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«Os caçadores podem ser muitos, mas aqueles que abominam a caça são mais ainda. E são mais novos. Muitos ainda não votam. Quando votarem terão morrido um número maior de defensores da caça.» (Miguel Esteves Cardoso)
Essa é que é essa!
Texto de Miguel Espeves Cardoso
«Salvem as Raposas»
Contaram-me esta história numa praia do Algarve, mas não sei se é verdade. Quando está muito calor há raposas que entram dentro de água para se refrescarem. Riem-se aos gritos da excitação e do alívio. Às vezes aproveitam para almoçar uma gaivota. As gaivotas sabem a tripa de peixe, mas as raposas não se importam.
Disse-nos que as raposas dormem nas dunas durante o dia. À noite ouvem-se as raposinhas a rir em voz alta, como se estivessem a acicatar-se umas às outras. Seja verdade ou não, é altura de dignificar as raposas e de proibir a caça delas. Merecem, no mínimo, a mesma protecção que os lobos.
As raposas são animais encantadores, engraçados e afectuosos, com um lugar central no nosso imaginário. Em Portugal podem ser caçadas entre Outubro e Janeiro com matilhas de até 50 cães. Oscar Wilde descrevia esta caça como "the unspeakable in pursuit of the inedible" [o indizível em perseguição do não comestível]. É um acto de grande coragem uma data de seres humanos a ver 50 cães a despedaçar uma raposa até à morte.
O Bloco, o PEV e o PAN apresentaram projectos de lei para acabar com esta barbaridade, mas os outros partidos vão chumbá-los, claro. Têm medo de perder os votos dos caçadores. Demonizam a raposa como se estivéssemos na Idade Média.
Os caçadores podem ser muitos, mas aqueles que abominam a caça são mais ainda. E são mais novos. Muitos ainda não votam. Quando votarem terão morrido um número maior de defensores da caça.
Tal como acontece em quase todas as fábulas, a raposa acabará por ganhar. E havemos de nos rir com ela.»
Fonte:
https://www.publico.pt/2018/10/06/sociedade/cronica/salvem-as-raposas-1846398#comments
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Na verdade, os partidos que servem os lobbies que pugnam pela crueldade, pela violência, pela matança brutal de animais indefesos, em nome do divertimento, ou de práticas economicistas, chumbaram a proposta do PAN.
Mas não se pense que o PAN perdeu prestígio com esta aparente derrota. De cada vez que um projecto de evolução, apresentado pelo PAN, ou por outro qualquer partido político, é chumbado no Parlamento Português, são os partidos trogloditas, que ficam do lado da incultura e da involução, que perdem prestígio e credibilidade.
Portanto, ó caçadores desnaturados, o vosso riso de escárnio, não se compara ao riso límpido das Raposas, animais muito mais dignos e racionais do que qualquer um dos que as matam por mero instinto assassino.
Isabel A. Ferreira
Esta madrugada, cerca das duas horas, fui acordada de forma inesperada, porque um pássaro estava a piar desesperadamente no quarto- de-banho da casa.
Ainda um pouco atordoada, fui ver. E nada vi. Só ouvia.
Ouvia-se o piar aflito, mas não se via o pássaro. Até que, olhando para a grelha da ventilação, viu-se algo a mexer. Era ali que estava a ave.
Era uma gaivotinha, ainda bebé. Devia ter caído do ninho que, com toda a certeza, se encontra no telhado do prédio, uma zona onde é hábito as gaivotas pousarem, em dias de tempestade.
Fui buscar o meu material de salvamento, e cuidadosamente coloquei-a no fundo de uma gaiola.
Foi examinada para ver se não teria patinhas ou asas partidas, ou outros ferimentos. Não tinha. Era robusta e defendia-se com valentia. Não fossem as luvas, eu seria bicada (legitimamente).
Continuava a piar. Agora assustada.
Tinha feito uma “viagem” cano abaixo, desde o telhado até ao quarto andar.
Estaria faminta?
Eram quase duas e meia da madrugada, estava eu a migar pão com água (era o que tinha) para lhe dar. Ela estava esfomeada. Bicou umas tantas migalhas e sossegou.
Bem, àquela hora, não podia fazer mais do que isto.
Quando amanhecesse, trataria de ir procurar o ninho.
Eram oito e meia da manhã, muni-me de um escadote e luvas e fui para o sótão do prédio, onde há uma janela que dá para o telhado.
Mas mal abri a janela e coloquei o fundo da gaiola em cima das telhas, uma gaivota (a mãe?) logo seguida de outra (o pai?) fizeram voo picado na minha direcção, e começaram a grasnar tão alto que logo muitas outras gaivotas vieram de todos os lados, a gritar, e tive de fechar a janela imediatamente, com medo de ser atacada, (legitimamente) pois na Natureza, os animais unem-se para se defenderem de estranhos. E eu era uma estranha. Pareceria até um mostrengo aos olhos das gaivotas.
Foi lindo ver aquela união solidária.
Não podia ficar ali a manhã toda. Deixei que Natureza seguisse o seu rumo. Porém regressaria.
Eram 11h30, munida de escadote e luvas, lá fui eu outra vez. Abri a janela e uma gaivota, agora apenas uma (a mãe novamente?), voou na minha direcção, e tive de a fechar rapidamente.
Agora em segurança, pude então ver que a gaivotinha estava mais abaixo, já no telhado, a bicar uma paparoca triturada, e junto dela estava uma cabeça de peixe. E a gaivota (mãe ou pai?) estava ali a alimentá-la, a defendê-la com as garras de fora.
Que cena mais enternecedora. As lágrimas vieram-me aos olhos.
A minha ideia era levar a gaivotinha até ao ninho, mas era uma missão impossível, com a defesa que lhe fizeram.
Regressaria mais tarde.
Eram duas horas da tarde. Fui lá novamente. A gaivotinha já lá não estava. Ainda tentei avançar para o telhado para ver se estaria em algum outro sítio ou no ninho. Mas de atalaia estava uma gaivota (a mãe?), que veio a grasnar na minha direcção.
Fechei a janela. Missão cumprida.
Espero que a gaivotinha esteja no ninho.
Mais do que isto não pude fazer.
Depois de tudo o que vivi hoje, fiquei a saber algo que desconhecia nas gaivotas: o instinto materno delas é igual ao meu.
Isabel A. Ferreira