Mais um.
Esperemos, no entanto, que isto não vá adiante, senhor Fernando Manuel dos Santos Freire, Presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha!
Haja bom senso e bom gosto.
Este ano, além de a cidade de Tomar assumir a presidência da rede templária europeia, comemora-se os 850 anos do Castelo de Almourol, e o “ârquitêtu” (transcrição fonética de arquiteto no topo da notícia) Tomás Reis apresentou a proposta que podemos ver na imagem, que ele explica do seguinte modo: «Um percurso, de cota variável e planta circular, que une as margens do rio Tejo. Com esta requalificação dos acessos ao castelo de Almourol, melhoram-se as condições de visita de um dos mais importantes monumentos templários de Portugal»
Por isto mesmo, por ser um dos mais importantes monumentos templários de Portugal, não deve ser, deste modo, menoscabado.
Recordemos que o Castelo de Almourol foi mandado contruir por Gualdim Pais em 1171, e ainda mantém algumas das características originais, como a torre de menagem e o alambor, e a sofisticação da arquitectura militar da Ordem dos Templários, ainda é bem visível. É bem provável até, segundo uma investigação levada a cabo por Nuno Fonseca, que a construção seja ainda a original. Penso que o Nuno Fonseca poderá estar certo. Já visitei o Castelo algumas vezes e também me pareceu, se bem que nunca fiz nenhuma investigação a esse respeito. Mas pareceu-me, por estar bem conservado. É um ícone da construção templária. Um exemplar magnífico dessa época. Portanto, um monumento com história, num lugar privilegiado.
O melhor da visita a este Castelo é percorrer os caminhos agrestes que a ele conduzem.
Tentar cercá-lo deste modo espalhafatoso, retira-lhe todo o romantismo que se quer e se deve manter.
Quanto mais selvagem for a envolvência, mais preservado fica.
Este projecto pretende repartir a atenção do visitante: não é só o castelo que conta a história do lugar; é também a sua relação com os elementos naturais que o envolvem. O percurso mantém uma distância dos recintos muralhados, respeitando a sua integridade, e abraça o leito do rio, a vegetação ripícola e as vertentes escarpadas. A ideia é a de que ao fazer esse percurso, os visitantes tomem consciência das transformações ambientais. Assim ficará mais evidente a riqueza patrimonial, não só cultural, mas também natural, num lugar que mostra muito mais do que 850 anos de história.
Contudo, a estrutura do cerco ao Castelo prevalecerá sobre a ambiência que rodeia a construção com mais de 800 anos, e para a construir, muita coisa será destruída.
E o efeito final não poderá ser mais desastroso: um verdadeiro atentado a um património que se quer preservado na sua beleza primitiva.
Por isso, apelo ao Senhor Presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha que se debruce, com olhos de ver e cérebro de pensar, sobre este projecto, e chegue à conclusão de que não beneficiará a envolvência do belíssimo monumento nacional, que é o Castelo de Almourol.
Enviem os vossos protestos para:
Isabel A. Ferreira
Fonte da imagem e da notícia:
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O Castelo de Almourol está a salvo.
Acabo de receber o seguinte texto do presidente da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha:
fernandosantosfreire@sapo.pt comentou o post Cerco ao Castelo de Almourol: um atentado ao Património Histórico Português às 16:54, 22/01/2021 :
Calma, cito Miguel Torga – Diário – Vols. IX a XII: “O que me vai valendo nesta penitenciária pátria é nunca perder de vista alguns recantos que nela são oásis de libertação e de esquecimento. Empoleirado no terraço desta fortaleza lírica que os Templários ergueram no meio do Tejo, debruçado sobre o abismo a deixar o rio deslizar brandamente na retina, quero lá saber se a política vai bem ou mal, se a literatura anda ou desanda, se a nau colectiva singra ou soçobra! Extasio-me, apenas. Ou melhor: numa espécie de petrificação emotiva, acabo por fazer corpo com as muralhas, e ser o próprio baluarte erguido na pequena ilha, inexpugnável a todas as agressões do real.” Então, por favor, não agridam o real ! A grandeza temporal e intemporal do lugar, numa suavidade incomum em Portugal, deve ficar como está ! Fernando Santos Freire, estando presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha
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Muito, muito obrigada, Senhor Fernando Santos Freire, presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha.
Não pode imaginar o quanto todos nós, que pugnamos pela preservação do nosso património, ficamos gratos por esta postura de V. Exa..
Que o Castelo de Almourol fique então como está: ainda tão belo nos seus 85O anos de existência.
Isabel A. Ferreira