Segunda-feira, 26 de Setembro de 2022

«Bicadas do meu Aparo»: “Fado, Futebol e Fátima”, por Artur Soares

 

«Já jovem e a querer dizer “eu também sou gente”, certo dia à mesa do café, um amigo mais velho, sabedor, afirmou que o nosso país era “a terra dos três efes” e que a nossa terra era “a terra dos três pês”. Aí, pude dizer-lhe que o povo tinha aumentado de três para cinco pês».

 

Portugal - Fado.png

Fonte da imagem: https://elvasnews.pt/portugal-do-fado-fatima-e-futebol/

 

 Quanto aos efes nacionais, Fado, Futebol e Fátima, não senti nesse momento necessidade de interpelar o amigo/sabedor, mas ao longo dos tempos aprendi que Fado era a canção nacional popular e que testemunhava sentimento de tristeza, de abatimento por ausências da terra, de pessoas, de coisas e pelo que se foi perdendo. Isto, é nostalgia.

 

Quanto ao futebol, sempre entendi que era prazer/diversão das gentes. Quem não recorda o futebol das crianças nos caminhos, com bolas feitas de trapos com a mistura de papéis velhos ou de jornais? Quem nunca jogou futebol deste género? Mas o futebol profissionalizou-se. Industrializou-se, movimenta milhões de pessoas e de dinheiros, gera violências e pode dizer-se: o futebol deste século é uma guerra entre os povos do mundo, só que, sem armas e sem derramamento de sangue.

 

Quanto a Fátima, dos três efes que cognominam Portugal, o caso é diferente. O Fado alivia o coração de quem o canta e ouve; o futebol cria corrupção e guerras sem armamentos. Fátima é paz. É a espiritualidade dos que têm fé na Trindade Santa e naquela que existe entre os “TRÊS”: A Mãe de Cristo.

 

Todo este intróito, paciente leitor, para o colocar a reflectir no seguinte: Qual dos três efes – Fado, Futebol e Fátima – a Comunicação Social gasta mais tempo e mais dinheiro? O fado encontra-se nas vielas de Lisboa, do Porto e nalgumas localidades do país. As televisões e jornais não perdem tempo com isso.

 

Fátima tem canais próprios de televisão e de jornais, mas só vai/vê Fátima quem quer, e as televisões a quem pagamos forte e feio, muito pouco falam do Altar do Mundo. Já o Futebol, é um massacre televisivo, diariamente e durante as horas de cada dia. O país é fustigado com opiniões venenosas, com guerras e incitamentos, violência, rebaixamento dos outros, mentira organizada e acções na sombra, onde tais enguias se movimentam. O futebol actual é bosta! Gosto de futebol sério, praticado por atletas e não por gladiadores na arena. Mas as televisões stressam o povo, adoecem-no!

 

Tivemos os mortos nos fogos de 2017 e as televisões apenas mostravam desgraças e repetidas mais de vinte vezes por dia. Tivemos a covid-19 e o país parou. Papagaios comentavam, ministros mostravam-se, “especialistas” digladiavam-se para aparecerem nas televisões, aconselhando cuidados quase impossíveis de se praticarem, chegando aos pontos de indicarem o isolamento individual ou o viver como as toupeiras: escondidos.

 

Tivemos/temos a invasão da Rússia à Ucrânia, a todas as horas do dia e com as respectivas imagens-de-choque e, as nossas televisões, esquecendo os problemas nacionais e as actualidades da vida social, conspurcaram (e continuam) as mentes do povo: povo sossegado, simples e amigos da paz.

 

Também neste verão de 2022, todos os canais de televisão, fecharam para os graves problemas que o país atravessa. Esqueceram Pedrógão, os coronavirados e sobre a Rússia/Ucrânia suavizaram nas notícias. Não falaram do podre serviço nacional de saúde, que não tem quem o aplique, quem o organize em prol daqueles que pagam o monstro: nós. Não falaram do estado de côma do ministério da educação, quanto a um ensino eficiente, acessível a todos os portugueses e pouco falaram dos professores em falta para ensinar os nossos filhos ou netos, que nem uma conta de dividir sabem fazer.

 

Também neste verão de 2022, as televisões mostraram fogos, vítimas, bombeiros-em-acção, desgraças, inocentes e culpados. Tivemos a morte da rainha Isabel II de Inglaterra, novamente o país - para as televisões - voltou a parar. Foram onze dias de monarquia, de honras e do luto dos ingleses: tornou-se numa telenovela infindável. O país parou, o povo teve de engolir e sempre obrigado a estará à mercê do que há-de vir.

 

Tudo isto, são as televisões de Portugal, mas não o Portugal das televisões. Por muito que as raposas, os manipuladores e certas políticas o recusem, Portugal é o país da Amália Rodrigues, do C. Ronaldo/Eusébio e da Mãe de Deus. Logo, os três efes acusatórios de fado, futebol e Fátima, estão desactualizados.»

 

(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990).

 

Artur Soares

 

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:08

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Sexta-feira, 25 de Setembro de 2020

AnimaNaturalis e CAS International denunciam touradas realizadas em Espanha, onde são violadas as medidas de prevenção contra a Covid-19

 

A AnimaNaturalis e a CAS International apresentaram uma denúncia à subdelegação do Governo de Toledo, devido a uma tourada que se efectuou no passado dia 21 de Agosto, na praça de Touros de Esquivias, durante a qual foram violadas as medidas de prevenção contra a COVID-19.

 

 

Praça de touros de esquivias.jpg

 

Encheu-nos de tristeza presenciar como mataram “Forajido”, “Manifiesto” e “Gestor” pois não há dor maior do que ver sofrer um ser indefeso e confuso, e acreditamos que é importante dar a conhecer estas imagens, e que a morte destes Touros não seja em vão.

 

 

 

Apesar de grande parte da actividade cultural permanecer paralisada, as administrações continuam a ceder às pressões do sector tauromáquico. No dia 21 de Agosto, foi permitida uma tourada sem cumprir as normas de segurança e saúde.

 

No evento, os toureiros atiraram para o público as orelhas cortadas aos Touros, previamente beijadas pelos próprios toureiros. Além disso, foram lançados objectos para a arena que eram relançados mutuamente entre os toureiros e o público. Não houve aviso algum por parte da organização de que essa conduta era proibida.

 

Fumar, comer e beber foi permitido no recinto, por isso, em muitos momentos, muitas pessoas estiveram com as máscaras descidas. A distância mínima de 1,5 metros entre as pessoas também não foi respeitada.

 

Encheu-nos de tristeza presenciar como mataram “Forajido”, “Manifiesto” e “Gestor” pois não há dor maior do que ver sofrer um ser indefeso e confuso, e acreditamos que é importante dar a conhecer estas imagens, e que a morte destes Touros não seja em vão.

 

A AnimaNatularis e CAS International solicitaram a punição dos organizadores e promotores destes actos, por terem arriscado deliberadamente a saúde de quem assistiu à dita tourada, e à de todas as pessoas que com eles estiveram em contacto nos dias seguintes.

 

Gostaríamos de levar essas pessoas a tribunal, pela dor e sofrimento causados aos animais, temos vergonha de que isso ainda seja totalmente legal. Não ficaremos de braços cruzados.

 

Sabiam que alguns governos autónomos e conselhos regionais já estão a destinar recursos extraordinários para a recuperação da actividade tauromáquica, depois dos efeitos do coronavírus? Atingem os 7,3 milhões de euros e Madrid lidera o ranking das comunidades que mais verbas vão dar ao sector, até aos 4,5 milhões de euros.

 

É ultrajante!

 

Texto traduzido daqui:  ANIMANATURALIS  

***

 

Sim, é ultrajante. Indigno de seres que querem ser chamados de “humanos”.

O povo ibérico (Portugal incluído) nada aprendeu com a lição que o coronavírus veio dar ao mundo. Não é de surpreender o elevado número de infectados nos dois países, actualmente. 

E talvez o pior ainda esteja por vir, até que os que desgovernam o mundo, aprendam a respeitar todos os seres vivos.

É que a Natureza despertou, e o tempo de acertar contas chegou.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:35

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Sábado, 30 de Maio de 2020

«Covid-19: “Não podemos ‘voltar ao normal’”, defendem actores, músicos e cientistas em carta aberta»

 

«A crise sanitária causada pela pandemia é trágica, mas é também uma “grande oportunidade” para uma nova relação com a Terra, lê-se na carta enviada ao Presidente da República, primeiro-ministro e líderes parlamentares, assinada por quase uma centena de personalidades de vários sectores da sociedade portuguesa.

 

(Junto a minha voz a todas estas vozes - Isabel A. Ferreira)

 

TERRA.png

 

Quase uma centena de personalidades de vários sectores da sociedade portuguesa enviaram uma carta aberta aos decisores políticos, onde sublinham que a crise causada pela covid-19 “é trágica”, mas “uma grande oportunidade” para uma nova relação com a Terra.

 

Entre os subscritores da missiva enviada ao Presidente da República, primeiro-ministro e líderes parlamentares, contam-se nomes como o actor Ruy de Carvalho, os músicos Rui Veloso e Luís Represas, a actriz e activista ambiental e animal Sandra Cóias (a primeira subscritora), o investigador em alterações climáticas Filipe Lisboa, o atleta Nelson Évora, o professor catedrático e presidente da Zero Francisco Ferreira, o estilista Nuno Gama, o actor Joaquim de Almeida ou Filipe Duarte Santos, professor catedrático e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável.

 

“A crise sanitária causada pela covid-19 é trágica, mas é também a nossa grande oportunidade de criarmos as bases para o nosso futuro numa nova relação entre o Homem e o Sistema Terra. Esta crise convidou-nos a perceber o que é essencial nas nossas vidas e a reflectir sobre os hábitos e comportamentos que não só estão por detrás da sua origem, como potenciaram a sua globalização”, afirmam os subscritores.

 

Os assinantes, das mais variadas áreas da sociedade, como músicos, actores, investigadores científicos, activistas, desportistas, entre muitos outros, sublinham que a crise sanitária criada pela pandemia do novo coronavírus “ensinou a restituir valor ao tempo, às relações e à solidariedade”.

 

“Sobre o aspecto económico e social, fez-nos reflectir sobre os actuais modelos de crescimento; a maximização do lucro, os valores sobre os quais baseamos o nosso crescimento e os graves erros cometidos para com o planeta. O problema é sistémico e pequenos ‘ajustes’ não são suficientes. Não podemos 'voltar ao normal'”, argumentam.

 

Os subscritores sublinham que a crise sanitária e ecológica tem acentuado as desigualdades sociais e pedem medidas para contrariar a situação.

 

Na missiva, a que a Lusa teve acesso, os subscritorespedem solenemente a todos os líderes — e a todos os cidadãos — para deixarem para trás comportamentos insustentáveis, antigos hábitos, que ainda permanecem, e que adoptem uma profunda mudança de objectivos, valores, economia e também do sistema energético, substituindo os combustíveis fósseis por energias renováveis”.

 

“Este é um modelo mais justo, humano e sustentável. Para que tudo isso seja possível, precisamos de mudanças urgentes de renovação, regeneração e transformação, com políticas de justiça social, pois acreditamos que é impossível ‘voltar ao normal'”, afirmam.

 

Os subscritores defendem também que “a humanidade tem que adoptar uma forma de vida sustentável, através da cooperação, tendo o bem-estar colectivo como valor maior, como objectivo, sendo necessária uma transformação radical, a todos os níveis, e isso requer atrevimento e coragem” por parte dos líderes políticos.

 

“A catástrofe ecológica e o declínio das espécies a que temos assistido em todo o mundo, e que nos coloca à beira do ponto de não retorno, é fruto da exploração desenfreada dos valores naturais e da destruição massiva da vida no planeta, da poluição — e disso não existem dúvidas —, que constituem uma directa ameaça à nossa existência na Terra”, sublinham.

 

Argumentam também que, “ao contrário de uma crise sanitária, por pior que seja, o colapso ecológico a nível global, terá consequências inimagináveis, como já foi indicado pelos cientistas em todo o mundo” e pedem “uma acção firme e imediata”.

 

“Só será possível, no entanto, com um compromisso massivo e empenhado de todos. Não só estamos perante uma situação de sobrevivência, como de coerência e dignidade como seres humanos. E a partir do nosso país podemos e devemos estar na senda desta mudança que queremos ver no mundo. Restaurando a Terra, a Terra restaura-nos”, concluem.

 

Entre as muitas personalidades, assinam nomes como Maria João Pires (pianista), Gil Penha-Lopes (professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), Kaya Schwemmlein (Programa Doutoral em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável), Jieling Liu (Programa Doutoral em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável), Daniela Espanhol (Programa Doutoral em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável), Rui Vilhena (argumentista), Pedro Lima (actor), Alexandre da Silva (actor), Pepe Rapazote (actor), Helena Isabel (actriz), Pedro Abrunhosa (músico), Rita Ribeiro (actriz), Jorge Mourato (actor), Pedro Fernandes (apresentador), Marco Horácio (actor/comediante), Fernanda Freitas (jornalista), Maria João Bastos (actriz) ou Vítor Norte (actor).

 

Fonte:

https://www.publico.pt/2020/05/22/ciencia/noticia/covid19-nao-podemos-voltar-normal-defendem-actores-musicos-cientistas-carta-aberta-1917625?fbclid=IwAR3LkIwVbHrraYyrV6Ws8bSapRqNxctmi4SA_uiJoURKkZZWiqd1ZhSDCw4

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:34

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Quinta-feira, 30 de Abril de 2020

Deputado João Almeida (CDS/PP) quer saber por que os trogloditas tauromáquicos não estão a ser considerados na retoma dos “eventos”

 

Que atraso de vida! Anda um coronavírus a confinar e matar meio mundo, e o CDS/PP quer continuar a torturar Touros, como se isto fosse uma prioridade para o país!

 

João Almeida enviou uma carta ao primeiro-ministro, através do presidente da Assembleia da República onde pede explicações sobre o motivo pelo qual, na ronda de reuniões para a retoma de eventos, os torturadores de Touros não foram ouvidos.

 

E precisavam de ser? Eles que representam para os Touros o que o coronavírus representa para os seres humanos: uma ameaça, um suplício, um terror?

 

João Almeida.jpg

 

João Almeida, sem fazer a mínima ideia de que as touradas não são cultura, nem em Portugal, nem na Cochinchina, diz que sendo as corridas de Touros regulamentadas e reconhecidas pelo Estado [o que não significa que esta barbárie seja concebível numa sociedade hodierna] e sendo uma prática que reúne milhares de pessoas [é que nem sequer sabe contar, porquanto as arenas estão quase sempre às moscas, isto é um facto mais do que comprovado], diz não compreender a exclusão dos representantes do sector tauromáquico na ronda de reuniões que têm ocorrido,  como se o sector tauromáquico fosse importante para a economia do país: só enche bolsos a parasitas e torturadores de Touros. Seria uma vergonha e menosprezo pelos verdadeiros sectores da Economia nacional, se estes trogloditas fossem postos aos mesmo nível dos outros.

 

A prioridade do CDS/PP «não é defender os milhares de portugueses que se encontram na miséria, não é apresentar propostas para ajudar os milhares de portugueses que perderam o seu trabalho devido a esta pandemia, mas sim, defender uma minoria de ricaços que a única coisa que sabem fazer na vida é divertirem-se a torturar seres sencientes

 

Até porque tanto quanto sabemos, os ganadeiros não vivem só da tauromaquia. Têm outros "negócios" que lhes garantem o sustento, daí que, aqui ninguém fica desempregado. E os toureiros, sedentos de sangue, que se mordam uns aos outros.

 

Este é o momento certo para acabar com esta nódoa negra que mancha a honorabilidade de Portugal.

O coronavírus está a dar uma ajudinha.

Nós temos de fazer o resto.

 

Isabel A. Ferreira


Fonte da imagem e da notícia: Prótouro - Pelos touros em liberdade

https://protouro.wordpress.com/2020/04/29/os-deputados-alarves-que-insistem-em-defender-a-tauromafia/

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:47

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Quinta-feira, 23 de Abril de 2020

Canceladas as “festas” de San Fermín, em Pamplona (Espanha)

 

Todos os anos, centenas de Touros são sacrificados, em honra de San Fermín, um santo natural da cidade de Pamplona, padroeiro da diocese e co-padroeiro de Navarra, para que bandos de cobardes se divirtam boçalmente, com muito álcool à mistura, e tudo isto com o aval da Igreja Católica Apostólica Romana.

Este ano, porém, o coronavírus veio, providencialmente, salvar os Touros e mostrar que já é tempo de se abandonar estas práticas selváticas que em nada dignificam a espécie humana.

Todos nós, defensores dos Direitos dos Animais (humanos e não-humanos) esperamos que se aproveite esta grandiosa lição que o coronavírus veio dar à Humanidade -  deixem os animais não-humanos em paz - e acabem de vez com estes atentados à VIDA dos nossos companheiros planetários.

Sem a acção do homem, o Planeta voltou a respirar e todas as outras espécies, animais e vegetais, renasceram com muito mais vitalidade. E assim poderão continuar sem a presença do homem, quando este se extinguir (pois a continuar assim, a extinção dos humanos será uma realidade).

A mensagem foi clara e inequívoca.

Ao menos honrem a memória daqueles que perderam a vida nesta pandemia! Que a mensagem deixada pelo coronavírus possa servir para que a espécie humana deixe de ser a maior predadora do nosso Planeta, e o partilhe benevolamente com todas a outras  criaturas.

 

San Fermín.jpg

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:29

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Terça-feira, 21 de Abril de 2020

«Covid-19: a próxima pandemia vai chegar se não mudarmos a forma como interagimos com a vida selvagem»

 

«Investigadores afirmam que a pandemia de covid-19 deve ser encarada como um aviso mortal. Ou seja, devemos pensar nos animais como parceiros, cuja saúde e habitats têm de ser protegidos para evitar o próximo surto global.»

 

Pangolim.png

Fonte da imagem: https://jornaldossportsusa.com/bd-news/china-precisa-combater-consumo-de-animais-selvagens-diz-medico/

 

Texto: Karin Brulliard 

 

O novo coronavírus, que já atravessou o mundo para infectar mais de um milhão de pessoas, começou como tantas pandemias e surtos no passado: dentro de um animal. O hospedeiro original do vírus foi quase certamente um morcego, tal como aconteceu com o ébola, o SARS, o MERS e vírus menos conhecidos como o Nipah e o Marburg. O VIH migrou para os seres humanos há mais de um século, vindo de um chimpanzé. O influenza A “saltou” das aves para os porcos e para as pessoas. Os roedores espalharam a febre de Lassa na África Ocidental. Mas, segundo os cientistas que estudam as doenças zoonóticas, que passam dos animais para as pessoas, o problema não são os animais, somos nós.

 

Os animais selvagens sempre foram portadores de vírus. O comércio mundial de animais selvagens no valor de milhares de milhões de dólares, a intensificação da agricultura, a desflorestação e a urbanização estão a aproximar as pessoas dos animais, dando aos seus vírus aquilo de que precisam para nos infectar: oportunidade. A maioria falha, mas alguns são bem-sucedidos. Muito poucos, como o SARS-CoV-2, triunfam, ajudados por uma população humana interligada que pode transportar um agente patogénico para todo o mundo e em poucas horas.

 

À medida que o mundo se esforça por fazer face a uma crise económica e de saúde pública sem precedentes, muitos investigadores da doença afirmam que a pandemia de covid-19 deve ser encarada como um aviso mortal. Isso significa pensar nos animais como parceiros, cuja saúde e habitats devem ser protegidos para evitar o próximo surto global.

 

“As pandemias no seu conjunto estão a aumentar de frequência”, afirmou Peter Daszak, ecologista de doenças e presidente da EcoHealth Alliance, uma organização de saúde pública que estuda as doenças emergentes. “Não é um acto aleatório de Deus. É causado pelo que fazemos ao meio ambiente. Temos de começar a ligar essa cadeia e fazer estas coisas de forma menos arriscada.”

 

Segundo os cientistas, cerca de 70% das doenças infecciosas emergentes nos seres humanos são de origem animal e podem existir cerca de 1,7 milhões de vírus por descobrir na vida selvagem. Muitos investigadores estão à procura dos próximos vírus que poderão passar de animais para os humanos. Os pontos mais propícios à propagação de vírus têm três coisas em comum, disse Daszak: muitas pessoas, diversas plantas e animais e rápidas mudanças ambientais.

 

Os roedores e morcegos são dos mais prováveis hospedeiros para as doenças zoonóticas. Cerca de metade das espécies de mamíferos são roedores e cerca de um quarto são morcegos. Os morcegos constituem cerca de 50% dos mamíferos nas regiões tropicais com maior biodiversidade e, embora sejam valiosos polinizadores e devoradores de pragas, são também espantosos transmissores de vírus. Têm um sistema imunitário que é uma espécie de super-herói que lhes permite tornarem-se “reservatórios de muitos agentes patogénicos que não os afectam, mas que podem ter um impacto tremendo em nós se forem capazes de dar o ‘salto’”, afirmou Thomas Gillespie, ecologista de doenças da Universidade de Emory, no estado da Geórgia, nos Estados Unidos da América. E cada vez tornamos o “salto” mais fácil. 

 

No final do ano passado, um coronavírus de morcego-de-ferradura surgiu na China, onde o comércio de animais exóticos é impulsionado por gostos de luxo, pela caça e pela procura de produtos utilizados para fins medicinais. No wet market [mercados de animais selvagens ao ar livre​] em Wuhan, ligado aos primeiros casos de covid-19, pelo menos uma loja vendeu animais como crias de lobo e gatos-civeta para consumo. Estes mercados, dizem os especialistas, apresentam animais stressados e doentes, empilhados em gaiolas, num ambiente repleto de fluidos corporais, onde também se abatem animais e se corta carne — condições ideais para o “salto” do vírus entre espécies.

 

Embora os morcegos-de-ferradura sejam caçados e comidos na China, não é fácil perceber como é que o vírus do morcego infectou as primeiras pessoas. O rasto dos primeiros casos levou ao mercado de animais, mas o espaço foi fechado e higienizado antes de os investigadores conseguirem localizar o animal que poderia estar implicado. E provavelmente esta nem foi a localização do tal “salto” do vírus para os humanos em si, o que poderá ter acontecido semanas antes, possivelmente em Novembro. Alguns dos primeiros casos não tinham qualquer ligação com o mercado de animais.

 

Como o novo coronavírus não é idêntico a nenhum vírus conhecido de morcego, houve algures entre o morcego e o ser humano uma mutação em pelo menos um intermediário, talvez o ameaçado pangolim, um mamífero muito traficado pelas suas escamas.

 

surto de SARS de 2003, que acabou por ser associado aos morcegos-de-ferradura por cientistas que se embrenharam em escorregadias grutas forradas por guano [acumulação de fezes de morcegos e aves], foi também rastreado até aos mercados de animais selvagens. Os cientistas acreditam que esse coronavírus “saltou” de morcegos para gatos-civeta — mamíferos semelhantes a gatos, vendidos para carne — para humanos.

 

“Um dos principais ambientes para a ocorrência destes ‘saltos’ são os mercados e o comércio internacional de animais selvagens”, disse na quinta-feira Chris Walzer, director executivo do programa de saúde global da Wildlife Conservation Society (WCS), aos jornalistas.

 

Em África, a diminuição das populações de grandes mamíferos faz com que a caça aponte o alvo a espécies cada vez mais pequenas, incluindo roedores e morcegos, afirmou Fabian Leendertz, veterinário que estuda doenças zoonóticas no Instituto Robert Koch, em Berlim. Embora alguns animais sejam consumidos para subsistência ou fins tradicionais, as vendas de carne exótica são também uma “enorme economia” nas megacidades em rápido crescimento. “É algo que eu pararia primeiro”, disse. O risco reside “numa maior pressão de caça e numa maior taxa de contacto para aqueles que vão caçar e para aqueles que depois tratam a carne”. 

 

O comércio internacional de animais de estimação exóticos, como répteis e peixes, também é preocupante, porque os animais raramente são testados para detectar agentes patogénicos que possam adoecer os humanos, disse Daszak. Assim como as grandes “explorações fabris” repletas de animais, afirma Gillespie. “Quando penso no principal factor de risco, é a gripe A, que está ligada à produção de porcos e galinhas”, disse.

 

Mas a criação de animais não é o único local em que um vírus pode passar a barreira de espécies. Os seres humanos partilham cada vez mais espaço com a vida selvagem e alteram-na de forma perigosa, dizem os investigadores. A doença de Lyme, causada por uma bactéria, propaga-se mais facilmente no Leste dos Estados Unidos porque as florestas fragmentadas têm menos predadores, como raposas e gambás, que comem ratos que albergam carraças que espalham Lyme, dizem estudos. A construção de edifícios leva a uma coexistência mais estreita com alguns animais selvagens, incluindo morcegos, disse Leendertz.

 

Os cientistas apontam o aparecimento na Malásia, em 1998, do vírus Nipah, que matou centenas de pessoas em vários surtos na Ásia, como um exemplo vívido de um vírus que passou a barreira e “saltou” para os humanos, alimentado pelas alterações ambientais e pela intensificação da agricultura. A desflorestação de florestas tropicais para a produção de óleo de palma e madeira deslocou morcegos-da-fruta, alguns dos quais acabaram em explorações de suínos, onde também cresciam mangueiras e outras árvores de fruto. Os morcegos “caem mais do que comem”, disse Gillespie — a saliva e as fezes infectaram os porcos que se encontravam em baixo. Os porcos adoeceram e infectaram os trabalhadores agrícolas e as pessoas próximas da indústria.

 

“Onde quer que estejamos a criar novas interfaces, este é provavelmente um risco que temos de considerar seriamente”, afirmou. “Está a forçar a vida selvagem a procurar novas fontes de alimento. Está a forçá-los a mudar o seu comportamento de formas que os colocam em melhor posição para transferir o patogénico para nós.”

 

À medida que a população humana da Terra se aproxima dos oito mil milhões, ninguém pensa que a interacção entre seres humanos e animais vá diminuir. A chave está em reduzir o risco de um vírus que passe de animais para humanos, dizem os cientistas — e não em matar morcegos. Mas reconhecem que as pressões culturais e económicas tornam esta mudança difícil.

 

A Wildlife Conservation Society e outros grupos exortam os países a proibir o comércio de animais selvagens para fins alimentares e a fechar os mercados de animais vivos. Anthony S. Fauci, o maior especialista em doenças infecciosas dos EUA e o rosto da resposta do país à pandemia, disse na sexta-feira que a comunidade mundial deveria pressionar a China e outras nações que acolhem esses mercados para os fechar. “Fico perplexo como, quando temos tantas doenças que emanam dessa invulgar interface humano-animal, não nos limitemos a desligá-la”, disse Fauci à Fox News.

 

A China, que interrompeu brevemente o comércio de gatos-civeta após o surto da SARS, anunciou em Fevereiro uma proibição do transporte e venda de animais selvagens, mas apenas até que a epidemia do novo coronavírus seja eliminada. É necessária legislação permanente, afirmou Aili Kang, directora executiva do programa WCS para a Ásia.

 

Nem todos estão de acordo. As proibições podem fazer com que os mercados se movimentem nos bastidores, dizem alguns. Daszak observou que os ocidentais também comem animais selvagens, frutos do mar e veados, por exemplo. Da mesma forma, diz, o comércio deve ser regulamentado e os animais devem ser rigorosamente testados quanto à presença de agentes patogénicos.

 

“É necessária uma vigilância mais rigorosa das doenças dos animais selvagens” — encará-los como “sentinelas”, disse Leendertz. Certo é que há uma percepção generalizada de que a construção em habitats selvagens pode alimentar crises de saúde pública, afirmou Gillespie. Muitos investigadores afirmam que a actual pandemia sublinha a necessidade de uma abordagem mais holística de “saúde única”, que encara a saúde humana, animal e ambiental como estando interligadas.

 

Ler mais

“É necessário que haja uma mudança cultural a partir de um nível comunitário sobre a forma como tratamos os animais, a nossa compreensão dos perigos e dos riscos para a biossegurança a que nos expomos”, afirmou Kate Jones, professora de Ecologia e Biodiversidade do University College London. “Isso significa deixar os ecossistemas intactos, não destruí-los. Significa pensar de uma forma mais duradoura.”

 

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

 

Fonte:

https://www.publico.pt/2020/04/07/p3/noticia/covid19-proxima-pandemia-vai-chegar-nao-mudarmos-forma-interagimos-vida-selvagem-1911340?fbclid=IwAR3bhQY3N9A_IXWX0p7qkpt1SFyZxhM493GM86hEOo6L3_JghtM_VHa_PZs

 

Ler mais sobre esta matéria nestes links:

Responsável da ONU e WWF apelam à proibição de mercados de vida selvagem

https://www.publico.pt/2020/04/06/ciencia/noticia/responsavel-onu-wwf-apelam-proibicao-mercados-vida-selvagem-1911185

 

Será esta a oportunidade para se acabar de vez com o consumo de animais selvagens na China?

https://www.publico.pt/2020/03/29/ciencia/noticia/sera-oportunidade-acabar-consumo-animais-selvagens-china-1909727

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:10

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Domingo, 5 de Abril de 2020

A Liberdade não é um conceito exclusivo do Ser Humano – Uma reflexão ao redor do nosso confinamento

 

 

Esta bem-apanhada “Visita à Cidade” diz-nos o quanto o Homem está errado, no que respeita ao modo como trata os animais não-humanos.

 

Visita à cidade.jpg

Fonte da imagem: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=3053870421301048&set=a.502947543060028&type=3&theater

 

Esta imagem bem poderia ser uma imagem possível, nos tempos que correm, se os animais não estivessem confinados a jaulas, a cercas, a gaiolas, a currais, a zoológicos, a correntes, a viveiros, a tanques, a espaços vedados, privados da sua liberdade de correr nos campos, na selva, nos matagais, nas florestas, nos desertos, nas montanhas, nas serras, nas planícies, nas savanas; de voar pelo espaço, de deslizar pelos rios, pelos mares, pelos oceanos…

 

A Liberdade é algo inerente a todos os seres vivos. Nenhum animal não-humano deve ser privado da sua liberdade, porque a liberdade é pertença da Vida. Viver sem liberdade não é viver, é arrastar-se no tempo.

 

Que o digam os animais-humanos que cometeram crimes e, por esse motivo, mereceram ser privados da sua liberdade.

 

Contudo, porque nenhum animal não-humano jamais cometeu, comete ou cometeria os crimes hediondos que os animais-humanos cometem, não merecem ser privados da sua liberdade e da razão de ser da própria vida.

 

Todos os seres vivos que nascem, nascem por algum motivo. Nenhum animal-humano ou não-humano nasce por acaso. TODOS (humanos e não-humanos) fazem parte do TODO que mantém (ou deveria manter) o Planeta Terra em perfeita harmonia. E essa harmonia só não existe devido aos desmandos do animal-homem, e jamais do animal não-humano.  

 

Daí que aproveitemos esta imagem para fazer uma reflexão: não é por acaso que o mundo dos homens está a passar por esta privação de liberdade. Reparem que o coronavírus não ataca os não-humanos, pelo contrário, vivem neles. Saibamos dar-lhe valor, e compreender a tristeza profunda (porque eles sentem-na) dos nossos irmãos planetários, que os homens confinam a jaulas, a cercas, a gaiolas, a currais, a zoológicos, a correntes, a viveiros, a tanques, a espaços vedados, por motivos absolutamente irracionais.

 

Espero que tenham aprendido a lição, porque este vírus, que hoje nos mantém confinados, não veio por acaso, mas com uma finalidade bem definida, e só os cegos-mentais não a entenderá.



O Homem não é o dono do mundo. É apenas o seu guardião. E quem não entender isto, nada sabe da Vida, mas também da Morte, a certeza maior e única de toda a nossa existência.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:16

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Quarta-feira, 1 de Abril de 2020

Carta do todo-poderoso Coronavírus ao mundo. Simplesmente verdadeiro....

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:03

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Sábado, 28 de Março de 2020

Em “despacho relâmpago” à denúncia enviada à PGR para que fossem investigadas as incongruências do AO90, MP arquiva os autos

 

 

Li algures que «a liberdade não consiste em dizermos ou fazermos aquilo que quisermos; a liberdade consiste em dizermos ou fazermos o que devemos».

É em nome desse dever que tomo a liberdade de dar conta aos meus leitores da narrativa de um inusitado “despacho” que, por ventura, poderá envergonhar a (in)justiça portuguesa.

 

PGR.png

 

Lembram-se de que publiquei, aqui há tempos, o teor da denúncia que um cidadão de nacionalidade portuguesa, devidamente identificado, e no exercício de um seu direito cívico, enviou à Procuradora-Geral da República, para que fossem investigadas as incongruências que envolvem o Acordo Ortográfico de 1990, e que pode ser recordado neste link?

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/enviada-peticaodenuncia-facultativa-a-230950?tc=34118686820

 

A denúncia foi enviada no dia 11 de Fevereiro do corrente ano (2020), e o “despacho” tem a data de 11 de Março de 2020. O que significa que em apenas um mês, se realizou um inquérito e, num ápice, se despachou o assunto (que, no mínimo, levaria mais algum tempo a verificar e a analisar, dizem-me) antes que o novocoronavírus (como já era previsível) tomasse conta do país, evitando deste modo que, o que poderia ser uma notícia relevante, passasse a não ter relevância nenhuma, como outras matérias que estavam a dar que falar e a incomodar o Poder, como o caos nos hospitais e serviços públicos, nas escolas, nas empresas, em suma, em quase todos os sectores da vida nacional, mas também o caso do Rui Pinto, e evidentemente, a questão do AO90.

 

Foi então que, de repente, parou tudo.

 

Parece que os problemas que existiam, deixaram de existir, e focou-se toda a atenção na COVID-19. Mas a verdade é que todos esses problemas, além de continuarem a existir, agravaram-se com a crise sanitária, que está a abalar não só Portugal, mas também o restante mundo, porque na verdade, algo invisível e todo-poderoso pode muito mais do que o mais poderoso de todos os poderosos governantes.



E agora que nos tocou a vez do ataque invisível do coronavírus, verificamos que Portugal não se preparou para o previsível, e agora não se fala de outra coisa. E por causa disto, o Poder está a aproveitar-se da ocasião para neutralizar a luta que muitos travam, para travar o AO90 que também é um vírus letal para a Língua Portuguesa.

 

E tanto assim é que parece estar montado um esquema de bloqueio a qualquer tentativa de erradicar o AO90 da face da Terra, começando pela UNESCO, que ainda não respondeu à queixa enviada em 7 de Setembro de 2018, pelo MPLP (Movimento em Prol da Língua Portuguesa) contra o Estado Português pela violação de várias Convenções, documento assente numa bem elaborada fundamentação jurídica, que pode ser consultado neste link:

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/movimento-em-prol-da-lingua-portuguesa-147014


Também a ILC-AO (Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico) que visa sujeitar a votação no Parlamento de um Projecto de Lei que revogará a entrada em vigor do AO90 e que continua empancada, conforme pode ser verificado neste link:

 Ortografia em tempos de crise

«(…) Em rigor, a Ortografia raramente é um tema oportuno. Quando se estabelecem prioridades, tudo tem precedência sobre o tema “chato” que é o Acordo Ortográfico. É compreensível… afinal, trata-se apenas da Língua Portuguesa. Trata-se apenas do nosso amor-próprio enquanto povo. Por alguma razão estamos a poucos dias de se completar um ano (!) sobre a entrega da ILC-AO no Parlamento.»

https://ilcao.com/2020/03/27/ortografia-em-tempos-de-crise/?fbclid=IwAR2dhTLVB71bw3gy_AH5iA_qBwR2X1_o2D2e1yJXMER5ocd86Y53ULqtMzA

 

No entanto, apesar de o momento ser bastante crítico e todos estarmos focados na luta pela nossa sobrevivência e em salvar vidas e em derrotar o novo coronavírus, ainda assim, publicarei o “despacho relâmpago” até porque o denunciante não vai desistir, e há prazos a cumprir, mas também porque entendi que esta matéria poderia interessar aos milhares de anti-acordistas, e nomeadamente, aos juristas que estão a seguir o enredo das incongruências que envolvem o AO90, para que possam dizer de sua justiça.

 

Pois que da nossa justiça diremos que este “despacho relâmpago” demonstra uma indiferença e uma falta de respeito do aparelho judiciário para com o denunciante, que se sentiu tratado como se fosse um qualquer iletrado.  

 

Depois de analisado pelo jurista, que dá apoio ao denunciante, o despacho, assinado electronicamente por uma procuradora do Ministério Público, apresenta-se manifestamente incongruente e infeliz, dando a impressão de que a denúncia foi lida na diagonal, uma vez que o despacho não diz a treta com a careta, conforme pode ser verificado no documento publicado mais abaixo, e o “inquérito”, referido na notificação, parece nem sequer ter sido realizado. E como os políticos se “entenderam”, quanto aos factos citados nos artigos publicados no Jornal Público e inseridos na denúncia, parece que o Ministério Público entendeu que nada haveria para investigar, então, não investigou e decidiu-se pelo arquivamento dos autos.

 

Eu, como qualquer outro cidadão minimamente informado nestas questões jurídicas, considero esta atitude do MP algo grave e desrespeitosa para com os Portugueses (já nem digo para com o denunciante que ousou levar à justiça portuguesa um caso de flagrante injustiça).

 

Porém, devido ao estado caótico em que se encontra o aparelho judiciário português, este “despacho” não estará a condizer?

 

Todavia, quando a justiça nos falha, não falhará toda a estrutura humana?

 

Sabemos que em Portugal existe uma justiça para pobres e outra para ricos. Existirá também uma justiça para os cidadãos comuns e outra para os cidadãos “especiais” e intocáveis, que não podem ser investigados? Aquilo que o jornal Público denunciou nos artigos citados, na denúncia apresentada à PGR, não será passível de uma investigação mais aprofundada?

 

Aqui vos deixo o “despacho” que veio num momento que não podia ser mais inoportuno. Mas não será de pensar que o despacho foi despachado para coincidir precisamente neste momento caótico, em que todas as atenções estão viradas para o coronavírus, e o AO90vírus terá de ficar de lado, ou em banho-maria?

 

É bem verdade que o combate à Codiv-19 é muito mais prioritário e preocupante do que o combate ao AO90vírus, que ceifa a Língua, mas não ceifa vidas.

 

Contudo, o AO90 até pode estar em banho-maria, mas não é, de todo, assunto arrumado com este despacho, porque o cidadão denunciante está disposto a cumprir o prazo para a requisição da intervenção hierárquica, que permite que se continue a investigar o que foi denunciado, até porque (e aqui faz-se um apelo aos juristas, que seguem este enredo, que digam também de sua justiça) o que está a falhar neste combate ao AO90 é a UNIÃO.

 

As guerras ganham-se com um grande e organizado exército, não com soldadinhos de chumbo fechados em grupos facebookianos, que existem apenas para entreter os que se dizem anti-AO… mas pouco.

 

Fiquem, pois, com o “despacho relâmpago” do nosso descontentamento.

 

Isabel A. Ferreira

 

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publicado por Isabel A. Ferreira às 18:29

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Quarta-feira, 25 de Março de 2020

«Coronavírus: o cisne negro da modernidade»

 

«Era bom que depois de atravessarmos o perigo do coronavírus e de lamentarmos cada uma das mortes que ele vai provocar, conseguíssemos sair do perigo com novos hábitos de vida, mais cientes das nossas limitações e da nossa fragilidade, mas mais solidários, menos consumistas, mais amigos do outro e do planeta. Isso é não só possível como desejável.» (António Costa Silva)

 

Magnífico texto! Obrigatório ler.

Uma excelente reflexão de como esta crise global poderá levar os homens à construção de um mundo onde a Vida terá mais valor do que o vil metal. Porque é esta a mensagem que este coronavírus nos veio dar. Que não reste qualquer dúvida.

Saibam os que governam o mundo entendê-la.

 

António Costa Silva.jpg

 

Por António Costa Silva

 

 

«O filósofo Karl Popper, em páginas brilhantes em que discutiu a nossa relação com a realidade e o mistério da percepção humana, usou o exemplo dos cisnes brancos e dos cisnes negros para mostrar as limitações do nosso quadro mental face à complexidade do mundo. A percepção ocidental de que os cisnes eram todos brancos sofreu um abalo sísmico quando os primeiros navegadores britânicos chegaram à Austrália e se depararam com cisnes negros. Isso estilhaçou o quadro mental existente e abriu novos horizontes para a percepção humana. Hoje utilizamos o conceito dos cisnes negros para designar fenómenos raros que têm baixa probabilidade de ocorrência mas que, quando aparecem, mudam tudo. É o caso do coronavírus. Face a ele as nossas certezas desabam. Vivíamos ciosos de que podemos controlar o mundo, a economia, o planeta. E, de repente, o mundo fica de pernas para o ar. O coronavírus vem lembrar-nos que o mundo é feito de incerteza e mudança, que a nossa civilização é frágil, que a vida é precária, que o nosso sonho de tudo dominar acaba sempre dominado pela realidade.

 

O coronavírus é trágico porque mata e cada morte é uma perda que nada pode reparar. Os especialistas vêm lembrar que as mortes provocadas por outras epidemias ou pelos acidentes de viação são em muito maior número. Só que essas mortes já fazem parte do nosso quadro mental e por isso já não temos medo. O que assusta é o vírus desconhecido, cuja vacina ainda não existe, e parece muito contagioso. E por isso o coronavírus é um acelerador do medo. Nós vivemos em sociedades do medo que às vezes se torna desmesurado. Um estudo da Universidade de Harvard indica que se o coronavírus se transformar numa pandemia global, um em cada seis adultos no mundo pode ser infectado, mas que destes 98% vão sobreviver. Será que a taxa de letalidade é baixa? Não sabemos, porque varia de país para país, depende do ritmo de propagação do vírus, da capacidade de interromper as cadeias de contágio, da qualidade dos sistemas de saúde e das políticas de prevenção adoptadas. É um grave problema global de saúde pública e convém usarmos a racionalidade tanto quanto possível, murar o medo e confinar o catastrofismo.

 

Mas o coronavírus veio também questionar o nosso modo de vida. Nós vivemos na civilização da pressa, do movimento contínuo, das viagens constantes, do consumo frenético, da delapidação exponencial dos recursos E, além de tudo isso, estamos confrontados com a mudança climática e com a necessidade de mudar comportamentos. Durante anos vimos os parcos resultados das sucessivas conferências climáticas, das proclamações dos líderes, dos gritos dos activistas. Muito pouco aconteceu. De repente o coronavírus obrigou-nos a parar, a moderar a pressa, a viajar muito menos, a reduzir as reuniões, as conferências, as deslocações, reduzir as visitas aos centros comerciais e aos pólos de consumo. Obrigou-nos a ficar em casa, a pensar e a reflectir, a reinventar o trabalho à distância, a substituir as reuniões por meios digitais, a mudar hábitos. Afinal, é mesmo possível mudar e viver de outra maneira. Depois das cruzadas contra as tecnologias, afinal podemos viver e trabalhar digitalmente, e isso pode fazer toda a diferença.

 

Por outro lado, o coronavírus pode levar a uma redução das emissões de CO2 e contribuir para estabilizar o clima do planeta. Quando vemos as fotografias de satélite das cidades chinesas, que estão entre as mais poluídas do mundo, onde o trânsito é reduzido, podemos dizer que esta pausa é má para a economia, mas boa para o planeta. 2020 arrisca-se a ser o ano da queda significativa das emissões de CO2 no mundo. Vamos tirar férias do planeta e o planeta de nós e isso pode ser o início de um novo caminho. O que pode acontecer é que daqui a uns meses, quando a vacina for descoberta, tudo regressa à normalidade, e esta mudança de hábitos não deixar rasto. E isto não devia acontecer. O escritor inglês Gilbert Chesterton dizia que o despropósito do mundo advém do facto de nós nunca perguntarmos qual é o propósito. Temos de deixar de viver numa civilização em que a pressa é tudo, o movimento é tudo e o objectivo não é nada.

 

Mas o coronavírus interroga também os fundamentos do nosso modelo de desenvolvimento económico e social. Ele está a paralisar a economia, fecha as fábricas, causa a ruptura das cadeias logísticas e de abastecimento, cerceia o comércio mundial, diminui drasticamente o turismo. Nós vivemos numa civilização que coloca todos os dias no ar 12 milhões de passageiros. É muita coisa. O coronavírus vai obrigar-nos a repensar. Se olharmos para as grandes epidemias da história, elas tiveram um impacto brutal no modelo económico do seu tempo. O caso mais paradigmático é o da Peste Negra. Ela causou a desintegração do modelo de produção feudal. O coronavírus pode levar à desintegração do modelo de capitalismo selvagem, o capitalismo sem regras, sem regulação, sem controle, que periodicamente abala o planeta com crises que causam um sofrimento atroz. O capitalismo cria riqueza, prosperidade e bem-estar, mas o capitalismo selvagem aprisiona a maior parte da riqueza gerada no topo dos mais ricos. É preciso repensar o modelo, distribuir a riqueza, repensar o papel das empresas, ir além do mantra do lucro a todo o custo para um capitalismo que sirva os “stakeholders” e gere bem-estar para accionistas, trabalhadores, comunidades e a sociedade em geral. Esta paragem abrupta da economia global pode levar a uma introspecção profunda e à geração de novas ideias. É difícil porque vamos a caminho de uma recessão global e de muita dor e sofrimento. Mas precisamos de um novo modelo que seja moderado e sustentável na gestão e consumo dos recursos, não faça perigar o planeta e, ao mesmo tempo, assegure que as pessoas de menos rendimentos e recursos não caiam abaixo da linha de pobreza.

 

No que concerne a Portugal, o coronavírus vai testar as capacidades do SNS e da governação. Vai questionar o nosso modelo de desenvolvimento económico e a sua excessiva dependência do turismo. O turismo tem desempenhado um papel relevante na economia portuguesa e oxalá que continue a desempenhar, mas sabemos que a aposta excessiva no turismo torna a economia frágil e volátil porque quando as pessoas deixam de vir os problemas são brutais. É essencial diversificar a economia, criar novos motores de riqueza, repensar o desenvolvimento dos recursos nacionais e não usar o turismo para asfixiar tudo o resto. Podemos pagar muito caro esta falta de visão. Mas o coronavírus pode levar também ao fecho do futebol e sem jogos vamos ter um espaço público mais saudável, sem os trogloditas do costume, que se insultam em directo e fomentam o ódio. Seria a ironia suprema: o coronavírus calar, durante algum tempo, o vírus dos taliban do futebol nacional.

 

O poeta alemão Hölderlin escreveu um dia: “Quem atravessa o perigo toca a salvação.” Era bom que depois de atravessarmos o perigo do coronavírus e de lamentarmos cada uma das mortes que ele vai provocar, conseguíssemos sair do perigo com novos hábitos de vida, mais cientes das nossas limitações e da nossa fragilidade, mas mais solidários, menos consumistas, mais amigos do outro e do planeta. Isso é não só possível como desejável.»

 

 Professor do Instituto Superior Técnico

 

Fonte:

https://www.publico.pt/2020/03/17/mundo/opiniao/coronavirus-cisne-negro-modernidade-1907617?fbclid=IwAR0K5BoCzhNdFJb2LCXoZzD8F1zLGViPN1TRoQ6uMbQ_mGgQ4lQfc2VQNu0

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:42

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