Um texto irónico de Carlos da Torre, sobre a prática de uma “tradição” que avilta a dignidade humana.
Texto de Carlos da Torre
«"Se tourada é cultura, canibalismo é gastronomia" - ironizou há tempos o maestro António Victorino de Almeida. Não terá razão o maestro. Podemos ver este assunto de outra maneira. Compreender a importância cultural da tourada e reconhecer que não é impossível que o canibalismo possa já ter sido gastronomia em alguns momentos históricos em alguns lugares. O que nos poderá também levar às conclusões de que nem tudo quanto é cultura é recomendável e de que nem toda a gastronomia é aceitável. Porém, temos consciência de que estaremos acompanhados numa escala indiscutível na rejeição do canibalismo e que conviveremos com maiores diferenças de opinião no que respeita às touradas. Torna-se aconselhável, por isso, balizarmos a discussão deste assunto com valores de aceitação tendencialmente universal. Valores civilizacionais. Com todas as contradições que sempre existem nestes contextos.
Cremos que o não infligir maus tratos aos animais se inscreve nessa universalidade do nosso tempo, no quadro da dignidade humana. Isto não significa deixarmos de ser carnívoros, que tendo os seus defensores é uma opção considerada por quase todos como excessiva e que é claramente discutível do ponto de vista da saúde humana. Está longe de significar o abandono absoluto de muitas práticas violentas sobre os animais associadas à nossa sobrevivência. Mas tende a consensualizar o repúdio pelos espectáculos centrados no sofrimento dos animais. Exibição de luta entre animais. Ou, como no caso das touradas, em que os animais são condicionados para se apresentarem em arenas com agressividade suficiente, e não mais, para exibições de coragem gratuita de uns e falsos heroísmos de outros. Do touro espera-se que sofra com espectacularidade. Para bem das artes tauromáquicas. Para bem do espectáculo. Para bem dos negócios associados.
E deve continuar assim, porquê? Porque é tradição? Porque é cultura? Porque é arte? Pode ser tudo isso! Mas manter intocável a prática de tradições que aviltam a dignidade humana tal como a concebemos neste tempo, mesmo se em nome da preservação cultural, só pode ser óbvio para quem esteja inconscientemente preso ao passado ou se mova hipocritamente em função dos interesses dos seus negócios presentes.
Com o evidente exagero, é caso para lembrar que preservamos a memória da guilhotina mantendo esses instrumentos em museus. Não lhes damos uso! Deveria ser de outro modo?
Carlos da Torre»
(Texto de opinião publicado no jornal "A Aurora do Lima" em Agosto de 2013)
Fonte:
Um texto escrito com a dignidade intrínseca a um verdadeiro Ser Humano.
Faço minhas as palavras de Ana Bacalhau.
Por Ana Bacalhau (PAN)
«Muitas vezes, aqueles que defendem os direitos dos animais são vistos como alguém que ama mais um animal do que o seu semelhante humano. Nada de mais errado.
A verdade é que as sociedades onde os direitos dos animais não estão protegidos são, por norma, sociedades que não respeitam os direitos humanos na sua totalidade. E porquê? Porque é através da forma como tratamos o outro que nos definimos e maltratar um animal é assistir ao rebaixamento do ser humano, à sua desumanização, à ignorância mais pura da sua própria condição. Porque o ser humano é, também ele, um animal. Com características que o distinguem dos outros, mas, no entanto, um animal. E ao não respeitar os restantes animais, não se está a respeitar a si próprio.
Portugal é um bom exemplo disto mesmo. Faltam leis e, mais importante ainda, falta uma cultura de cidadania bem arreigada, por isso, assistimos à constante violação de direitos, por falta de instrução, de cultura, de humanização. Tanto vemos cães e gatos acorrentados nas varandas dos prédios ou nos quintais das aldeias, como vemos lares de idosos em condições deploráveis. Tudo isto faz parte do mesmo problema. Enquanto não percebermos isso, falharemos em solucioná-lo, enquanto sociedade civil. E é a sociedade civil que tem de intervir para que se mudem as consciências. As leis têm de existir, mas o cumprimento delas está no coração de cada um.
Os animais não falam, não se podem defender. Por isso, é importante que nós os possamos defender, possamos ter uma voz activa por eles. Sem excessos, nem fundamentalismos. Apenas com muito amor.
Amo muito os animais, como amo muito o ser humano. Defendo-os, como se me defendesse a mim, porque, em última análise, me estou a defender a mim. À minha dignidade. À dignidade da espécie à qual pertenço.
Ana Bacalhau»
Fonte:
http://www.pan.com.pt/accoes/apoiantes/item/157-ana-bacalhau.html
Era de se esperar, porque nem todos os limianos são broncos.
Alguns evoluíram, e hão-de evoluir mais, até porque este tipo de “divertimento” é do tempo em que não havia cinema, festivais de música, arraiais, televisão, corrida de carros e de carrinhos, enfim, quando o povo era bronco porque reinava a ignorância e a civilização ainda não tinha dado o ar da sua graça.
O que vemos na imagem é um atentado à dignidade humana
Além disso pelas fotos que podemos ver no link mais abaixo, parece que os aficionados não quiseram passar por broncos, pois não os vimos vestidos com as t-shirts oficias do “evento”.
A "vaca das cordas"? Tem os seus dias contados.
O povo culto de Ponte de Lima não quer ver a sua terra na boca do mundo pelas piores razões, ou seja, pelo divertimento bronco e imbecil que é a chamada "vaca das Cordas».
Fonte: http://www.jn.pt/multimedia/galeria.aspx?content_id=3984887