Auto-retrato
Sou rosa silvestre
Nascida em Janeiro.
Sou folha caída
Em tarde invernosa.
Sou vento forte
Que sopra do Norte.
Sou tarde chuvosa,
Sou triste,
Sou só.
Sou vida
De Outono
Que vem e que vai.
Sou Sol que
Não nasce,
Sou nuvem escura,
Sou chuva que cai.
Sou lágrima,
Sou dor,
Sou noite sem lua,
Sou charco da rua,
Sou luz que apagou.
Sou rosa silvestre,
Sou flor delicada,
Que entre a penedia
O tempo esmagou...
Isabel A. Ferreira
***
Esperança…
A Noite veio
e trouxe o silêncio…
As Estrelas vieram
e cintilaram no céu…
A Lua veio
e iluminou os caminhos…
O Vento veio
e soprou de mansinho…
A Chuva veio
e humedeceu as campinas…
As Aves vieram
e cantaram baixinho…
Vieram depois
os sonhos,
os medos,
os segredos…
Vieram até os anjos
de uma corte celeste…
Só tu não vieste…
Josefina Maller
Lutar contra blocos de cimento armado é desgastante.
Fingir-me-ei de morta por um tempo breve, para poder renascer…
Estarei num lugar onde a mais pequena flor beneficia do privilégio de ter nascido…
Onde o vento anda à solta e os Cavalos são livres…
Onde o silêncio brinca furtivamente com os pássaros…
Onde as ervas brotam das pedras…
E as águas segredam-me os seus mistérios…
Até breve…
Isabel A. Ferreira
A inteligência humana é a única arma capaz de garantir a Paz
Será possível definir a Violência?
Talvez pudéssemos enfeitar a palavra com florzinhas amarelas, para torná-la menos agressiva!
Mas como?! A violência não se deixa enfeitar. Ela é tão primitiva, tão tosca! Vive entre as trevas, nas profundezas do espírito dos que são apenas “omens”, numa tão grande obscuridade, que enfeitá-la seria um sacrilégio. Além disso, porque está tão arredada da civilização e da civilidade só as mentes mais primitivas e toscas a ela têm acesso.
Ela faz parte de um mundo sombrio onde habitam os rudes, os grosseiros, os irracionais, os estúpidos, os covardes. Numa palavra: os brutos.
E o que é um bruto? É aquele que usa a força, a ameaça, a chantagem para impor o seu ponto de vista, por isso, a violência é a maior “qualidade” dos brutos, que não passando estes de requintados covardes.
Um bruto não conhece a linguagem da flor. Não sabe da brisa suave que faz ondular as searas. Só sabe de ventanias que sopram forte, de tufões, de furacões, de vendavais, que tudo destroem. Um bruto cavalga nos ventos, semeia tempestades por onde passa e vagueia depois, perdido, entre os escombros da sua malvadez, acabando por se afogar no sangue das suas próprias vítimas.
Mas tu não és um bruto.
Tu conheces a linguagem da flor. Não vives nas trevas. Fazes uso da tua inteligência, a mais eficaz arma de combate do ser humano.
Só os covardes se escudam na força bruta ou numa arma qualquer. Se lhe sugerirmos que sejam Homens e não usem a força da força, nem a ameaça das armas, nem a chantagem, nem algum outro tipo de violência, mas unicamente o poder da sua inteligência e combatam os combates com palavras, como seres civilizados, eles rirão um riso de dentes podres e depois, afundados na sua insignificância mental e às ceguinhas, por entre as trevas abismais do seu espírito, usarão da violência e mostrarão então toda a inferioridade dos seus actos.
Ninguém é superior a ninguém. Apenas os excrementos humanos e a malvadez dos “omens” são execráveis e passíveis de desprezo!
Pois é, ninguém é superior a ninguém a não ser pelos actos que comete.
Um bruto é um “omem” obscuro, oblíquo, desusado, ignorante, por isso, ao usar a violência que vem das trevas, transforma-se numa criatura inferior.
Mas tu conheces a linguagem da flor. Ensina-o a ser Homem com o teu pacifismo e a tua inteligência: a única arma capaz de garantir a Paz.
in «Manual de Civilidade» © Isabel A. Ferreira