O exercício que constava num livro escolar de Físico-Química pedia a alunos do 9º ano (portanto, a crianças de pouca idade) que fizessem um cálculo baseado nesta formulação: «O Diogo largou um gato da varanda do seu quarto, situada a cinco metros do solo»
(Supõe-se que o Diogo seja um menino).
A Areal Editores (responsável pela publicação deste livro) já pediu desculpa por esta irracionalidade, que não deveria ter acontecido, mas aconteceu, e diz que já retirou este exercício do livro.
A Razão, a Moral, a Ética e a Civilização agradecem.
A formulação pedia às crianças que indicassem qual a intensidade da força aplicada durante a queda e o valor da velocidade se atirassem um gato a uma altura de cinco metros.
Um gato?
Por que será que ao autor deste exercício não ocorreu atirar pela varanda uma outra “coisa” qualquer? Sim outra “coisa”, porque um gato em Portugal ainda é considerado uma “coisa”, se bem que uma “coisa” viva e senciente. Por que escolheu um gato, que até poderia ser de porcelana, de barro, de qualquer outro material, mas… ao que parece era um gato, assim… de carne e osso, sangue quente, sistema nervoso central, mamífero, como o autor do exercício?
O que fica a pairar no ar é que o autor deste exercício já o praticou e fez os cálculos dele, baseados na queda do gato.
E a culpa? De quem é a culpa de “isto” poder acontecer, num país onde a violência contra seres vivos está consignada na legislação?
Os legisladores portugueses não têm os conhecimentos mais básicos de Biologia, e quando isto acontece com os que mandam… os que são mandados não têm bases para serem melhores.
Na notícia que circula, diz-se que um dos responsáveis da Editora, Diogo Santos, referiu que «este exercício não vai constar da versão destinada aos alunos».
Pois seria este o Diogo que atirou o gato da varanda? Ou é apenas coincidência?
E o exercício não vai constar da versão destinada aos alunos? E constará na versão não destinada aos alunos?
Eu recuso-me a creditar nisto.
Esta é uma versão que nem sequer deveria ter passado pela cabeça de alguém que tem a seu cargo a criação de “livros escolares”, e não deve definitivamente constar em qualquer outra versão, nem de alunos, nem de não alunos.
Portanto o Diogo Santos deveria ter dito, e com muita humildade, que este exercício deverá ser eliminado definitivamente de qualquer versão. Assim é que é.
Mas há algo mais grave: de acordo ainda com Diogo Santos, o livro «foi revisto por três pessoas e ninguém se apercebeu da situação».
Como é que isto é possível?
Atirar um gato de uma varanda, a cinco metros de altura, será assim tão comum, para que ninguém se tivesse apercebido de que estavam a referir-se a um gato, a um ser vivo, e não a um objecto?
E o mais perturbador é o que a fonte do Ministério da Educação e Ciência (MEC) salientou ao jornal Público.
«Os cadernos de actividades, contrariamente aos manuais escolares, não passam pelo aval do MEC, e este não se identifica com o teor do exercício apresentado, do qual não tinha conhecimento».
E acrescentou: “O exercício não respeita os valores fundamentais da nossa sociedade”.
Como disse?
Que “valores fundamentais” da nossa sociedade o exercício do gato atirado da varanda não respeitou? Quando sabemos que o governo português (incluindo o MEC) apoia a violência e a crueldade contra seres vivos, em touradas, em circos, em “escolas” (leia-se antros) de toureio para crianças, e em muitas outras circunstâncias, considerando os animais ditos não humanos simples máquinas, que estando “oleadas” (comidas e bebidas) e a funcionar é o quanto basta!
Deixem de ser hipócritas!
Este caso insólito, absolutamente absurdo, deste exercício de físico-química, é o resultado de uma política deturpada, em que a violência e a crueldade contra seres vivos, não estão devidamente acauteladas, como deveriam estar, numa sociedade do século XXI da era cristã.
Este episódio grotesco não me surpreendeu, apenas aumentou a minha indignação, por tudo o que está a passar-se no meu pobre País, que anda à deriva, um País sem eira nem beira…
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