Desde sempre me preocupei com as crianças, afinal, são elas o futuro da Humanidade. E foi por elas que escrevi o «(Des)concerto de Ano Novo», no já longínquo fim de ano de 2009.
“Chamo-o” para o dia de hoje, porque passados 10 anos, continuo preocupada, ainda mais, com as crianças, esquecidas neste mundo enlouquecido, sobretudo, com as crianças portuguesas, pois nada mudou, nada avançou, tudo se transformou, para pior, desde 2009, quando o normal seria evoluir-se…
O que se tem feito contra as crianças, em Portugal, constitui um crime de lesa-infância, ao qual nenhuma autoridade dá a mínima importância, talvez porque as crianças não votam, não se manifestam, não têm voz.
Além de não lhes assegurarem um futuro condigno, neste Planeta que se esvai, estão a impingir-lhes uma grafia que não lhes pertence. Estão a enganá-las de um modo vil. O desrespeito que a elas os governantes, os parlamentares, a maioria dos professores e muitos pais consagram é horripilante!
É motivada pelas crianças que faço esta reflexão, desejando que o ano de 2020 traga a lucidez e a racionalidade, que tão arredadas andam da sociedade portuguesa e das esferas do Poder.
Um novo ano abre caminho para um lugar velho.
Nestas ocasiões costumo reflectir acerca do que se passa no mundo e ao meu redor: se os homens cresceram ou continuam crianças, eternamente teimosas, brincando aos chefes e aos bandidos, enfim, se renitentes em deixar crescer a mente para se tornarem homens responsáveis e poderem governar os destinos dos outros homens, com a lucidez necessária.
Reflicto igualmente no que eu própria fiz ou fui, e como tudo poderia ter sido diferente SE...
Entretanto, e porque foi época de troca de prendas, chegou-me do Brasil a obra «Amor – Um Livro Maravilhoso Sobre a Maior Experiência da Vida», da autoria de Leo Buscaglia, escritor de origem italiana, que me ensinou muitas coisas e fez-me reflectir sobre outras, nomeadamente a Criança – essa eterna esquecida.
Eu tinha imaginado para este início de ano uma crónica algo idêntica a um belo prelúdio, executado num bosque, com chilreio de pássaros à mistura. Contudo, uma qualquer força misteriosa (sempre presente em mim) conduz os meus pensamentos para a Criança – espécimen em extinção.
Alarmei-me, e desconfio que o meu pretendido prelúdio se transforme num desconcertado concerto de Ano Novo.
No seu livro, Leo Buscaglia fala de uma professora de arte que, um dia, desenhou, no quadro negro, uma árvore que parecia um pirolito (era a árvore dela), e pediu aos alunos que também desenhassem uma, nos seus cadernos.
Um garoto (que conhecia bem as árvores, pois já «subira numa árvore, abraçara-a, caíra de lá, ouvira uma brisa através dos seus galhos...» desenhou uma «linda monstruosidade com os seus lápis roxo, amarelo, laranja e verde». Mostrou-a à professora, e esta comentou: «Que loucura!» Porque o que na realidade pretendia era que o menino desenhasse uma árvore igual ao “pirolito” que ela desenhara no quadro negro.
Esta passagem, fez-me recordar uma outra história, esta verídica, passada numa escola da cidade onde resido, com uma menina, minha amiga, tímida, por natureza (não serão as flores tímidas também, no seu desabrochar?) mas muito perspicaz e observadora.
A professora mandara a turma desenhar e pintar uma árvore. A menina desenhou então a “sua” árvore, semelhante às das outras crianças, com excepção da cor: a sua era avermelhada.
A professora ao ver tal cor na árvore, disse-lhe: «A tua árvore está errada, porque as árvores são verdes e não vermelhas.» A menina, como era tímida, calou-se. Nada explicou à professora. Se esta não tinha entendido a “sua” árvore, de nada valeria explicar-lhe o que quer que fosse.
Nesse dia, a menina chegou triste a casa, e contou à mãe o sucedido: ela havia desenhado uma árvore e pintara-a de uma cor avermelhada, igual à que tinha visto no Jardim Botânico de Coimbra, numa manhã de Outono. Era tão bonita! A professora dissera-lhe que a “sua” árvore estava errada, pois as árvores são verdes. Porém, a menina já tinha visto árvores com folhas amarelas, castanhas, vermelhas, e, além disso, aquela era a “sua” árvore de Outono.
A mãe tranquilizou-a dizendo: «Deixa lá! Talvez a professora nunca tivesse olhado para as árvores, no Outono. Talvez tu pudesses ter-lhe sugerido que observasse melhor as árvores no Outono...»
Mas a menina entendeu que não valia a pena. Se a professora cresceu sem nunca ter observado as árvores no Outono, agora já não fazia diferença nenhuma...
O certo é que essa menina começou, desde então, a rejeitar a escola e a desmotivar-se pelo estudo. Na verdade, o que poderia aprender com alguém que nem sequer uma árvore de Outono conhecia?...
Se, ao contrário daquela frase seca «A tua árvore está errada», a professora tivesse perguntado: «Por que pintaste a árvore de vermelho?», a menina teria tido oportunidade de explicar-se, e que bela aula sobre o Outono e as transformações da Natureza poderia ter acontecido!
Daí para diante, a escola para esta menina foi um lugar de desencanto. E para quantas mais, por idênticos ou outros motivos, a escola não passa de um lugar de tédio?
Embora na prática, e quase inconscientemente, sempre tivesse lutado pela preservação da minha própria individualidade (cada ser humano tem a sua, e existe algo dentro de cada um que o diferencia de todos os outros), o que determinou o modo como estou no mundo, enfrentando os preconceitos dos outros, para poder ser livre (só criamos sendo livres), teoricamente, foi o que aprendi fora da escola, o que significa que o Ensino em Portugal, apesar de todas as reformas e contra-reformas, sempre dificultou o processo de ajudar o aluno a descobrir e a entender a sua própria individualidade, não lhe apontando os caminhos que poderão desenvolver essa particularidade, nem lhe mostrando como a partilhar com os outros. O que temos é um Ensino que tenta fazer com que todas as crianças sejam iguais. E é isso que me assusta.
A propósito, recordo-me que quando frequentava a Faculdade, tive uma discussão académica com o meu professor de Pré-História, na aula em que ele tentava “impingir-nos” a teoria de Darwin, sobre a Origem do Homem. Como eu já havia lido algumas outras opiniões (não entra aqui a de Adão e Eva) sobre a matéria, formulei a minha própria teoria, não menos lógica do que a de Darwin. Mas quem era eu para me atrever a desenvolver teorias que se opusessem ao que estava estabelecido como certo? Uma simples aluna, que devia papaguear o que o professor dizia, sem poder emitir opiniões?
Recordo-me igualmente do meu primeiro e único “chumbo” na minha vida de estudante, quando me atrevi, num exame final, a tecer considerações sobre o «comportamento libertino do clero na Idade Média». Pedi revisão de prova, e verifiquei que em todas as minhas respostas haviam sido retirados alguns pontos (mais nessa do clero) por “irreverências” (ou seja, opinião pessoal) num tempo em que tínhamos de calar o pensamento, o que transformava os alunos em autênticos “papagaios”, o que eu, naturalmente, me recusava a ser (daí a minha nota de curso ter-se ficado por um simples 13,5).
Hoje, no pós-25 de Abril, tudo continua quase na mesma ou pior ainda. Os alunos são tratados como atrasados mentais, não lhes deixando muito campo para a criatividade (serão os professores criativos?). Nem os deficientes mentais devem ser tratados como tais. A normalidade gera a normalidade. E a criatividade gera a criatividade.
O professor deve limitar-se a mostrar as “ferramentas” do saber aos alunos, e deixar que estes criem, soltem o pensamento, sonhem, descubram algo de novo no mundo que têm ao seu alcance.
No tempo em que dei aulas (era ainda bacharel), tentei “fugir” ao programa oficial, dando liberdade às crianças (ensinava História e Língua Portuguesa) de voarem com as suas próprias asas. Cheguei mesmo a recusar-me a dar a matéria tal qual vinha no Compêndio, nomeadamente sobre as Colónias Portuguesas de África, a Guerra no Ultramar e a Acção de Oliveira Salazar, por considerar que estaria a mentir às crianças. Não tive tempo de deixar os alunos comporem o seu próprio juízo, pois nesse ano, o primeiro em que dei aulas (1973/74) aconteceu o 25 de Abril e o ensino da História levou outro rumo: acabarm com ela.
Porém, se eu não podia, por força das circunstâncias, conduzir os meus alunos à descoberta da sua própria individualidade, deixá-los criar o seu próprio universo (nem todos vemos as árvores do mesmo modo) então melhor foi abandonar o ensino (no ano lectivo de 1974/75), e, liberta de todas as amarras, dedicar-me ao jornalismo e essencialmente à criação literária, lugar onde podemos voar até ilimitadas imaginações, com as asas do pensamento.
O que fundamentalmente pretendo dizer com tudo isto é alertar os agentes da educação e do ensino (um dos grandes podres da nossa sociedade) que eventualmente possam vir a ler estas palavras, para o facto de que há um tempo para a infância, outro tempo para a adolescência, outro, para a juventude, outro, para o estado adulto, e outro ainda para envelhecer.
Se o ser humano não passar por estes estágios adequadamente, virá a ser um autêntico fracasso enquanto indivíduo.
A tendência, hoje, é para “fabricar” adultos precoces, autênticos “robôzinhos” informatizados e estandardizados. Se uma criança cresce pensando e agindo como um adulto, aos vinte anos sentir-se-á velha e desencantada.
Quando entre esses “robôzinhos” aparece uma verdadeira criança, dizem que «é muito infantil para a idade», embora a idade seja para ser infantil. O que é feito de valores como a inocência, a ingenuidade, a candura, tão características das crianças?
Estão a desaparecer. Vão sendo raras aquelas que pintam árvores vermelhas de Outono, uma vez que é proibido ser criativo, ser infantil, ser criança; é proibido sonhar com bolas de sabão, porque os computadores, os tablets, os i-phones, i-pads, as consolas é que são o futuro.
Avançamos no século XXI. Encontramo-nos já na segunda década do século, no ano 2020. Receio que no final deste século já não hajam crianças, por muitos, muitos motivos. Apenas uma humanidade velha e esfarrapada, aquela que sobrará de uma sociedade em decadência, num planeta igualmente a caminho da extinção.
O facto é que não sei se o tempo, ou se os homens e as mulheres do nosso tempo pretendem exterminar aquele encanto, aquela fantasia e até os sonhos cor-de-rosa que constituem uma parte muito essencial de toda a infância.
Hoje, pretende-se que as crianças cresçam depressa, para não ter de se perder tempo com elas. Conheço mães que, para as substituir, oferecem cães aos filhos. E à noite, os filhos ficam sozinhos em casa, aos cuidados do amigo não-humano, e eles (pais e mães) vão à discoteca, aos bares, e nem sonham com o que, entretanto, se passa em casa com os filhos.
Vem depois a droga, como alternativa, e a sociedade revolta-se contra os drogados, porque são uns marginais, uns delinquentes, uns irresponsáveis, mas ninguém procura saber o que, na realidade, está por detrás dessas fugas para o mundo da total alienação. São poucos aqueles que se drogam por caírem em armadilhas ou por simples curiosidade. A grande maioria tem uma história triste para contar. Uma história que tentam esquecer, entrando num mundo que julgam ser eternamente tranquilo e colorido...
O que pretendem os adultos fazer com a infância?
É esta reflexão que proponho para este início de ano, uma vez que não existirá futuro se as crianças de hoje não puderem sorrir e sonhar... Se não puderem ser crianças...
Isabel A. Ferreira
Apesar de todos os dias serem dias de todos os animais.
Mas hoje, celebra-se São Francisco de Assis, que morreu em 03 de Outubro de 1226. É o Santo patrono e irmão de todos os animais não-humanos e plantas (meio ambiente).
E quando se fala em patrono dos animais, não é apenas patrono de cães e gatos, mas de todos os outros animais não-humanos: touros, cavalos, porcos, vacas, galinhas, tigres, leões, aves, enfim, os outros animais que sofrem barbaridades às mãos de humanóides, porque os seres humanos não maltratam os animais, nem permitem que os maltratem.
Para celebrar este dia, que também poderá ser o meu, porque sou um animal humano (não sou, como hoje já ouvi a Maia a dizer: metade animal e metade humana. Qual será a parte animal e a parte humana da Maia?), deixo-vos com um magnífico texto de Leonardo Boff, um teólogo, escritor, filósofo e professor universitário brasileiro que muito prezo (daí o texto estar escrito segundo a ortografia brasileira) .
Por Leonardo Boff
«Os animais: portadores de direitos e devem ser respeitados
A aceitação ou não da dignidade dos animais depende do paradigma (visão do mundo e valores) que cada um assume. Há dois paradigmas que vêm da mais alta antiguidade e que perduram até hoje.
O primeiro entende o ser humano como parte da natureza e ao pé dela, um convidado a mais a participar da imensa comunidade de vida que existe já há 3,8 bilhões de anos. Quando a Terra estava praticamente pronta com toda sua biodiversidade, irrompemos nós no cenário da evolução como um membro a mais da natureza. Seguramente dotados com uma singularidade, a de ter a capacidade reflexa de sentir, pensar, amar e cuidar. Isso não nos dá o direito de julgarmo-nos donos dessa realidade que nos antecedeu e que criou as condições para que surgíssemos.
A culminância da evolução se deu com o surgimento da vida e não com o ser humano. A vida humana é um sub-capítulo do capítulo maior da vida.
O segundo paradigma parte de que o ser humano é o ápice da evolução e todas as coisas estão à sua disposição para dominá-las e poder usá-las como bem lhe aprouver. Ele esquece que para surgir precisou de todos os fatores naturais, anteriores a ele. Ele juntou-se ao que já existia e não foi colocado acima.
As duas posições têm representantes em todos os séculos, com comportamentos muito diferentes entre si. A primeira posição encontra seus melhores representantes no Oriente, com o budismo e nas religiões da Índia. Entre nós além de Bentham, Schopenhauer e Schweitzer, seu maior fautor foi Francisco de Assis, dito pelo Papa Francisco em sua encíclica “Sobre o cuidado da Casa Comum” como alguém “que vivia uma maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo…exemplo de uma ecologia integral”(n.10). Mas não foi este comportamento terno e fraterno de fusão com natureza que prevaleceu.
O segundo paradigma, o ser humano “mestre e dono da natureza” no dizer de Descartes, ganhou a hegemonia. Vê a natureza de fora, não se sentindo parte dela, mas seu senhor. Está na raiz no antropocentrismo moderno que tantos males produziu com referência à natureza e aos demais seres. Pois o ser humano dominou a natureza, submeteu povos e explorou todos os recursos possíveis da Terra, a ponto de hoje ela alcançar uma situação crítica de falta de sustentabilidade.
Seus representantes são os pais fundadores do paradigma moderno como Newton, Francis Bacon e outros, bem como o industrialismo contemporâneo que trata a natureza como mero balcão de recursos, um baú inesgotável de bens e serviços, em vista do enriquecimento.
O primeira paradigma – o ser humano parte da natureza – vive uma relação fraterna e amigável com todos os seres. Deve-se alargar o princípio kantiano: não só o ser humano é um fim em si mesmo, mas igualmente todos os seres, especialmente os viventes e por isso devem ser respeitados.
Há um dado científico que favorece esta posição. Ao descodificar-se o código genético por Drick e Dawson nos anos 50 do século passado, verificou-se que todos os seres vivos, da ameba mais originária, passando pelas grandes florestas e pelos dinossauros e chegando até nós humanos, possuímos o mesmo código genético de base: os 20 aminoácidos e as quatro bases fosfatadas. Isso levou a Carta da Terra, um dos principais documentos da UNESCO sobre a ecologia moderna, a afirmar que “temos um espírito de parentesco com toda a vida” (Preâmbulo). O Papa Francisco é mais enfático: “caminhamos juntos como irmãos e irmãs e um laço nos une com terna afeição, ao irmão sol, à irmã lua, ao irmão rio e à Mãe Terra” (n.92).
Nesta perspectiva, todos os seres, na medida que são nossos primos e irmãos/as e possuem seu nível de sensibilidade, sofrem e são portadores de certa inteligência, que lhes permite fazer conexões cerebrais e assim se orientarem no mundo. Por isso mesmo são portadores de dignidade e de direitos. Se a Mãe Terra goza de direitos, como afirmou a ONU, eles, como partes vivas da Terra, participam destes direitos.
O segundo paradigma – o ser humano senhor da natureza – tem uma relação de uso com os demais seres e os animais. Se conhecemos os procedimentos da matança de bovinos e de aves ficamos estarrecidos pelos sofrimentos a que são submetidos. Adverte-nos a Carta da Terra: “há que se proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento extremo, prolongado e evitável” (n.15b).
Aí nos recordamos das palavras sábias do cacique Seatle (1854): “Que é o homem sem os animais? Se todos os animais se acabassem, o homem morreria de solidão de espírito. Porque tudo o que acontecer aos animais, logo acontecerá também ao homem. Tudo está relacionado entre si”.
Se não nos convertermos ao primeiro paradigma, continuaremos com a barbárie contra nossos irmãos e irmãs da comunidade de vida: os animais. Na medida em que cresce a consciência ecológica mais e mais sentimos que somos parentes e assim nos devemos tratar, como São Francisco com o irmão lobo de Gubbio e com os mais simples seres da natureza. Estamos seguros de que chegará o dia em que este nível de consciência será um bem comum de todos os humanos e então, sim, nos comportaremos como uma grande família de seres vivos, diferentes, mas unidos por laços de familiaridade e irmandade. »
(Leonardo Boff é articulista do JB on-line e escreveu: «Francisco de Assis: saudade do paraíso», Vozes 1999)
Fonte:
https://www.dm.com.br/opiniao/2017/11/os-animais-portadores-de-direitos-e-devem-ser-respeitados/
O que faz falta em Portugal são HOMENS como Jesús Mosterín, dispostos a dar a cara, o prestígio e o saber por uma causa em está em causa a Ética e a Lógica da Vida.
«O mundo taurino sempre me pareceu repugnante e fraudulento.
Fui e sou crítico desse mundo tanto por razões morais como intelectuais.
A corrida de touros é uma mera farsa, um simulacro de combate onde não há combate algum.
O touro é um típico ruminante que só deseja que o deixem pastar e ruminar em paz.
Não quer lutar.
Por isso, atiram-no para a arena, uma espécie de inferno de que ele não pode fugir; castigam-no por ser o que é, um ser herbívoro pacífico, e torturam-no com a lança e a “puya” do rojoneador, e as bandarilhas, para que aparente ser o que não é – um animal feroz.»
Jesús Mosterín
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Jesús Mosterín (Bilbao, 1941) é com toda a probabilidade, uma das mentes mais lúcidas do nosso tempo.
Filósofo, Catedrático de Lógica e Filosofia da Ciência, da Universidade de Barcelona, professor de investigação no Instituto de Filosofia da CSIC, membro do Centro de Filosofia e Ciência de Pittsburgh, da Academia Europeia de Londres, do Instituto Internacional de Filosofia de Paris e da Academia Internacional de Filosofia e Ciência, é, além disso, um magnífico conversador, preciso, honesto. Homem do mundo, viajado, pode fazer gala de uma sensatez sem brechas, e tem um grande sentido de humor.
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«ÉTICA, ANIMAIS E DIREITOS»
Jesús Mosterín, Hugo van Lawick e Félix Rodríguez de la Fuente em África em 1969.
O interesse de Mosterín pela natureza selvagem levou-o já em tempos a colaborar com o famoso naturalista e documentalista Félix Rodríguez de la Fuente, num esforço por estender primeiro a Espanha e depois ao resto do mundo, o conhecimento e o valor da natureza viva e em especial dos animais selvagens, o qual culminou com a publicação da enciclopédia Fauna.
Opositor dos espectáculos cruéis, Mosterín tem tomado frequentemente uma posição pública contra as corridas de touros e o maltrato animal.
Contribuiu decisivamente para o debate que conduziu à abolição de corridas de touros na Catalunha em Julho de 2010.
Posteriormente publicou um estudo em que critica esta “tradição” argumentando contra quem a justifica.
Como presidente honorário do Projecto “Gran Simio” em Espanha, colaborou com Peter Singer na promoção dos direitos legais para os hominídeos não humanos (chimpanzés, bononos, gorilas e orangotangos).
Mosterín não aceita a existência de direitos naturais intrínsecos ou metafísicos (nem humanos nem dos animais em geral), contudo, pensa que uma sociedade politicamente organizada pode criar os direitos que considere oportunos através da acção legislativa do Parlamento, e que às vezes fazê-lo é preciso para evitar sofrimentos e desgraças desnecessárias.
Seguidor de Hume e Darwin, e levando em conta as deduções de Rizzolatti sobre os neurónios espelho, Mosterín considera que a nossa capacidade congénita para a compaixão, reforçada pelo contacto, pelo conhecimento e pela empatia constituem uma base mais sólida para o respeito moral a ter para com os animais não humanos, do que a mera e abstracta apelação aos direitos inerentes à natureza animal, inverificáveis.
Isto encaixa com a relevância que Mosterín atribui às emoções morais (como a compaixão) na Ética, em parte comparável ao papel desempenhado pelas percepções na ciência empírica.»
(Fonte Wikipédia)