Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2013

DIÁRIO DE UM CÃO

 

«POR QUE TIVE DE NASCER SE NINGUÉM ME QUERIA…»

 
 
 

1ª Semana – Hoje completei uma semana de vida. Que alegria ter chegado a este mundo!

 

1º Mês – A minha mãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar.

 

2 Meses – Hoje separaram-me da minha mãe. Ela estava muito irrequieta e, com o seu olhar, disse-me adeus. Espero que a minha nova “família humana” cuide tão bem de mim como ela o fez.

 

4 Meses – Cresci rápido., tudo me chama a atenção. Há várias crianças na casa e para mim são como “irmãozinhos”. Somos muito brincalhões, eles puxam-me o rabo e eu mordo-os na brincadeira.

 
 
 

5 Meses – Hoje zangaram-se comigo! A minha dona ficou incomodada porque fiz xixi dentro de casa. Mas nunca me explicaram muito bem onde deveria fazê-lo. Além do que, durmo no hall de entrada. Não deu para aguentar.

 

8 Meses – Sou um cão feliz! Tenho o calor de um lar; sinto-me tão seguro, tão protegido… Acho que a minha família humana me ama e me dá muitas coisas. O jardim é todo para mim e, às vezes, excedo-me, cavando na terra como os meus antepassados, os lobos quando escondiam comida. Nunca me educam… Deve ser correcto tudo o que faço.

 

12 Meses – hoje completam um ano. Sou um cão adulto.

 

13 Meses – Hoje acorrentaram-me e fico quase sem poder movimentar-me até onde apanhe um raio de sol ou quando quero alguma sombra. Dizem que vão me observar e que sou um ingrato. Os meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam Que orgulho devem ter de mim.

 
 
 

15 Meses – Já nada é igual… moro na varanda. Sinto-me muito só. A minha família já não me quer! Às vezes esquecem-se de que tenho fome e sede. Quando chove, não tenho tecto que me abrigue…

 

16 Meses – Hoje tiraram-me da varanda. Estou certo de que a minha família me perdoou. Eu fiquei tão contente que pulava com gosto. Além disso, vão levar-me a passear! Dirigimo-nos para a estrada e, de repente, pararam o automóvel. Abriram a porta e eu desci feliz, pensando que passaríamos o nosso dia no campo. «Ouçam, estou aqui, esperem”! Ladrei… esqueceram-se de mim… Corri atrás do carro com todas as minhas forças. A minha angústia crescia ao perceber que quase perdia o fôlego. Eles não paravam. Esqueceram-se mesmo de mim.

 

17 Meses – Procurei em vão achar o caminho de volta ao lar. Estou só e sinto-me perdido. No meu caminho existem pessoas de bom coração, que me olham com tristeza e me dão algum alimento. Eu agradeço-lhes com o meu olhar, desde o fundo da minha alma. Eu gostaria que me adoptassem: seria leal como ninguém! Mas apenas dizem: «Pobre cãozinho, deve ter-se perdido!».

 
 
 

18 Mês – Um dia destes, passei perto de uma escola e vi muitas crianças e jovens como os meus “irmãozinhos”, aproximei-me e um grupo deles, rindo, atirou-me uma chuva de pedras, feriu-me o olho e, desde então, não vejo com ele.

 
 

19 Meses – Parece mentira. Quando estava mais bonito, tinham compaixão de mim. Já estou muito fraco; o meu aspecto mudou. Perdi o meu olho e as pessoas mostram-me a vassoura quando pretendo deitar-me numa pequena sombra.

 

20 Meses – Passam os carros, um acertou-me!

Eu estava no passeio, mas nunca esquecerei o olhar satisfeito do condutor, que até se vangloriou por me acertar. Oxalá me tivesse matado! Mas só me deslocou as patas traseiras. A dor é terrível. As minhas pernas não me obedecem e com dificuldade arrastei-me até à berma.

Faz já seis dias que estou debaixo de sol e chuva. À noite faz frio. Uma poça lamacenta mata-me a sede. A fome é terrível. Já não posso mexer-me. A dor é insuportável. Sinto-me muito mal. Fiquei num lugar húmido e parece que até o meu pêlo está a cair…

 

Algumas pessoas passam e nem me vêem; outras dizem: «não te chegues perto». Já estou quase inconsciente; mas alguma força estranha me faz abrir os olhos. A doçura da sua voz fez-me reagir. «Pobre cãozinho, olha como te deixaram», dizia… com ela estava um senhor de bata branca.

 

Começou a tocar-me e disse: «Sinto muito minha senhora, mas este cão á não tem remédio. É melhor que pare de sofrer». A gentil senhora, com as lágrimas rolando pelo rosto, concordou.

 
 

Como pude, mexi o rabo e olhei-a, agradecendo-lhe que me ajudasse a descansar. Somente senti a picada da injecção e dormi para sempre, pensando por que tive de nascer se ninguém me queria…

 

 http://www.sosanimal.com/html/body_diario_de_um_cao.html
 
 
 
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 14:58

link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos

Mais sobre mim

Pesquisar neste blog

 

Dezembro 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts recentes

DIÁRIO DE UM CÃO

Arquivos

Dezembro 2024

Novembro 2024

Outubro 2024

Setembro 2024

Agosto 2024

Junho 2024

Maio 2024

Abril 2024

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Direitos

© Todos os direitos reservados Os textos publicados neste blogue têm © A autora agradece a todos os que os divulgarem que indiquem, por favor, a fonte e os links dos mesmos. Obrigada.
RSS

AO90

Em defesa da Língua Portuguesa, a autora deste Blogue não adopta o Acordo Ortográfico de 1990, nem publica textos acordizados, devido a este ser ilegal e inconstitucional, linguisticamente inconsistente, estruturalmente incongruente, para além de, comprovadamente, ser causa de uma crescente e perniciosa iliteracia em publicações oficiais e privadas, nas escolas, nos órgãos de comunicação social, na população em geral, e por estar a criar uma geração de analfabetos escolarizados e funcionais. Caso os textos a publicar estejam escritos em Português híbrido, «O Lugar da Língua Portuguesa» acciona a correcção automática.

Comentários

Este Blogue aceita comentários de todas as pessoas, e os comentários serão publicados desde que seja claro que a pessoa que comentou interpretou correctamente o conteúdo da publicação. 1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias. Serão eliminados os comentários que contenham linguagem ordinária e insultos, ou de conteúdo racista e xenófobo. Em resumo: comente com educação, atendendo ao conteúdo da publicação, para que o seu comentário seja mantido.

Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt