Maria Helena Capeto, uma cientista e escritora que muito prezo, escreveu este curto mas interessantíssimo diálogo, que diz tudo sobre a tentativa que fazemos para passar aos desinformados, as informações necessárias para que evoluam e saiam da ignorância em que estão mergulhados até à ponta dos cabelos.
Porém, a missão torna-se impossível, porque assim como o pior cego é aquele que não quer ver, o pior ignorante é o que, por opção, prefere continuar ignorante.
Homo Sapiens versus Homo Parvus
Sapiens - Não arranques a árvore, colhe só os frutos!
Parvus - Eu quero a árvore toda para mim!
Sapiens - Se não arrancares a árvore todos vão poder comer os frutos, tu incluído.
Parvus - És parvo ou quê? Estão ali mais duas árvores!
Sapiens - Mas se arrancas essa, os teus irmãos também arrancam as outras.
Parvus - E depois?
Sapiens - Depois não há mais frutos para ninguém!
Parvus - Mas nós ficamos com eles, por isso não há problema. É tradição.
Sapiens - Os frutos vão apodrecer e nem vocês vão ter mais.
Parvus - Lá estás tu com as tretas das teorias sempre armado em sabichão! Aprendeste isso onde? Sempre arrancámos as árvores! Não consegues perceber que assim estamos a protegê-las? Se não as arrancássemos já não existiam! Vê se vais aprender alguma coisa de jeito! Se soubesses do que falas ias arrancar as árvores como nós!
Sapiens - Desisto. Quando não tiverem frutos comam os troncos!
...
Maria Helena Capeto
Eis um exemplo a seguir, por todos os Encarregados de Educação, para que os seus filhos não sejam os ignorantes do futuro
A Mãe lúcida de uma criança lúcida também, não se deixa intimidar por imposições descabidas, e orienta a filha no sentido de rejeitar o repugnante Acordo Ortográfico 90, que trucida a Língua Portuguesa.
Eis a experiência contada na primeira pessoa:
«Eu continuo no papel de Encarregada de Educação, na plena acepção do termo... A criança escreve em Português-padrão consuetudinário. Se, por causa disso, sofrer algum tipo de penalização, cá estaremos para dirimir essa questão em tribunal...
Entretanto, faz o mais importante (do que os resultados, as notas, etc.): APRENDE a sua Língua Materna como deve ser, não delapidada / estropiada...
(A criança "faz gala", e ainda é mais "torta" que a própria mãe... Diz a quem lhe assinala «Já não se escreve assim...»: «Quando este disparate do "acordo" acabar, vocês não saberão escrever, terão sempre dúvidas, até porque não faz sentido e andam a escrever com erros por todo o lado, na televisão, nos livros escolares, etc., não é "acordês", é "mixordês" e já ninguém sabe escrever, excepto quem escreve como aprendeu BEM...»)
Sim, é tão simples como apoiar a rejeição da minha filha, no meu caso... No entanto, se tivesse dado com um(a) professor(a) "acordista" ferrenho(a), enquanto ela andou no 1º ciclo, apenas a poria perante um "bilinguismo ortográfico", para não entrar em rota de colisão com o(a) professor(a), o que é SEMPRE terrível para a criança e só levaria à rejeição da escola e da aprendizagem escolar... Dar-lhes muita coisa para ler, em BOM PORTUGUÊS, e eles saberão escrever...
Ela tem 10 anos, concluiu agora o 5º ano... Como frequentou, pela primeira vez, a EB2,3 do seu agrupamento escolar, os professores ficaram muito espantados com o caso dela...
Quando lhe apontavam erros no caderno, nos primeiros dias, limitava-se a informar: «Eu não escrevo em "acordês"». A Directora de Turma disse-lhe: «Mas agora é obrigatório...», e ela disse-lhe que achava que ela não tinha sido bem informada, mas que lhe levaria uma documentação (que levou)...
Demonstrou-lhe que o Ministério da Educação exerce autoridade (patronal) sobre os professores [embora haja o dever de desobediência, para preservação do património cultural e a não instrumentalização do ensino-aprendizagem pelo poder político, mas isso ela não disse, estou eu a dizer...], mas não sobre os Encarregados de Educação... que são o que o nome permite inferir.
Caso curioso, a professora de Matemática passou a envergonhar-se com tantas "retas" e "semirretas" nos exercícios, e passou a apresentar TESTES SEM "ACORDÊS"... E outras coisas houve...
A Inês teve até um acto de coragem, este ano... Foi chamada ao quadro, escreveu a palavra "directa", no meio de outras (correcção de um trabalho para casa).
Os outros meninos começaram a rir-se. A professora murmurou «Tira o "c"...». E ela, em vez de tirar, lamentou-se à professora «Já sabia que eu não escrevo assim quando me chamou ao quadro...». «Deixa, podes sentar-te...», apaziguou-a a professora, e foi ELA retirar o "c"...
É de força, ela... Não sou eu quem lhe diz para "pôr os pés à parede", mas fico feliz por educar uma futura cidadã consciente, uma não-memé.»
Madalena Homem Cardoso
(Médica, escritora e activista cívica e autora da famosa Carta Aberta ao ministro da Educação Nuno Crato, um marco na luta contra esta aberração que nos querem impor, e que pode ler-se aqui:
http://static.publico.pt/docs/educacao/carta.pdf
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O futuro do país precisa de milhares de não-memés…