Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2023
O terramoto ocorrido esta semana, na Turquia e Síria, deixa-nos a alma esmagada.
Uma força brutal saída das entranhas da Terra, é capaz de uma destruição terrível, que lança o caos, um sofrimento indizível e a morte entre as populações. E a fome e a sede e o frio e não ter onde dormir desesperam os sobreviventes.
A invasão da Rússia à Ucrânia, também nos deixa a alma esmagada exactamente pelos mesmos motivos: uma destruição terrífica, que lança o caos, um sofrimento indizível e a morte, entre as populações. E a fome e a sede e o frio e não ter onde dormir desesperam os sobreviventes.
E o mundo HUMANO sofre com o sofrimento atroz de tantos seres humanos, à mercê de poderosas forças destruidoras, naturais, umas, e desumanas, outras.
No entanto, a natureza da força dos terramotos faz parte de um processo natural, que homem algum pode evitar ou vencer. E a natureza da força da invasão russa à Ucrânia faz parte de um processo anormal, irracional, de uma absoluta insanidade, que os HOMENS poderiam evitar ou vencer, se fossem HUMANOS.
E o pior é que ninguém aprende nada com estas tragédias.
Na Turquia e na massacrada Síria, os povos choram os seus mortos e a destruição das suas cidades, não dependendo deles, contudo, evitar a tragédia que se abateu sobre eles.
Ao mesmo tempo, na Ucrânia, o povo chora os seus mortos e a destruição das suas cidades, dependendo apenas da racionalidade russa evitar a tragédia que, insanamente, lançou sobre aquele país soberano.
O problema é que a racionalidade não é apanágio de TODOS os homens.
E a vida avança e acaba, conforme a vontade das Forças da Natureza, mas também conforme a fraqueza mental das criaturas do mal.
Isabel A. Ferreira
Terça-feira, 2 de Novembro de 2021
Carta do Grande Chefe Seattle
“O que ocorrer com a Terra, recairá sobre os filhos da Terra. Há uma ligação em tudo.”
(A única fotografia conhecida do Chefe Seattle, tirada em 1860)
O Mais Belo Hino de Amor à Natureza
O Chefe Seattle, que viveu entre 1786 e 1866, era o líder das tribos Duwamish e Suquamish, que viviam no território do que hoje é o Estado de Washington, nos Estados Unidos da América.
Ele era um indígena, com certeza, o mais inteligente entre o seu povo, para lhe ter sido concedida a honra (naquele tempo os Homens ainda tinham honra) de dirigir os destinos das suas tribos.
Seattle não estudou na universidade dos homens, no entanto era daqueles que via para além do visível. Era um Homem que pensava com todos os seus sentidos e sentia com toda a sua razão.
Para ele, a ignorância do homem branco era incompreensível: por que exterminaria os búfalos? Por que domaria os cavalos selvagens? Por que encheria os locais recônditos das florestas com a respiração de tantos homens? Por que mancharia a paisagem exuberante das colinas com fios falantes? Onde estava o matagal? Onde estava a água?
Na verdade, a vida para um ser pensante é algo de muito sagrado, de muito autêntico, de muito natural; é algo que faz parte integrante da harmonia e do equilíbrio cósmicos, mistérios apenas compreensíveis aos grandes espíritos.
O Grande Chefe Seattle era um desses grandes espíritos. Um indígena cuja universidade foi a sua própria inteligência, a sua intuição de ser humano, a sua percepção de um mundo do qual ele era parte integrante, e tudo o que se fizesse de mal contra esse mundo, destruiria o próprio Homem.
Naquela época, o governo americano, presidido por Franklin Pierce, 14.º presidente dos EUA, considerado um dos piores presidentes da história deste país, teve a intenção de comprar o território pertencente àquelas tribos.
Em 1854, o Grande Chefe Seattle dirigiu-lhe, então, as palavras que aqui transcrevo, consideradas o mais belo hino de amor à Natureza, de uma lucidez rara, para quem se dizia apenas um selvagem que nada compreende. Porém, apenas um “selvagem” poderia ter esta percepção da Vida.
Uma carta de leitura obrigatória, devido à sua perturbadora actualidade:
«O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, e assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil da sua parte, até porque sabemos que ele não precisa da nossa amizade.
Vamos, porém, pensar na sua oferta, pois se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.
A minha palavra é como as estrelas: não empalidecem.
Como podeis comprar ou vender o céu ou o calor da terra? Tal ideia é-nos estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou da refulgência da água, como podeis então comprá-los? Cada quinhão desta terra é sagrado para o meu povo; cada folha radiosa de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e insecto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do pele-vermelha.
O homem branco esquece a sua terra natal, quando, depois de morrer, vagueia por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta terra formosa, pois ela é a mãe do pele-vermelha. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. Os cumes rochosos, os eflúvios da planície, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem, todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar a nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar onde possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a vossa oferta de comprar a nossa terra. Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.
Esta água cristalina que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas também o sangue dos nossos ancestrais. Se vos vendermos a terra, tereis de vos lembrar que ela é sagrada e tereis de ensinar aos vossos filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os feitos e as recordações da vida do meu povo. O rumorejar da água é a voz do pai do meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles apagam a nossa sede. Os rios transportam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos. Se vos vendermos a nossa terra, tereis de vos lembrar e ensinar aos vossos filhos que os rios são irmãos nossos e vossos, e tereis de conceder aos rios o afecto que daríeis a um irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um quinhão de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é vossa irmã, mas sim vossa inimiga, e depois de a conquistar, partis, indiferentes, deixando para trás os túmulos dos vossos antepassados. Arrebatais a terra das mãos dos vossos filhos e não vos importais. Esquecidas ficam as sepulturas dos vossos antepassados e o direito dos vossos filhos à herança. Vós tratais a vossa mãe (a terra) e o vosso irmão (o céu) como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelhas ou missangas resplandecentes. A vossa voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.
Não sei. Os nossos costumes diferem dos vossos. A visão das vossas cidades causa tormento aos olhos do pele-vermelha. Mas talvez tal aconteça por ser o pele-vermelha um selvagem, que nada compreende.
Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há um lugar onde possa ouvir-se o desabrochar da folhagem na Primavera ou o vibrar das asas de um insecto. Mas talvez assim seja por eu ser um selvagem que nada compreende; o ruído parece apenas insultar os ouvidos. E que vida será a de um homem que não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, à noite, a conversa dos sapos em volta de um pantanal? Sou um pele-vermelha e nada compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento a pairar sobre uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou rescendendo a pinheiro.
O ar é precioso para o pele-vermelha, porque todas as criaturas o partilham: os animais, as árvores, o homem.
O homem branco parece não compreender o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se vos vendermos a nossa terra, tereis de vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar partilha o seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se vos vendermos a nossa terra, devereis mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, cingido pela fragrância das flores campestres.
Desse modo, vamos, pois, considerar a vossa oferta para comprar a nossa terra. Se decidirmos aceitar, colocarei uma condição: o homem branco deverá tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de búfalos apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco, que os abate a tiros disparados do comboio em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o búfalo que nós, os índios, matamos apenas para nos alimentarmos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.
Deveis ensinar aos vossos filhos que o chão que pisamos são as cinzas dos nossos antepassados. Para que tenham respeito pelo país, contai aos vossos filhos que a riqueza da terra é a vida da nossa família. Ensinai aos vossos filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é a nossa mãe. Tudo quanto fere a terra, fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a teia da vida: ele é meramente um fio dessa mesma teia. Tudo o que ele fizer à teia, a si próprio o fará.
Os nossos filhos viram os seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo ociosamente, envenenando o corpo com alimentos adocicados e bebidas embriagantes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias, eles não serão muitos. Mais algumas horas, menos uns Invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos os sonhos do homem branco; se soubéssemos quais as esperanças que transmite aos seus filhos, nas longas noites de Inverno; quais as visões do futuro que oferece às suas mentes, para que possam formular desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós um enigma, e por serem um enigma, temos de escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez possamos viver os nossos últimos dias conforme os nossos desejos. Depois que o último pele-vermelha tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar sobre as pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe.
Se vos vendermos a nossa terra, amai-a como nós a amamos. Protegei-a como nós a protegemos. Nunca esqueçais de como era esta terra quando dela tomastes posse. E com toda a vossa força, o vosso poder e todo o vosso coração, conservai-a para os vossos filhos, e amai-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, e esta terra é por Ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar este nosso destino comum.
Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode evitar este destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver. De uma coisa sabemos, e talvez o homem branco venha, um dia, a descobrir também: o nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgueis, agora, que O podeis possuir do mesmo modo que desejais possuir a nossa terra. Mas não podeis. Ele é Deus da Humanidade inteira, e a Sua piedade é igual para com o pele-vermelha como para o homem branco. Esta terra é amada por Ele, e causar dano à terra é desprezar o Seu criador. Os brancos vão também acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuais a poluir a vossa cama e haveis de morrer uma noite, sufocados pelos vossos próprios desejos.
Porém, ao perecerem, vós outros caminhais para a vossa destruição rodeados de glória, inspirados pela força de Deus que vos trouxe a esta terra e que, por algum especial desígnio, vos deu o domínio sobre ela e sobre o pele-vermelha. Esse desígnio é para nós um mistério, pois não entendemos por que exterminam os búfalos, domam os cavalos selvagens, enchem os locais recônditos das florestas com a respiração de tantos homens, e mancham a paisagem exuberante das colinas com fios falantes. Onde está o matagal? Destruído. Onde está a água? A desaparecer. Restará dizer adeus às andorinhas e aos animais da floresta.
Este é o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência.
Chefe Seattle»
***
A maioria do território das tribos do Grande Chefe Seattle foi adquirida através da assinatura do Tratado de Point Elliot. Estes povos ficaram confinados à Reserva Indígena de Port Madison. A ignomínia do homem branco sobrepôs-se ao infinito saber e lucidez deste indígena norte-americano. E hoje, esse domínio está a ser posto em causa pelas Forças da Natureza, que têm um PODER infinitamente maior do que o do homem branco.
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Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019
Uma carta de leitura obrigatória, devido à sua perturbadora actualidade, embora escrita em 1854, pelo Grande Chefe Seattle.
Políticos portugueses, sejam "Grandes Chefes" como foi Seattle.
Copyright © Isabel A. Ferreira 2009
(A única fotografia conhecida do Chefe Seattle, tirada em 1860)
O Mais Belo Hino de Amor à Natureza
O Chefe Seattle, que viveu entre 1786 e 1866, era o líder das tribos Duwamish e Suquamish, que viviam no território do que hoje é o Estado de Washington, nos Estados Unidos da América.
Ele era um indígena, com certeza, o mais inteligente entre o seu povo, para lhe ter sido concedida a honra (naquele tempo os Homens ainda tinham honra) de dirigir os destinos das suas tribos.
Seattle não estudou na universidade dos homens, no entanto era daqueles que via para além do visível. Era um Homem que pensava com todos os seus sentidos e sentia com toda a sua razão.
Para ele, a ignorância do homem branco era incompreensível: por que exterminaria os búfalos? Por que domaria os cavalos selvagens? Por que encheria os locais recônditos das florestas com a respiração de tantos homens? Por que mancharia a paisagem exuberante das colinas com fios falantes? Onde estava o matagal? Onde estava a água?
Na verdade, a vida para um ser pensante é algo de muito sagrado, de muito autêntico, de muito natural; é algo que faz parte integrante da harmonia e do equilíbrio cósmicos, mistérios apenas compreensíveis aos grandes espíritos.
O Grande Chefe Seattle era um desses grandes espíritos. Um indígena cuja universidade foi a sua própria inteligência, a sua intuição de ser humano, a sua percepção de um mundo do qual ele era parte integrante, e tudo o que se fizesse de mal contra esse mundo, destruiria o próprio Homem.
Naquela época, o governo americano, presidido por Franklin Pierce, 14.º presidente dos EUA, considerado um dos piores presidentes da história deste país, teve a intenção de comprar o território pertencente àquelas tribos.
Em 1854, o Grande Chefe Seattle dirigiu-lhe, então, as palavras que aqui transcrevo, consideradas o mais belo hino de amor à Natureza, de uma lucidez rara, para quem se dizia apenas um selvagem que nada compreende. Porém, apenas um “selvagem” poderia ter esta percepção da Vida.
Uma carta de leitura obrigatória, devido à sua perturbadora actualidade:
«O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, e assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil da sua parte, até porque sabemos que ele não precisa da nossa amizade.
Vamos, porém, pensar na sua oferta, pois se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.
A minha palavra é como as estrelas: não empalidecem.
Como podeis comprar ou vender o céu ou o calor da terra? Tal ideia é-nos estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou da refulgência da água, como podeis então comprá-los? Cada quinhão desta terra é sagrado para o meu povo; cada folha radiosa de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e insecto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do pele-vermelha.
O homem branco esquece a sua terra natal, quando, depois de morrer, vagueia por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta terra formosa, pois ela é a mãe do pele-vermelha. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. Os cumes rochosos, os eflúvios da planície, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem, todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar a nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar onde possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a vossa oferta de comprar a nossa terra. Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.
Esta água cristalina que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas também o sangue dos nossos ancestrais. Se vos vendermos a terra, tereis de vos lembrar que ela é sagrada e tereis de ensinar aos vossos filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os feitos e as recordações da vida do meu povo. O rumorejar da água é a voz do pai do meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles apagam a nossa sede. Os rios transportam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos. Se vos vendermos a nossa terra, tereis de vos lembrar e ensinar aos vossos filhos que os rios são irmãos nossos e vossos, e tereis de conceder aos rios o afecto que daríeis a um irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um quinhão de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é vossa irmã, mas sim vossa inimiga, e depois de a conquistar, partis, indiferentes, deixando para trás os túmulos dos vossos antepassados. Arrebatais a terra das mãos dos vossos filhos e não vos importais. Esquecidas ficam as sepulturas dos vossos antepassados e o direito dos vossos filhos à herança. Vós tratais a vossa mãe (a terra) e o vosso irmão (o céu) como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelhas ou missangas resplandecentes. A vossa voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.
Não sei. Os nossos costumes diferem dos vossos. A visão das vossas cidades causa tormento aos olhos do pele-vermelha. Mas talvez tal aconteça por ser o pele-vermelha um selvagem, que nada compreende.
Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há um lugar onde possa ouvir-se o desabrochar da folhagem na Primavera ou o vibrar das asas de um insecto. Mas talvez assim seja por eu ser um selvagem que nada compreende; o ruído parece apenas insultar os ouvidos. E que vida será a de um homem que não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, à noite, a conversa dos sapos em volta de um pantanal? Sou um pele-vermelha e nada compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento a pairar sobre uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou rescendendo a pinheiro.
O ar é precioso para o pele-vermelha, porque todas as criaturas o partilham: os animais, as árvores, o homem.
O homem branco parece não compreender o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se vos vendermos a nossa terra, tereis de vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar partilha o seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se vos vendermos a nossa terra, devereis mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, cingido pela fragrância das flores campestres.
Desse modo, vamos, pois, considerar a vossa oferta para comprar a nossa terra. Se decidirmos aceitar, colocarei uma condição: o homem branco deverá tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de búfalos apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco, que os abate a tiros disparados do comboio em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o búfalo que nós, os índios, matamos apenas para nos alimentarmos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.
Deveis ensinar aos vossos filhos que o chão que pisamos são as cinzas dos nossos antepassados. Para que tenham respeito pelo país, contai aos vossos filhos que a riqueza da terra é a vida da nossa família. Ensinai aos vossos filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é a nossa mãe. Tudo quanto fere a terra, fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a teia da vida: ele é meramente um fio dessa mesma teia. Tudo o que ele fizer à teia, a si próprio o fará.
Os nossos filhos viram os seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo ociosamente, envenenando o corpo com alimentos adocicados e bebidas embriagantes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias, eles não serão muitos. Mais algumas horas, menos uns Invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos os sonhos do homem branco; se soubéssemos quais as esperanças que transmite aos seus filhos, nas longas noites de Inverno; quais as visões do futuro que oferece às suas mentes, para que possam formular desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós um enigma, e por serem um enigma, temos de escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez possamos viver os nossos últimos dias conforme os nossos desejos. Depois que o último pele-vermelha tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar sobre as pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe.
Se vos vendermos a nossa terra, amai-a como nós a amamos. Protegei-a como nós a protegemos. Nunca esqueçais de como era esta terra quando dela tomastes posse. E com toda a vossa força, o vosso poder e todo o vosso coração, conservai-a para os vossos filhos, e amai-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, e esta terra é por Ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar este nosso destino comum.
Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode evitar este destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver. De uma coisa sabemos, e talvez o homem branco venha, um dia, a descobrir também: o nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgueis, agora, que O podeis possuir do mesmo modo que desejais possuir a nossa terra. Mas não podeis. Ele é Deus da Humanidade inteira, e a Sua piedade é igual para com o pele-vermelha como para o homem branco. Esta terra é amada por Ele, e causar dano à terra é desprezar o Seu criador. Os brancos vão também acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuais a poluir a vossa cama e haveis de morrer uma noite, sufocados pelos vossos próprios desejos.
Porém, ao perecerem, vós outros caminhais para a vossa destruição rodeados de glória, inspirados pela força de Deus que vos trouxe a esta terra e que, por algum especial desígnio, vos deu o domínio sobre ela e sobre o pele-vermelha. Esse desígnio é para nós um mistério, pois não entendemos por que exterminam os búfalos, domam os cavalos selvagens, enchem os locais recônditos das florestas com a respiração de tantos homens, e mancham a paisagem exuberante das colinas com fios falantes. Onde está o matagal? Destruído. Onde está a água? A desaparecer. Restará dizer adeus às andorinhas e aos animais da floresta.
Este é o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência.
Chefe Seattle»
***
A maioria do território das tribos do Grande Chefe Seattle foi adquirida através da assinatura do Tratado de Point Elliot. Estes povos ficaram confinados à Reserva Indígena de Port Madison. A ignomínia do homem branco sobrepôs-se ao infinito saber e lucidez deste indígena norte-americano. E hoje, esse domínio está a ser posto em causa pelas Forças da Natureza, que têm um PODER infinitamente maior do que o do homem branco.
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Quinta-feira, 5 de Julho de 2018
Eu sou um animal, mas não sou superior a nenhum outro animal, quer humano ou não-humano. Sou feita da mesma poeira cósmica de que são feitos todos os outros animais. O meu ADN contém os mesmos elementos do ADN de todos outros animais. Tenho as mesmas necessidades físicas de todos os outros animais. Quando morrer transformar-me-ei em pó, como todos os outros animais.
Sou iluminada pelo mesmo Sol e pela mesma Lua.
Comunico-me com todos os animais humanos e não-humanos do mesmo modo: falando. Sei falar, sei ler e escrever, sei raciocinar, mas sou incapaz de me orientar na selva, construir um ninho, um formigueiro, uma colmeia, voar... sobreviver no fundo do mar...
Diante das forças da Natureza, vulcões, fogo, tremores de terra, tempestades, tsunamis, a minha condição de ser humano iguala-me à de um lagarto: ambos seremos destruídos num ápice, e apodreceremos do mesmo modo. E no final, o que restar de mim não se diferenciará de nenhum outro animal. E a minha racionalidade não me livrará do mesmo destino do lagarto.
Mas, contudo, faço uma excepção: sou superior apenas à besta humana.
Isabel A. Ferreira
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Terça-feira, 20 de Junho de 2017
Em resposta a este texto, que ontem enviei aos deputados da Nação,
http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/grande-tragedia-incendiada-pela-falta-722223
o Grupo Parlamentar “Os Verdes” acusou a recepção da minha mensagem electrónica, acrescentando que estão a acompanhar atentamente a evolução dos incêndios, através dos seus Colectivos Regionais, e têm se empenhado em dialogar com o Governo para defender novas políticas para as florestas, e travar a expansão do eucalipto, bem como promover o montado de sobro e outras espécies autóctones.
Para “Os Verdes” a floresta do futuro deve promover o desenvolvimento das comunidades locais, deve preservar a biodiversidade e deve combater o despovoamento do país.
Num comunicado “Os Verdes” expressaram a sua solidariedade para com as populações afectadas, e saudaram a coragem de todos quantos combatem estes incêndios, em detrimento dos perigos para as suas vidas, os Bombeiros e ainda os populares que se organizam para fazerem face a este flagelo, considerando este um momento dramático para o país, havendo até ao momento a lamentar já a perda de 64 vidas humanas, assim como dezenas de feridos, sendo previsível o aumento deste número, dado que só com o avançar do tempo se conseguirá ter noção da real dimensão de tamanha tragédia.
***
Pois é!
O País espera que esta tragédia sem precedentes sirva para que os governantes portugueses abram os olhos e vejam a realidade, e sejam responsáveis. Porque até agora foram uns descomunais irresponsáveis.
É urgente banir os desmandos dos governantes, porque são as poderosas forças da Natureza que realmente mandam no Planeta.
E como questiona Manuela Nunes, que já trabalhou como Técnica Superior, nas Estradas de Portugal, SA: «Por que destruiu o Estado, as funções públicas, exercidas por guardas florestais, guarda-rios e nomeadamente as de cantoneiros, que desmatavam as bermas junto às estradas nacionais? Por que foram substituídos por empresas, que desertificaram as localidades?
Em consequência disso, desapareceram as escolas primárias, entre outras infra-estruturas que fixavam as populações (familiares desses funcionários). Por outro lado, a plantação quase doentia (visando apenas o lucro), do eucalipto, que para além de ser pasto fácil para a propagação de incêndios (quer sejam de origem natural, quer sejam de origem "animal"), secam o solo. Alguns "inteligentes" quiseram poupar, naquilo a que passaram a chamar "pequenos detalhes sem qualquer interesse". Claro que os interesses eram e são outros! E muito mais se poderia acrescentar! Estou desolada e chocada com o que aconteceu.»
Estamos todos desolados e chocados com o que aconteceu, cara Manuela Nunes.
Não podemos devolver à vida os seres humanos e não humanos que pereceram nestes incêndios. Mas podemos evitar que tamanha tragédia volte a acontecer em território português.
É tempo de novas políticas. Novos compromissos. Novas atitudes. Novas responsabilidades.
Há que defender os legítimos interesses da Nação, e não os ilícitos interesses dos lobbies.
Isabel A. Ferreira
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Segunda-feira, 19 de Junho de 2017
Todos os anos, há uns anos a esta parte, o inconcebível acontece.
Mas desta vez, perderam-se demasiadas vidas (humanas e não humanas), para podermos calar a desgraça.
E a culpa foi da trovoada seca?
Desde que o mundo é mundo, a trovoada seca é tão natural como a chuva, a tempestade, o calor, o frio, o fogo, a neve, o vento, os terramotos, as erupções vulcânicas, os tsunamis, enfim, é tão natural como todas as grandiosas manifestações da Mãe Natureza, contra as quais o homem, que se julga o todo poderoso dono do mundo, nada pode.
E quando a Mãe Natureza se manifesta desta forma tão poderosa, é porque alguma coisa vai mal. E o homem chora, mas não aprende nada com estes sinais tão claros, de um Poder maior do que todos os poderes humanos.
Origem da imagem:
http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2017-06-18-Fogo-em-Pedrogao-Grande-mantem-quatro-frentes-ativas-de-grande-intensidade
Desta vez, perderam-se demasiadas vidas (humanas e não humanas), floresta, habitações, pomares, searas, bens materiais, como se a fauna e a flora portuguesas, e tudo o resto não merecessem o olhar dos governantes.
Culpa-se o clima, as trovoadas secas, o vento, mãos criminosas, a falta de chuva, a falta de bombeiros, a falta de meios (terrestes e aéreos), culpa-se tudo, excepto a falta de uma Política Florestal e Ambiental, apta a minimizar as consequências naturais das Forças da Natureza, que o homem não pode evitar, mas pode atenuar.
Dispensaram-se os Guardas Florestais, os Engenheiros Florestais, os Biólogos Ambientais, como se Portugal não tivesse uma mancha florestal considerável. E dispensaram-se os guardiães das Florestas por causa da inexistência de verbas que são desviadas para o que é completamente dispensável, porque inútil?
Portugal arde. Extingue-se em várias frentes. E não só devido aos fogos florestais. Estamos a perder muito mais do que fauna e flora.
Todos os anos, há uns anos a esta parte, Portugal vai perdendo floresta e fauna autóctone, debaixo das barbas dos irresponsáveis políticos que, mal acaba o perigo, e depois de prometidas medidas, esquecem-se de que as prometeram e tudo volta à estaca zero.
Este ano, a reacção da Mãe Natureza contra a ineficácia humana foi implacável. Este ano, a Mãe Natureza fez lembrar ao homem de que quem manda nestas coisas é uma Força maior do que a força humana, por isso há que abrandar os desmandos dos homens.
E Pedrógão Grande incendiou-se, e demasiadas vidas (humanas e não humanas) foram ceifadas. Esperemos que não inutilmente.
Esperemos que todos, todos, políticos e povo, tivessem lido nas entrelinhas desta tragédia, o grande recado que a Mãe Natureza nos enviou.
O próprio povo, tem-se estado nas tintas para o que deve fazer. Acredita piamente nas falsas promessas que lhe fazem os políticos, e não actua como devia actuar.
A trovoada seca, que dizem estar na origem desta tragédia, poderia ser evitada? Obviamente que não. Os homens não têm poder para tal.
Porém, a tragédia poderia ser minorada? Poderia, se houvesse uma Política Florestal e Ambiental séria e coordenada.
Incêndios florestais sempre existiram desde o início dos tempos. São naturais. São necessários.
O que não é natural, nem necessário é a perda das vidas humanas e não humanas provocadas pelo desleixo a que as nossas florestas estão votadas.
Que esta tragédia possa servir para mudar a política. Para mudar a atitude do povo. Para abrir os olhos dos que se julgam “poderosos”.
Os meus mais sentidos pêsames a todos os que perderam os seus familiares e amigos e vizinhos, nesta tragédia.
E o meu mais veemente apelo aos governantes do meu País: mudem de atitude. Prendam-se ao que é essencial. Dediquem os vossos esforços a políticas de VIDA, não a políticas de MORTE.
Isabel A. Ferreira
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Quarta-feira, 20 de Julho de 2016
Já estou farta daqueles indivíduos que se julgam superiores a um lagarto, mas morrem do mesmo modo que um lagarto, se a Mãe Natureza assim o entender, quando se revolta na forma de um temporal…
E é devido às mentalidadezinhas microscópicas que proliferam por aí que a Humanidade, que já deveria estar num patamar bastante mais elevado, desde o aparecimento do homem na Terra, não está…
(Origem da imagem: Internet)
(Um texto dirigido a todos os “farias” do mundo)
Isto vem a propósito de um comentário a esta minha publicação
http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/senhores-deputados-da-nacao-acabem-com-658969
dirigida aos deputados da Nação (que hoje mostrarão ao mundo se estão do lado da Evolução ou na Idade da Pedra).
Pois um tal H. Faria veio com este blá blá blá que já enfada as pedras, de tão gasto, tão especista e tão vazio de humanidade que é:
«Acho muito bem que actuem contra o abandono animal e contra as situações de maus tratos contínuos. Mas sabes o que eu acho que deviam muitos deles fazer? Tratar e cuidar melhor das pessoas, em vez de igualar a vida humana à vida animal, e pior ainda, como não podia deixar de ser, usando o dinheiro como "justificação". A maior mentira que preconizam é que um defensor dos animais é melhor para as pessoas. Será assim? (será puro marketing político).
Como se admite dar de comer a um cão vadio e deixar uma criança ou um sem-abrigo sem comer? Como se admite pegar no primeiro gato ou cão vadio e levá-los para casa ou a uma instituição, porque podem morrer de fome e frio, e deixar uma pessoa sem casa a morrer dessas mesmas causas? Como se admite levar o cão para as férias e abandonar os velhos em lares, hospitais ou em casa? Como se admite que façam queixa contra um vizinho que maltrata o cão, mas fiquem mudos perante as "coças" que a vizinha apanha do marido? Como se admite que se vá para manifestações anti touradas e em casa batam nas mulheres/homens? (Se bem, que muitas são mal casadas, divorciadas e outras tantas ficaram para tias por mero acaso animal).
É por isto tudo que, em vez de considerar os protectores dos animais uns anjos, considero-os pessoas autoritárias (no sentido de ditadores), com muito pouco respeito pela liberdade dos outros quando não coincidem com as suas ideias e com uma filosofia de vida baseada numa grande hipocrisia…ignoram (por vontade própria) que a sua existência e modo de vida é, por si só, um maltrato à vida animal».
***
Ó Fária, melhor faria se se considerasse um ANIMAL tão ANIMAL como todos os outros, e se colocasse no lugar deles e SENTISSE, pelo menos uma vez na vida, que as pessoas são animais, tão animais como todos os outros.
«Em vez de igualar a vida humana à vida animal», pois se uma e outra coisa são absolutamente a mesma coisa: VIDA!
O seu comentário é ridículo e totalmente desfasado da realidade.
Se o Faria não é um animal, é uma erva daninha falante?
«Como se admite dar de comer a um cão vadio e deixar uma criança ou um sem-abrigo sem comer?»
Acredito que seja capaz de dar de comer a um cão e não a uma criança, porque se o diz é porque já o fez.
Uma sugestão: Nunca fale daquilo que não sabe.
É absolutamente inacreditável que alguém, não estando no seu juízo perfeito e não conheça a realidade dos animalistas possa fazer um comentário tão falacioso, tão malicioso, tão pervertido, tão parvo quanto este.
«A maior mentira que preconizam é que um defensor dos animais é melhor para as pessoas»?
Quem preconiza o quê?
Um defensor dos animais é simplesmente o melhor amigo de TODOS os animais, humanos e não-humanos, obviamente. Obviamente. Mas as vossas mentes microscópicas não conseguem alcançar tão perceptível evidência.
É por existirem ainda tantos farias que o mundo é um lugar de horrores para tantos animais humanos e não-humanos.
Indivíduos desta “espécie” pré-humana tiram-me do sério, porque acham que são superiores a um lagarto. Contudo, ambos afogar-se-ão nas mesmas águas de um tsunami, e serão reduzidos a pó, num ápice, se a Natureza assim o entender, e sem que o homenzinho possa fazer alguma coisa para o evitar.
Porque como todos nós sabemos (excepto os ignorantes) que a Natureza é que é a medida de todas as coisas, e não o tal homenzinho…
Os protectores dos animais não são anjos nem demónios. São simplesmente seres humanos que pelo facto de serem humanos têm o sagrado dever de proteger a Vida do Planeta: animais humanos e não-humanos, plantas, águas, ar, terra, mares, rios, enfim, tem o dever de viver em harmonia com a Natureza, porque é ela que comanda a Vida planetária. E o homem tem apenas o DEVER de proteger essa harmonia.
O que é um homenzinho diante de um furacão? De um vulcão? Das tempestades? Das fúrias da Natureza?
Como disse a minha amiga Maria João Gaspar Oliveira a propósito do comentário do Faria:
«A generalização é uma falácia perigosa e muito injusta. Ao fazer tais afirmações sobre os "protectores de animais", acha que não está a ser autoritário e que respeita a liberdade dos outros?! Não pensou sequer nas pessoas (e são muitas, em todo o mundo...) que lutam, durante uma vida inteira, pelos direitos do homem e pelos direitos dos animais, sem qualquer espécie de discriminação, até porque estas pessoas não são especistas, obviamente (o especismo provoca muito sofrimento e injustiças de toda a espécie...). Estas pessoas têm a capacidade de se colocar no lugar de um ser senciente e indefeso que, tal como nós, tem o direito de não sofrer e de ser amado e respeitado».
É isto.
Farias do mundo, de uma vez por todas, desçam do pedestal onde se colocaram. Não são, de todo, superiores a um lagarto.
Quando muito, serão apenas mais responsáveis do que ele (o lagarto) porque não é ao lagarto que cabe governar o mundo.
Mas tenho a certeza de que, assim como o lagarto governa o mundo dele com um saber criterioso, governaria o “nosso” mundo muito mais racionalmente do que os farias que se julgam humanos, mas não animais.
E se não são animais, em que “natureza” devemos encaixá-los?
Isabel A. Ferreira
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Quinta-feira, 14 de Julho de 2016
Quando me vi com Tiiti de Gayport – Tributo ao Amor, o livro de Maria Helena Capeto, nas minhas mãos, o meu primeiro gesto foi acariciar o rosto de Tiiti, na capa do livro, numa espécie de ritual de boas vindas. E mal sabia eu o que esperar desta leitura.
Este é um livro que todas as pessoas devem ler, porque aprenderão a viver em harmonia com a Vida, com a Natureza e a compreender melhor o Universo, não o Universo que nos “mostra” a Ciência, mas o outro, aquele que é o verdadeiro Universo, onde toda a Vida está entrelaçada, e que apenas uns poucos alcançam.
Li este livro avidamente.
Trata-se de uma fascinante declaração de amor eterno a um ser que escolheu a autora para com ela partilhar as alegrias e as tristezas da própria existência.
Quando temos um animal, não somos nós que o escolhemos. É ele que nos escolhe. É ele que, de um modo ou de outro, vem ter connosco, ou leva-nos até ele, para que o recebamos e com ele partilhemos a vida e as emoções, com uma cumplicidade única e inevitável.
Mas Tiiti é também um ponto de partida para uma reflexão intimista de uma outra realidade que foge aos nossos sentidos mais terrenos.
Com Tiiti, Maria Helena Capeto compreendeu que «tudo faz parte do mesmo tecido cósmico, tudo nele está entretecido e entrelaçado», e a partir daqui, reescreveu magistralmente os conceitos que temos da Vida, da Natureza, do Cosmos, da Ciência que não nos diz nada, ou quase nada, porque a essência do mistério da Vida não é para dizer, mas para sentir. Para intuir. Para ser, sem ter como ser provado.
Com Tiiti de Gayport confirmei o que sempre havia intuído: os homens não têm a capacidade de compreender a linguagem da Natureza, como têm os animais não-humanos, que o homem tanto nega e menospreza. E no entanto, considera-se uma espécie “superior” a todas as outras espécies. E não tem motivo algum para tanto.
Saberá realmente o Homem quem é o Homem, de onde vem e para onde vai, e qual o seu verdadeiro lugar no Cosmos?
O animal humano vê o mundo à medida da sua estreiteza de espírito.
Fascinei-me com a lucidez com que Maria Helena Capeto nos coloca diante da nossa insignificante “civilização”, que pode ser destruída num segundo, se assim o entender a Mãe Natureza.
E o que é o homem perante a força ingovernável dessa Natureza?
O homem julga-se o dono do mundo, o dominador do mundo.
Como se engana!
Quem domina o Planeta são as poderosas forças da Natureza, que o homem não tem como vencer.
O homem é apenas uma pequena porção daquela poeira cósmica de que todas as coisas terrenas e não-terrenas são feitas. Todas, incluindo os animais, ditos não-humanos, tão desvalorizados pelo homem.
Se a humanidade, e apenas a humanidade fosse exterminada hoje, os restantes animais e as plantas continuariam a viver, agora mais tranquilamente sem a predação humana.
O que dizer mais sobre Tiiti de Gayport?
Ocorre-me declarar que, a partir desta leitura, fiquei com a certeza de que a Natureza é a medida de todas as coisas, e não o homem, como ele julga que é.
Sejamos humildes.
Termos consciência de nós próprios é sabermos que não fazemos qualquer falta a nenhuma outra criatura. Pelo contrário, o homem sem a restante vida planetária não sobreviveria nem um só dia.
Obrigada, Maria Helena Capeto, por esta bela lição de Amor, que tão profundamente me tocou.
Isabel A. Ferreira
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Quinta-feira, 22 de Janeiro de 2009
Uma carta de leitura obrigatória, devido à sua perturbadora actualidade, escrita em 1854, pelo Chefe Seattle.
Copyright © Isabel A. Ferreira 2009
(A única fotografia conhecida do Chefe Seattle, tirada em 1860)
O Mais Belo Hino de Amor à Natureza
O Chefe Seattle, que viveu entre 1786 e 1866, era o líder das tribos Duwamish e Suquamish, que viviam no território do que hoje é o Estado de Washington, nos Estados Unidos da América.
Ele era um indígena, com certeza, o mais inteligente entre o seu povo, para lhe ter sido concedida a honra (naquele tempo os Homens ainda tinham honra) de dirigir os destinos das suas tribos.
Seattle não estudou na universidade dos homens, no entanto era daqueles que via para além do visível. Era um Homem que pensava com todos os seus sentidos e sentia com toda a sua razão.
Para ele, a ignorância do homem branco era incompreensível: por que exterminaria os búfalos? Por que domaria os cavalos selvagens? Por que encheria os locais recônditos das florestas com a respiração de tantos homens? Por que mancharia a paisagem exuberante das colinas com fios falantes? Onde estava o matagal? Onde estava a água?
Na verdade, a vida para um ser pensante é algo de muito sagrado, de muito autêntico, de muito natural; é algo que faz parte integrante da harmonia e do equilíbrio cósmicos, mistérios apenas compreensíveis aos grandes espíritos.
O Chefe Seattle era um desses grandes espíritos. Um indígena cuja universidade foi a sua própria inteligência, a sua intuição de ser humano, a sua percepção de um mundo do qual ele era parte integrante, e tudo o que se fizesse de mal contra esse mundo, destruiria o próprio Homem.
Naquela época, o governo americano, presidido por Franklin Pierce, 14.º presidente dos EUA, considerado um dos piores presidentes da história deste país, teve a intenção de comprar o território pertencente àquelas tribos.
Em 1854, o Chefe Seattle dirigiu-lhe, então, as palavras que aqui transcrevo, consideradas o mais belo hino de amor à Natureza, de uma lucidez rara, para quem se dizia apenas um selvagem que nada compreende. Porém, apenas um “selvagem” poderia ter esta percepção da Vida.
Uma carta de leitura obrigatória, devido à sua perturbadora actualidade:
«O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, e assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil da sua parte, até porque sabemos que ele não precisa da nossa amizade.
Vamos, porém, pensar na sua oferta, pois se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.
A minha palavra é como as estrelas: não empalidecem.
Como podeis comprar ou vender o céu ou o calor da terra? Tal ideia é-nos estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou da refulgência da água, como podeis então comprá-los? Cada quinhão desta terra é sagrado para o meu povo; cada folha radiosa de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e insecto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do pele-vermelha.
O homem branco esquece a sua terra natal, quando, depois de morrer, vagueia por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta terra formosa, pois ela é a mãe do pele-vermelha. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. Os cumes rochosos, os eflúvios da planície, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem, todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar a nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar onde possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a vossa oferta de comprar a nossa terra. Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.
Esta água cristalina que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas também o sangue dos nossos ancestrais. Se vos vendermos a terra, tereis de vos lembrar que ela é sagrada e tereis de ensinar aos vossos filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os feitos e as recordações da vida do meu povo. O rumorejar da água é a voz do pai do meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles apagam a nossa sede. Os rios transportam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos. Se vos vendermos a nossa terra, tereis de vos lembrar e ensinar aos vossos filhos que os rios são irmãos nossos e vossos, e tereis de conceder aos rios o afecto que daríeis a um irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um quinhão de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é vossa irmã, mas sim vossa inimiga, e depois de a conquistar, partis, indiferentes, deixando para trás os túmulos dos vossos antepassados. Arrebatais a terra das mãos dos vossos filhos e não vos importais. Esquecidas ficam as sepulturas dos vossos antepassados e o direito dos vossos filhos à herança. Vós tratais a vossa mãe (a terra) e o vosso irmão (o céu) como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelhas ou missangas resplandecentes. A vossa voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.
Não sei. Os nossos costumes diferem dos vossos. A visão das vossas cidades causa tormento aos olhos do pele-vermelha. Mas talvez tal aconteça por ser o pele-vermelha um selvagem, que nada compreende.
Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há um lugar onde possa ouvir-se o desabrochar da folhagem na Primavera ou o vibrar das asas de um insecto. Mas talvez assim seja por eu ser um selvagem que nada compreende; o ruído parece apenas insultar os ouvidos. E que vida será a de um homem que não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, à noite, a conversa dos sapos em volta de um pantanal? Sou um pele-vermelha e nada compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento a pairar sobre uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou rescendendo a pinheiro.
O ar é precioso para o pele-vermelha, porque todas as criaturas o partilham: os animais, as árvores, o homem.
O homem branco parece não compreender o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se vos vendermos a nossa terra, tereis de vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar partilha o seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se vos vendermos a nossa terra, devereis mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, cingido pela fragrância das flores campestres.
Desse modo, vamos, pois, considerar a vossa oferta para comprar a nossa terra. Se decidirmos aceitar, colocarei uma condição: o homem branco deverá tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de búfalos apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco, que os abate a tiros disparados do comboio em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o búfalo que nós, os índios, matamos apenas para nos alimentarmos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.
Deveis ensinar aos vossos filhos que o chão que pisamos são as cinzas dos nossos antepassados. Para que tenham respeito pelo país, contai aos vossos filhos que a riqueza da terra é a vida da nossa família. Ensinai aos vossos filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é a nossa mãe. Tudo quanto fere a terra, fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a teia da vida: ele é meramente um fio dessa mesma teia. Tudo o que ele fizer à teia, a si próprio o fará.
Os nossos filhos viram os seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo ociosamente, envenenando o corpo com alimentos adocicados e bebidas embriagantes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias, eles não serão muitos. Mais algumas horas, menos uns Invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos os sonhos do homem branco; se soubéssemos quais as esperanças que transmite aos seus filhos, nas longas noites de Inverno; quais as visões do futuro que oferece às suas mentes, para que possam formular desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós um enigma, e por serem um enigma, temos de escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez possamos viver os nossos últimos dias conforme os nossos desejos. Depois que o último pele-vermelha tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar sobre as pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe.
Se vos vendermos a nossa terra, amai-a como nós a amamos. Protegei-a como nós a protegemos. Nunca esqueçais de como era esta terra quando dela tomastes posse. E com toda a vossa força, o vosso poder e todo o vosso coração, conservai-a para os vossos filhos, e amai-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, e esta terra é por Ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar este nosso destino comum.
Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode evitar este destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver. De uma coisa sabemos, e talvez o homem branco venha, um dia, a descobrir também: o nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgueis, agora, que O podeis possuir do mesmo modo que desejais possuir a nossa terra. Mas não podeis. Ele é Deus da Humanidade inteira, e a Sua piedade é igual para com o pele-vermelha como para o homem branco. Esta terra é amada por Ele, e causar dano à terra é desprezar o Seu criador. Os brancos vão também acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuais a poluir a vossa cama e haveis de morrer uma noite, sufocados pelos vossos próprios desejos.
Porém, ao perecerem, vós outros caminhais para a vossa destruição rodeados de glória, inspirados pela força de Deus que vos trouxe a esta terra e que, por algum especial desígnio, vos deu o domínio sobre ela e sobre o pele-vermelha. Esse desígnio é para nós um mistério, pois não entendemos por que exterminam os búfalos, domam os cavalos selvagens, enchem os locais recônditos das florestas com a respiração de tantos homens, e mancham a paisagem exuberante das colinas com fios falantes. Onde está o matagal? Destruído. Onde está a água? A desaparecer. Restará dizer adeus às andorinhas e aos animais da floresta.
Este é o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência.
Chefe Seattle»
***
A maioria do território das tribos do Chefe Seattle foi adquirida através da assinatura do Tratado de Point Elliot. Estes povos ficaram confinados à Reserva Indígena de Port Madison. A ignomínia do homem branco sobrepôs-se ao infinito saber e lucidez do homem selvagem. E hoje, esse domínio está a ser posto em causa pelas Forças da Natureza, que podem mais do que o homem branco.
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