Domingo, 6 de Maio de 2012
Homem que foi transformado num monstro...
Eu poderia ignorar isto. Como já ignorei tantas outros ataques pessoais cobardes, de outras vezes. E muitas foram as vezes que José do Carmo Reis (um dos da prótoiro) e outros do seu nível "intelectual" publicaram, em vários locais, na Internet, o texto referido no título deste post.
Quem tiver curiosidade de ler o texto com conteúdo difamante pode consultar este link:
http://danilofirmino.blogs.sapo.pt/8371.html
Mas agora BASTA! Já brincaram aos cobardes, que baste.
A "prótoiro" tem de ser desmascarada, publicamente. E também o autor do texto, Danilo Firmino, que não fez mais do que cometer um crime de calúnia, outro de difamação e outro de injúria, desvirtuando tudo o que é público, e pode ser comprovado, a respeito de Isabel A. Ferreira. Não surpreende que a "prótoiro" o tivesse aproveitado, por várias vezes, no Facebook. Contudo, quem reproduzir o texto do Danilo Firmino, incorre nos mesmos crimes. Posso processá-los a qualquer momento, por crime informático.
O Arco de Almedina faz-lhes sombra. Muita sombra e muita mossa, a todos os tauricidas.
E como aquele grupinho, que constitui esta federação, que dá pelo nome de "prótoiro", não tem argumentos racionais para defender o indefensável, aproveitou-se deste texto irracional e difamador, encomendado por um determinado lobby brasileiro, o qual um sujeito, sem quaisquer escrúpulos, aceitou escrever, apenas para me desacreditar, e afastar-me da luta.
Isto por causa de um livro que escrevi, intitulado “CONTESTAÇÃO” que contesta o «1808», de Laurentino Gomes, o jornalista brasileiro, best-seller, que nesse livro trata os portugueses abaixo de “porcos, feios, maus e ignorantes”, não contextualizando os factos históricos que narra, e desvirtuando a verdade histórica que está por detrás da sua narrativa, o que me irritou, como portuguesa e como historiadora. Vai daí, contestei-o e repus a verdade dos factos, através de fontes fidedignas.
Ora, isto descredibilizou o «1808», que além de dizer menosprezar a verdade histórica, plageou um um livro escrito por um australiano, que também desvirtuou os factos.
O autor do texto, acima referido, Danilo Firmino, fazendo-se passar por uma pessoa de bem, encomendou-me então o meu livro (pois ele não foi comercializado no Brasil, por azelhice da minha editora) e enviei-o pelo correio, de boa fé. Ora o tal Danilo Firmino não era pessoa de bem (pelo que veio a demonstrar depois, em mensagens privadas e públicas); além disso não pagou o que me devia: o livro e os portes de envio pelo correio. Confiei na falsa pessoa de bem no paga depois.
Ora quem não paga é CALOTEIRO.
Foi isso que lhe chamei, com propriedade, e ainda disse que a Cultura não se vende.
Além de não gostar de ter sido chamado de CALOTEIRO, aproveitou para escrever o que escreveu, para me desacreditar junto ao meio editorial brasileiro, com o intuito de o meu livro não ser publicado, no Brasil, e todas as tentativas de publicação foram BOICOTADAS.
Eis a génese do texto de que a "prótoiro", por diversas vezes, se vale, para “defender” a “festa brava”, à falta de ARGUMENTOS RACIONAIS, pensando que com isso se credibiliza e me faz mossa, a mim.
Enganam-se redondamente.
Para terminar vou apenas acrescentar dois comentários publicados no texto do difamador, da autoria de Sheyla Dupont, que não sei quem é, mas que diz aquilo que qualquer pessoa NORMAL e INTELIGENTE verificará, se ao ler o texto do Danilo Firmino, vier ao Arco de Almedina CONFIRMAR o que ele para lá diz.
De Sheyla Dupont a 28 de Setembro de 2011 às 17:08
Seu Danilo, você já reparou que esta sua carta só o desfavorece? Sabe porquê? Fiquei curiosa e fui ao blog que você sugere no final da carta, ver quem é essa sofista decadente a quem se refere, e sabe o que vi? Um blog de alguém muito inteligente, muito culto, muito digno, que é aplaudida por muita gente.
Só você não enxergou. Porquê? Tem alguma pendenga com essa senhora?
responder a comentário | discussão
De Sheyla Dupot a 29 de Setembro de 2011 às 09:39
Sabe o que você parece? Um tremendo de um despeitado, um frustrado com a sua vidinha sem graça, espumando raiva e ódio por todo os poros. Cada vez que faz um comentário mais se enterra na lama Vá se tratar, seu Danilo. Seu jeito de comunicar é patético.
***
"prótoiro", da próxima vez que utilizar o texto do Danilo Firmino, não se esqueça de colocar este meu texto também. Faz parte da HONESTIDADE dar a versão dos DOIS LADOS.
E mais.
Querem saber o cúmulo da estupidez? Então leiam, o que a "prótoiro" publicou na página do Facebook, seguido do link da difamação que me fez o brasileiro:
«O ÓDIO ANIMALISTA FEITO “ESCRITA”…
(Referem-se ao seguinte texto: http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/71221.html)
Se a qualidade literária for a mesma expressa neste artigo aconselhemos vivamente a autora a procurar com urgência um novo modo de vida. Talvez seja por essa razão que a crítica literária decidiu apelidar a referida escriba como «Sofista Decadente»! »
Ora, os "prótoiros" chamam ao texto do difamador brasileiro «crítica literária».
O texto é sobre História de Portugal, que de literário nada tem.
Saberão eles o que é um texto literário? O que é uma crítica?
Não sabem, pois não souberam distinguir um INSULTO do que eles chamam «crítica literária».
Não é o cúmulo da estupidez?
Depois segue-se uma abundância de comentários, dos mais "cultos" e "racionais" de que só os aficionados são capazes.
Isabel A. Ferreira
Sexta-feira, 3 de Junho de 2011
«Portugal é feito de belas paisagens de água, como as do Oceano Atlântico e das suas ondas ora poderosas, ora mansas, a beijar-lhe a costa, pontilhada de recantos paradisíacos, de areais imensos, e de penedias, sobre as quais voejam as gaivotas; como as dos rios que serpenteiam por entre vales e planícies verdejantes e majestosas montanhas; e as dos barcos que descansam nas águas, ao entardecer.
Portugal é feito de paisagens de campo, de paisagens citadinas, belas e coloridas, como a magnífica cidade do Porto, Património Mundial, com o seu casario a escorrer para o rio, onde os barcos rabelos emprestam um ar bucólico à foz do Douro, e que o Sol poente matiza das mais variadas cores.
Portugal é feito de aldeias e vilas antigas, casas senhoriais, palácios, castelos altaneiros, lugares que ainda conservam a essência das suas origens, monumentos fabulosos, uma arte requintada, como o Estilo Manuelino (uma variação portuguesa do Gótico) que surpreende pela sua beleza, e a admirável azulejaria que ainda pode ser apreciada na fachada das casas de muitas localidades.
Portugal é feito da música das guitarras de Coimbra ou do fado de Lisboa; é feito de muitas cores, de muitos verdes, de Sol e das palavras luminosas dos seus poetas.»
...
Estas palavras, escrevi-as na minha «Contestação» do livro «1808», da autoria do jornalista brasileiro Laurentino Gomes, onde Portugal e os Portugueses e o nosso Rei Dom João VI são muitíssimo amesquinhados, maltratados, predominando a mentira, e o preconceito do colonizado sobre o colonizador.
Na verdade, Portugal é um paraíso onde poderíamos viver placidamente, não fosse estar cheio de pessoas e políticos com mentes tacanhas que, empoleirados em cargos maiores, transformam o País lá no quintalinho deles, deixando tudo o que faz parte da sociedade portuguesa, por aí à deriva, sem rumo, e se não somos um povo maior, a essas mentes tacanhas o devemos.
Diz-se que um povo que não se sente não é filho de boa gente, por isso aqui estou, uma vez mais, a defender, desta vez não o País, mas algo que faz parte da sua Cultura e são desprezadas pelo preconceito bacoco que reina entre os pseudo-intelectuais, que por aí andam e mandam no caduco sistema editorial português: as Edições de Autor.
Vocês sabiam que a maioria dos livros que por aí circulam são, no fundo, edições de autor? Porque quem paga a edição é o próprio autor. Mas como levam a chancela de Editoras, umas mais, outras menos afamadas, são acolhidas como “filhas” e têm o aval das livrarias e dos próprios leitores. Podem não valer nada como leitura ou Literatura, mas trazendo o “selo” de uma editora, entram em todo o lado. As outras, as Edições propriamente ditas de Autor, são tratadas, injustamente, como “enteadas”.
Eu faço edições de autor, por opção, e devo confessar que tenho grande dificuldade em escoar os livros, precisamente devido a esse preconceito bacoco contra o facto de os livros não terem o suporte de uma editora.
Decidi, por uma vez, experimentar a publicação da «Contestação» através da Chiado Editora (ainda com pouco nome, mas era uma editora). Imprimiram-se 500 livros. Paguei-os todos (e não foi pouco). E ainda tive de dar uma percentagem. E o contrato que se assinou, então, não foi cumprido, pela parte da editora. Viram-se com o dinheiro no bolso, e a cláusula que diz: a editora obriga-se a distribuir, promover e divulgar a obra, ficou no papel do contrato.
Ora para isso, prefiro fazer as minhas próprias edições de autor. Pago o livro, tenho grandes dificuldades em os distribuir, promover e divulgar, mas também não tenho de dar percentagens a quem devia distribuir, promover e divulgar o livro e não o faz (para isso se dá a percentagem).
E qual a diferença entre a publicação com chancela ou sem chancela? Absolutamente nenhuma. O conteúdo é o mesmo, a paginação, capa e revisão são feitas por gente do meio. A única diferença é o “selo”.
A Comunicação Social vai pelo mesmo caminho. Entregar edições de autor aos media para divulgação é o mesmo que as deitar ao caixote do lixo. Os próprios “divulgadores” de livros (como as publicações da especialidade) e o próprio Marcelo Rebelo de Sousa (divulgador de livros numa estação de televisão) que um dia, no "Correntes d’Escritas" na Póvoa de Varzim, disse que «é preciso acarinhar as Edições de Autor», desprezam-nas (e eu que o diga, pois os livros que enviei a todos, incluindo a Marcelo, foi o mesmo que os atirar ao caixote do lixo).
Só divulgam as edições de autor dos amigos, e este é o lado perverso da edição em Portugal.
Contudo, nem toda a Edição de Autor é lixo. E nem toda a Edição, com a chancela de Editoras, tem qualidade.
Nos tempos que correm, os novos autores não são escritores. São futebolistas. São apresentadores de televisão. São apresentadores de telejornais. São pessoas com vidinhas escandalosas. São Josés Castelos Brancos. São os Big Brothers. São os policiais. Enfim, são todos aqueles que diariamente têm visibilidade, aparecem nas televisões, nas revistas cor-de-rosa, com mais ou menos protagonismo. E eles é que vendem. A Literatura é marginal.
São vendas garantidas. As edições são pagas (tive muitas ofertas dessas) pelos autores. Os editores só têm a ganhar.
A verdadeira Literatura deu lugar às caras que aparecem nos ecrãs e nas revistas. E é a essa “cultura” que os editores dão o seu aval.
É a mediocridade a progredir. É o País a regredir.
Além destes, apenas são publicados os autores já consagrados. Autores sem nome no mercado (a não ser que sejam amigos de amigos dos editores, ou filhos de figuras públicas) não são publicados. Ponto final. Tenham ou não tenham obra de qualidade.
Culpo os escritores portugueses, que nunca se rebelaram contra esta situação humilhante. O que lhes interessa é publicar, nem que seja a troco de umas migalhas.
O que resta fazer, então? O inusitado. O imprevisto. Porque, como já dizia Miguel Torga, que começou por fazer Edições de Autor: «Ser livre é um imperativo que não passa pela definição de nenhum estatuto. Não é um dote, é um dom».
Por estas e por outras, os talentos portugueses estão a singrar no estrangeiro. E Portugal a afundar-se, cada vez mais, na mediocridade.
Isabel A. Ferreira
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Terça-feira, 28 de Julho de 2009
No Brasil, os ecos à «CONTESTAÇÃO» do livro «1808», do jornalista brasileiro, Laurentino Gomes, têm sido mais do que muitos. Recentemente, tenho recebido bastantes mensagens sobre o assunto, e para mim é sempre reconfortante, saber que o meu trabalho faz eco, em terras tão longínquas, como o Brasil ou os Estados Unidos da América…
O que me fica de tudo isto e me deixa preocupada, é que no Brasil, agora um país independente, os Brasileiros cultos e bem informados têm defendido o seu passado histórico, muito mais do que os Portugueses, quando esse passado é comum aos dois países.
Aos Portugueses, enrolados no seu umbiguinho, tanto se lhes faz, como se lhes fez, se houve um jornalista que nos deixou de rasto, como povo, num livro onde tudo é preconceito de um ex-ex-ex-colonizado que resolveu mal a sua ligação com o passado. E isto é péssimo, porque significa que ou em Portugal não há gente culta e bem informada; ou está desinteressada pelo que a rodeia; ou o seu complexo de inferioridade é tão grande, tão grande, que tudo o que os “estrangeiros” dizem sobre nós, é bem dito; ou ainda porque existe um preconceito altamente pernicioso em relação à Monarquia Portuguesa, à qual Portugal deve quase tudo o que é hoje, inclusive a sua existência como país independente.
E quem não consegue admitir o seu passado, com as suas venturas e as suas desventuras, é muito pobrezinho de entendimento.
♠
Desta vez, enviaram-me este texto, de Arthur Virmond de Lacerda Neto que, de um modo muito mais assertivo, disse o que talvez eu tivesse deixado nas entrelinhas do meu livro «CONTESTAÇÃO».
Um texto absolutamente brilhante, inserido no blogue do autor, que passo a transcrever na íntegra.
UM MAU LIVRO: «1808»
Por Arthur Virmond de Lacerda Neto
Da autoria de Laurentino Gomes, "1808" (editora Planeta, 2008) é um mau livro, pela sua inclinação, pelo seu apelo comercial e pelo amadorismo com que foi concebido.
A sua inclinação é negativista, detratora de Portugal e fomentadora da muito famigerada lusofobia, desprezo e ódio de muitos brasileiros pelo nosso passado colonial e pela nossa origem portuguesa.
Todo historiador é livre nos seus juízos, com que avalia personagens, considera-lhes a atuação, julga-lhes o papel, descreve conjunturas, enfatiza aspectos. Diante da massa de informações de que dispôs, na farta bibliografia relativa ao Brasil colonial, a D. João VI e o seu tempo, o autor selecionou aspectos que enfatizam negatividades, em uma maledicência que se observa, por exemplo, na descrição de Salvador colonial (cidade suja, decadente, tipicamente portuguesa na sua falta de planejamento, com casas repugnantemente sujas, em que o vice-rei dançava na igreja de modo indigno, em que os senhores faziam de cafetões das suas escravas. Páginas 114 a 116); ao descrever o Rio de Janeiro de então (em cujas casas havia sujeira e preguiça; cuja limpeza cabia aos urubus e era infestada de ratos. Página 157); ao apodar a corte de ociosa, corrupta, perdulária, voraz e cara (páginas 150 e 189), que veio acompanhada por aventureiros sem princípios (página 188) e cujos integrantes ambicionavam enriquecer à custa do Estado mais do que servir ao bem comum (página 189); ao caracterizar D. João VI, como despreparado para reinar, tímido, supersticioso, feio, temeroso de caranguejos e trovoadas (página 32).
Assinala-se, neste livro, um empenho pela difamação ou, quando menos, uma animadversão anti-lusitana que se intensificam nos capítulos 11, "Uma carta", e 21, "Os viajantes".
O capítulo vigésimo primeiro contém uma série de excertos de relatos de viajantes estrangeiros que percorreram o Brasil colonial ou já elevado a Reino Unido. Dentre as dezenas de narrativas, Laurentino Gomes ateve-se às de Maria Graham, de Koster, Mawe, Henderson, Burchell e Saint-Hilaire, de que excertou observações tais como: pena o Brasil não haver sido colonizado por uma nação ativa e inteligente (página 263), os nordestinos são desonestos (página 267), a colônia é preguiçosa e descuidada, sem vocação para o trabalho, de povo analfabeto, inculto e desinstruído (página 268); em São Paulo abundava a sujeira e a prostituição (página 270).
A história deve-se escrever com verdades, custe o que custar observá-las e admiti-las (no caso de informes porventura desconfortáveis à sensibilidade do leitor, ao patriotismo ou a outros valores quaisquer), ao mesmo tempo em que os depoimentos de época devem submeter-se à análise crítica, de que resulte a determinação do seu valor como expressão da realidade. Abonadores ou depreciativos, valem como informações localizadas, porventura parciais, a que se pode e deve associar outras, de outras fontes, e sobretudo as que resultem de investigações profundas: foi o de que se absteve Laurentino Gomes, que admitiu a palavra dos viajantes sem mais critério do que o seu conteúdo desabonador.
Do acervo pletórico de informes transmitidos pelos viajantes, ele preferiu, sistematicamente, as notas pejorativas, as passagens caracterizadoras de uma realidade sempre lamentável, de um estado de coisas vergonhoso.
Constitui o undécimo capítulo a uma verdadeira excrescência: nele se reproduz, por inteiro, a carta de Luiz Marrocos ao seu pai, de 12 de abril de 1811, em que reporta ele, acerca da fragata que levou, de Lisboa ao Rio de Janeiro, uma parte da biblioteca real: a água potável achava-se corrupta e infestada de bichos, a carne salgada e a cordoalha apodreceram, as velas avariaram-se, a medicação é insuficiente, a tripulação não presta.
Das 186 cartas conhecidas de Luiz Marrocos (página 80), o autor reproduziu precisamente a que apresenta um quadro deplorável de uma fragata portuguesa, especialmente importante por haver trazido parte da livraria da coroa.
É estranhável instituir-se um capítulo cujo único teor corresponde à reprodução de uma carta em livro que não se ocupa da biografia do missivista, que não lhe estuda o epistolário, que não transcreve nenhuma outra carta. Tal capítulo representa uma anomalia, em face do conjunto do livro. Ele existe, contudo, porque atende ao mesmo fito que animou Laurentino Gomes na seleção das passagens a que me referi: ele serve para difamar Portugal e quanto se lhe refira.
Ao manusearem-se livros ilustrados, o leitor dirige-se, quase instintivamente, às gravuras, movido pela curiosidade: as respectivas legendas é o que, tendencialmente, também se lê, em uma vistoria superficial de livro que não se leu.
O que o leitor encontra nas legendas de 1808 são informações, também elas, depreciativas: a prataria e 60.000 esquecidos no cais, na correria da partida da corte; a corte fugiu; D. João teria vencido os franceses, "se tivesse coragem" para tal; ele era "tímido, feio, inseguro", "de aparência grotesca"; Carlota Joaquina era "feia, maquiavélica e infeliz"; a corte era "corrupta e perdulária".
Há, em «1808», uma atitude psicológica: a de achincalhar e amesquinhar, o que transformou-o, de livro de informação histórica, que deveria ser, em veículo de um dos piores males da psicologia do brasileiro, a lusofobia, desprezo por Portugal, pela colonização do Brasil, pelas nossas origens históricas.
As passagens excertadas contêm a expressão da lusofobia, padrão de entendimento e de sentimento que se instalou no sistema psicológico de muitos brasileiros, que os leva a desmerecer a cultura portuguesa e a acusar a colonização que Portugal desenvolveu no Brasil. Como todo preconceito, ele equivale a uma falsificação da realidade, em desprezo, injusto, do objeto a que se refere.
Este preconceito surgiu ao tempo da independência do Brasil, como reação da população colonial, no seu anseio pela emancipação política, e mantém-se como renegação da origem histórica do brasileiro.
Com inverdade e injustiça, propalam-se, mesmo nas escolas, informações vexatórias, que mantêm a lusofobia, como as de que o Brasil teria sido colonizado por degredados e por prostitutas, que a então colônia era depósito de criminosos, que a colonização holandesa teria sido preferível à portuguesa. Nem fomos colonizados pela escória de Portugal, nem o Brasil foi valhacouto de delinqüentes, como, sobretudo, a presença holandesa no nordeste foi, a todos os títulos, detestável.
Resultados da lusofobia são a debilitação do sentido de identidade cultural dos brasileiros; o desprezo de muitos deles pelo passado nacional; a vergonha das nossas origens; o complexo de inferioridade do brasileiro face ao estrangeiro e a admiração, muitas vezes ingênua, por este; o desprezo do idioma português; o vezo de ridicularizar o país e o povo de que provimos; a debilitação do patriotismo como amor ao país e esforço pelo melhoramento da vida coletiva.
A lusofobia, infelizmente, existe e mantém-se: «1808» mantém-na e a veicula.
Da leitura do quadro de misérias, cuidadosamente constituído por Laurentino Gomes, não haverá brasileiro que não se sinta entristecido, quiçá revoltado e, certamente, envergonhado das nossas origens e de parte do nosso passado.
Felizmente há, no Brasil, livros recomendáveis de autores respeitáveis: Oliveira Lima, Pedro Calmon, o Visconde de Porto Seguro, Rocha Pombo, David Carneiro, Mário Neme, Afonso de Taunay, Capistrano de Abreu, Eduardo Bueno e tantos outros.
«1808» é um livro de leitura fácil, na sua redação intencionalmente singela, vocacionada ao acesso do grande público. É altamente louvável que se redatem livros deste tipo, como forma de se difundir conhecimento e de favorecer o gosto pela leitura, aspecto em que merece todo o louvor. Fácil ou difícil, nada compensa, todavia, o seu maniqueísmo maledicente, a sua parcialidade no critério de seleção das informações e a perniciosidade dos efeitos psicológicos que provocará em muitos leitores.
É um livro também ruim pelo seu apelo comercial, visível no seu sub-título, estampado na capa: «Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil».
Na adjetivação patenteia-se, indisfarçavelmente, a lusofobia do autor; o tom bombástico destina-se a suscitar a curiosidade por meio do seu apelo sensacionalista, semelhantemente a uma cartaz comercial ou a um anúncio de telenovela do tipo "Amor e morte; intriga e paixão na novela das 20h00". Um livro a sério não necessita de semelhantes mesquinharias; aliás, um livro a sério repele-as.
Amador na área dos estudos históricos, o seu autor qualifica-o, estranhamente, de "investigação jornalística" e jacta-se de haver lido mais de 150 livros que lhe serviram de fontes: com bem menos, outros autores produziram obras que enriqueceram honrosamente o acervo bibliográfico brasileiro.
E recebeu o prêmio Jabuti de 2008...
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Terça-feira, 30 de Dezembro de 2008
Por Quintino Geraldo Diniz de Melo *
Tenho a honra de, a pedido da autora, manifestar minha opinião sobre a interessante obra “CONTESTAÇÃO – De como Portugal tem o dever de defender a sua Honra e a sua História” (Chiado Editora, Portugal, 2008), da insigne historiadora e jornalista luso-brasileira, Isabel A. Ferreira.
A autora discorre com uma simplicidade e honestidade cativantes, revelando que seu empreendimento foi inspirado pelo amor à sua terra natal, sendo um “contributo no sentido de resgatar o bom-nome de Portugal”.
Dividido em dezesseis capítulos com sugestivos títulos, tais como De como D. João, Príncipe Regente de Portugal, teve a coragem de não se vergar aos pés de Napoleão Bonaparte (Cap. 1), De como um império dito decadente consegue sobreviver e impor-se entre impérios poderosos (Cap. 5), De como a Inglaterra deve a uma Rainha portuguesa o requintado costume do “five o’clock tea” (Cap. 11), De como não pode haver requinte longe da civilização (Cap. 13), De como Portugal não perdeu a honra nem esteve nunca abandonado (Cap. 14), De como os brasileiros deveriam orgulhar-se das suas origens (Cap. 16), o texto da Drª Isabel é de gostosa e fácil leitura, com sabor de uma crônica jornalística.
Buscando uma explicação psicológica, ela atribui o tom agressivo da narrativa de Laurentino Gomes a uma certa rejeição natural que o colonizado nutre por seu colonizador. Seria essa a razão porque tantos brasileiros procuram menosprezar Portugal e seus feitos.
Registre-se que a obra é impregnada, do início ao fim, da ideologia do politicamente correto, sendo uma preocupação constante da autora frisar que não aprova o colonialismo, mesmo o português, que para ela foi tão “mau” quanto os colonialismos inglês, francês ou qualquer outro.
Daí a ausência de elogios à colossal obra missionária e civilizadora empreendida por Portugal e Espanha, que é seu principal legado e mais importante patrimônio imaterial dos latino-americanos.
Ademais, a mestiçagem promovida pelos colonizadores ibero-católicos, e ausente nas áreas de colonização protestante, é outro grande feito da engenharia política portuguesa pouco explorado pela autora.
É de se admitir que o resultado dessa abertura do português para as outras raças, tão bem sintetizada pelo pernambucano Gilberto Freire em sua obra-prima “Casa Grande e Senzala”, é responsável pela inviabilidade política de um nacionalismo étnico no Brasil.
Ser brasileiro, portanto, é ser mestiço, se não no corpo ao menos na alma.
E isto só foi possível por todos os diferenciais da colonização portuguesa em relação à colonização promovida por outros povos.
Talvez fosse interessante, no que toca ao tema principal da obra contestada - a “fuga” da Corte -, acrescentar que esta veio de encontro a um antigo e estratégico projeto de transferência do Governo Português para a sua maior e mais rica colônia. Há inúmeros estudos nesse sentido.
Embora o objetivo imediato de D. João VI fosse o de salvar sua dinastia, este incompreendido monarca luso-brasileiro tinha seu olhar mais longe, querendo a unidade política e espiritual do império lusitano.
Denúncia bem articulada contra a pena politicamente incorreta do Sr. Laurentino Gomes, “Contestação” é uma leitura que vale a pena.
Recife, 28 de dezembro de 2008.
* Quintino Geraldo Diniz de Melo, é Promotor de Justiça em Pernambuco-Brasil.
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