Excelentíssimo Dom João Evangelista Pimentel Lavrador
Bispo Residencial da Diocese de Angra
domjoaolavrador@diocesedeangra.pt
Venho, por este meio, manifestar a minha mais veemente repulsa pela presença de alguns forcados, devidamente identificados, através da sua indumentária, numa procissão realizada no passado dia 8 de Março, em Angra do Heroísmo, tendo alguns deles transportado o andor da imagem de Nosso Senhor dos Passos, como se fossem “irmãos” de alguma confraria religiosa; bem como pela realização de um “festival” taurino, previsto para o próximo dia 23 de Maio, de apoio a obras das igrejas das Lajes e da Agualva, como se a tortura de criaturas, também de Deus, servisse para branquear as acções selváticas perpetradas por algozes.
Ao longo dos tempos, têm sido inúmeras as declarações de membros da Igreja Católica a condenar as práticas tauromáquicas entre outras, em que são maltratados animais não-humanos. A título de exemplo, posso referir o que o Secretário do Vaticano, Bispo Pietro Gasparri, em 1923, disse: «Embora a barbárie humana ainda persista nas corridas de touros, a Igreja continua a condenar em voz alta estes sangrentos e vergonhosos “espectáculos”, como o fez Sua Santidade o Papa Pio V». Mais recentemente, na sua Encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco escreveu que «sujeitar os animais ao sofrimento e à morte desnecessária não é digno de um ser humano».
Face ao exposto, venho manifestar a minha repugnância e repúdio pela presença de forcados, devidamente identificados, numa procissão, fazendo propaganda a uma actividade condenável nas sociedades humanas actuais, e não a manifestar a sua fé em Deus que, pela Sua Natureza divina, condena todos os actos violentos e cruéis contra as Suas criaturas, quer sejam humanas ou não-humanas.
Manifesto também, a minha indignação e repúdio pela realização de uma sessão de tortura de touros para, hipocritamente, apoiar obras em igrejas.
Venho, igualmente, apelar a Vossa Reverendíssima para que, em nome de Deus, condene estas práticas bárbaras e macabras, e a presença de forcados identificados em procissões, e não autorize que as paróquias aceitem recolher fundos através de touradas ou de outros eventos onde animais não-humanos, indefesos, inocentes e inofensivos são barbaramente torturados, para divertimento de uma peque fatia de um povo que ficou parado no tempo, e afastado dos ensinamentos de Jesus Cristo.
Para um melhor aprofundamento deste tema, sugiro a Vossa Reverendíssima a leitura dos textos inseridos nestes links:
Com os meus cumprimentos,
Isabel A. Ferreira
A CerciBeja já foi beneficiária/apoiante de nove touradas.
Receber dinheiros sujos de sangue é o mesmo que espetar uma faca no coração das crianças deficientes intelectuais, que tanto AMAM os animais.
Estas crianças não merrecem tamanho insulto!
Assunto:
A selvajaria tauromáquica insulta as causas solidárias
Exmos. Srs.,
Começo por me dirigir à Federação Nacional de Cooperativas de Solidariedade Social (FENACERCI), enquanto representante da Cercibeja:
Quero expressar a minha mais veemente indignação pelo facto de a CerciBeja, uma instituição de solidariedade social, ter sido beneficiária e apoiante de um “Festival Taurino” decorrido no passado dia 7 de Outubro de 2017, bem como por ter levado pessoas com deficiência intelectual a assistir a tamanha crueldade, e por ter demonstrado uma total falta de respeito pelas muitas pessoas que deixaram pedidos de cancelamento da tourada na página do Facebook da Instituição mas que tiveram como única resposta a eliminação dos seus respectivos comentários.
Na recente tourada a favor da referida instituição de Beja, obrigaram-se vários equinos e seis bovinos a participar num selvático acto, sujeitando os animais a elevados níveis de stress e a um sofrimento tão inútil como atroz. Humilharam-se e torturaram-se bovinos, cravando-lhes ferros com arpões nos corpos, ao som de olés e aplausos.
É verdade que a tauromaquia ainda beneficia, no nosso atrasado país, de uma excepção declarada na mesma lei que proíbe expressamente “todas as violências injustificadas contra animais”, como sejam, infligir-lhes “a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões”, discriminando assim os Touros e Cavalos relativamente aos outros animais não humanos.
Bem sabemos que os legisladores não reconhecem os Touros e os Cavalos como animais, mas se perguntarem a uma criança deficiente intelectual, o que eles são, ela dirá que os Touros e os Cavalos são animais, aliás são animais dos quais elas gostam bastante.
E digo isto com conhecimento de causa, porque estou ligada a um Movimento de Pais e Amigos de Deficientes Intelectuais e sei o que estas crianças PENSAM sobre tudo isto, a não ser que as crianças e jovens deficientes intelectuais de Beja não sejam orientadas no sentido do Bem, do Bom e do Belo, e lhes impinjam as touradas como sendo algo NORMAL.
Mas é indiscutível e não há qualquer dúvida que, embora ainda legalmente permitida, se trata de uma actividade violenta, cruel, medievalesca, grosseira e estúpida, que causa bastante repulsa na sociedade portuguesa, e no mundo civilizado.
E é por esta irracional actividade assentar na violência e crueldade contra seres sencientes, tão inofensivos, inocentes e indefesos como as crianças e jovens deficientes que a CerciBeja diz “educar” (ou devo dizer asselvajar?) e “reabilitar” (ou devo dizer denegrir?), seres não humanos excluídos e colocados numa situação de vulnerabilidade, que me parece que as Cercis dela se deveriam distanciar, por uma questão simples de ÉTICA.
A mais recente tourada a favor da CerciBeja pode até ter rendido, segundo informações veiculadas por blogues tauromáquicos, 3.013,54 euros; mas é certo que afectou negativamente a credibilidade desta Cerci e das Cercis em geral.
Há, com toda a certeza (porque sei que há) modos CIVILIZADOS de angariar fundos para estas instituições. Já o fizemos várias vezes, com festivais de música, por exemplo.
Posto isto, venho, solicitar à FENACERCI para recomendar às suas associadas que não sejam beneficiárias destas práticas selváticas e indignas de seres humanos, e muito menos de crianças e jovens tão puros.
Aproveito a presente mensagem para perguntar à Caixa Geral de Depósitos se tem conhecimento de que o seu logotipo consta no cartaz publicitário da referida tourada, e se a patrocinou.
Tudo isto é vergonhoso e não dignifica as instituições envolvidas nesta barbárie.
Agradecendo a atenção dispensada,
Isabel A. Ferreira
Com Marinhenses Anti-Touradas
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Não podemos permitir que as Cercis continuem a associar-se à tauromaquia. Por favor, escrevam para a Federação que as representa, bem como para a Caixa Geral de Depósitos, cujo logotipo consta no cartaz da tourada do dia 7/10/2017.
Basta enviar a mensagem sugerida (ou outra) para os endereços indicados.
Para:
com.marketing@fenacerci.pt
cgd@cgd.pt
Cc:
marinhenses.antitouradas@gmail.com
Ao que parece, o Nuno saiu da arena carregado por gente não especializada, o que poderia ter provocado o agravamento da sua situação clínica. Nestes casos, pode ser fatal o modo como se transporta o ferido. E não nos parece que nenhuma equipa médica fosse chamada à arena, para imobilizar adequadamente o Nuno (como devia ser) para depois o retirar do local onde foi colhido pelo Touro, Touro esse que apenas se defendeu da investida cobarde do forcado.
Os textos que escrevi, sobre esta matéria, colocavam o Nuno PARAPLÉGICO, até porque as notícias que iam saindo nos jornais, ora referiam “paraplégico”, ora referiam “tetraplégico”.
Como eu não podia acreditar que um jovem que ficou TETRAPLÉGICO num jogo estúpido como o da forcadagem, pudesse dizer que FARIA TUDO OUTRA VEZ (pareceu-me um tanto irracional, esta afirmação) fiquei-me no “paraplégico” pois seria mais razoável.
Até que recebi o seguinte comentário ao texto: «O Ex-forcado Nuno Carvalho-Mata vendeu-se por cem mil euros».
«De Maria do Carmo Silva a 16 de Março de 2013 às 12:57
Realmente não ajuda nada a causa anti -tourada este tipo de posts em que nem se procura confirmar informações. O Nuno está TETRAplégico. Não mexe os braços e pernas. Respira sozinho assim parece, tem mobilidade dos ombros.
Não sei qual a vértebra partida mas parece ter sido umas das cervicais, claramente. A colhida também mostra isso. Tem sorte de ainda estar vido ou não. Respeito pela desgraça alheia é um princípio que não abandonarei só porque o jovem cresceu no meio de tarados que nem sentem que o touro sofre e tornou-se num deles, infelizmente.»
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Ora fiquei deveras perplexa.
E respondi, o seguinte, à senhora:
Se o Nuno está tetraplégico, ainda é pior do que o que se diz por aí, e do que eu pensava. Obrigada pela informação. É que circulam as duas versões. EU tinha esperança de que fosse apenas paraplégico.
Mas se a Maria do Carmo Silva diz que é TETRAPLÉGICO, passarei a usar este termo (muito mais triste, muito pior).
E o Nuno não aprendeu NADA.
Continua a contribuir para que outros possam ficar tetraplégicos ou mesmo morrer.
Eu não aplaudo o que aconteceu ao Nuno, como os sádicos fazem quando aplaudem os toureiros e forcados feridos e mortos nas arenas, tal como aplaudem o que acontece aos TOUROS, QUE SÃO TÃO ANIMAIS COMO EU OU COMO O NUNO, E SOFREM DE IGUAL MODO.
Eu apenas LAMENTO que um governo permita que jovens fiquem nesse estado, por interesses económicos obscuros.
Eu LAMENTO que o Nuno tivesse ficado TETRAPLÉGICO, e que esse FACTO não tivesse EFEITO ALGUM na sua mente.
Eu LAMENTO que ele diga que se pudesse FARIA TUDO OUTRA VEZ.
Eu LAMENTO que o Nuno depois de ter ficado TETRAPLÉGICO diga alto que se pudesse candidatava-se novamente a FICAR TETRAPLÉGICO.
É esta mente distorcida que EU LAMENTO no Nuno. Entende Maria do Carmo Silva?
Não estou no rol dos sádicos para aplaudir o que de mal aconteceu ao Nuno, ainda que por livre e espontânea vontade dele.
Lamento o que acontece aos Touros, que vão para a arena FORÇADOS por energúmenos trogloditas.
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E a Maria do Carmo Silva respondeu-me:
«De Maria do Carmo Silva a 18 de Março de 2013 às 19:40
Estamos de acordo em tudo. A minha informação sobre o estado do Nuno vem de ter visto um documentário da TVI, salvo erro, uma reportagem feita no Alcoitão onde estavam a fazer a recuperação para lhe proporcionar maior autonomia.
Tudo isto é muito triste, mas há muita vida à frente do Nuno. Daqui a uns anos, depois de verificar quem está ainda com ele, quando entrar no esquecimento dos media, talvez mude de opinião e se junte àqueles que não querem torturar animais. Tenho esperança, com a experiência que teve, vindo de meios pró tourada ou seja pró tortura, a opinião dele seria decisiva, ele poderia salvar vidas, as de toureiros e as dos touros e cavalos.»
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Eis a minha resposta:
Exactamente, Maria do Carmo Silva.
É triste, muito triste, tudo o que aconteceu com o Nuno, e o que acontece com os desventurados animais, que sofrem tanto como nós, e como o Nuno sofreu. Os Touros só não ficam tetraplégicos, porque os MATAM a sangue frio, depois de barbaramente torturados.
É bem verdade que quem nasce nestes meios não conhece mais nada. Mas se tentamos mostrar-lhes outro caminho, se tentamos mostrar-lhes a verdade, não aceitam. E isso é muito lamentável.
Um dia, talvez, quando se vir só, o Nuno caia em si. Mas entretanto, para ganhar dinheiro, permite que seres magníficos sejam torturados, e outros jovens como ele, se candidatem a ficar tetraplégicos também.
Tudo isto me incomoda, Maria do Carmo Silva.
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Tristemente, já rectifiquei o que estava mal nos meus textos:
O Nuno, afinal, está TETRAPLÉGICO, e não paraplégico, mas se ficasse bom, voltaria a candidatar-se ao mesmo.
E é que ser tetraplégico é muito, muito mais grave do que ser paraplégico. Muito mais triste. Muito mais penoso.
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Para terminar, deixo-vos com uma reflexão do Carlos Ricardo, que me chegou hoje, para o texto «Amanhã vai haver festival taurino…»
«De Carlos Ricardo a 19 de Março de 2013 às 04:10
O aproveitamento dum "infeliz" aleijado (por culpa própria) feito pelos aficionados é de revoltar, REVOLTAR qualquer um !!! Menos os facínoras aficionados que não olham a meios para encher os bolsos!! E o Nuno não vê isso!! Ou por outro lado, NÃO QUER VER !! Porque a sua sede de sangue que já lhe custou a normalidade física, é superior ao seu amor-próprio...!!!
O "acidente" do Nuno deve ter sido, para os aficionados e promotores de touradas, como uma mina de ouro da qual, em nome da solidariedade e caridade (a que o povinho ignorante, cheiinho de pena, adere), continuam a facturar sem dó nem piedade por um animal que apenas pede para viver em paz.»
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E deixar que os Touros e Cavalos vivam em paz é só o que pedimos
Isabel A. Ferreira
Não podia deixar passar em branco mais este evento de falsa caridade.
Uma coisa chamou-me a atenção neste cartaz:
O preço dos bilhetes muito “convidativo” em tempo de crise.
Dizem que há muita fome por aí…
Mas também dizem que o campo da Moita vai estar cheio.
E o IVA é só de 13%.
Produtos alimentícios levam com 23% de IVA.
Mas a tortura é tortura. É um bem ESSENCIAL.
Será por uma boa causa?
A resposta a esta pergunta, saberemos daqui a uns tempos.
E a tortura de seres vivos, o ritual macabro e cruel, uma vez mais, servirá para fazer caridadezinha.
O ex-forcado nada aprendeu, e lá vai contribuindo para a história macabra que se vai desenhando ao redor dele.
Um dia, lá muito para diante, o Nuno lembrar-se-á das minhas palavras, com toda a certeza absoluta. E dirá, demasiado tarde, porém: «Aquela ignorante (que é assim que me tratam) tinha razão».
Pois é, sei que tenho razão, Nuno, lamento é que ainda não tenhas conseguido vê-la.