo com esta aberração?
«Devido à fatalidade que ocorreu no dia 30 de Agosto de 2012, na praça de toiros do Campo Pequeno, o forcado Nuno Carvalho "Mata", ficou com diversas lesões das quais ainda não se conhece um relatório médico definitivo.
No entanto o caminho será longo e para que seja possível a sua recuperação e para que possa ter uma vida digna, foi aberta uma conta no banco BPI (nib - 0010 0000 4861967000104), a qual está aberta de forma a que qualquer cidadão possa contribuir com o seu donativo.
Devido à urgência da situação, a conta não está filiada a nenhuma associação, no entanto esperamos com a maior brevidade poder constituir essa mesma associação de forma a que este projecto de recuperação ganhe formas credíveis e mais eficazes.
Em nome de todo o GFA Aposento da Moita agradecemos mais uma vez todo o apoio que o "Mata" tem recebido.
GFA Aposento»
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Estou aqui a “remoer” estas palavras, e a pensar naquilo que sou. Abomino a vingança. Não aplaudo as desgraças que acontecem aos outros, muito menos a jovens que poderiam ter optado por viver com honra, e preferiram a desonra.
Este jovem, Nuno Carvalho, de apenas 26 anos, escolheu ir massacrar Touros moribundos para uma arena. Nunca pensou que pudesse acontecer-lhe algo assim: ficar paraplégico o resto da vida, apenas porque entendeu que “valentia” era colocar-se diante de um Touro ferido, o qual reuniu as últimas forças que lhe restavam para, legitimamente, se defender dos seus carrascos.
Este jovem não mediu as consequências da sua escolha de vida.
Porém, o que lhe aconteceu deveria servir de exemplo a todos os outros que ainda teimam em repetir a “proeza”. E se por uma sorte do destino, o Nuno Carvalho viesse a recuperar a sua saúde, iria novamente para a arena, massacrar Touros moribundos.
Até ao momento, não houve sequer um rasgo de arrependimento, por parte dele. Que se saiba. Até já se ouviu falar em realizar uma tourada para “angariar fundos” para ajudar o Nuno. Espero que tenham o bom senso de não o fazer.
Infelizmente o que faz o Grupo de Forcados a que ele pertencia?
Em vez de emitir um comunicado a expressar a inutilidade desta actividade, e terminar com ela, em homenagem ao colega que ficará paraplégico, em nome da cretinice, vem fazer um “peditório” para ajudar o tratamento do Nuno, que sim, tem todo o direito de ser ajudado.
Contudo, o dinheiro para ajudar este jovem, na sua desgraça, devia sair dos bolsos dos governantes que apoiam estas práticas, com as suas leis obtusas; da igreja católica que os abençoa; e dos ganadeiros que os exploram.
Estes é que são os verdadeiros culpados da situação do Nuno Carvalho. É a estes que se deve pedir explicações. São estes que permitem que jovens forcados e torcionários morram ou fiquem paraplégicos ou deformados, em nome dos interesses económicos de uns poucos, numa actividade grosseira, primitiva, nada condizente com uma sociedade da era da exploração espacial. Põe-se os pés de um homem na Lua, mas ainda se fica paraplégico, por massacrar Touros moribundos, numa arena.
Os ganadeiros são ricos. A igreja católica é rica, os governantes ganham bem, eles é que têm a obrigação de ajudar quem eles permitiram que se colocasse em risco de vida.
São estes que devem abolir imediatamente estas actividades ignaras que atiram jovens (e este não é o primeiro) para uma cadeira de rodas.
Tenho muitas dúvidas se deveria contribuir para este “peditório”, quando há tanta gente para ajudar, neste momento de crise, com alimentos, e que nunca fizeram mal algum a ninguém, e são vítimas de um sistema podre. Fora a ajuda que também se tem de dar aos animais abandonados, porque esse sistema podre não funciona.
Tenho as minhas dúvidas. Preciso “remoer” um pouco mais as palavras deste “peditório”.
Acho que ninguém pretende vingar-se ao ponto de desejar tão triste sorte a um jovem, que teve a infelicidade de não saber ou de não lhe terem dado a oportunidade de saber, que torturar seres vivos não pode ser uma opção de vida.
Mas quando fazemos uma opção, temos de saber ser responsáveis pelas consequências dessas opções.
Espero que este jovem possa viver o resto da sua vida com a consciência tranquila... de quem fez a coisa certa, mas teve azar.
E aqueles (os governantes, a igreja católica e os ganadeiros) que durmam também em paz, se puderem, depois de terem atirado para uma cadeira de rodas um jovem que fez a opção que fez, porque existe uma lei que o PERMITE.
Isabel A. Ferreira