Terça-feira, 21 de Maio de 2013

Joaquim Murteira Grave - «O perito tauromáquico que não sabe classificar biologicamente os touros»

 

A entrevistadora não teve o mínimo sentido crítico, o entrevistado mostrou  que não vale nada...  E a revista "Caras" demonstrou estar ao serviço do lobby tauromáquico.

 

Ó Ordem dos Médicos-Veterinários, de que estão à espera para banir da Ordem quem assim é apenas uma "espécie" de veterinário? Que vergonha!!! 

 

Isabel A. Ferreira

 

***

O perito tauromáquico que não sabe classificar biologicamente os touros

 

Murteira Grave: o ganadeiro /veterinário que afirma que os touros usados nas touradas são uma espécie, ao arrepio da classificação biológica dos seres vivos, matéria do 5.º ano de escolaridade.

 

Murteira Grave.jpg

 

Em entrevista à revista “Caras”, publicada na edição de 18 de Maio de 2013, Murteira Grave responde a questões colocadas por Rita Ferro e fala na “espécie dos toiros de lide”. Se essa classificação viesse de um aficionado comum, apesar de errada do ponto de vista da taxonomia, não seria muito extraordinária, tendo em conta os elevados índices de analfabetismo entre a população aficionada. Mas a afirmação é de um suposto veterinário, um perito em touros, pelo que a gafe é de uma gravidade estrondosa. Um veterinário inserido na indústria tauromáquica revelar esta incapacidade para proceder à classificação biológica dos touros é verdadeiramente sintomático da impossibilidade dos aficionados alicerçarem a defesa da tauromaquia com argumentação coerente, racional e verdadeira. E mais, tal lapso imperdoável pode potenciar dúvidas legítimas em relação ao diploma académico do ganadeiro em questão.

 

Uma criança que frequente o 5.º ano de escolaridade, altura em que aprende a classificar os seres vivos, sabe que os touros não são uma espécie, mas sim os indivíduos machos de uma espécie designada por Bos Tauros, à qual pertencem todos os bovinos, incluindo aqueles que são torturados em espectáculos tauromáquicos. Ou seja, os touros que existem no planeta são todos da mesma espécie, o que pode variar é a raça, que é algo bem diferente.

 

Os touros ditos de “lide” não são uma espécie com toda a certeza e nem sequer reúnem os requisitos para serem classificados como uma raça distinta entre os bovinos. Por conseguinte, a “bíblia” tauromáquica "El Cossío" não se atreve a determinar que o touro dito de “lide” constitui uma raça, como se pode constatar na ficha zoológica que apresenta relativamente a estes animais.

http://www.animanaturalis.org/704


Ficha zoológica do touro dito de “lide” segundo a enciclopédia tauromáquica “El Cossío”:

 

Tipo – Vertebrados

Classe – Mamíferos

Subclasse – Monodelfos

Ordem – Ungulados

Subordem – Artiodáctilos

Secção – Ruminantes

Família – Cavicórnios

Subfamília – Bovinos

Género – Bos

Espécie – Bos Tauros

Raça – Bos Tauros Africanus

Sub-raça ou Variedade – Andaluza, Navarra etc.

 

Este caso de ignorância relativamente à classificação biológica dos touros deveria ter como desfecho o regresso do suposto veterinário à escola, para aprender que os touros não são uma espécie e para aprender a definição de espécie.

 

Espécie - grupo de seres vivos com características semelhantes, que se cruzam entre si dando origem a descendentes férteis.

 

As contradições e incoerências na defesa da indefensável tortura de bovinos  

 

Em comentário acerca do antropomorfismo, o ganadeiro Murteira Grave diz que "antropomorfismo é a teoria que extrapola para os animais os sentimentos humanos”. Acusa os anti touradas de padecerem desse antropomorfismo mas, no mesmo comentário, acaba por antropomorfizar o touro dizendo que o touro “realiza o seu grande bem lutando” e que “realiza-se plenamente na corrida”. Ou seja, o perito tauromáquico explica que “o toiro é um profissional da fúria” e que as touradas são o culminar da realização profissional dos bovinos, numa clara e absurda antropomorfização dos animais. Como todos sabem, os animais não têm uma especial preocupação em realizar um grande bem ou em realizarem-se pessoal e profissionalmente, sendo estas afirmações do ganadeiro um exemplo crasso da visão antropomórfica subjectiva distorcida dos bovinos. É uma visão distorcida porque atribuí características a um animal herbívoro que contradizem a natureza dos herbívoros, tal como é descrita pelos etólogos.

 

Segundo o perito tauromáquico Murteira Grave, o sofrimento não existe no caso dos  animais

Tortura de Touros.png

 

O Sofrimento implica zonas mais profundas do organismo e supõe uma consciência reflexiva que, naturalmente, o animal não possui” – Murteira Grave in entrevista da revista Caras, publicada na edição de 18 de Maio de 2013.

 

Esta poderia ser uma consideração de algum nazi-fascista, numa tentativa desesperada de justificar as macabras experiências científicas em seres humanos ou a eliminação física dos deficientes levadas a cabo durante o holocausto perpetrado pelo regime nazi. Mas não, é um suposto veterinário da indústria tauromáquica negando a capacidade dos animais sofrerem. Para este perito tauromáquico, o sistema nervoso central é algo inútil no caso dos animais porque neles a dor não se traduz em sofrimento. Por isso,  certamente considerará sem sentido toda a panóplia de legislação comunitária no sentido de evitar ou minimizar o sofrimento dos animais. Diria ele, que esta legislação e considerações científicas são obra de animalistas que desconhecem a realidade dos animais:

 

- Legislação europeia para evitar e minimizar o sofrimento dos animais

http://europa.eu/legislation_summaries/food_safety/animal_welfare/index_pt.htm

 

- O sofrimento do Touro de lide explicado pelo veterinário José Enrique Zaldívar Laguía

http://www.revistagobierno.com/portal/index.php/politica/opinion/10123-opinion-el-sufrimiento-del-toro-en-la-lidia-lesiones-anatomicas-alteraciones-metabolicas-y-neuroendocrinas

http://mmedia.uv.es/buildhtml/19860

 

- ‘Suffering’ in bullfighting bulls; An ethologist’s perspective - By Jordi Casamitjana

http://www.cas-international.org/fileadmin/protestacties/Documenten/The_suffering_of_bulls_CAS_Jordi_Casamitjana.pdf

 

- Adaptive Metabolic Responses in Females of the Fighting Breed Submitted to Different Sequences of Stress Stimuli

http://dl.dropbox.com/u/5028000/Adaptive%20Metabolic%20Responses%20in%20Females%20of%20the%20Fighting%20Breed%20Submitted%20to%20Different%20Sequences%20of%20Stress%20Stimuli.pdf

 

Segundo Murteira Grave, infligir cortes de pouca profundidade não é coisa que cause sofrimento, porque este implica zonas mais profundas. Para o ganadeiro, não existindo “consciência reflexiva” não há sofrimento, pelo que deve deduzir que os bebés e os deficientes profundos não têm capacidade para sofrer.

 

O que se pode dizer destas teorias aberrantes que tentam justificar a injustificável tortura de seres inocentes? São aberrações, nada mais do que isso.

 

E ainda por cima, os aficionados não se entendem uns com os outros, como se isto se tratasse de uma brincadeira de opiniões. Uns dizem que os touros não sofrem, e outros dizem que sim, como é o caso deste empresário tauromáquico:

 

Eu acho que de facto existe sofrimento. E esse sofrimento tem de ser assumido.” - Carlos Pegado, empresário tauromáquico no debate do programa Aqui & Agora na SIC sobre direitos dos animais.

http://youtu.be/035cMLK-Buc

 

Fonte: 

http://pelostourosvivos.blogspot.com/2013/05/o-perito-tauromaquico-que-nao-sabe.html

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:24

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